
O segundo Conde Vizela, Carlos Alberto Cabral (1895-1968), para além de ter sido um grande industrial, foi um homem culto e viajado que procurou aos mais renomados artistas do seu tempo para construir, mobilar e decorar a Casa de Serralves.
Entre eles, destaca-se o francês Émile Jacques Ruhlmann, um famoso decorador ao qual recorreu após visitar a Exposição Internacional de Artes Decorativas que teve lugar em Paris, em 1925.
A casa começou a ser construída nesse ano e os trabalhos terminaram só em 1944. Foi "um projecto ambicioso", que o conde conseguiu concretizar ao mesmo tempo que geria a Fábrica de Fiação e Tecidos do Vizela, uma das maiores do seu tempo.
A construção encontra-se amplamente documentada através da correspondência que o Conde Vizela e Ruhlmann mantiveram entre 1926 e 1939, "por vezes quase diária", segundo referiu o director do Museu de Serralves, João Fernandes.
"Tudo vinha de Paris", salientou João Fernandes, observando, no entanto, que "o Conde Vizela é o grande autor da Casa de Serralves", mas com Ruhlmann por trás.
Eurico Cabral ainda se lembra bem do tio, da casa que ele teve em Biarritz, França, e de como Serralves foi o seu "primeiro choque cultural", quando pela primeira vez lá entrou, em 1947.
"O meu tio reuniu praticamente toda a família aqui, quando inaugurou a casa", recorda ainda. Segundo conta, o segundo Conde de Vizela era homem de poucas falas, "sempre muito sério e que vivia muito isolado, sobretudo aqui em Portugal".
Tudo mudava quando se encontrava em Biarritz. "Ia às compras ao mercado, andava sempre sem gravata, coisa que nunca vi aqui, vestido com casacos desportivos, e ia à praia", conta Eurico Cabral, que guardou este acervo "em caixotes" porque se mudou há pouco tempo para Lisboa.
A Fundação de Serralves pretende "pôr à disposição do país" este acervo, de que também fazem parte fotografias tiradas pelo célebre Domingos Alvão, de modo a poderem ser consultado e sobretudo integrado numa "grande exposição" que vai fazer sobre a Casa de Serralves a partir de Julho deste ano.
A exposição integra-se no programa de comemorações dos 20 anos da criação da própria Fundação de Serralves. A propriedade onde se encontram a Casa e o Museu de Serralves foi depois comprada, em 1957, por Delfim Ferreira, Conde Riba d' Ave, a quem se deve a preservação deste património. Em 1986, o Estado português comprou-a.