segunda-feira, julho 09, 2007

Voo nocturno

Oiço agora Jorge Palma, o novo álbum. Chama-se 'voo nocturno' e está cheio de letras bonitas, esquisitas, curiosas. A harmonia está presente em cada canção. E a voz, a voz contorna todas as dificuldades dos acordes. Canta e fala com quem o quer ouvir.

Jorge Palma é, para mim, uma referência musical. 'Só' é uma das músicas mais bonitas que conheço. E há os clássicos, os que nos deixam rir, os que nos fazem sorrir, e aqueles que nos trazem lágrimas aos olhos. Porque a música de Palma é maioritariamente triste. Talvez sejam apenas tons graves, que os agudos ficam para outras cantigas. Palma parece estar sozinho no mundo da música, mesmo quando junta uma série de amigos como fez agora, no último teledisco, com 'Encosta-te a mim', onde aparecem, por exemplo, Camané e Mafalda Veiga.

Mas os génios têm defeitos, e o de Jorge Palma é fazer-se acompanhar por uma carroça. Sempre. A entrevista que deu à SIC Notícias, a propósito deste novo álbum assim o demonstra: cabelo despenteado como se tivesse visto o monstro de Loch Ness, óculos de sol pendurados na ponta do nariz, e uma voz arrastada, pensamento lento, whisky descontrolado. É uma pena.

Há uns dois anos assisti a um concerto ao vivo, no CCB. Completamente bebido. Chegou atrasado, tinha a camisa desaboatoada e mostrava o peito e a barriga descaída. Cantou afinado, porque tem voz, mas com o álcool sempre presente. Não muito tempo antes tinha-o visto no Pavilhão AtLântico, garrafa de água ao lado do piano, e algumas piadas sobre o passado. Mas o passado fez-se futuro e diz-nos o presente que Jorge Palma não abandonou a bebida. Está preso a ela, como ficamos presos à sua música. É uma pena.

O disco acabou e tenho vontade de pô-lo novamente a tocar. As músicas são todas boas, apesar de algumas ficarem mais no ouvido que outras. Mas diz-me a experiência que todas ficarão para sempre. Palma tem uma estrela (do mar) que faz dele um escritor de canções, um músico fantástico. Só não sabe como gerir a carreira.

Gostava de o ver sóbrio. Com a sobriedade com que faz um disco. Mesmo sabendo que muito do que nasce vem-lhe do estado já desviado da normalidade. Mesmo imaginando que a canção lhe surge com um copo na mão. Ainda assim, gostava de o saber sóbrio. É uma pena que ele não se sinta bem assim...

5 comentários:

Anónimo disse...

Esperemos que o Jorge volte a um passado recente, muito mais feliz certamente...
A agenda, a obra, o universo artístico, o novo álbum de Jorge Palma em www.bloguepalmaniaco.blogspot.com
newsletter/informações: contactar ladoerradodanoite@hotmail.com

disse...

é genial, um contador de histórias musicadas, com os copos ou sem eles... estive num dos concertos no villaret em que gravaram o cd ao vivo! aí (acho que) estava sem eles, foi o primeiro concerto que vi dele e foi fabuloso!
para mim (e todos os fás de carteirinha)melhor cantor, melhor poeta, melhor músico sem os copos, ele é que, eventualmente, não acredita nisso!

Dia disse...

Poderíamos rever o génio de Jim Morrison se ele não tivesse metido ácidos? Haveria Sargent Pepper's Lonely Heart Club Band sem LSD? As drogas são, para tantos génios, como o Palma, a única coisa que eles sabem acerca do amor. Não percebo a tua ânsia de sobriedade...

Anónimo disse...

Voo Nocturno é simplesmente GENIAL!
Quanto á bebida garanto ser injusto muito do que aqui está escrito. O Mestre quase não toca em álcool. O desarranjo e desalinho com que aparece é o simbolo da forma própria e sem cedências com que pautou a sua carreira....e que permitem que ainda hoje existam no mercado albuns geniais e raros como este!!no

Anónimo disse...

Tens razão no que dizes.
O Jorge Palma é um músico e um poeta extraordinário. E dizer que a bebida não lhe tira encanto é uma hipócrisia.
A bebida tira-lhe encanto, claro...

Continua com o Blogue.
Estarei presente para vê-lo.