Era uma casa sem telhado. Tinha um jardim imenso e uma piscina que a água cobririria até ao cimo, a ponto de poderem os pés chapinhar à bordinha, revista na mão, bóia lá dentro, colchão virado para o sol.
Era uma casa sem telha mas com tecto. Numa das divisões, a casa-de-banho da suite, era até possível olhar para cima, ver de noite as estrelas e a lua quando estivesse cheia, o céu quando as nuvens o não cobrissem, ou simplesmente a chuva, água a gotejar num vidro suficientemente espesso para não deixar entrar correntes frias.
Era uma casa grande com jardim a toda a volta. Ali plantar-se-iam oliveiras e relva. Ali pôr-se-ia uma mesa de cadeiras dobráveis e loiças coloridas para beber sumos, comer torradas e ao domingo gelatinas. Ali ler-se-ia o Expresso ao sábado, nem que fosse apenas a Única.
A casa tinha uma sala enorme, tipo mésanine. Subia-se para um espaço com uma ampla janela de onde a serra sorria e um palácio espreitava. Descia-se para a mesa de jantar, a lareira a sair da parede, rasgando o espaço para manter a temperatura e para uma porta de acesso a todas as visitas. Mas estava ainda trancada.
Era uma casa confortável. Escritório mais três quartos. Outras duas casas-de-banho, banheiras de imersão, chuveiros de massagem, cores fortes e coloridas nas paredes, chão de madeira, corredor de pé-direito que faria Serralves corar. Uma casa de bom gosto.
Era uma casa com garagem para tudo guardar. O carro nem seria o mais importante. Bom, bom... era ali pôr os apetrechos de jardim e as bicicletas. E as tralhas.
Era uma casa sem curvas, com classe, preparada à imagem de quem a quis ter. Era uma casa e não um lar.
Um dia fizemos amor, nessa casa.
Foi nossa, por uma noite.
Incompleta, de paredes ainda por caiar.
Incompleta como nós.
Ando para te dizer isto há uns anos: aquela casa era uma boa merda...
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