E eu a decidir ir de metro para o pasquim. A deixar de fazer contas de cabeça de cada vez que vejo o preço do gasóleo. Sentada no único lugar livre, apesar de serem 10 horas, entalada entre a janela e um velho de tamanho considerável. Vai a ler o Outono do Patriarca. É da colecção do Público. Livros a cinco euros [era isso, não era?], de tradução duvidosa. Entalada junto a janela corro os olhos pelos ‘assassinos escondidos’. Volto a Sevilha. Fui à Fnac, mas não faltei ao prometido. Foi uma prenda. Disseram que a minha dor de cabeça, uma que durou mais de uma semana, tinha origem conhecida. Eu a dizer que não, que não precisava de um livro. Que tinha o que ler, que não valia a pena estar com coisas, que não ia pegar naquele. Talvez para a semana, antes de me por a caminho, que nessa altura comprava um kit de sobrevivência. E ele a contrariar-me, a dizer que tinha que ser, que não valia a pena resistir. A dor de cabeça já só aguentou mais um dia e mesmo assim foi de raspão. Sol de pouca dura. Um brufen e não houve mais agulhas espetadas sobre os olhos. Entalada junto à janela, ando pela noite de Sevilha, enquanto lá fora desfilam estações de cor azul. Saiu debaixo da terra para o vento frio de uma manhã de Outono. Chega-me a maresia do Tejo e sorrio. Entalada contra a janela perco o sentido às horas. Não sinto falta da música, das notícias, das sugestões da Evasões. Cá em cima custa-me deixar as páginas do livro. Vou contrariada para o pasquim. Arrasto-me sob um sol cada vez mais tímido. Consola-me saber que volto pelo mesmo caminho. Mais 20 minutos de leitura forçada antes de voltar para casa. Sorriu e penso que o lugar na garagem tem desvantagens. Tinha saudades dos transportes públicos. Esta semana, pelo menos, vou ler mais. A conta bancária agradece.
terça-feira, outubro 30, 2007
O petróleo a descer dos 90 dólares
sexta-feira, outubro 26, 2007
Sete horas
Voo com 5 horas de atraso. Mais duas de espera, para check in. E, em Lisboa, uma greve do handling para prolongar o tempo de recolha de bagagem.
No aeroporto, um homem com um cheiro de quem não toma banho há mais de um mês. Muito mais. Passa pela mesa e deixa um odor insuportável. Torço o nariz. Senta-se atrás de mim e reparo nele, cabelo colado à cabeça, oleoso, bebe uma cerveja. Lamento. Mas não aguento.
Oiço as palavras em castelhano com indicações anti-terroristas. Cuidado com as malas, e assim... E não deixe nada à mão de semear, olhe os ladrões. E este tagarelar no café.
Sete horas por um avião - da Vueling, ainda por cima - é muito tempo. Um desespero.
Em mãos, um relatório para apresentar ao patrão. Hoje é o último dia. Ainda não escrevi uma linha. Talvez amanhã. Ou esta tarde, durante a espera. Não me apetece, Não estou inspirada. Ele não vai gostar.
E deixei o livro na mala. Burra. Foi para o porão. Como posso ter deixado a primeira versão portuguesa de Hugh Laurie no porão? Recordo as últimas linhas de 'Viagem no Scriptorium', de Paul Auster. Já li, ficou em cima da mesa-de-cabeceira. E nada, comigo.
Sete horas à espera. E Barajas.
É coisa do Demo
É tudo para me desorientar. Só pode ser. Eu que ando há um mês a portar-me tão bem. Digo que já estou crescida. Que consigo entrar na Fnac, passear-me durante muito tempo e sair de mãos vazias. Nem mais nem menos do que levava quando lá entrei. E se levo, é só a vontade de comprar qualquer coisa. Um livro por mais pequenino que seja. Não me vergo. E não colo desejos nos pulsos, como diz a C. Já não roubo as etiquetas dos livros que quero comprar. Quadrados que depois passam do pulso para a parte de dentro da carteira. Religiosamente guardadas até ao dia que poderei dar asas aos desejos mais descontrolados. Para aqueles dias em que não há nada a fazer. Não há racionalidade. Nem falta de dinheiro que me convença. Naqueles dias em que livros trazem o oxigénio que me falta no peito. A adrenalina de um chuto. Já nem roubo etiquetas. Papelinhos que me lembram o que quero ler nos dias em que não há nada a fazer. Estou curada. Pensava eu. Depois o Zimmler volta a escrever sobre judeus. Espeta com eles exactamente em Berlim, há mais de 70 anos, quando o mundo não sabia ainda o que lhe ia acontecer. É uma relação estranha a que tenho com este inglês. Por isso é fácil resistir. Dizer que ainda tenho muito que ler. Há uma prateleira cheia de livros [quase] nunca abertos ou abandonados a meio. O pior é quando o Robert Wilson regressa com a Sevilha. Volta o Javier Falcón. É verdade que “As mãos desaparecidas” é um livro atabalhoado. Mas é Sevilha e eu não resisto àquela cidade. Mesmo quando as coisas correm mal – e podem correr tão mal. Pego naquele ‘Assassinos Escondidos’ e penso que um policial era tudo o que precisava para os primeiros dias de Outono com chá vermelho a fumegar na caneca e chocolate de caramelo ali ao lado. Cheiro-lhe as entranhas. Penso como poderíamos ser felizes os dois. Mas digo-lhe baixinho que terá que esperar. São só alguns dias. Afinal há uma viagem a caminho e alguém terá que me fazer companhia. [momentos de excepção que justificam tudo] Continuo a resistir. Com dor, mas resisto. Tanto sacrifício e penso que só podem estar a brincar comigo. A testar-me os limites. É coiso do Demo. Belzebu. Mezinhas de quem não me quer bem. Não está nas lojas, mas está escarrapachado nas páginas do Ípsilon. O mais antipático dos escritores angolanos voltou a escrever. Nem vou ler a crítica ao Pepetela. Vou passar por cima. Fingir que não vi nada. E já agora abster-me de ir à FNAC.
quinta-feira, outubro 25, 2007
Anonimato
Esta é mais uma daquelas semanas em que queria ser como a Dia [era*]. Desbocada. Ou isso ou ter um blog ainda mais anónimo.
[*Eu expliquei ao J., em frente a um prato de pataniscas de bacalhau, que o culpava pelo silêncio prolongado do quintal que vivia empantanas. Imputei-lhe o crime de calar uma das ‘penas’ mais bonitas da blogosfera. Mas disse-lhe que não fazia mal. Entre duas garfadas de arroz de feijão disse-lhe que estava desculpado. É que a minha amiga está mais feliz. Isso vale mais do que muitas horas de boas leituras.]
Momento Nicola
Ela dizia-lhe baixinho ‘amo-te’. Ele puxava-a carinhosamente. Beijava-lhe paternalmente a cabeça. Ela ficava a sonhar com declarações de amor. Com o dia em que ele a beijaria a meio de uma frase.
domingo, outubro 21, 2007
A Lagartixa
1. Como é que uma lagartixa vai parar dentro da máquina de lavar, estando esta [a máquina] fechada?
2. Como é que a dita sobrevive a um programa completo?
3. Como é que consegue continuar viva [paradinha, mas de coração a bater] depois de duas centrifugações violentas?
sábado, outubro 20, 2007
Já diria Marcelo
SIM!
Mas é fácil fazer com que isso aconteça?
NÃO!
Uma massagem de shiatsu pela manhã pode ajudar?
PODE!
E se o massagista faltar?
NÃO!
E então três banhos de mar e duas horas ao soL, podem ajudar?
SIM!
E posso voltar a repetir amanhã?
SIM, MAS SÓ SE ESTIVER BOM TEMPO!
E segunda-feira?
SIM!
Mas é dia de trabalho. Posso telefnar a dizer que estou doente...
PODE!
Mas isso não é imoral?
É!
Mas posso fazê-lo?
PODE!
Ausência
Uma viagem à Islândia, uma passagem por Nova Iorque, uma semana em Columbia...
E mudanças na redacção, uma entrevista aos Sigur Rós, outra prevista à Diana Krall. E o Rock in Rio em Madrid.
Mas há falta de vontade, neste regresso.
O sono que está mais longo, as manhãs que se fazem curtas, os dias que acabam no sofá e um bom filme para ver.
Voltarei, em breve.
Mas precisei de descanso, de tempo, de um vazio que se fez também na escrita.
Enquanto leio Lobo Antunes e Paul Auster. O mesmo Auster de quem já vi o filme.
Há tanto para dizer...
sexta-feira, outubro 19, 2007
Fim-de-semana [iii]
quinta-feira, outubro 18, 2007
quarta-feira, outubro 17, 2007
Post solar
Muito a propósito
Nem sempre encontro o melhor termo,
Nem sempre escolho o melhor modo.
Devia ser como no cinema,
A língua inglesa fica sempre bem
E nunca atraiçoa ninguém.
O teu mundo está tão perto do meu
E o que digo está tão longe,
Como o mar está do céu.
Só pra dizer que te Amo
Não sei porquê este embaraço
Que mais parece que só te estimo.
E até nos momentos em que digo que não quero
E o que sinto por ti são coisas confusas
E até parece que estou a mentir,
As palavras custam a sair,
Não digo o que estou a sentir,
Digo o contrário do que estou a sentir.
O teu mundo está tão perto do meu
E o que digo está tão longe,
Como o mar está do céu.
E é tão difícil dizer amor,
É bem melhor dizê-lo a cantar.
Por isso esta noite, fiz esta canção,
Para resolver o meu problema de expressão,
Pra ficar mais perto, bem mais de perto.
Ficar mais perto, bem mais de perto.
Problema de Expressão, Clã
segunda-feira, outubro 15, 2007
A Moda engorda
[Declaração de interesse: Sou magra.]
A propósito da Moda Lisboa, a Notícias Magazine faz um especial sobre ‘Glamour xl’. E explica: ‘Porque nem todos têm as medidas ideais, sugestões muito fashion para quem tem uns quilinhos a mais. Tendências Outono/Inverno para todos os gostos de tamanhos’.
Vamos por partes. Cada um pesa o que quer ou pode. Engordar é tão ou mais difícil de emagrecer. E gostos não se discutem. Se todos gostássemos do amarelo esta vida era uma tristeza. Mas há limites mínimos de bom senso e bom gosto. Vestir uma mulher grande com uma mini-saia coleante uns vinte centímetros acima do joelho, quando o grande não refere necessariamente à altura, e cobri-la com um casaco tigreza e umas meias de renda é o mesmo que lhe oferecer um bilhete de metro para o Intendente. Ok. Uma corrida de táxi para a Passerelle considerando que os sapatos são Gianfranco Ferre, o que parece justificar o custo de 225 euros. O resto bem podia ir de metro. A questão é que não melhora. Na página ao lado é o decote que chama a atenção, mas passa. O problema é mesmo a soquete de algodão, verde aos losangos, bem marcado à volta do tornozelo e com uns quantos refegos, qual perninha de bebé arraçado de leitão. Não é uma questão de tamanho, é uma questão de tecidos, padrões, feitios. Não é uma questão de preconceito. Nenhuma daquelas peças ficaria bem numa mulher de 59 quilos e 1.70m. É uma questão de bom gosto.
domingo, outubro 14, 2007
Faço as pazes com Lisboa
Tenho encontro marcado para os lados da Sé. Às 16.15 impreterivelmente. Não gosto de chegar atrasada. Faço-me à estrada com tempo. Uma lucidez estranha apesar do cansaço de uma semana de trabalho de seis dias. Apesar de ainda não ter recuperado de uma quinta-feira que começou às 8h00 e acabou à 00h30 do dia seguinte. De nunca dormir o suficiente. De não conseguir adormecer profundamente. A cabeça sempre demasiado cheia. É o sol que me desperta. São as cores desta cidade num Outono adiado. Lisboa tem mais espaços verdes do que alguma vez tinha reparado. Há vida na Avenida da Liberdade. Turistas e lisboetas que desdenham dos centros comerciais. Espécie em vias de extinção que resiste a quatro paredes e respira o fumo dos tubos de escape. Há ainda mais a partir dos Restauradores. Afinal a Baixa não está sequer moribunda. Passar a semana do Chiado afasta-me destas paragens nos dias de suposto descanso. Há gente. Muita gente nos passeios à espera para atravessar. Nas esplanadas. Em frente às montras. Muitos turistas de máquina em punho. Estão bem com a vida. Deixo o carro na Praça das Cebolas. Subo com tempo e com calma. Gosto das ruelas, dos becos, das escadas escuras em túneis decadentes. Gosto das velhotas que espreitam quem passa. A roupa pendurada nas janelas. O ambiente de bairro que me lembra S. Bento. Cheira a grelhados. A peixe assado. Com tempo decido a entrar pela primeira vez no Pois, Café. Já por lá passei tantas vezes. À pressa. Hoje entro e procuro mesa. Há divãs e sofás, mesas de jantar, mesas de apoio. Escolho uma mesa de tamanho familiar [é mais fácil de abrir o Expresso], que partilho com dois casais estrangeiros. À minha frente esperam a conta. Os outros entretém-se com guias de viagens e um livro. Não consigo ver a capa. Não resisto a bisbilhotar as leituras dos outros. Há por toda a parte estantes com livros [quase todos estrangeiros] e placares de anúncios. Lêem-se livros. Joga-se às cartas. Saboreia-se apfelstrudel acompanhado de sumos de frutos. Há música e o ambiente mais ‘cosy’ que já encontrei num café de Lisboa. Não é um sítio de passagem. É para ir ficando, enquanto se vê a rua escurecer.
quinta-feira, outubro 11, 2007
Dias longos

terça-feira, outubro 09, 2007
A sociedade de consumo engripou-me
8h30, manhã temperada.Dispo o casaco e de ombro ao léu saboreio o sol que começa a aquecer - "Há bolo rei", leio na vitrina de uma pastelaria.
15h30, ainda de ombro ao léu, resguardo-me na sombra do Martinho da Arcada. 28º graus diziam os termómetros. Numa pastelaria mais acima, os "pais natais" de chocolate ameaçavam derreter.
19h30 e está um daqueles fins de tarde de esplanada. No Cais-do-Sodré apregoam-se castanhas assadas.
E à minha caixa do correio não páram de chegar catálogos com promoções de Natal.
A minha sensibilidade diz-me que estamos no final do Verão, com um pé talvez já a entrar no Outono. Mas à minha volta querem fazer-me querer que já é inverno. E, baralhada, estou agora com uma gripe de caixão à cova. Até onde vai o poder da sociedade de consumo?
Sonhos e pesadelos
[No dia seguinte escrevi o mail, mas não o cheguei a enviar. As coisas resolveram-se por vias mais oficiais. A minha raiva ficou ali escarrapachada num ecrã de computador. Sem consequências de maior]
segunda-feira, outubro 08, 2007
Dizem que há uns senhores de bata branca que curam estas coisas
Mulheres
[Depois de ler o artigo e os argumentos, volto ao assunto.]
domingo, outubro 07, 2007
Coisas simples
José Eduardo Agualusa, O Ano em que Zumbi Tomou o Rio
quarta-feira, outubro 03, 2007
Diz-me onde vais, dir-te-ei quem és
Nos últimos dois meses, e salvo semana e meia de férias, alguns jantares, bons livros e televisão/DVD, o meu hobby é ir ao Estádio da Luz.
[O facto de ter sacado do bloco para escrever este post durante o jogo também deve dizer muito. De mim, mas principalmente da qualidade do jogo.]
terça-feira, outubro 02, 2007
Outono
PS: Devolvam-me o Verão!
segunda-feira, outubro 01, 2007
Não há duas sem três...
Fraquejei. Durante duas semanas não teria dúvidas se me perguntassem. Sou um rato. Cedi e voltei a ter os meus velhos amigos por companhia. O problema é que eles voltaram como se nunca tivessem partido. Donos e senhores do meu espaço. Da minha vontade. Com uma diferença. Com o prazer vieram pequenas nuances. Coisas que nunca antes me incomodaram começaram de repente a desorientar-me. Muito. Primeiro que tudo os cheiros. Em mim. Em casa. Depois a respiração. O hálito. De um dia para o outro estava a fumar tanto como se não tivesse parado. Amanhã volto a pôr um ponto final. Começo do zero com os riscos que tal decisão acarreta. As mãos desocupadas. Os nervos à flor da pele [nada de novo. com ou sem cigarros]. A ausência de uma desculpa para parar dois segundos a meio da tarde. A ‘solidão'. Já oiço o meu cunhado a dizer-me o quão amiga sou das farmacêuticas. Antes das farmacêuticas do que da Tabaqueiro. O preço é o mesmo. A diferença é que voltarei a respirar melhor. A casa voltará a cheirar a insenso. E eu vou ter muitas saudades...
Ufff
E as 9h00 solto um longo suspiro de alívio. As mãos ainda tremem. Sento-me, porque as pernas também não apram, enquanto vejo passar a imagem. Percebo onde estão os erros. Não há nada a fazer. Os nervos vencem sempre. Nada do que aconteça hoje pode ser pior do que aquilo que já passou. Agora só para o mês que vem. É um alívio profundo. Garanto-vos.
[Adenda: hoje vou para a cama [dormir!] às 20h]