sábado, junho 26, 2010

it's so fucking hot,

i'm so fucking drunk e as noites são afrodisíacas.
estou no 18th lounge, o bar dos Thievery Corporation em washington dc, e a única coisa que consigo pensar é que aqueles candeeiros ficariam muito bem na casa de banho lá de casa. o que vale é que durou só até ao início do segundo gin tónico. depois foi dançar até acabar [esta gente vai muito cedo para casa], rir muito e voltar a pé para casa à procura de um 7 eleven ou de uma simples fatia de pizza.

sábado, junho 19, 2010

de partida, a começar mais um ano

A mala está finalmente feita depois de um martírio que durou, sem exagero, dois dias. Mas tenham dó, são mais de três semanas fora de casa do outro lado do oceano, e uma mulher tem que estar preparada para tudo. Roupa, sapatos, maquilhagem, electrónica, caixa de primeiros socorros com tudo o que é comprimido que possa fazer falta, mais roupa, blocos de apontamentos, livros, e tudo e tudo e tudo. A partida é amanhã às 10 e qualquer coisa e eu não podia imaginar melhor forma de começar os 36 [mas ninguém me dá mais do que 25!]

quinta-feira, junho 17, 2010

a minha avó

Reconheceu-me à primeira no sofá dos 95 anos que habita. Ontem foi levada para o hospital depois de um desequilíbrio que deixou marcas numa cabecinha que agora tem dois pontos que não são finais. Sei que está baralhada mas não a vi. Estou a duas horas de casa numas alegadas férias de Verão. Penso nela a cada minuto e só páro para fechar os olhos com uma dor de cabeça que não me larga há vários dias. Mergulho neste cansaço depois de um mês consecutivo sem folgas, depois de um jet lag na China e quatro dias de sol a 24 horas a norte da Noruega. No dia em que regressei pude finalmente estar junto dela e recebi os carinhos do costume. Também os dei. Falámos da guitarra que o avô tocava, e dela, que com ele cantava à desgarrada. Falámos dos bisnetos de cujos nomes não se recorda, falámos do facto de ter estado ausente. Fez um esgar de admiração quando lhe disse que tinha ido à China e disse que sim, que sabia como eram os chineses. Raguei o meu rosto e ela sorriu percebendo no gesto os meus olhos em bico. Pedi-lhe que não olhasse o chão, mas o céu, e gabei-lhe os olhos cinzento azulados, que eu gostava que um filho meu tivesse um dia. Ficou feliz. Abriu-os bem grandes para me ver melhor e para me fazer crer que estava viva. Repetiu vezes sem conta o "já cá não faço nada" que oiço há 20 anos. Disse-lhe que sim, que fazia, que era minha única avó e que não podia ficar sem ela, que me fazia falta e a muitos mais da família. E faz. Peno nestas horas de férias entre o cansaço e a sensação de impotência. Voltou esta noite para casa mas amanhã espera-a um lar de repouso e velhinhos na sala. Sofremos a mudança. Ninguém quer ver uma avó num lar. Mas já não poderá subir facilmente os 52 degraus do número 41, e as noites para a mãe têm mesmo de ser dormidas. Há 3 meses que a avó não descansa durante a noite. E não deixa descansar. Há 3 meses que chama, que pede ajuda, que refila quando não vêm, que diz não recordar o que faz, que exige, que pergunta, que se esquece. A mãe chora e o pai dá o ombro para acolher as duas. A mais velhinha cai um sem número de vezes e já não há forças para erguê-la de novo. A casa de repouso parece gentil, espaço dito de simplicidade mas com harmonia no meio e pessoas atentas a estas coisas que só a velhice trás. Deposito amarguras nestas letras que escrevo, incapaz de evitar uma mudança de casa para a avó. Terá de conhecer amiguinhas, terá de dormir mais calma, de deixar de parte as manias de velha e os mimos de única idosa na família há mais de 10 anos. Fica ali a dois passos de mim. Poderei vê-la todos os dias, agarrar-lhe a mão rugosa e com as veias a saltar pela pele, poderei beijá-la mais do que até aqui tenho beijado porque, nestas coisas, acabamos por ficar mais próximos. Poderemos conversar sobre o passado porque do presente não tem memória. E deixar-me-ei ficar a seu lado apenas para lhe pegar na mão. É difícil perder um residente na casa onde cresci uma vida. Mas talvez desta forma o mundo possa tê-la com vida por mais uns tempos. E, quando o momento chegar, só peço para estar a seu lado.

domingo, junho 13, 2010

rituais de junho

Há rituais que são para cumprir religiosamente em dias de Santo António, mesmo que os 300 quilómetros custem horrores pelo cansaço acumulado nos últimos meses, mesmo que em Lisboa fique tanta coisa por fazer a uma semana de partir para o outro lado do Atlântico. Regresso à serra, ao mimo, ao relvado à volta da piscina, às cerejeiras carregadas de negro e verde. Regresso para comer, dormir, esquecer que o mundo existe, para desligar o cérebro e não pensar em mais nada. Isto és tu a fugir para a frente, mais uma vez, como sempre. Passo metade do fim-de-semana a dormir, a outra metade em cima das cerejeiras. O ritual é conhecido, está escrito e reescrito nos arquivos deste blog, que já leva cinco anos e que este Maio não teve direito a que lhe cantassem os parabéns. Subo às cerejeiras para comer até ficar enjoada, desço para me espraiar na relva, para andar de baloiço, para a frente, para trás, cada vez mais de depressa, com a cabeça virada para cima e olhos colados no céu.