terça-feira, janeiro 31, 2006

Mudança

Alguma coisa tem que mudar para que tudo fique na mesma. Só não sei bem o que.

Eu devia ter deixado isto em draft, a marinar, enquanto preparava o estrugido, mas a pressa dá nisto. Frases incompletas, ideias coxas, sem gasolina para chegar sequer ao fim da rua. Depois meto-me a caminho de S. Bento, a pé, passo pelo Príncipe Real, lembro-me de uma tarde de reconhecimento em Lisboa, que começou exactamente ali, de máquina fotográfica na mão, e quando entro na Praça das Flores, já estou em pleno flashback. Há dezenas de fotogramas que passam por um projector de slides imaginário. Cada pedra da calçada, cada árvore, cada prédio, cada loja, traz consigo a memória de dias felizes. Quando subo a escada íngreme em direcção àquele que já foi o meu 2º. andar direito vou mais leve, como se as folhas do calendário tivessem passado em branco pelos meses em que não morei no meu T0 com mezzanine. Mas já não é o meu cheiro, o nosso cheiro, que me recebe quando empurro a porta. Já não resta nada de mim. Passo os olhos pelos móveis, os mesmos, procuro sinais que sei que vou encontrar. Desisto. Interessam-me, os sinais, na proporção exacta da tua felicidade, e essa vê-se nos gestos, ouve-se na voz. Fixo o olhar na janela, o quadrado de alumínio (sacrilégio arquitectónico) sobre o jardim, nas buganvílias por onde, nas noites de Verão, subiam os acordes do piano martirizado pelo vizinho alemão. Mas não era sobre isso que queria escrever. Esses dias estão bem guardados, devidamente acondicionados numa caixinha verde alface, no terceiro compartimento da esquerda a contar da pálpebra direita. Na cómoda das recordações felizes, de sorriso rasgado. Têm o mesmo sorriso que o meu inominável tanto gosta. Também não é ele o tema desta posta. E se aqui cheguei foi apenas porque, a meio caminho entre o Príncipe Real e S. Bento, me lembrei do que queria escrever.

O assunto é a mudança, está escrito lá em cima, e o melhor é cumprir. Já basta o peso na consciência por continuarmos a defraudar as expectativas dos leitores que aqui entram à procura de sexo. Temos pena, mas o que há fica fechado a sete chaves e quando sai em surdina, se sai, fica por ali a pairar na esplanada no Moinho, para os lados de Carcavelos, ou enterrado nos canteiros da varanda da Parede. Seja, então, a mudança. Aquela que começou há quase um ano e que ainda não acabou, que muito possivelmente não irá acabar. A culpa foi do corte de cabelo. Não, a culpa foi do ‘ex’ que não via há anos e que disparou, sem apelo nem agravo, com um estás velha. Tive vontade de responder e tu uma baleia, mas percebi que se o problema dele tinha solução, o meu dificilmente sairia dos cuidados intensivos. Depois sim, veio o corte de cabelo, veio a metamorfose de guarda-roupa, os ganchinhos coloridos, e veio o sorriso. Mas sei que a mudança não é só exterior - essa está arrumada até que soem as sirenes e os carros de bombeiros me levem trôpega até ao N -, o problema está na outra, mais profunda, mais dolorosa, mas também mais consequente. É essa que ainda não acabou, que possivelmente nunca irá acabar, como não acaba uma tarde numa mesa de mármore de um café com história.

Com um Mr. Big assegurado, só faltava a confirmação

You Are Most Like Carrie!
You're quirky, flirty, and every guy's perfect first date.
But can the guy in question live up to your romantic ideal?
It's tough for you to find the right match - you're more than a little picky.
Never fear... You've got a great group of friends and a
great closet of clothes, no matter what!


Romantic prediction: You'll fall for someone this year...

Totally different from any guy you've dated.
[Vá lá, não demora mais de dois minutos...]

domingo, janeiro 29, 2006

2º andar direito*

(...)
e não me olhes, que o amor ainda acorda
deixa-o dormir o nosso amor, um bocadinho mais
deixa-o dormir, que viveu dias tão brutais

E o homem, de pé
Parece um rapazinho a ver se compreende
e grita e diz que ele também não se vende
que quer a paz mas de outra maneira
e nem que essa noite fosse a derradeira
veio afirmar quer ela queira ou não queira
que os dois ainda têm muito a aprender

(...)


Somos tão novos, diz o homem
e agora é a vez de a mulher se impacientar
essa frase já começa a tresandar
é que não é só uma questão de idade
o amor não é o bilhete de identidade
é eu ou tu, seja quem for, ter vontade
de mudar e deixar mudar
(...)


2º andar direito, Sérgio Godinho
Pano-cru (1978)

* Reeditado, estava muito longo... uff

Neva em Lisboa

Pronto, a inveja passou. Está a nevar lá fora. Os farrapos milimétricos transformaram-se em verdadeiros flocos. O meu clio, cinzento à nascença, está branco como nunca foi. E eu sem uma máquina fotográfica :(

A inveja é uma coisa feia

A1 Santarém-Leiria www.brisa.pt

Duas sem três

Ia escrever sobre futebol. Pelas razões óbvias mudei de ideias. Mas um Benfica-Sporting há muito que deixou de ser um simples jogo de futebol. Disse-te um dia – num dia específico – que acreditava no destino. Em menos de um ano vi o Benfica ganhar por duas vezes ao Sporting na Luz. Hoje escrevi numa mensagem provocatória que 'não há duas sem três'. Enganei-me.

Vimos juntas o Jeux d' Enfants. Choramos juntas e prometemos que a partir dali só víamos desenhos animados. Foi quando me contaste dos jogos, os teus. Parada no sinal, pensavas que ele iria ligar se o terceiro carro a passar no cruzamento fosse azul. Verde, vermelho, cinzento. Ele não ia ligar. Lembro-me que o sentimos em dois momentos distintos nesse dia até que me enviaste uma mensagem que dizia: “De repente senti que o destino existe mesmo”. Mudavas de estação à espera de ouvir aquela música, porque se fosse aquela era sinal que irias esbarrar com ele. E da caixinha negra saíam os acordes desejados. Mas não o encontravas. Eu olhei para a mensagem, não para o jogo, aquele jogo que de repente não me interessava para nada. Olhei para a mensagem e sorri. Mesmo assim, persistias. Irredutível como todos os que verdadeiramente amaram. Paravas o carro e andavas sem pisar as pedras pretas da calçada. Se o fizesses ele não ia aparecer. Mas pisavas, nem que fosse só com a ponta do sapato. O destino, a partir desse momento, passou a existir. Jogos como os que fazíamos na infância. Rodar o pé da maça enquanto soletrávamos o alfabeto mentalmente, à espera que partisse naquela letra, porque só aquela nos interessava. Porque o destino só existe quando duas pessoas, no mesmo tempo e na mesma circunstância acreditam nele. Será que ainda ensinam estas tontices aos miúdos. Saberão eles pegar num malmequer, se bem que já quase não há malmequeres, há margaridas deslavadas engendradas em estufas, e arrancar pétalas numa espécie de oração proferida a meia voz: bem-me-quer-mal-me-quer-muito-pouco-ou-nada-bem-me-quer-mal-me-quer-muito-pouco-ou... O destino existe entre nós. É por isso que um Benfica-Sporting não é um simples jogo de futebol. E o Benfica perdeu.

sexta-feira, janeiro 27, 2006

O outro crime do padre Amaro

Em jeito de balanço de final do ano de 2005 não fiz promessas vãs. Apenas formulei um desejo: trabalhar muito menos ao longo do ano que agora começa. Se soubesse melhor (de if I knew better), teria feito muitos mais desejos uma vez que vou chegar ao fim do mês de Janeiro com apenas três dias trabalhados. Quando fiz o desejo, ainda em 2005, não estava propriamente a pensar em ficar de baixa... mas que o desejo foi já parcialmente atendido, isso foi.
Hoje é o meu 23º dia sem fumar. (pausa, respirar fundo, suspiro). Até aqui, a sanidade ainda vai resistindo em nome de um pulmão lesionado e do medo de ter uma recaída. Mas a ansiedade já começa a apertar e a gritar por baba de camelo, chocolates, queques de chocolate, rebuçados, filipinos, enfim. A ementa é apenas uma pequena amostra daquilo com que durante o dia de hoje fui matando o "bicho".
Tenho tentando manter-me calma. (pausa, respirar fundo, concentar). Até à hora do telejornal de hoje, altura em que o nosso Primeiro apareceu na televisão para me dar cabo dos nervos. Então não é que até 2009, diz ele, deixará de ser preciso entregar IRS por que as finanças passarão a fazer a "presunção da dívida fiscal do contribuinte". Tipo estimativa da EDP? Sócrates anunciou-o em nome da desburocratização. A mim, parece-me mais uma ameaça. Fiquei com os nervos em franja. E comecei a pensar: e se for só uma passa, posso dar só uma passa... vai-se a ver e até me sabe mal. É isso, vai saber-me mal.. por isso posso dar só uma passa.
Na gaveta das necessidades um maço à minha espera. O coração palpita. ESTÁ VAZIO. Da palpitação à taquicárdia. Vasculho gavetas e bolsos. Nada. Desespero. Até qque fiz aquilo que não fazia há seguramente mais de uma década. Com as mãos a tremer à proporção do peso da consciência, devorei umme sabe mal. Adorei.a beata. Tal qual Padre Amaro. Soube-me pelo céu. Não enjoei, não Socorrooooooooooooooo!! Não posso voltar a cair em tentação.
Por isso, preparo-me agora para devorar uma tijela de grão cozido com azeite, um vício (outro) que remonta aos dias de inverno da minha infância.

Moral da história. Está tudo encaminhado para que o meu desejo de final de 2005 se mantenha ao longo do ano. Se não conseguir controlar-me, arrisco-me a engordar desalmadamente. Feitas as contas engorda + engorda = engorda muito = baixa de auto-estima = depressão = baixa!!

Don't R.I.P.

Morte aos barrigudos de farda azul. Morte aos tipos de bigode à anos 70. Morram os cabrões que andam pelas ruas da capital de bloco de multas na mão. Que se tropecem na porra dos bloqueadores e fiquem em estado vegetativo. Morram os polícias municipais que se escondem nas esquinas (só assim se expliquem que tivessem tempo para bloquear o pobre do Clio e passar a multa nos dois minutos que demorei a escolher o hidratante na farmácia do Camões. O senhor António bem me avisou...) à cata de mulheres indefesas. Morram! e devolvam-me os meus 49,95 euros que vão engordar as contas da CML e da DGV.

Madrid me mata

Tira gentilmente roubada no Pausa para Café.


Estava frio em Madrid. Aquele frio cortante a que não se habituam as pessoas que vivem perto do mar. Estava um gelo e mais uma vez não levei o sobretudo. Ainda não o vesti este ano. Tem sido gentil o Inverno de Lisboa. Mas não é do tempo que quero falar. Espanha é desde 1 de Janeiro mais um paraíso dos fundamentalistas antitabágicos. Não se fuma nos bares, nos restaurantes, no átrio dos hotéis, you name it. Lá voltei a passar três horas sentada num restaurante sem poder aceder um cigarro, com a agravante de o cicerone da noite ser um dos nossos excelsos governantes e parecer mal sair da mesa para matar o vício. Entre um ponto e outro éramos conduzidos por um charmoso espanhol e à chegada saíamos do carro e ficávamos uns minutos a enregelar, mãos a tremer, dentes a bater, e o pior é que os meus batem mesmo, e cigarro entre os dedos. A última paragem foi a embaixada portuguesa. A cena repetiu-se. Maços para fora, isqueiro na mão, e uma das pessoas que ia comigo a dizer vão entrando que nós vamos fumar um cigarro e lá ficam parados ao portão. Desculpem? Se bem me lembro das aulas de direito político, dadas com mestria pelo Basílio, deste portão para dentro é território português e que eu saiba em Portugal ainda se pode fumar. [Eu sei que tenho a mania] Lá fui, cigarro aceso na mão, porta dentro. Entro e segundos depois oiço uma tia histérica gritar em castelhano aqui no se fuma. Que eu saiba não há nada na lei que me proíba de fumar. Que no, que no se fuma. E vai a correr perguntar ao embaixador. À resposta afirmativa desfaz-se em sorrisos. Nas costas dela uma dezena de mãos, sem exagero, entra nos bolsos à procura dos cigarros.

Novos vícios


200 gramas comidas de enfiada, quadrado após quadrado.

Sem título*

Ponho os auscultadores para não me ouvir pensar. Não. Ponho os U2 a tocar para me concentrar no que devo. Nas palavras que amanhã sairão imprensas a negro. A minha estagiária, que não é propriamente minha, mas que eu gosto de tratar assim, passa a vida a queixar-se porque não temos música. Eu concordo com ela. A estagiária, que não é estagiária nenhuma, que vale mais que muitos jornalistas, lembra-me outras quatro meninas quando começaram nesta vida de jornaleiras. A minha menina passou uma tarde inteira numa comissão parlamentar a mandar sms. Despachava mensagens compulsivamente enquanto eu pensava com os meus botões, será que esta gaja sabe que está aqui para trabalhar. A mesma gaja que depois chegou à redacção e foi capaz de debitar tudo o que foi dito mais depressa do que eu. Não lhe escapou nada. Nunca lhe escapa nada. Eu simpatizo com esta miúda, com a forma como vê a vida, a paixão com que a vive. A minha estagiária gosta de histórias de amor. Como eu. Mas recusa-se a ver comédias românticas. É de lágrima fácil. Como eu. A minha estagiária escreve bem. Escreve sobre o amor. A forma como ela o vê. Como o vive. É delicodoce. É, mas é genuína. Tal como eu é viciada no mais perigoso dos jogos. A sedução. Depois disso já nada interessa. Sei como é princesa. Mas também sei que um dia precisamos de parar. Eu parei. Pelo menos por uns tempos. Aprendi a medir o peso de cada gesto, de cada palavra. É certo que não resisto a trazer aquela mini-saia no dia em que sei que preciso de ter o ego no seu expoente máximo. Não seduzo. Mas não passo despercebida. Mas há coisas que devemos guardar só para nós mesmo quando queremos gritá-las ao mundo inteiro. A rapariga é impulsiva. Como eu. Age primeiro, pensa depois. Mais vale arrependermo-nos do que deixámos por fazer, do que daquilo que fizemos. Mais vale cair, ficar cheia de nódoas negras, um braço ao peito, um penso na cabeça, mas com a certeza de que tentamos, não é? Eu gosto da minha estagiária. Ouve-me e lê-me quando me vê mais desanimada. Não dá conselhos, apenas oferece o ombro. Vai-me buscar cafés e comprar cigarros. Ofereceu-me um livro depois de eu a ter ‘levado’ ao parlamento. Diz-me que escrevo bem, que ofusco outras escritas. E mesmo que não fizesse nada disto, que não me massajasse o ego eu ia gostar dela. Gosto de pessoas com garra. Que enfrentam os desafios com um sorriso nos lábios.

*Temos pena, mas gastei a criatividade, bem escasso por estes dias, a parir o post, que por sinal não ficou grande coisa, mas foi o melhor que se pode arranjar.

terça-feira, janeiro 24, 2006

A room with a view


Paseo de La Castellana, Madrid

Lágrimas

A mentira tem pernas curtas, por isso se apanha mais depressa um mentiroso que um coxo. As lágrimas deixam, no momento exactamente antes de desaparecer, manchas azuladas nas folhas de papel branco. Não confiar em ninguém. É este o recado do dia.

domingo, janeiro 22, 2006

Eleições

À falta de sexo, temos política num blog apolítico.

Só para dizer que estou de luto e amanhã emigro.

Sobe ou desce?

Sonhei com elevadores e sei de quem é a culpa!

It’s the end of the world as we know it

Sei que prometi. Que disse que não fazia desta cidade um poço de tristezas. Sei que não gostas deste tom, Miranda. Sei que é por isso que te manténs longe. Mas hoje não consigo escrever mais nada e preciso de escrever. Preciso muito. Porque me dói o lado esquerdo do peito. Nos ataques cardíacos as dores são reflexivas. Sentem-se do lado direito, longe do coração. Começou de madrugada, quando entrei no Tóquio, quando pensava que ia, como sempre, libertar-me de todas as angústias. Enterrar os medos, seven feet under. Mas desta vez foi diferente. U2, Xutos, Morphine, REM, It’s the end of the world as we know it, mas a música não chegava aos pés, às pernas, aos braços. Não chegava porque entrava no cérebro e fazia ricochete nos pensamentos. Bem tentei mandá-los embora. Dizer-lhes que não tinha tempo para eles. Deixem-me. Vão pregar para outra freguesia e eles nada. Continuavam ali, para a frente e para atrás. Assustavam-me. Repeliam a música. Não consegui vibrar. Libertar-me. Como não consigo agora reagir. Queria dormir, só isso. Dormir para não pensar. It's the end of the world as we know it. Can't I have some time alone?

sexta-feira, janeiro 20, 2006

1.291.96

Conheci o senhor Manuel na segunda-feira e já só penso nele. Nele e no número que vai marcar os meus próximos dias, os meus próximos meses, provavelmente, todo o ano que ainda agora começou.

Primeiro, o senhor Manuel ganhou a minha confiança. Ouvi falar dele por terceiros. Bem. Era o melhor, honesto, às direitas. Acreditei e deixei-me levar. Conheci-o numa tarde fria deste Inverno, numa praceta cheia de carros estacionados, um céu a cair para a noite, uma mão que apertava a minha para sorrir com o rosto.

Entreguei-lhe parte do meu mundo, nessa tarde. E parti com a chave da outra metade.

No dia seguinte o senhor Manuel mandou recado. Do lado de lá da linha a palavra firme a defender a postura, a conduta, a integridade do senhor Manuel. Por isso estavam a ligar-me. Para que não houvesse dúvidas. Porque o senhor Manuel não queria ficar mal, perante mim, muito menos quando estávamos a ter a nossa primeira aproximação.

Correspondi. Confio, disse eu. Nem preciso de pormenores. Existe valor maior que a confiança?

Hoje, passados quatro dias, o senhor Manuel recebeu-me de braços abertos. Tinha as mãos sujas mas estendeu o pulso, orgulhoso, para que eu lho apertasse. Foi o que fiz, ansiosa pelas novidades, pela parte do meu mundo que me ia ser devolvida, pelas mudanças que ela traria, pelo sossego restabelecido.

O senhor Manuel mostrou-me tudo. Peça a peça. O que era velho, que fazia parte do passado, estava já pronto para ir para o lixo. O senhor Manuel justificou-me tudo. Isto não, por isto... isto não, por aquilo. E faziam sentido aquelas palavras, quis ver-me livre daquelas velharias, que foram parte de uma parte do meu mundo.

No fim, já sem conseguir controlar a ansiedade, apertei os dedos entre as mãos para suportar a espera. As palavras do senhor Manuel mergulhavam na minha cabeça já cansada, como o passado mergulhava num caixote também velho.

O cheque que passei ao senhor Manuel é de 1.291.96. Assim mesmo: mil, duzentos e noventa e um euros e noventa e seis cêntimos. Por extenso. Assinado por mim. Apeteceu-me gritar quando vi o valor, quando percebi que não estava a juntar mal os números. Em poucos frames tudo me veio à memória, as contas de somar e de subtrair, as de dividir que a minha mãe me ensinou, as de multiplicar que foram, para mim, desde miúda, as mais dificeis de acertar...

Talvez tivesse sido melhor trocar de carro... Ou talvez tivesse sido melhor não confiar no senhor Manuel, o mecânico mais caro que conheci até hoje.

quinta-feira, janeiro 19, 2006

Entre um blog e outro

Estou desanimada. Dias normais, não reajo bem a dias normais, são mais tristes que os tristes, os dias em que sofro por algo ou por alguém. Não há nada pior do que não desejar nada. Os dias são todos iguais. Vá, tem meia hora para mudar a minha vida.

E para que conste não me sinto assim, por acaso...

Luto Nacional

Sou uma mulher de hábitos. Peço desculpa, mas é o melhor que se pode arranjar. Sou fiel ao mesmo perfume há pelo menos três anos. Não perco uma tarde de leitura na melhor esplanada de Lisboa desde que a descobri. Compro o jornal, o ‘Público’, sempre o ‘Público’, no mesmo sítio. Tomo o primeiro café da manhã à porta de casa. Compro o mesmo champô há séculos. Não mudo de manteiga, de arroz e de iogurtes há uns anos. Não troco de velas, as mesmas, vermelhas ou azuis, desde que o ikea abriu. Faço uma ceia todas as noites antes de ir dormir, torradas com doce de pêra e um batido de chocolate, mesmo quando os olhos já pesam e os pestanas© batem a porta pela décima vez. Fumo a mesma marca desde que recomecei a fumar. Vou à mesma praia todos os anos. Na Serra não passo sem um passeio ao Carvalho grande. Na Häagen-Dazs peço sempre strawberry cheesecake. Sou uma mulher de hábitos e alguns cumpro-os religiosamente. É por isso que neste momento estou perto do caos. O N., o melhor cabeleiro de Lisboa e arredores, que consegue que eu tenha bom aspecto durante uns meses, que dança à minha volta enquanto me corta o cabelo, que não abre a boca por um segundo, que sabe melhor do que eu o que quero… o N. foi-se embora. Não deixou nova morada, não me escreveu um postal, abandonou-me, simplesmente. Perdi-lhe o rasto. É altura de decretar luto nacional.

Criação...

E ao quarto dia de folga, ainda não descansei...
E à quarta noite de sono, ainda não consegui dormir...
O meu mundo é imperfeito.
Até ver.

Nunca peças desculpa por teres orgasmos múltiplos

Na televisão o Michael Douglas diz à Kathleen Turner ‘nunca peças desculpa por teres orgasmos múltiplos’. As pessoas bem-educadas pedem desculpa quando abusam da generosidade dos outros. Eu pelo menos sou assim. Mudo de canal, com vontade de mudar de vida. Tenho a cabeça feita em água. Talvez por isso as palavras não saiam, ficam por lá a boiar e não querem saber se eu preciso de desabafar. Sim, A., eu sou aquela que passa a vida a queixar-se.

Eu que sempre achei que isto era fácil, era só juntar as letras que os textos se escreviam por si, fico em pânico em frente ao ecrã branco do Vaio, sem nada para dizer. Amedrontada desde que esta cidade ficou mais completa, que os padrões de qualidade subiram. Só nos falta ter um ISO 900, mas a atribuição é certa. Bloqueada desde que um inominável, também os tenho Dia, nos linkou num blog que tem mais visitas por hora do que nós temos por dia.

Tenho a cabeça em água e amanhã tenho que acordar de madrugada para ir ouvir um senhor com trissomia 21. Não me venham dizer o contrário porque não acredito. A linha que separa a loucura da genialidade é frágil, mas este é o primeiro espécime vivo que conheço, ainda que na verdade só lhe reconheça a loucura. Vou por o despertador para as 7h porque alguma alminha descobriu que eu sou uma mina, falta-me saber se o mineral vale alguma coisa, em potência. Dizem-me para aproveitar o bom momento. Não percebo o que tem de bom acordar de madrugada, mas devo ser eu que sou de compreensão lenta.

Eu não queria escrever nada disto. Só queria mesmo era queixar-me porque a semana nunca mais acaba. Porque tenho a agenda cheia e não tenho cinco minutos para me organizar. Porque já passaram 18 dias desde o início do ano e ainda não pus os pés na melhor esplanada de Lisboa, o livro é o mesmo do ano passado e ainda só vou na página 200. Porque ando ocupada com milhentas coisas que em nada contribuem para a minha felicidade e não tenho tempo para o que realmente me apetecia fazer. Não tenho tempo para passar uma tarde a dar mimos à Miranda. Faltei ontem a um jantar com a Samantha. Não liguei à Charlotte para saber como está. O Gui, o meu mais que tudo, também precisa de mimos, e quando chego já está a dormir. Fico a vê-lo respirar com dificuldade e é uma dor de alma por não poder fazer nada.

Ainda não mandei o fax aos senhores a netcabo a dizer para passarem bem, mas que por mim podem fechar a loja que já não preciso deles para nada. Também não liguei para a segurança social para mandarem de novo um reembolso miserável que não fui depositar. Ando há uma semana para marcar cabeleireiro, mas quando me lembro de ligar já fechou. Idem para a depilação. Não consigo ir comprar os sapatos com que vou estrear aquela mini-saia linda de morrer que vai deixar os gajos todos com torcicolos. Aí as coisas melhoram. Não há como uma boa dose de piropos para massajar o ego.

quarta-feira, janeiro 18, 2006

Mito 2

É difícil deixar de fumar!

Por amor de Deus. Este deve ser provavelmente um dos mitos urbanos mais sólidos de sempre e até iria jurar que foi inventado pelo lobby das tabaqueiras.
Deixar de fumar é difícil????? Desde quando???? Eu não fumo há 14 dias e estou perfeitamente tranquila. E se por vezes me sinto mais angustiada é só por não poder sair à rua, nem sequer pôr a cabeça fora da janela. É difícil deixar de fumar? Claro que não. Basta ter a sensaçao de que os pulmões poderão explodir a qualquer momento; ficar trancada em casa uma série de dias; voltar a chuchar no dedo de vez em quando; e começar a acreditar veementemente que o tabaco provoca cabelos brancos.
Se eu soubesse tudo isto antes, já teria deixado de fumar há muito tempo. Mas a verdade é que só agora os brancos se começam a manifestar descaradamente. E dois deles são ... púbicos.

Mito 1

Quem me dera uma gripezita para ficar em casa a descansar...

Irei certamente rosnar à próxima pessoa que disser tal barbaridade à minha frente. Estou farta. É que estou mesmo farta. E o pior é que não me apetece fazer nada que me ajude a passar o tempo. Tento ler mas não me consigo concentrar e escrever faz-me doer o ombro direito, que faz doer o braço, que faz doer o peito, que faz.... doer a alma. É isso mesmo, acho que dói a alma de tanto pasmar.
Mas hoje é um dia especial. Lá para o final da tarde vou ao médico. Há muitos dias que não me acontecia nada tão excitante. Não penso noutra coisa desde que acordei, nomeadamente em detalhes tão importantes como qual cachecol levar. Um pormenor apenas mas que me ajudou a passar, pelo menos, 30 minutos a decidir também qual a camisola a vestir...
E como é dia de festa, mandei vir uma pizza para o almoço. Está uma bela porcaria, é verdade. Não vou denunciar o estabelecimento porque estaria a comprometer uma pessoa de família que também já tem problemas que cheguem. Mas sempre foi um pretexto para por o nariz fora da porta para pagar ao rapaz. Ar puro. Deem-me ar, por favor!!!!
Erro fatal: a Coca-Cola. Fiquei com soluços e por cada soluço ganho um espasmo de dor.

terça-feira, janeiro 17, 2006

A emissão segue dentro de momentos.

A gerência pede desculpa, mas foi atacada por uma bactéria obscura, se fosse ao médico ser-lhe-ia, muito provavelmente, diagnosticada uma virose, designação comum para maleitas desconhecidas, que afectou a capacidade de escrita. A chuva deu uma ajuda e lavou-nos as ideias, ficaram mais brancas do que se fossem esfregadas com Omo, as palavras foram com a enxurrada, e à frente temos apenas uma página em branco. Esperam-se, por isso, melhores dias.

Not much more*

There’s more to life than books, you know
But not much more
Oh, there’s more to life than books, you know
But not much more, not much more

The Smiths, «Handsome Devil», Hatful of Hollow, 1984)

* Via Estado Civil

segunda-feira, janeiro 16, 2006

sexta-feira, janeiro 13, 2006

Quarto 122 - The end

- Senhora enfermeira, que horas são?
- Ó minha querida ainda é cedo, faltam dez para as sete. Durma mais um bocadinho..
- Nao posso. Tenho que me arranjar. Vêm buscar-me daqui a pouco. Vou-me embora. Vou-me embora. Vou-me embora. Vou-me embora. Vou-me embora. Vou-me embora. Vou-me embora.

O disco estava riscado desde ontem à noite. Vou-me embora. Vou-me embora. Vou-me embora.

E vim mesmo. Deixei finalmente o quarto 122 e percorri a marginal como quem nunca tivesse visto o mar. Estou em casa, finalmente. Quase como que um regresso ao útero. Estou onde pertenço, onde sou.

Faz hoje uma semana que não toco num cigarro. Nem poderia ser de outra maneira pois ainda me custa a respirar. Mas este regresso a casa está a deixar-me nervosa. Em 40 minutos já bebi dois cafés e comi um queque de chocolate. Mas não consigo deixar de pensar no stock de português suave que comprei quando soube que o tabaco ia aumentar. Só eu sei onde é que escondi os maços. E se apenas cheirasse um cigarro, mesmo que apagado???
Tragam-me unhas por favor, preciso de algo para roer mas que não engorde.

Como medida de precaução, a minha mãe deve estar mesmo aí a chegar. Desejosa de cuidar de mim. Agasalha-te. Tens que comer. Tens que beber líquidos. Queres que volte amanhã? Queres que de faça as refeições dos próximos dias? Não te canses....

Quem tem uma mãe tem tudo, lá diz o ditado.

Socoooooooooorrrrrrrrrrrrooooooooooooo! A minha mãe vem aí....

O Concerto

Há um ano o telefone tocou logo de manhã para te ouvir dizer 'o meu pai morreu. mataram-no'. Foste muito rápida e acelerada, e falaste daquilo como se me estivesses a dar uma outra notícia, qualquer outra, passada com outras pessoas. Nesse dia era sábado. Levantei-me a correr e foi a minha vez de acelerar. Recolhi quem tinha de estar connosco, contigo, e segui pela A1 à espera de encontrar-te desfeita. O teu pai era o teu ídolo.

O teu pai foi assassinado. Coisas que só lemos nos livros, que só vemos nos filmes, que, quando muito, ouvimos nos noticiários e viramos a cara para não ver.

Estavas bem-disposta. Na altura, pensei, excessivamente bem-disposta.

Há imagens que me ficaram, nomeadamente a tua, sentada no crematório, numa espécie de fila de espera porque só entra um caixão de cada vez, óculos enfiados na cara, saia no teu corpo redondo, telemóvel sempre à mão, um olhar mais distante que todos os que te vi. Falavas muito, andavas de um lado para o outro. No velório comportaste-te como a noiva que corre todas as mesas para agradecer a presença dos convidados.

Não quiseste que ninguém tivesse pena.

Até ao dia em que me fartei das tuas mentiras, das tuas invenções, da tua maldicência, do teu egoísmo. E disse-te que não podíamos fingir que existia, entre nós, uma amizade. Nesse dia tudo serviu para me lembrares que estava a fugir. Pediste que lamentasse, contigo, a morte do teu pai.

Não tive pena e prossegui. Tínhamos falado sobre o assunto várias vezes, tinha-te dito que não podia viver na dúvida, na desconfiança, sobretudo não consigo chamar amigas às que de mim falam como se não o fossem. Decepcionei-te depois de me teres decepcionado vezes sem conta. E senti que ser amiga pode não ser estar ao lado, mas sim saber quando nos devemos afastar.

Muita coisa mudou na tua vida. Por fora e por dentro. Mudaste como talvez nem tu notes. Eu também mudei algumas coisas, admito. Mas as minhas mudanças - até por causa das fragilidades que te levaram a perder a paciência, que te levaram a acreditar que, no meu lugar, viverias a vida de uma outra maneira - assentam na firmeza, na verdade, no que penso agora valer a pena. Às vezes, muito pouco...

Reencontrámo-nos porque te procurei. Ver-te ao longe todos os dias, saber de ti pelos outros, preocupar-me contigo sem nada poder dizer, ver-te sorrir quando sei que choras... não podia continuar assim.

Mas nada será como dantes.

Ontem, no concerto que recordava o teu pai, estive presente. Lá me sentei na cadeira a precisar de conserto, do Conservatório, cansada, mais morta que viva, à espera que A Paixão Segundo São João, de Bach, não me deixasse cair. E tu vieste. Estavas outra vez de saia. Aliás, era um vestido, que elogiei. Sei que te vestes assim quando precisas que te falem. Fiquei ao teu lado - porque me chamaste - e perguntei-me se não era aquele o meu lugar de sempre, se teria sido correcto deixá-lo vago, se teria sido justa quando me ausentei. Abraçaste-me como se me dissesses - tantas vezes mo disseste - que eu era perfeita. Gostavas de acreditar nisso, não sei porquê. Também te abracei com gosto.

E mesmo quando foste para a primeira fila - esse teu hábito de estar sempre na primeira fila também me afastou de ti - percebi porque o fazias. Há dias em que podemos exigir atenção. Há dias que devemos sentir como nossos. E na primeira fila não se vê mais ninguém diante de nós.... o caminho é sempre em frente.

O Concerto acabou e despedi-me. Mas hoje voltei a pensar em ti.

Aviso à navegação

As feromonas andam no ar. É favor manter a distância regulamentar de segurança. Depois não digam que não avisei.

quinta-feira, janeiro 12, 2006

Perfume

Saio do jornal no dia em que combino ir ver o The Corpse Bride com a Samantha, desço a rua periclitante, em cima de uns saltos agulha de sete centímetros que insistem em ficar presos nas falhas da calçada, rebobino mentalmente o que fiz, o que deixei por fazer, há sempre qualquer que fica por fazer, o que devia ter escrito na agenda, porque, sei, amanhã já me esqueci. Estou a entrar no metro quando o vejo à minha frente. Não nos víamos há meses. Sempre é melhor do que da última vez em que estivemos três anos sem nos cruzarmos. Está igual, a pele muito morena, os olhos castanhos atentos a tudo, o cabelo muito curto, um sorriso lindo, mas é principalmente o cheiro que me traz à memória uma confusão de sentimentos, de lágrimas e gargalhadas. Sorrio quando penso que me lembrei dele há poucos dias quando revi o Smoke, que vi com ele no King, e que o encontro no dia em que vou ver Tim Burton, o mestre que ele me ‘apresentou’.

Usa o mesmo perfume há pelo menos dez anos, o mesmo que tinha quando me pediu lume à porta do anfiteatro a meio de uma frequência de direito político, a primeira vez que nos vimos. Cansada encostei-me à parede e deixei-me escorregar até ao chão. Fumei o cigarro lentamente sem conseguir tirar os olhos dele. A subtileza nunca foi o meu forte. Nunca fui conquistada, sempre conquistei. Usa o mesmo perfume que deixava, mais tarde, muito mais tarde, na minha almofada. Vejo-o em flashback de calças de ganga, t-shirt branca e pés descalços, na cozinha de uma casa de praia, enquanto preparava, a meu pedido, o seu divinal frango com canela. Vejo-o de perfil no escuro da Cinemateca onde íamos pelo menos uma vez por semana. Recordo-o nos cafés onde passávamos as tardes rodeados de livros e sebentas que não líamos, porque havia sempre qualquer coisa mais interessante para dizer. Na esplanada de Sta. Catarina onde víamos os dias morrer sobre o Tejo. No miradouro da igreja junto à faculdade, com a ponte ao fundo, enquanto fazíamos planos para a casa que compraríamos ali mesmo. Recordo as lágrimas, foram tantas, durante tanto tempo. Demasiado tempo. Lembro-me do dia em que, depois de um longo período de ausência forçada, imposta por mim, o voltei a ver. Uma tarde de sol em Sta. Catarina, outra vez e sempre, aquele jardim. É, na balança do deve e haver, a minha recordação mais feliz. Talvez não feliz, mas sim apaziguadora. Percebi naquele instante que deixará de o amar. Que eu existia independentemente dele.

É com carinho que o envolvo num abraço sincero, que na altura não chamava assim, nem sabia como chamar, como ele me ensinou a dar há tantos anos, que lhe pergunto pela vida. É com carinho que já no metro sinto o perfume que fica colado à minha cara, o perfume com que adormeço nesse dia, horas depois de o ter revisto.

Esqueçam que eu existo

Às 10H30 recebi o meu primeiro telefonema do dia. Era trabalho.
À meia-noite e meia recebi aquele que, espero, seja o último do dia. Trabalho.

Durante o dia não têm conta os telefonemas que recebi. Mais os e-mails a que respondi. E as pessoas com quem falei. Fazem fila, às vezes, e repetem o meu nome mesmo que mais alguém já esteja a usá-lo. Começam a falar comigo com frases do género 'deixa-me só fazer-te uma perguntinha', ou então, 'desculpa lá', ou ainda - a que eu mais odeio - 'tu sabes isto, de certeza'...

Dediquei hoje 3 minutos ao meu irmão. Porque ele me ligou. Dois à minha cunhada - mulher do outro irmão - porque ela me ligou. Sete à minha mãe. E mais dois ou três à mais assídua companheira deste blog. Cinco ao Rei. Sempre ao telefone. Feitas as contas, passei menos de meia hora com as pessoas de quem gosto. Mesmo onde trabalho, e onde tenho amigos, não tive um minuto com eles. Mas nem um só se passou sem crises, solicitações, reclamações, perguntas, chatices, dúvidas... Nem um minuto, sequer.

À uma da tarde fiz a minha primeira refeição do dia. Uma sandes de chourição, porque a fila para o cozido à portuguesa dava a volta ao bar.
Às quatro tive de fazer um reforço. Tosta mista. Ando esfomeada.
Jantei às 11 e meia. Em casa, pela primeira vez desde há uns quantos dias. E tenho frio.

Preferia não existir, aos olhos de tanta gente, nos dias que são como o de hoje. Talvez comesse a horas, talvez dedicasse mais tempo aos que também mereço, talvez não tivesse frio.

Porém... sinto-me gelada, hoje.

Fora de prazo

Começo a desconfiar que algo vai mal quando às 21h não me consigo lembrar, por mais voltas que dê ao ‘disco rígido’, se hoje liguei ou não para o quarto 122. Não sei se falei contigo hoje. Ontem falei de certeza. Paciência. O relatório chegou por terceiros.

Gosto da Clea

‘And then’ she went on ‘there is another thing which perhaps you will discover for yourself. There is something about love – I will not say defective for the defect lies in ourselves: but something we have mistaken about its nature. For example, the love you now feel Justine is not a different love for a different object but the same love you feel for Melissa trying to work itself out through the medium of Justine. Love is horrible stable, and each of us is only allotted a certain portion of it, a ration. It is capable of appearing in an infinity of forms and attaching itself to an infinity of people. But it is limited in quantity, can be used up, become shopworn and faded before it reaches its true object. For this destination lies somewhere in the deepest regions of the psyche where it will come to recognize itself as self-love, the ground upon which we build the sort of health of the psyche. I do not mean egoism or narcissism.’
The Alexandria Quartet, Lawrence Durrell

[São quais 900 páginas não em times new roman 10, mas 9. Algo me diz que ainda vão passar por aqui muitas citações...]

It takes two to tango

Copio o AM-FM enquanto bebo o meu chá verde a escaldar num copo grande do Ikea, igualzinho aos do café que me abriga nas tardes de Sábado. As chávenas estão todas por lavar, enfiadas na máquina, com os pratos das torradas, as facas sujas do doce de pêra e as taças da sopa. Continuo sem paciência para cozinhar só para mim, Janto dia sim, dia não, quando a minha mana me dá guarida. Não gosto de comida congelada. Só cozinho nos dias em que acho que tenho que dar um rumo à minha vida, ser uma mulherzinha como a minha mãe quer que eu seja, quando percebo que a balança se começa a ressentir da ‘abstinência’ forçada pela preguiça. É sempre sol de pouca dura.

Copio os Gift para oferecer à G., a menina de cabelos negros, branca como uma folha de papel, a cara sarapintada por ténues sardas douradas, porque na realidade ela é ruiva, como eu sempre quis ser, que todas as semanas me põe mais bonita, pintando nas minhas unhas pequenos malmequeres brancos, quase iguais à tatuagem que há cinco anos desenhei ao lado do umbigo. Corto o cabelo no Facto porque o Nuno é lindo de morrer e porque não abre a boca durante todo o processo. Dança à minha volta enquanto vai dando tesouradas sempre em silêncio. Na esteticista, talvez porque durante 16 anos fui sempre ao mesmo sítio, criando com ela uma relação de quase amizade, dá-me para falar, mas principalmente para ouvir. A G. é daquelas pessoas que facilmente abre o coração quando sente que a empatia é mútua. E eu gosto dela. A G. está em processo de divórcio.

As pessoas separaram-se muito nos dias que correm. Para o melhor e o pior, na riqueza e na pobreza, na doença e na saúde, até que a morte nos separe. Palavras vãs, com prazo de validade cada vez mais limitado. Por isso já sei que o casamento durou pouco, muito pouco, mas o suficiente para que o (ainda) marido a traísse a torto e a direito com qualquer rabo de saia que lhe passasse pela frente. Até que a G., que nunca mais quer um homem bonito, consta que o dela o era, daqueles que fazem virar a cabeça do mulherio, se fartou e o meteu na rua. Há um mês, mais coisa menos coisa, enquanto me limava às unhas jurava a pé juntos que tão cedo não queria ninguém. Que queria viver a vida, sair mais vezes, ir mais ao cinema, beber copos com os amigos. Até que conheceu o T.

As pessoas apaixonam-se muito nos dias que correm. Mas a G. jurava a pé juntos, palmas das mãos viradas para cima, não fosse um cruzar de dedos, trair a jura, que não gostava dele, porque, pasme-se, ele não era um homem bonito. Afirmava convictamente, na candura do seu sorriso, que nunca se iria apaixonar. Além de não ser bonito, o T. tem um problema maior. Vive, diz ele que ‘partilha a casa’, com a ex-namorada. Uma ex que até hoje não sabe que a G. existe, mesmo que ele passe as noites com ela, trocando beijos e palavras de amor. Uma ex, tão ex, que engravidou do seu ex.

Em Portugal surgem anualmente cerca de nove mil casais inférteis. A G., que agora está perdidamente apaixonada, lê-se no olhar, na voz, nos gestos mais insuspeitos, na ansiedade com que agarra o telemóvel de cada vez que chega uma mensagem, diz-me incessantemente, tal como há três semanas, quando percebeu que um primeiro beijo seria inevitável, que vai por um ponto final, que não se quer apaixonar porque sabe que vai sofrer. Há palavras que são como beijos na boca, não é preciso mais nada, mas depois há homens que beijam terrivelmente bem, como ela ficou a saber há bem pouco tempo. Dois ou três dias antes de o T. lhe contar, consta que de lágrimas nos olhos, que a ex está grávida. Já antes disto a G. sabia que ia bater com a cabeça, ficar com o coração partido em mil pedacinhos, que não queria passar por tudo outra vez.

As pessoas deviam ser mais pessoas. Só deviam ver televisão em casa dos vizinhos. Não conheço o T., sinceramente não quero conhecer, não me interessam os seus argumentos. Não me interessa, como a Samantha me repetiu tantas vezes, a felicidade da ex. Interessa-me antes saber como vai a G. sobreviver no dia em que ele lhe devolver as peças do puzzle que um dia ela chamou coração. Podemos sempre argumentar que ela sabia ao que ia, mas se ele dizia que era uma ex, se alegava em sua defesa a partilha da casa, se lhe dizia que estava tudo acabado, porque não podia ela apaixonar-se? Porque é que as pessoas fazem promessas, ainda que nas entrelinhas, quando sabem que não as podem cumprir? Porque deixam que os outros embarquem nas suas ilusões? Porque há homens que adoram ter uma vasta equipa à sua volta, bajulando-os. É o caso. E mulheres também. It takes two to Tango.

terça-feira, janeiro 10, 2006

Roda




Ando com a cabeça às voltas.

O meu jardim

Tenho um jardim.

Há mais uns seis ou sete vizinhos meus que têm um jardim do mesmo tamanho que o meu. Ontem descobri que não tenho um jardim. Eles é que têm.

Os meus vizinhos relvaram o jardim. Plantaram flores e puseram plantas à volta. Alguns têm sistemas de rega automática, outros aproveitam o tempo livre para regar, de mangueira na mão. Uns até têm duendes - pirosos, muito - e ovelhas de cerâmica - detestáveis - a polvilhar o verde da relva verdadeira. Mas eu só queria ter um jardim.

Os meus vizinhos cuidam do jardim. Cada um cuida do seu.

O meu jardim parece um deserto, já na fronteira com a Tunísia, onde ninguém quer ir por considerar que nem é deserto, nem deixa de o ser... Os pacotes são mais baratos mas mais vale ir para o Egipto, que tem mais história. As plantas do meu jardim foram quase todas arrancadas porque estavam secas. As que restam estão mais secas que o chá. E não se aproveita nada para beber.

O meu jardim é regado quando chove. Este foi um ano de seca, lembram-se? O meu jardim não tem flores bonitas, plantas tratadas, cores realçadas.

Eu deixei de cuidar do meu jardim. E ele secou.

Ando agora a ver se compro um ancinho e já abri a torneira onde atarracha a mangueira. Mas nem sempre me apetce trabalhar de cabeça ao sol.

segunda-feira, janeiro 09, 2006

Ausência

Dois dias de ausência. Por falta de tempo. Por falta de assunto. Hoje podia escrever sobre hospitais, saldos, jantares, altruísmo, gargalhadas, sexo, sorrisos, chocolate, blogs. Podia compor 3000 caracteres sobre a melhor discoteca de Lisboa, o mau funcionamento dos serviços públicos de saúde, sexo sem compromisso, fotografias, o deslumbramento da dança, lágrimas, homens bonitos, roupa nova, livros. Podia encher uma página a falar de depilações, da pessoa que vem morar para minha casa, altruísmo, solidão, filmes, mau sexo, falta de tempo, excesso de trabalho, amizade, adolescência esquizofrénica, almoços, birras. Podia... mas não quero correr o risco de perder mais um leitor.

sábado, janeiro 07, 2006

Política à Portuguesa

No dia em que posso roubar o título ao agora ex-director do Expresso... tenho dúvidas:

Voto em Cavaco, que não se importa de ir à Madeira apertar a mão ao homem que o tratou, maliciosamente e de forma insultuosa, por 'senhor Silva'?

ou

Voto em Soares, que refila com os seus assessores por ter mais gente a jantar numa sala, que no comício, ao frio da rua, e que descobre, tarde demais, que tem um microfone emissor ligado?

Aguardo outras curiosidades por parte dos candidatos Alegre, Louçã e Jerónimo. Não hão-de tardar...

Também tenho dúvidas sobre as funções de um Presidente da República. Os indultos de Ano Novo chegaram a 10 condenados por homicídio. Compensará, o crime?

Quarto 122 - Parte II

Podia levar-te aquele bolo de chocolate fantástico que - ninguém sabe - compra-se em qualquer 'Pingo Doce'.
Um livro... não. Ainda não. Ainda pioras.
Uma flor? Não vais ligar nenhuma.
E vais dizer: 'porque é que se preocuparam?'
Sacrista da miúda. Não toma conta dela e depois é isto. Nem penses em ler o jornal. Nem as gordas!

Quarto 122

Este título merecia um post. Este dia merecia uma prosa. Por ti Por mim. Gostei de te ver. Achei-te bonita, mesmo com os olhos inchados pela noite mal dormida, com o cabelo emaranhado, com um fato daqueles que julgamos que só existem dos filmes. Sei que é dos meus olhos, do amor que tenho por ti, mas não faz mal, estavas bonita. E ficarás ainda mais quando deixares o Quarto 122.

sexta-feira, janeiro 06, 2006

Insónias e Pesadelos


Aos 6 anos levantava-me da cama e saía de casa a dormir.
Acordava em pânico, a chorar, porque a minha imaginação nocturna ultrapassava a minha capacidade de controlar o medo. Lembro-me de sonhar com um comboio em chamas... não a arder como se se queimasse, mas com chamas por baixo dele... e eu estendida na linha, entre carris, com o fogo a passar-me por cima. Acordava em pranto e a ferver.

Uma vez saí mesmo. Felizmente a minha avó ouviu os meus passos escada abaixo e chamou-me. Subi e voltei para a cama. E ainda bem... o meu pijama não era muito bonito e lembro-me de dormir com umas pantufas de lã, por essas noites. Nunca se sabe quem podemos encontrar na rua, madrugada fora, de pantufas nos pés...

Aos 10 anos tinha sonhos mais elaborados. Sendo eu fã dos livros de BD, especialmente dos da Disney, sonhava muitas vezes com o Mancha Negra. Nos meus sonhos o Mancha aparecia à janela e eu espreitava com medo, ansiosa por vê-lo escapar-se, ansiosa por não ser vista por ele... Nos meus sonhos não entrava o Mickey, o justiceiro!

E depois passei a ter outro, recorrente: era em casa. Eu estava lá dentro. E havia sempre alguém a querer entrar. Este sonho, tive-o tantas vezes, que deu para todo o tipo de larápios, malfeitores, criminosos... me baterem à porta. O medo que este sonho me dá. Às vezes volta. Acordo sempre antes da última volta da chave.

Depois dos 30 o natural era sonhar acordada. Mas não. A minha vida pode ser um pesadelo de dia que, tenho sempre a garantia, sê-lo-á também de noite. Hoje foram umas aranhas... eram assim grandes e carnudas e andavam em cima da minha cara. Acordei, agradada por perceber que elas não estavam no meu quarto, mas no do meu cérebro. Voltei a fechar os olhos mas logo percebi que é treta, aquela história de os olhos serem as janelas do espírito... porque os meus estavam calefetados e lá andavam, no meu espírito, as malditas aranhas.

Esta noite deve aparecer outro bicho qualquer, ou outra coisa qualquer suficientemente assustadora. Há um mês que é assim. Noite após noite. E mais o passado... também me visita.

Não sei como posso sonhar. Em tempos perdi a vontade, já a esperança tinha desandado. Agora preferia sonhar mas o sono não me deixa. Não me deixa dormir para sonhar. E acordo de tal maneira cansada que nem os sonhos do dia querem alguma coisa comigo: 'precisas é de dormir' - pensam eles. E se não durmo de noite pregam-me a partida de manhã. E se não durmo de noite é porque os pesadelos não me largam.

Bocejo. Mas não me adianta de nada...
Irei para a cama?

quinta-feira, janeiro 05, 2006

Heart’s desire

“It is hard to fight with one’s heart’s desire; whatever it wishes to get, it purchases at the cost of soul”, escreve Justine, citada por Darley, na primeira das quatro histórias do The Alexandria Quartet. Não faço juízos de valor antes de chegar ao fim das quase 900 páginas impressas em times new roman tamanho 10. Sei que a realidade, mesmo quando é ficcionada, é apenas uma ilusão criada pelos olhos de quem a vê. É tudo, e sempre, uma questão de perspectiva. Mas Justine tem razão no que escreve no seu diário, tem mesmo muita razão.

Entre um blog e outro

pior que longe
é estar perto a ponto de doer a distância de não se tocarem...
mais tarde ou mais cedo...

quarta-feira, janeiro 04, 2006

O Casamento


If I touch a burning candle
I can feel no pain
If you cut me with a knife
It's still the same
And I know her heart is beating
And I know that I am dead
But the pain here that I feel
Try and tell me it's not real
And it seems that I still have a tear to shed

The Corpse Bride, Tim Burton

Morre a noiva ou o casamento?


Será o casamento o maior e mais genuíno desejo de uma menina?

As bonecas - não as Barbies, que essas só têm amigos e só se importam com o casamento quando é para exibir mais um modelo de vestido de noiva de um famoso estilista - mas as outras bonecas, casam-se cedo. Pelas nossas mãos, de menina, são mães e dedicadas esposas. As bonecas reflectem um desejo desde muito cedo:

- Como é que se chama a tua boneca?
- É a Carolina (nome da moda - bonito, mas da moda. Esta conversa seria agora, já em 2006)...
- Ah... que bonita! E quem é este? Um amigo dela?
- Não. é o marido. A Carolina é casada com ele. Têm 3 filhos.

Pronto. Está casada a rapariga. De família feita. Não teve direito a boda, a preparativos, a um curso na Igreja da zona residencial onde vivia, enquanto solteira. Nada. Casou-se porque é assim que tem de ser. Ou não viverá feliz para sempre. E nenhuma boneca quer ser infeliz.

Tim Burton mostrou-me hoje uma Noiva. Cadáver. Pois se até as mortas voltam à vida para casar...
Bem vista - no filme - a condição 'até que a morte os separe'. Uma graça com nexo, quando o que está em causa é viver 'cá em cima'... ou 'lá em baixo'. O filme parece ter sido baseado n'As Intermitências da Morte, de Saramago. Também nele, a morte lá aparece, em forma de mulher, e o amor vence-a. À morte, porque a mulher ama.
Mas não foi o Nobel a inspirar Burton... O livro de José Saramago até provoca uns sorrisos, mas pela ironia, não pela candura. O filme de Tim Burton é cândido. Que é como quem diz, é muito bonito.

Lá está a noiva. De véu e grinalda. Vestida de branco - o sujo, morto, sobre um corpo descascado, mas com a leveza e a elegância com que sempre a imaginamos, a Noiva.
O filme de Burton tem duas noivas. Ambas querem casar. As duas por amor. O noivo ama uma. Mas, à falta dessa, não se importa de casar com a outra. Burton não terá feito por mal. Mas a noiva - cadáver ou em carne viva - é a que quer casar. E o não casamento só acontece por amor, pelo sacrifício de uma delas. Custa? Mas o amor vence tudo... até a morte.

Terá o casamento a candura que o vestido lhe veste?
Não sei...
Mas sinto que a noiva morre sempre primeiro... que o amor que a faz casar.

terça-feira, janeiro 03, 2006

Histórias

Tenho uma história para contar. Uma estória, que seria divertida se não fosse sinistra, que mete um frango pelo meio. Não sei muito bem por que asa lhe pegue.

Demasiado tempo sem Vinicius

A um passarinho
Para que vieste
Na minha janela
Meter o nariz?
Se foi por um verso
Não sou mais poeta
Ando tão feliz!
Se é para uma prosa
Não sou Anchieta
Nem venho de Assis.

Deixa-te de histórias
Some-te daqui!
Vinicius de Morais, in Poemas, sonetos e baladas

Quando o sexo é partilhado...

Não é só a Carrie que está entusiasmada. Depois de ter visto a Samantha (the real one) com uns mamilos enormes, muito espetados - como se ver um homem fosse o suficiente para a total transformação do corpo (escusado será dizer que eram falsos e ela só aproveitou a excitação que isso provoca no outro para, finalmente, se divertir). Mas, dizia eu... depois dessa cena também eu, uma Samantha à moda da casa, me entusiamo com a partilha de sexo, nesta cidade.

E não me refiro a actos condenados pela Santa Madre Igreja, nem tão pouco àqueles que requerem um conselho imediato do tipo 'Use sempre um preservativo'.

Não.
Há muito tempo que não éramos mais nesta cidade. E há momentos que - não sendo iguais a ele, e não tendo sexo - podem dar-nos outras formas de prazer.

Carrie, Miranda, Charlotte... que 2006 nos una neste direito!

segunda-feira, janeiro 02, 2006

Começar devagar, devagarinho...

Estive a trabalhar no fim-de-semana marcado pela folia da passagem do Ano e tal nem me custou muito. Talvez porque estive em boa companhia e não houve grandes correrias. Mas, sobretudo, porque cada vez me desagrada mais estas celebrações com data marcada, seja pelo Natal e Ano Novo, como pelo Carnaval e Páscoa. Há uma data de obrigações, que implicam um desvario consumista, que me irritam: a roupa a estrear, os presentes, comida e bebida a rodos, milhões de SMS e e-mails. Há também a tendência de tirar férias nesses períodos, partilhando um centímetro quadrado de neve ou de areia com milhares de pessoas, conforme os gostos e as carteiras de cada um.
Talvez por isso (e porque a minha cara metade também vai poder) vou tirar uma semana de férias quando toda a gente já regressou da azáfama do seu "descanso por altura das festas". Vou começar o ano devagar, devagarinho, numas termas envoltas num verde de cortar a respiração, lá para a zona centro do país. E é assim que gostava de continuar em 2006: a encontrar os meus próprios ritmos, dando primazia ao bem-estar (meu e daqueles a quem possa ajudar).
Não consigo fugir aos balanços e promessas (eu que começo sempre a dieta às segundas-feiras e acabo às quartas), mas ficarei feliz se conseguir pelo menos levar tudo com menos angústia. Como a água que corre, o vento que sopra.... devagar, devagarinho.

Transgressões

PRIMEIRA TRANSGRESSÃO:
Não estou a morrer, mas também não tenho bem a certeza do quão viva estarei. Por isso - e porque na semana passada trabalhei por um mês - decidi ficar hoje em casa. Já nem sei há quantos anos não me "baldava" ao trabalho. Pensando bem, já estava na altura... Não há nada como começar o ano com hábitos mais saudáveis :)

SEGUNDA TRANSGRESSÃO:
Fumar em vez de estar a chupar uns rebuçados Dr. Bayer ou as pastilhas para a garganta que acabei de comprar na farmácia. Mas o melhor é aproveitar. Pelo que seu os Dr. Bayer até poderão aumentar de preço, mas nunca 35 cêntimos...

TERCEIRA TRANSGRESSÃO:
Escrever neste blog quando tinha jurado a mim própria que não o voltaria a fazer, mesmo a pedido de muitas famílias. Pois bem, aqui me têm de regresso, não sei bem por quanto tempo. Mas já que estou numa de ilicitudes, não resisti. E assim vos digo que aqueles dois beijos no penúltimo dia do ano me souberam quase a uma fantasia cumprida. E mais não digo, porque nunca se sabe quem é que anda por aí a ler estas coisas.

O melhor e o pior de 2005

Aqui.

domingo, janeiro 01, 2006

01012006

'Round and 'round and 'round it goes
Where it stops nobody knows