sexta-feira, abril 28, 2006

Post-it

Estou feliz.

Aprendizagem

Ontem, por causa da "A Sombra do Vento", dei comigo a pensar em muitas das coisas que partilhei com os homens da minha vida. As marcas que eles deixaram além das sensações mais físicas, das gargalhadas, dos cheiros... Com o S. aprendi o prazer da fotografia. De ver as imagens retratadas a preto e branco. De ser fotografada mais bonita do que alguma vez fui. De andar de máquina em riste, sempre pronta a disparar sobre tudo. Com o L. a paixão do cinema. Os clássicos vistos na Cinemateca. Os alternativos do King. A partilha de vídeos quase sempre a desoras. O B. ensinou-me o prazer do mar. A olhar com outros olhos para os navios que cruzam a barra do Tejo. Mesmo que nunca tenha conseguido ensinar-me a diferença entre bombordo e estibordo. O E. mostrou-me outras formas de sentir a música. Ensinou-me a 'ouvir' com os olhos enquanto o via tocar bateria. Com o D. partilhei a paixão pelos livros. Por histórias bem contadas. A palavra escrita, manuscrita, a memória que fica imprensa em caracteres negros. E tu? Será que me vais ensinar alguma coisa?

quinta-feira, abril 27, 2006

Da importância dos Malmequeres

"Boa tarde...

Boa tarde...

Tem Malmequeres?

Sim, sim...

Pode fazer-me um arranjo... deixo à sua criatividade, pode ser? Venho buscar daqui a 20 minutos. Quer que pague já?

Claro que não... paga no fim. Já agora... é para aniversário, para alguma ocasião especial...?

Sim, é para uma ocasião... é para deixar à porta duma amiga...para ela se entreter a ver se dá mal_me_quer ou bem_me_quer!

(ela riu, eu sorri... e saí)

... 30 minutos depois...

Olá... desculpe o atraso.

Não há problema. Aqui está... está bonito, não está?

Mas isto não são Malmequeres... são Margaridas!!!!!

Sim... são as "primas" dos Malmequeres... qd cá vêem pedir Malmequeres, está subentendido que são Margaridas... porque Malmequeres, só no campo.

Não é verdade... já vi Malmequeres à venda em Floristas.

Tem razão, mas é muito raro. Não gosta? Se não quiser, não precisa de levar, não se sinta obrigado!

Não, não... deixe estar, eu levo!

(paguei)

Obrigado.

Obrigado e desculpe! Mas é a 1ª pessoa que me faz esta distinção em relação às 2 flores.

Mas eu moro aqui (...), e esta florista já está aberta há algum tempo... não posso ter sido a 1ª pessoa a fazer esta observação.

Pois... mas foi... pelo menos comigo!

(ela riu, eu sorri... e saí)..."

['Presente' de bomdia, enviado por mail, que me devolveu o sorriso. O título é meu]

quarta-feira, abril 26, 2006

Avô 'Smarties'

O meu avô faria hoje 90 anos. Não os faz porque já morreu. Mais uma daquelas vítimas de cancro numa velhice que contava já os 83. Hoje tenho-me lembrado mais dele, não sei porquê. Mais do que em anos anteriores, em dias 26 de Abril antes deste.

Eu às vezes ainda sonho com ele. Mas a verdade é que nem preciso dos sonhos para o ter bem presente na minha memória.

O meu avô começava as histórias, todos os domingos de manhã - não com o costumeiro era uma vez... mas com um antiquado naquele tempo... e lá desfivava as mil e uma histórias do pastor que salvava as ovelhas e as cabras dos malvados lobos, sempre de forma estóica, sempre corajoso, sempre sem armas mais poderosas que simples pedras apanhadas na floresta. O meu avô inventava um bocado, é certo... mas havia partes verdadeiras e encantavam-me. As falsas também. Eu achava-me uma espécie de Heidi no meio das aventuras do meu avô.

Podia desfiar aqui várias histórias sobre ele, essas sim, verdadeiras, por mim partilhadas, como os passeios à ribeira e à velha casa que um dia um daqueles grandes incêndios florestais deitou por terra. Recordo a colecção de selos do meu tio, guardada num baú que para sempre se perdeu no meio das chamas.

Mas prefiro, neste dia, recordar o segredo que tínhamos: o meu avô trabalhava até tarde e vivia na minha casa. Chegava de bolsos cheios e cansaço num corpo que já passava, na altura, dos 70. Claro que os bolsos cheios é uma maneira de dizer, mas era neles que vinha a moeda de troca pelo trabalho que eu, à chegada ao quarto, lhe prestava. Uma espécie de serviço senhorial que as aias tinham para com os amos. E ele amava-me. Não tenho dúvidas. Os velhos já pouco amam. Mas sei que o meu avô nutria, especialmente por mim, um grande amor. Provou-mo, perto da hora final.

E então lá vinha a troca: Ele chegava e eu só tinha de ter chinelos prontos e sapatos a jeito de descalçar, atacadores desapertados e um jeitinho aqui, outro ali, para que saissem de vez. À mão chegava-me então uma boca cheia de smarties. Eu, que odiava chocolate, adora os smarties, os originais. Via as cores e contava em cada dia, quantas diferentes vinham, e punha-os na mão fechada, saídos da mão dele, também fechada, porque aquele era o nosso segredo.

Comia-os já quase desfeitos, suponho, mas sabiam-me bem como os das caixas novas, qua abanam e fazem barulho.

Hoje faço homenagem ao avô dos smarties. E desejo, onde quer que esteja - que eu acredito na vida para além da morte - que do bolso lhe saiam agora outros doces, que eu preciso.

Estadia

Creio que esta tristeza veio para ficar...

Não esperem nada de mim

Não esperem nada mim. Muito menos uma explicação para esta frase. A frase que não me sai da cabeça desde segunda-feira à noite, que tinha que dar um post, porque talvez, assim, se vá embora. Talvez deixe de se intrometer entre pensamentos mais felizes. Perceba que estou farta dela, da frase. Não esperem nada de mim, principalmente hoje depois de ouvir uma frase, outra, que não ouvia há muito tempo. Pela manhã, enquanto tentava convencer-me, entre um segundo café e o fumo azulado do cigarro, que voltar ao trabalho depois de quatro dias de folga era a única saída possível, alguém entrou no café e disse ‘Bom dia ganchinhos’. O sangue gelou-me nas veias. Ele não podia saber. Não conhece esta história. Não sabe que numa manhã de Primavera, em que o sol ofusca e aquece, a última coisa que eu queria ouvir eram reminiscências de outras manhãs. Fantasmas de primaveras passadas. Também não podia saber que ontem ao cair da noite outras memórias tinham sido evocadas pelo ar quente que soprava na minha varanda. Estas noites cheiram a liberdade, disse. Ele não percebeu, não podia ter percebido. Não sabe que há um ano começavam a soprar os ventos da liberdade. Sem capitães de Abril, sem chaimites, porque a minha liberdade é outra. Procurei-a ontem numa esplanada de praia. Encontrei-a entre as páginas de um livro, olhando de frente para o azul do mar. Percebi que ainda temos muito para partilhar. Eu e a minha liberdade. Não estou preparada para abdicar dela. Não esperem nada de mim. Esqueçam mesmo que eu existo.

terça-feira, abril 25, 2006

Abril, sempre?

Comprei tremoços e cervejas e instalei o estaminhé na varanda. Convidei o Zeca Afonso a vir comemorar a liberdade comigo. E cá estamos os dois. Sem cerimónia, descalcei-me. "Faz como se estivesses em tua casa", respondeu-me ele em tom de meia ironia. Coloquei os pés ao ar e pedi-lhe que cantasse, canções da minha idade. "E se pusesses antes um disco...". Expliquei-lhe que não, que não queria qualquer cópia quando tinha o original. "É que já não sei ao que venho cantar", confessou com os olhos parados. Sobre a liberdade, os direitos, a terra, o povo..., insisti.
"Não. Já não há causas comuns que alimentem as minhas pautas". Recusou. Levantei-me, pus o CD a tocar e o povo começou a sair à rua. O Zeca semicerrou os olhos em direcção ao horizonte. Levantou-se e saiu sem se despedir.

Divã VI

- Mas eu dormi até às três da tarde, Doutor... Umas treze horas seguidas, à vontade....
- E quando acordou?
- Pensei porque me teria aquilo acontecido. Pensei porque estaria a dormir há tantas horas, pensei que não devo andar boa, pensei que precisava de forças para ultrapassar isto, pensei mal da minha vida e pensei que estava chateada.
- E enquanto dormia.
- Acho que nem sonhei...
- Então durma sempre 13 horas. Mais, se puder. E não se preocupe. O tempo que agora dorme é o único que não lhe traz preocupações.

Paguei e saí. Estava cheia de sono.

25 de Abril





Sinto-me livre, mas não sei o que fazer com tantos planos para usar tamanha liberdade.

Ainda assim. Deixo-me estar de cravo na lapela, que é como quem diz: prefiro assim!

segunda-feira, abril 24, 2006

Viver

Viver é apanhar sol de 'soutien' numa varanda sem vizinhos e não ter complexos por adormecer a seguir.

domingo, abril 23, 2006

Visita indesejada

Veio ver-me três vezes, hoje. Não bastou ter-me acordado ainda madrugada, quando entrou pela primeira vez; ainda quis acordar a meu lado pela manhã, e a meio da tarde, voltar a aparecer.

Veio dura, à primeira, lembrando-me que não tinha agido bem na noite passada. Não jantei. É verdade. Ou por outra, jantei o que não devia e esqueci-me de fazer a digestão antes de, às 10 da noite, ir para a cama. Estava exausta e achei que seria melhor assim. Enganei-me.

Ela não concordou e veio às seis da manhã. Pediu-me que a alimentasse e lá me levantei para um dos 'drunfes' do costume. Amainou. Sorriu satisfeita e deixou-me dormir.
Mas matreira, mal o sol nasceu, lá voltou a saltitar, a pular nas minhas veias, a desenvolver-se pelo meu corpo e a dar-me cabo do coração. Encolhi-me com medo. Sozinha contra ela podia fazer o quê? Nada.

Levantei-me e tentei acalmá-la com um banho quente. Sei que se sente melhor quando lhe passo a água pelos músculos, quando a cabeça se deixa molhar com uma chuveirada mais forte, com um jacto de água apontado. Vi a polícia fazer isto e resulta, com os manifestantes. Eles fogem. Mas ela não. O jacto forte não a levou para lado nenhum. Voltei a combate-la com a outra metade do 'drunfe' da madrugada. Voltou a acalmar.

Fui trabalhar. Domingo. Mas tinha de ser.

Foi quando descobriu onde estava. Passou por cima do meu pequeno-almoço e aproveitou a ausência de uma refeição decente a meio do dia para me entrar olhos dentro, sem pré-aviso. O computador nem teve tempo de reflectir a dor. Ela entrou, e pronto. Alojou-se. Estava em casa.

Foi das piores enxaquecas dos últimos tempos. Quase não abria os olhos, respirava mal e tinha dores lancinantes por todo o corpo em especial do meu lado direito.

Um anjo veio então ter comigo e levou-me a uma farmácia. A farmacêutica nem me queria vender a dose que lhe pedi, mas prometi ter cuidado e atacar a enxaqueca de uma só vez. Lá me libertou os mais fortes de todos os comprimidos, bisnagas para inalar, dose dupla. 20 Euros.

O efeito não se fez esperar. Venci-a, por hoje, com a posterior ajuda de uma sopa e o anjo devolvido ao céu. Ela anda por cá, à espera de nova oportunidade. Mas eu não quero vê-la mais hoje. E depois de a expurgar com este post, vou dormir, e sonhar que ela não voltará nunca mais. Não gosto de visitas inesperadas.

Antípodas

Pode o povo que assiste 'em festa' ao funeral do rapaz dos 'Morangos' ser o mesmo que assiste à 'Festa da Música' no CCB, com uma adesão, este ano, de 94 por cento? Eram 115 concertos.
Seremos os mesmos a fazer coisas tão diferentes?

Féte daiver

Madrugada

Domingo. 6H da manhã.
Insónia. Enxaqueca.
Troquei a cama pelo computador
Só para desabafar.
Uff...

sábado, abril 22, 2006

Divã V

- Adormeci, Doutor?
- Sim, por uns minutos....
- Mas aqui, no divã?
- Sim.
- Mas... eu não estava a falar consigo?
- Não. Estavas a falar contigo.
- E perdi o interesse na minha própria conversa...
- Estavas apenas cansada.
- Cansada de quê? Eu tenho andado a descansar.
- Cansada do assunto.
- Quem me dera poder já dizer 'bom dia'!
- Pois, mas temos de continuar a falar nisto... até que fiques exausta e acordada!

Página a Página

Cansam-me agora todos os livros. Não consigo passar duas páginas seguidas sem voltar atrás para reler e retomar o fio à meada. Não consigo passar o marcador de um lado para o outro, e vejo, três dias depois, que o número de páginas lidas é praticamente o mesmo. O marcador ri-se, naquela cara de porquinho.

Mas é uma fase. Espero.

Os livros também se celebram e este domingo, dia 23, é a vez de o mundo homenagear um a um, os bem escritos, os infantis, os técnicos, os antigos, os exemplares únicos, os best-sellers... O dia mudial do livro é amanhã e faz justiça a cada página, a cada capa e contracapa, a cada lombada que tem, dentro, páginas para folhear a qualquer hora e em qualuqer lugar.

Estou triste com esta minha fase. Gostava de devorar um livro por semana, pelo menos. Gostava de saltar de um para o outro como quem muda de roupa na cama, uma vez por cada sábado; gostava de não me importar se me sinto desconforatável na cama, no sofá ou até na sanita, onde também gosto de ler. Preferia conseguir ultrapassar todos estas barreiras e ler, ler, e ler... até esquecer a minha vida para viver em cada personagem.

Porque já li com gosto e poucas coisas haverá - para mim - melhores que uma boa leitura. E até posso falar de um ou de outro livro que maracaram a minha vida até aqui... por exemplo, na meninince, 'O meu Pé de Laranja Lima' que me fazia chorar e esconder a cabeça debaixo dos lençóis para que os meus pais não ouvissem o pranto literário. Ou um Eça, lido em Maias duas vezes - a primeira pela vez do meu irmão, que no décimo ano odiava letras - ou, mais recentemente, um Zafon, com A Sombra do Vento a não deixar tapar um prazer que não se explica, mas reparte-se.

Ciente de que voltarei ao parazer da leitura, peço livros para o próximo Natal. Tenho mais um Auster à espera, na cabeceira, e uma oferta pessoal, com assinatura, para ver como é. E orgulho-me deles. De todos os que tenho e quero ter. Porque um livro é mesmo uma companhia, é mesmo um confidente, é mesmo uma história que até pode ser a nossa. Que nos leva pelas páginas, como quem segue caminhos dos outros...

Leram bem?

[my] Gift

Encontrei-te hoje à porta do Coliseu. Franzi o sobrolho. Levei a mão à base do pescoço, como faço sempre que fico ansiosa. Acelerei o passo para que percebesses que não queria falar contigo, para que visses que estava acompanhada. Mas ambos sabíamos que não haveria altura mais apropriada para voltares. Seguiste-me de perto. Tão perto que sentia o teu hálito quente no meu pescoço, enquanto trauteavas os primeiros acordes da música que partilhamos no meu tapete vermelho quando voltaste pela primeira vez. Naqueles dias de distância, fomos separados comprar o AM-FM só por causa daquela música. Olhei-te de novo, num último apelo para que me deixasses. Mas acho que também querias ouvir, como ouvimos, lado a lado, a primeira música da aula magna. Chegamos tarde, lembras-te? As conversas eram, nessa altura, como as cerejas. Perdíamos facilmente a noção do tempo. Lembras-te quando o mundo parava para nós? Lembrei-me disso tudo. Daquela noite. Do jantar. Do concerto. Do teu medo, lembrei-me principalmente do teu medo. Até que a Sónia começou a cantar, lentamente, como devem ser vividos os grandes amores. It’s coming back so fast, that I should fake this alone. Esperei que chegassem as lágrimas. Só que desta vez elas faltaram ao encontro. De alguma coisa me havia de valer ter lágrimas de má qualidade. Esperei até entrar o refrão e nada. Esta noite elas, as lágrimas, entraram em greve. Senti que te afastavas. A última vez que te vi estavas sentado junto ao palco. Ouvias a música, que nunca voltaremos a partilhar, com muita atenção. Talvez confirmasses, mais uma vez, que o poeta se enganou. Because even if you break my heart and even if you make things wrong, you will always be the one, you will always be my love. Sorri e deixei-te entrar na caixinha verde alface, onde dormes agora o sono dos justos. Encontrei-te hoje à porta do Coliseu e pela primeira vez não vieste comigo para casa.

quinta-feira, abril 20, 2006

Morte não é Juventude

Nunca vi gente nova tão desmoralizada com tanta coisa, tão distante de tudo, tão metida para dentro, com tantas dificuldades em aceitar derrotas. Nunca vi tanta gente velha a compereeender todas estas atitudes, a não contrariá-las, a achar que é da idade, a pensar que passa aos 18 - que agora já são 25.

Eu lamento a morte de um jovem que é um ídolo porque é actor de telenovela. Tal como lamento a do que morre atropelado na Av. 24 de Julho, ou da criança que perde a vida ao carregar num semáforo de luz vermelha.

Porque a vida me importa e gosto de a ver viver, custam-me as mortes, em geral.

Mas o que me custa mais é a forma como um acontecimento natural, porque vulgar, triste, porque inesperado, possa arrastar doses de loucura, insensatez e aproveitamento de alguns. Chamo voyeurs a uns, ingénuos a outros, cretinos ainda a outros...

A morte será sempre triste para os que ficam. Mas apenas para os que amaram ela é eterna. Os outros esquecem-se, mais cedo ou mais tarde. E o acontecimento serve apenas de tema de conversa, em troca de um episódio que se saltou naquele dia.

É pena.
Porque a morte merece respeito, mesmo quando vive no amor de alguém, como sugeriu Saramago.

Divã IV

Trocou o divã pela poltrona porque queria encará-lo. Queria ver como reagia ele às perguntas, às ausências, aos silêncios. Queria ser ela a psicanalista dele, para variar. Olhou de soslaio para os livros à direita, todos mal empilhados mas alinhados por temas... os sonhos, a vida social, as relações matrimoniais, o eu... e outras lombadas onde se perdia enquanto falava sobre o que lhe vinha à cabeça.

- Doutor, eu estou aqui para resolver vários problemas.
- Eu sei.
- Mas é que alguns não são meus, percebe?
- Não. Explique lá isso melhor.

Pousou os olhos no chão de madeira com aquele tapete repisado onde lhe via a ponta dos sapatos que nem se mexiam. Os dela saltitavam, nervosos, ansiosos por caminhos que dali os levassem, não só naquele fim de tarde, mas para sempre.

- Eu acho que se perceber o outro, fico a perceber melhor o meu problema.
- E qual é o seu problema?
- É ele.
- E percebê-lo em quê?
- Porque é que fez o que fez.... sei lá. Percebê-lo, pôr-me no lugar dele...
- Isso não é possível. Você já o deixou pôr-se no seu lugar.

- Ficamos por aqui, hoje?

Juntou os sapatos e pôs-se de pé para sair. Naquele dia nem pagou...

Incongruência…*

…é comer um cozido à portuguesa [“saí um cozido gordo”] depois de uma aula de ioga.

[*Ou o meu reino por uma cama...]

Infiltrado

Clive Owen, Inside Man (2006)

[O facto de eu ter adormecido no filme não tem nada a ver com este senhor]

No diva III

“E passa, doutora?”
“Não!”. Ainda pensou que estivesse a gozar, mas a negativa tantas vezes repetida ganhava contornos de premonição.
“E passa, doutora!”
“Estou a ver que sim."

quarta-feira, abril 19, 2006

No divã II

"E passa doutora?"
Haveria de passar, tranquilizou-a. Basta que.
Já lá vão dois anos. Não passou. Mas basta que.
Não há um dia que passe sem que ela faça contas à vida entre uma viagem de comboio ou um copo de vinho tinto.
Passará? Ou passar-se-á de vez? Ou talvez não, o que talvez seja ainda pior.
Pelos vistos até em Nova Iorque há coisas que não se revelam.

terça-feira, abril 18, 2006

Dica de amiga

Podes fazer o que quiseres se o quiseres fazer.

Mas não te tenhas em melhor conta do que és, para o outro. Nem te julgues menor perante ele.

Sai fora no momento em que tiveres de sair. Continua se é o que te apetece.

Avalia apenas o outro lado. Nestas coisas das relações, sérias ou não, somos sempre dois.

Conversa barata?
Mas de graça e não custa repetir...

Divã I

Deitou-se no divã como se fosse a primeira vez. Estava calma mas, por dentro, tinha o receio de quem vai despejar uma vida nas mãos de um estranho. 'Então?', lançou ele - 'Começo eu?, perguntou ela.
'Já começou', concluiu o homem.

Fala da janela com vista para o céu e ele lembra-a de que está ali para olhar para dentro, não para fora das janelas. Mas o céu pode ser o paraíso que 'quero ver dentro de mim', responde. Pausa. O céu vê-se através de três grandes janelas e a noite ainda não caiu. Longe de estar perfeito, também não é azul, mas cinzento como aquele interior que ali a leva uma vez por semana, quem sabe mais, se a coisa der para o torto.

E em pequena? Era feliz. Adolescência? Feliz. Idade adulta? Agora? Não. Mas infeliz também não que esses são sentimentos permanentes que ninguém consegue derrubar.

Então é o quê, o que sente? 'Tristeza. Solidão', diz-lhe. 'E passa Doutor?'

Dilemas

Sinto-me incapaz de receber mais do que consigo dar. Ficar pode ser mais angustiante que partir.

segunda-feira, abril 17, 2006

Tento escrever

Tento escrever. Há uma história para contar. Mas não há palavras, nem borboletas, ou mesmo desenhos a tinta da china, que ajudem a esboçar aqueles dias. Rabisco ideias soltas, frases mais ou menos sentidas, em bocados de papel. Mas as palavras não dizem presente quando chamadas para falar do barulho do mar, do céu carregado numa noite em que a terra tremeu ao de leve. Há uma estória para contar…

Entre um blog e outro

“Ele recordou-a:
- Prometeste que apenas ficarias enquanto te sentisses bem...
Ela foi-se embora.”

[Nunca nenhuma das tuas histórias de amor fez tanto sentido.]

domingo, abril 16, 2006

Páscoa


Não costumo discutir religião e só a trago à baila em casos excepcionais(para mim).

Participei ontem numa maravilhosa Vigília Pascal de onde as pessoas saíram a sorrir. E lá dentro, também sorriam, e cantavam a plenos pulmões. Não houve palmas... calma...

A Páscoa é o momento mais importante dos católicos, mais até que o Natal porque nascer, nascem muitos, ressuscitar é que são elas... E ontem consegui integrar esse movimento quase de esperança - de fé, claro - e de convicção de que as coisas podem mudar. O sacerdote não falou muito - o que é bom, uma vez que estas cerimónias têm cerca de duas horas - mas o que disse nem parecia de padre. Era um homem, uma mistura de psicólogo, com político, com filósofo e, claro, com sacerdote... talvez a mistura perfeita para me ter feito - e creio que a outros - pensar.

E pensar em quê?

Que temos de procurar o caminho do optimismo, do ânimo, da coragem. Que acabou - ou tem de abrandar - a era das depressões e das tristezas e das agruras do passado.

Assentou-me que nem uma luva.

Eu não gosto de chocolate, e de amêndoas mais ou menos. Mas a Páscoa faz-me pensar no dia seguinte, coisa que há muito me desinteressa.

A ver vamos. Ou, catolicamente falando, Aleluia!


P.S. Deixo mais uma imagem. Moçambique, Maputo. Transmite esse tal caminho a percorrer, mesmo que sobre as águas, como fez Moisés!

sábado, abril 15, 2006

Coisas que me fazem sorrir 19

Andar de corsários e havaianas.

Eu acredito



que a vida muda em segundos...

91 anos de avó

Sorri pouco, mas quando sorri é linda. Fica toda marcada num rosto onde as rugas já são maiores que a pópria carne que lhe enche as faces pouco rosadas. Adoro as gargalhadas que ainda dá, mesmo quando vejo que lhe dói, rir, porque os cantos da boca já se cortaram por terem sido, um dia, tristes.

Veste de preto há uns seis anos, mais por temor que por convicção. Por mim coloria-a mais, dava-lhe uma roupagem mais jovem, menos pesada. Mas ela teme o dizer, o dizer dos outros sempre tão difícil para quem vive fechado, e com poucos olhares sobre si. Só se sente observado quem consegue contar quantos o observam. E ela consegue. São poucos, porque já só sai à rua com as mesmas pessoas, para os mesmos sítios, fazendo os mesmo percursos.

Tem sentido de humor, apesar de não o exercitar com toda a gente. Faz-se de difícil, às vezes, e protege-se nas doenças que não tem para não dar conversa ou negar qualquer convite que, simplesmente, não quer aceitar. Mas à sucapa lá me vai dizendo umas graças, lá vai fazendo cócegas aos bisnetos para os ver rir e sorrir com eles, lá vai dizendo piadas que poucos compreendem porque são ditas sem mexer os lábios.

Mas isto é o presente.

O passado traz memórias únicas, que podem fazer voltar à velha colher de pau em cima da mesa à espera que um dos três 'meninos rabinos' lhe desse razões para uso - escapei sempre, confesso - ou pelas confidências da adolescência, de 'quando era nova, menina', de quando a convidavam para dançar nos bailes, que ela era bonita e não dispensava festas.

Envelheceu. 91 anos fazem dela uma pessoa diferente.

Mas sempre, sempre, a minha avó. Uma figura marcante ao longo de toda a minha vida e que ainda hoje me faz rir quando me quer obrigar a comer ou a calçar uns chinelos para que não me arrefeçam os pés. Também me faz chorar, mas isso não é para hoje...

Faço-lhe aqui esta homenagem, por mais um aniversário. Nasceu em 1915.

sexta-feira, abril 14, 2006

E para um assunto completamente diferente...

Já disse várias vezes que gosto de revistas femininas. Não estas publicações a imitar uma "Maria" ou "Crónica" mais sofisticadas, mas aquelas que, além de me colocarem a par das últimas modas em roupa, maquilhagem e acessórios, têm algumas reportagens, artigos e entrevistas interessantes e, sobretudo, fotografias belíssimas (para descansar os olhos). Eu, aliás, leio tudo o que é revista (o que me tira tempo precioso para os livros, mas que fazer!) num vício que se reparte pelas que são suplementos dos jornais, as de informação generalista, as de viagens, as minhas adoradas National Geographic e GEO, e por aí fora com alguns exemplares estrangeiros.
Mas vinha tudo isto, a propósito de uma crónica do Luís Fernando Veríssimo no Expresso (já li o livro que compila as crónicas e é delicioso sobre estes lugares comuns da nossa vida moderna). Com o título "Teste", dizia o marido para a mulher:

"É por isso que eu não gosto de revistas femininas. Não têm o menor interesse em homem, a não ser como objecto sexual. São feitas por mulheres para mulheres. E o que é que mulher mais gosta de ler, ouvir e ver? Outras mulheres. Alguém já viu um homem na capa de uma revista feminina? Nunca. É tudo narcisismo. Delas para elas. Até os testes".

O teste, está bem de ver, é daqueles sobre como reagiria a sua "cara metade" se a)b)c)d). Atrevo-me a ver nestas declarações do cronista um alter-ego ofendido. Ora eu recordo-vos do post da "fofa da capa". Não são também mulheres as que aparecem na capa das revistas masculinas? Porque é que eles (sim, são homens que as escrevem!) não escolhem homens para as capas? Objecto sexual? O que é que nós fomos durante toda a história da Humanidade? Ora façam-me um favor e deixem-nos com o nosso "narcisismo", que o vosso já nos dá muito que fazer há séculos!

Os novos pecados e a falta de sacerdotes

Partilho totalmente do post da Samantha. Quanto a ser católica, menos praticante que em tempos, incrédula com os novos pecados e com estas posições do Papa. Mas, hoje também, escrevia o Diário de Notícias que "A falta de sacerdotes na Igreja preocupa o patriarca de Lisboa". Ora se as mulheres pudessem ser ordenadas padres resolviam-se dois problemas de uma só vez (pelo menos). Passando ao lado do facto de 80 por cento dos utentes da Igreja serem mulheres e de elas já fazerem muitos dos rituais católicos, à excepção dos sacramentos, teríamos pelo menos mais 50 por cento de padres (a outra metade deste mundo deve sentir a vocação em termos mais ou menos proporcionais). E, muito importante, ler, ver televisão e navegar na Internet seriam a menor das preocupações da Igreja, que agora teria de ouvir das mulheres opiniões sobre como vai o mundo e como o melhorar.

Estou em pecado pouco original

Eu sou católica.
Já fui mais praticante, mas ainda pratico. Hoje, por exemplo, cumprirei os requisitos de uma Sexta-Feira Santa e amanhã não vou faltar à Vigília Pascal, rezando para que a Ressurreição venha, e de vez, também para mim.

Mas o Vaticano deixa-me doente e quase tenho vontade de negá-lo, como três vezes fez Pedro.

Ler jornais é pecado? Estar na internet é pecado? Ler livros? Ver Televisão? Que inferno!!!

O Vaticano é cada vez mais um mundo à parte, naquele que o Homem, Jesus Cristo, quis criar. Ele levou 7 dias a edificá-lo. Poucos mais levará Bento XVI a dar cabo dele.

E o pior é que somos informados destas coisas pela televisão, o Vaticano tem site na net... e livros para ler, além da Bíblia. E agora?

Pano para mangas, não? Pelo menos para as homilias nos próximos domingos... Boa sorte à classe dos sacerdotes...

Eu não deixarei de blogar.
Amen.

Por partes

Metade de mim é o outro.

Mas eu preferia ser uma mulher por inteiro.

E hoje não se come carne!

Expensive affair

Cheguei nervosa como se nunca tivesse chegado antes.
Esperei. Poucos minutos.
Ele chegou. Tão igual ao que eu me lembrava, desde a última Primavera.
Trocamos sorrisos, o meu meio nervoso. Acredito que se notava.
Mas tinha decidido ir em frente. Estava ali porque não podia ser de outra maneira.
A ausência doia-me, mais do que a recordação do toque daquelas mãos.
Deitei-me tentando disfarçar a ânsia e ele, devagar, seguro de si, inclinou-se sobre mim.
Olhou-me, questionou-me.
Tocou-me com as mãos na boca, como se quisesse sentir nas pontas dos dedos as palavras que eu dizia.
Comecei a relaxar, sabendo que tudo fazia sentido, por mais adiado o encontro.
Entreguei-me. E houve momentos em me vi reflectida nos seus olhos.
Quando saí para a rua sabia que iria regressar.
Marcamos encontro para terça-feira. Tenho dois dentes para desvitalizar.

Vidente do Amor ou a falta de sentido de oportunidade

Restauradores. Marquês de Pombal. Saldanha. Praça de Espanha. Benfica. Telheiras. Carnide. Semáforo sim. Semáforo não. As letras vermelhas sobressaem num fundo amarelo: VIDENTE DO AMOR. Vou ligar. Alguém tem que explicar ao profeta algumas técnicas de marketing. Com sol, cheiro a verão, corpos cada vez mais despedidos e noites afrodisíacas ninguém vai precisar dos serviços do senhor. Que poupe o dinheiro das placas. Guarde as tintas. Volte no Inverno, quando se instalar a S.A.D.. Quando as feromonas esmorecerem e os corações andarem mais cinzentos. Porque se agora a coisa não for lá ao natural, não é com pozinhos e mezinhas que lá vai.

[Se ainda assim resolverem tentar, o vidente do amor adverte que 'pagas após resultados']

A cidade onde irão as desta...



...um destes dias.

Contra o racismo...

terça-feira, abril 11, 2006

Gramática

Sou uma leitora compulsiva. Escrevo milhares de caracteres por dia. Porque gosto. Porque me pagam. Li algures que há palavras que nos dão perfeitos beijos na boca. E não é preciso mais nada. Acredito. Já me apaixonei por um homem que cabia numa folha de papel. Lido mal, muito mal, com erros ortográficos. Nunca poderia amar um homem que não me escrevesse uma carta de amor imaculada.

Da felicidade

Si los hombres fuéramos más inteligentes do que somos, habríamos procurado siempre que las mujeres fueran mas felices do que lo son porque es la condición primaria de la felicidad en el mundo. En la medida en que las mujeres no son felices, no hay felicidad; y por supuesto no la puede tener el hombre.
Julian Marias, La felicidad humana

[post escrito a quatro mãos com ajuda do MP]

Da mudança da estação

Abro o armário. Fecho o armário. Abro as gavetas, uma a uma. Fecho as gavetas. Olho pela janela, enquanto maldigo a hora em que mudei de canal quando começou a meteorologia. Sento-me na cama. Levanto-me. Regresso ao guarda-fatos. Volto a abrir as gavetas. [Suspiro] Não tenho nada para vestir!

segunda-feira, abril 10, 2006

Auto-estima*

Este post é para os homens distraídos, aqueles que aos 30 ainda vivem iludidos, são ingénuos ou simplesmente burros. Tenho dúvidas em que categoria colocar o namorido (marca registada da nossa Samantha) da Miranda. Nunca o tinha tomado por ingénuo... Vem isto a propósito do facto de ele ter questionado porque é que a Samantha foi fazer a depilação se anda a dormir com um saco de água quente.

Ponto 1. Cada uma dorme com quem quer e dá menos trabalho.

Ponto 2. Nós não vamos à depilação, não arranjamos as unhas, não vestimos aquela mini-saia, nem vamos ao cabeleireiro, não compramos roupa nova por vossa causa.

Cada um destes gestos é um acto puramente egoísta. Fazemo-lo a olhar para o umbigo e a pensar na imagem que nos devolve o espelho. Se pelo caminho fizermos virar algumas cabeças, considerámo-lo um bónus. Se ainda por cima conseguimos suplantar a loira boazona do escritório achamos que nos saiu a sorte grande. Mas a única coisa que queremos é sentirmo-nos bem connosco. Entendido?

[Claro que também fazemos isso por causa das outras gajas. Para provar que somos melhores que elas, mas isso não interessa para nada]

* Post dedicado ao nosso visitante francês.

Apaziguamentando


Vim à praia fazer anos como quem toma um banho de mar.
Vim como quem pensa em partir sabendo tão simplesmente que vai ficar.
Esta praia é o meu quintal. Onde arranco ervas daninhas.
E sob este céu que cheira a sal, em sussuro canto-me os parabéns.
Hoje faço anos como quem reza. Em silêncio.

Parabéns Miranda

A Miranda é a minha consciência. Cito de memória um episódio do sexo e a cidade em que a Carrie, a verdadeira, tentava contar à Miranda que andava a trair o Aidan com o Mr. Big. A grande preocupação da minha homónima, a quem a traição não parecia pesar naquele momento, era ter a certeza que a Miranda não se chateava. É assim nesta Cidade sem Sexo. Quando estou em risco de pôr o pé em ramo verde penso no que me dirá a Miranda. Imagino-a tipo ‘grilo falante’, a dizer-me tudo aquilo que não devia ter feito, a enumerar os males e as consequências de cada um daqueles momentos de inconsciência, a abraçar-me e a dizer-me que não tenho emenda... A Miranda é a mais antiga das minhas amigas. Aquela sem a qual sei que nunca poderei viver. É uma mulher de um sentido de humor verdadeiramente caustico, mas subtil. Mas é também uma pessoa de uma bondade imensa... Nada do que possa escrever te fará justiça. Pelos 33 anos, pela amizade, Parabéns, Miranda.


Andávamos nós na Universidade quando conheci a Miranda. Em comum tínhamos o sentido de humor e o espírito de ‘cabra’, que se traduz num sorriso lateral e troca de olhares a ‘gozar o próximo’.
Não sei porquê gostei sempre dela. Temos tendência, nós as mulheres, de não gostar de quem é, de certa forma, parecida connosco. Neste caso foi amor à primeira vista...

De repente perdemos o contacto. Andámos por ali a ver se nos víamos mas ainda passaram uns dois anos de distância e desencntros. Não me esqueço dela na última oral da minha vida, um maldito exame de Ciência da Administração que até hoje me atormenta. Ambas passámos.

Foi n’ ‘A Capital’, o reencontro, Não vou aqui especificar como foi, mas foi também aí que esta Cidade sem Sexo se juntou em definitivo.

A Miranda é sólida. Na sua ironia diz o que deve e não cala o que pode ter medo de dizer. A Miranda às vezes é a minha grande amiga porque aproveitamos o facto de ela não ter carro e de eu lhe dar boleia para termos aquelas conversas que só nós é que podemos ter... e como houve uma altura em que ela morava em Cascais... dava tempo para tudo.

A Miranda é uma miúda que vale a pena. Porque tem os pés assentes no chão – mas está a pensar tirar a carta – e porque não age sem pensar. Pondera, pensa, sabe estar.
E eu gosto.
Bem-vinda aos 33.

Questões familiares não me permitiram estar na festa da Miranda, nem antes na da Samantha. Sou também a ovelha negra deste blog e fui a última a escrever neste post de parabéns à nossa querida Miranda. Vai a bold porque estou com um sentimento de culpa negro como a noite. Eu sei que sabem que em espírito estou sempre com elas, mas realmente falhei nestes momentos. Não foi por mal, mas peço desculpas sentidas.
Agora a Miranda, que tal como as personagens a quem roubámos estes psudónimos, é a melhor mistura de gelo e fogo que eu conheço. A Miranda é analítica e centrada, sarcástica e afirmativa. Mas é também uma tábua de salvamento de compreensão para quem precisa e um poço de gargalhadas fantásticas que nos animam qual choque eléctrico. No início do ano pregou-nos um susto com direito a passagem por hospital, mas, como sempre, saiu dessa situação com mais sabedoria e manteve a acutilância e a meiguice em doses milimetricamente misturadas. Eu vou tentar seguir cada mais o teu exemplo. Bem hajas e muitos parabés, querida Miranda.


P.S- Confirma-se o chá com scones no próximo Sábado, na minha casa, para eu me redimir e fazer restante troca de prendas?

domingo, abril 09, 2006

Tenho a minha mãe na reforma

Porque parece que anda toda a gente a fazer anos, a minha mãe, hoje, também os faz.

Escrevo sobre ele porque merece.

A minha mãe tem três filhos, e apesar de não sermos todos iguais - confesso que sou a melhor, a mais atenciosa, a mais carinhosa, a que telefona todos os dias - dizia eu que, apesar de não sermos todos iguais, trata-nos a todos de igual forma.

Recordo que foi ela quem nos ensinou a fazer contas de dividir. Tinha experiência, não só pelo trabalho que desempenhava - e ainda desempenha - mas também, penso eu, porque dividir era palavra de ordem lá em casa, nos anos 70. Nós os 3 insistíamos em não dar com as contas e ela, com a quarta classe tirada, insistia para que fossemos mais longe, sem para isso a nada nos obrigar. E chegámos a partilhar um carro, sem grandes dramas. Tínhamos aprendido a dividir...

Cresceram um engenheiro, um arquitecto e a minha mão ficou feliz. Uma jornalista, e ficou assim-assim. Ela só nos pediu uma coisa 'Não sejam advogados'. Temia ela que um dia, por dinheiro, deixássemos de defender os valores que queria que tivessemos para toda a vida. Talvez se esquecesse que nas outras profissões também se perdem valores. E muitos.

A minha mão é o motor de uma família numerosa, que começa na avó de quase 91 anos - falarei dela um destes dias - e termina numa criança que ainda vem a caminho e que tem meses na barriga da mãe dela. E a minha mãe sabe sempre de todos. E o que fazer a todos. O fulano está com gripe? Telefona e manda tomar 'não sei o quê' e fazer 'não sei que tratamento'. 'Médico, meu filho, vai ao médico', insiste. O cicrano tem um problema de outro foro que não o da saúde. Vai já resolver-se. A filha - única - não tem, como de costume, comida em casa? Pois a alimentação vai até ela. Não tem roupa passada a ferro?. Resolvo-te isso na lavandaria, filha...

A minha mãe é assim, incansável, uma mulher de armas, não se queixaria nem que uma das torres gémeas lhe caísse em cima - há dias sonhei com isso e safámo-nos - e está sempre lá, pronta para desenterrar as forças vivas, aplicá-las nos outros, e deitar-se à espera de mais trabalho para o dia seguinte.

Nem sequer ficará com a sensação de quem cumpre missões, atrás de missões, porque mal terá tempo para pensar nisso.

A minhã mãe nunca lerá isto. Ela não sabe fazer enter, quanto mais o que é um blog.
Mas sabe ser uma grande mãe.
E eu nem sei se um dia quero ser como ela, porque vejo que dá muito trabalho.

Parabéns pelos 65! Não à reforma das mães.

32 razoes para fazer 33 anos

1 - porque é inevitável
2 - porque é inevitável
3 - porque é inevitável
4 - porque é inevitável
5 - porque é inevitável
6 - porque é inevitável
7 - porque é inevitável
8 - porque é inevitável
9 - porque é inevitável
10 - porque é inevitável
11 - porque é inevitável
12 porque é inevitável
13 - porque é inevitável
14 - porque é inevitável
15 - porque é inevitável
16 - porque é inevitável
17 - porque é inevitável
18 - porque é inevitável
19 - porque é inevitável
20 - porque é inevitável
21 - porque é inevitável
22 - porque é inevitável
23 - porque é inevitável
24 - porque é inevitável
25 - porque é inevitável
26 - porque é inevitável
27 - porque é inevitável
28 - porque é inevitável
29 - porque é inevitável
30 - porque é inevitável
31 - porque é inevitável
32 - porque é inevitável

sábado, abril 08, 2006

Que saco!

O que dizer de uma rapariga de bom trato, 33 anos, estado civil a ponderar, discreta e doce q.b., e que há noites consecutivas dorme com... um saco de água quente?

Essa Primavera vem ou não vem???!!!

sexta-feira, abril 07, 2006

Quatro Mãos Cheias de Nada

A seguir com muita atenção...

impulse ou impulso?

Quando alguém nos diz para ler um artigo de opinião que fala sobre amor será Impulse? Ou impulso motivado por reminiscências antigas? Traições do subconsciente que lhe fazem dizer o que não deve a quem não deve?

Concursos

Tenho concorrido a vários prémios na minha área profisisonal. Confesso que sinto um défice de reconhecimento, embora saiba bem que os critérios que ditam os vencedores dos galardões nem sempre são os da qualidade, da justiça e da imparcialidade. Como muitas vezes a minha auto-estima anda pelas ruas da amargura, tenho sempre a esperança de que um destes dias me calhe o prémio. Mas sei também, quando caio nos momentos de bom senso, que essa glória pode ser vã e efémera e não me proporcionar as oportunidades que agora me negam. Sei ainda que o importante é ter feito o melhor que pude e sei. Mas, como trabalho para o público, de vez em quando lá volto a ceder à tentação. Vou, por isso, concorrer a mais um prémio. E enquanto preparo o envio do material, tento convencer-me de que o que conta mesmo é que fiz um trabalho honesto, de forma dedicada. Tento acreditar que essa é verdadeiramente a atitude do vencedor.

quinta-feira, abril 06, 2006

Cinderela

Se à meia-noite me transformar em abóbora, faço obras no jardim!

A vitória da mente... e uma história qualquer

Era uma casa sem telhado. Tinha um jardim imenso e uma piscina que a água cobririria até ao cimo, a ponto de poderem os pés chapinhar à bordinha, revista na mão, bóia lá dentro, colchão virado para o sol.

Era uma casa sem telha mas com tecto. Numa das divisões, a casa-de-banho da suite, era até possível olhar para cima, ver de noite as estrelas e a lua quando estivesse cheia, o céu quando as nuvens o não cobrissem, ou simplesmente a chuva, água a gotejar num vidro suficientemente espesso para não deixar entrar correntes frias.

Era uma casa grande com jardim a toda a volta. Ali plantar-se-iam oliveiras e relva. Ali pôr-se-ia uma mesa de cadeiras dobráveis e loiças coloridas para beber sumos, comer torradas e ao domingo gelatinas. Ali ler-se-ia o Expresso ao sábado, nem que fosse apenas a Única.

A casa tinha uma sala enorme, tipo mésanine. Subia-se para um espaço com uma ampla janela de onde a serra sorria e um palácio espreitava. Descia-se para a mesa de jantar, a lareira a sair da parede, rasgando o espaço para manter a temperatura e para uma porta de acesso a todas as visitas. Mas estava ainda trancada.

Era uma casa confortável. Escritório mais três quartos. Outras duas casas-de-banho, banheiras de imersão, chuveiros de massagem, cores fortes e coloridas nas paredes, chão de madeira, corredor de pé-direito que faria Serralves corar. Uma casa de bom gosto.

Era uma casa com garagem para tudo guardar. O carro nem seria o mais importante. Bom, bom... era ali pôr os apetrechos de jardim e as bicicletas. E as tralhas.

Era uma casa sem curvas, com classe, preparada à imagem de quem a quis ter. Era uma casa e não um lar.

Um dia fizemos amor, nessa casa.
Foi nossa, por uma noite.
Incompleta, de paredes ainda por caiar.
Incompleta como nós.

Decidir

Às 23h30 de uma quinta-feira, já em casa, diz-me o cérebro que escreva, que poste, que comente, que partilhe, que diga, que faça, que actue...

Diz-me o corpo que feche os olhos e espere pelo novo dia.

E ninguém me garante que é já amanhã.

Fazer o quê?

Sonhar acordada

"Se podes sonhá-lo, podes fazê-lo" e - algum tempo mais tarde - "Deus só nos permite sonhar com aquilo que podemos fazer" são duas frases que me caíram no goto. É que eu sou pessoa muito dada a sonhar acordada (tenho a certeza que a palavra sonho aparece em todos os meus textos bloguistas, por muito escassos e comedidos que sejam!).
Passo muito mais tempo em deambulações oníricas de olhos abertos do que quando estou na neverland que o reino dos lençóis nos proporciona. Ainda não vou contra os postes de electricidade, nem sigo de carro até Cascais quando o meu destino é só Carnaxide, mas já vou dando por mim a falar com os botões em voz alta demasiadas vezes. "Tens toda a razão, força com isso", respondem-me eles (os botões, bem entendido, não os transeuntes) e eu fico naquilo horas a fio.
Desde que ouvi ou li as duas frases que encimam este post, que vivo mais descansada com a ideia de que tanta canseira a fantasiar vai ter sua recompensa. De facto, nunca me deu para sonhar (acordada, note-se, porque já tive uns pesadelos) em ser médica ou piloto (a?) de aviões. A massa de que sou feita não dá para isso, já que Deus deve ter escolhido uma forma que não contemplava actividades com bisturi ou painéis de instrumentos. Só de pensar fico arrepiada, quanto mais sonhar com isso!
Logo, se eu sonho em ser xxx e fazer xxxx e conseguir xxxx, vai acontecer de certeza! É tudo uma questão de sonhar bem sonhadinho, de olho bem aberto, confidenciando os pormenores aos meus botões e anotando em papel para não perder nenhum pedacinho do sonho. Tenho resmas destas instruções para ser feliz e qualquer dia Deus manda o meu anjo bater-me à porta para dizer: "Acorda, está na hora de pôr o sonho em prática". Será que ele está atrasado ou anda perdido por aí?

Da Depressão II

Carrie diz:
leste o estranho amor? o blog q te mandei ontem
[encriptado] diz:
sim sim
[encriptado] diz:
gosto
[encriptado] diz:
mas n é este o meu tipo de amor literário
[encriptado] diz:
gosto do antonio de cerveira
[encriptado] diz:
no aesperadeumsinaldivino
[encriptado] diz:
esse faz o meu género
[encriptado] diz:
sofre como um cão
Carrie diz:
como tu gostas
[encriptado] diz:
sim
[encriptado] diz:
coisa que não senti no estranhoamor
Carrie diz:
mas porque é que temos que sofrer????
[encriptado] diz:
traz grandeza
Carrie diz:
não digas disparates
[encriptado] diz:
é verdade*

Digam o que disserem sobre o que escrevo, sobre a forma como escrevo, chamem-me deprimida, elogiem os tons cinzentos com que pinto as palavras, mas isto é algo que não consigo compreender.

Duvido do Vinicius quando diz ‘que todo o grande amor / Só é bem grande se for triste’. Agora, pedirem-me que acredite que a vida só vale a pena se for sofrida, que há beleza no sofrimento, isso, tenham santa paciência, é que não! Nenhuma lágrima pode suplantar a musicalidade de uma gargalhada. Se é para chorar que seja de tanto rir. Nenhuma hora de insónias vale mais que uma noite de conversa com os amigos. Se é para ter olheiras que seja por uma noite de copos. Nenhuma dor, mesmo que por um grande amor, conseguirá superar a paz dos abraços sinceros dos meus putos. Se é para doer que seja a cabeça com as turras do G. Nenhum centavo gasto com uma depressão será um dia dinheiro bem gasto. Se é para ir a falência que seja na Fnac. Nenhuma zanga será melhor do que perder horas numa discussão de ideias. Se for para ser do contra que seja por causa do futebol, da política ou de um filme… A vida vale a pena e não é pelas lágrimas, pela dor, pelo sofrimento.

[*Conversa no msn]

Parabéns Charlotte! (II)

Quantidade não é sinónimo de qualidade. Aplica-se ao sexo. Aplica-se com mais propriedade ao caso da Charlotte. Há coisas mais interessantes para fazer na vida do que obsequiar-nos todos os dias com nacos de prosa como o que está imediatamente abaixo. Escreve pouco, mas quando escreve é sublime.

A miúda, como se pode comprovar no post da Samantha, é boa miúda. Do melhor com que me cruzei em toda a minha vida. É uma mulher doce, de quem um dia tive ciúmes. Quis o destino que partilhássemos, ainda que em alturas diferentes, o coração do mesmo homem. Mas nada abala esta amizade. A Charlotte é a mais equilibrada das quatro mulheres que compõem esta Cidade. A sua vida está longe de ser perfeita, mas a Charlotte passa por ela, pela vida, com a certeza de que tudo acaba bem e se ainda não está bem é porque ainda não acabou. E assim vai construindo os seus dias com uma segurança que parece inabalável. A inocência, ou a candura como lhe chamou a Samantha, é desarmante. Mas é genuína. Esconde uma mulher de armas. Uma mulher que protege os seus. Imagino-a como uma leoa a defender as crias quando um dia tiver descendência. Deixa-me tranquila saber que posso contar com ela. Como naquela tarde de Verão, há muitos anos [estaremos mesmo a ficar velhas?], em que veio em meu socorro, mesmo sem cavalo branco. E sei que mesmo não picando o ponto todos os dias, a Charlotte sabe sempre o que se passa com cada uma de nós. E quando é preciso chega o telefonema: “Passa-se alguma coisa, querida?”. Parabéns Amiga. Que o ‘presente’ te traga o futuro...

[Não, ninguém te vai expulsar. Esta será sempre a tua Cidade. A Nossa.]

quarta-feira, abril 05, 2006

Balanço nas primaveras

Faço anos na Primavera. É mais uma daquelas épocas (como o Ano Novo e o regresso das férias de Verão) em que aproveito para fazer balanços. Porque faço anos, porque começa uma estação promissora, porque passo a vida a pensar no "deve e haver". A idade parece que ainda não me pesa na aparência (dão-me sempre cinco anos a menos), mas continuo a queixar-me de estar permanentemente com saudades do futuro. Quero acreditar que é lá, nesse tempo ainda por chegar, que vou realizar uma mão-cheia de sonhos. Mesmo que, cada vez mais, saiba que a vida é aquilo que acontece enquanto recordamos o passado e planeamos o futuro. Ela passa, veloz, e nem sempre deixa marcas indeléveis, daquelas que eu gosto de acumular como bandeirinhas no meu mapa de "conquistas". Este ano, o balanço mostra que essas bandeiras por colocar estão quase todas no hemisfério da vida profissional. E então? Percebi que o país do amor do meu namarido (como diz a Samantha), da família e dos amigos (mesmo que um círculo muito reduzido) estão cheios de bandeiras coloridas; que o país da saúde me tem sido fiel (apesar de não ligar aos semáforos vermelhos que ele acende de vez em quando) e que tenho tido muitos e bons daqueles privilégios que apenas o dinheiro pode dar (e nem preccisa de ser muito dinheiro). Depois de me dedicarem um post como o da minha Samantha do coração, não é de doidos não agradecer tudo o que o "presente" me oferece em cada dia?
PS- Não é desdenho, nem preguiça, nem sobranceria. Eu gosto mesmo deste blog. Por favor não me expulsem por falta de assiduidade!

Mudar de Vida

Comprei hoje a minha primeira revista de jardins.

Chama-se 'Jardins', pois claro, e traz 75 truques que garantem 'a melhor Primavera de sempre'.

Por três euros?
Não alinham numa destas?

Parabéns Charlotte!

Chamar-se-ia Candura se no registo tivessem assim deixado pôr. Ela é a mais terna das quatro, a mais meiga, a mais pura, a mais serena, a mais cândida de todas as deste blog.

A Charlotte faz anos (já não hoje, que passa da meia-noite, mas ontem dia 4) e não podemos deixar de dedicar-lhe uma nota, em forma de post, num blog que ela desaproveita, ignora, ou talvez visite com aquele ar de quem pensa 'as miúdas andam entretidas e não preciso de preocupar-me'.

Todas temos problemas. Mas os da Charlotte são sempre os últimos a saber-se. Não os esconde, nada disso. Gere-os e lida com eles como coisas que vão resolver-se. E ela acredita que sozinha, muitas vezes, ou com uma ajudinha de uma certa força que não vemos nem compreendemos, vai resolver tudo. E assim parece ser.

Mas a Charlotte nunca está fora dos outros. Como nunca, fora de si. E até pode ter usado uma maquilhagem mais forte para esconder as olheiras do dia, mas será sempre nas nossas que vai reparar para poder perguntar: 'Passa-se alguma coisa, querida?' Normalmente passa. Passa-se sempre qualquer coisa entre nós e connosco. Havemos de fazer uma grande festa quando as quatro, todas as quatro desta Cidade sem Sexo, estivermos realmente boas. E bem. sem recaídas, depressoes, trabalho a mais, chatices em casa, crises de qualquer forma...

Até lá, faça-se a festinha à Charlotte e juntemos o grupo para mais um chá ou o que for que se beba para brindar a seguir. Que assim nos mantemos vivas. E velhas.

Sopras as velas Charlotte, querida?

terça-feira, abril 04, 2006

Mega depressão

Na verdade não estou deprimida. Mais cansada do que outra coisa diria.
No amor, posso sempre queixar-me, mas mesmo assim não tenho grandes razões de queixa.
Na família há coisas que me incomodam, mas que já não me tiram o sono porque aprendi a lidar com elas.
O trabalho, esse sim, é fxxxxx. Dá-me águas pelas barcas, mas a verdade é que tenho trabalho e que nem ganho mal.
E a primavera está aí. Cheira a jacarandás no ar e maresia entra-me pela janela do quarto.
Então porquê esta mega.depressão. Digamos, que estou indecisa entre descrevê-la como uma tentativa de marketing barato ou uma experiência sociológica.
É que depois de análise detalhada a este blog, cheguei à conclusão de que todos os posts "deprimidos" ou que tal indiciam são os mais bem sucedidos, se o parâmetro for o volume de comentários.
Solidariedade ou voyerismo?

Encontros imediatos

A noite de Sábado estava quente, [quase tão] quente como as noites de Verão. Cheirava a polén e à maresia que subia da foz do Rio. Era uma daquelas noites que convidam as hormonas a dar uns passinhos de dança. Love is in the air. Ficamos na rua, copo na mão, gargalhada fácil, a ver quem chega e quem passa. A dada altura entro no bar, afinal a cerveja não se compra, aluga-se. [freeze] Regra de ouro: Não se engata uma mulher à porta da casa de banho. Princípio básico, daqueles que não se escreve, afinal ninguém acredita que algum homem seja suficientemente estúpido para o fazer. Como comprovei a tentativa na prática, arrisco-me a repetir: Não se engata uma mulher à porta do WC. A conversa deste gajo, que nem sequer primava pela beleza, enquanto eu esperava que vagasse o WC feminino andou à volta do seu pé-de-cabra (se existe algum sentido escondido, aceitam-se esclarecimentos…), que me ofereceu para o caso de eu querer arrombar a porta. Dizia ele que nunca saí de casa sem ele, o pé-de-cabra. Se há quem ande com patas de coelho porque é que ele não pode ter um pé-de-cabra? Não querendo passar por mal educada, disse-lhe que percebia. Porque raio queremos ter sorte se podemos ter um instrumento mais versátil? Bem educada ou não, entrei na casa de banho, morta por me ver livre daquele fenómeno, logo que pude. Mal de mim pensar que as paredes me poderiam proteger. Estou a lavar as mãos quando o oiço perguntar se estava ‘a correr bem?’ (dah!) e logo um ‘como é que te chamas?’. Ficou sem resposta. Claro! O que é que o gajo estava a espera?!

Agora repitam comigo: Não se engatam mulheres à porta da casa de banho…

Da depressão

Dan (Jude Law): If you love her, you’ll let her go so she can be happy.
Larry (Clive Owen): She doesn’t want to be happy.
Dan: Everybody wants to be happy.
Larry: Depressives don’t. They want to be unhappy to confirm they’re depressed. If they were happy they couldn’t be depressive anymore. They’d to go out in the world and live, which can be depressing.

Closer (2004)

domingo, abril 02, 2006

Houve arraial e foguetes no ar...

Preparava-se o José Cid para o concerto no Maxime, e nós, bloguistas desta cidade e de uma Mesa noutro lugarejo do lado já nos preparávamos para aquilo que viria a ser A FESTA.

Não foi preciso o Rei fazer anos - se bem que os fez (39, ups), esta semana - mas a o povo saiu à rua e só faltou a orquestra não parar de tocar. Ainda tentámos levar o CD do Cid ao estilo 'uma mão à frente, e outra atrás', mas não... fomos recebidos com clássica ou então era a Antena 2 que estava ligada e não me apercebi. Tudo para impressionar. Ninguém abre uma FESTA assim....

O que importa é que houve churrasco. Confesso que nem o provei, mais porque preferi dedicar-me às múltiplas e deliciosas entradas - sem pimentos padrón, assinale-se - do que por falta de carne fresca, que ainda vi lavar e tirar sal para voltar ao congelador. Quando é o próximo????

Mas esta era uma FESTA que tinha tudo para correr mal:

- pessoas que não se conheciam bem;
- pessoas que não se conheciam de todo;
- muitos casais (esses conheciam-se entre si, acho);
- muitas crianças(que preferem não ser reconhecidas);
- pessoas que se conheciam bem demais;
- mulheres à beira de um ataque de nervos (porque passam assim a vida);
- homens (era só um, mas amenizemos a coisa porque até parece mal) a querer apresentar todos os amigos disponíveis e a deixar ambos os sexos em pleno ataque de nervos;
- amigos disponíveis, afinal indisponíveis...
- amigas indisponíveis e outras em dúvida sobre o verdadeiro sentido da disponibilidade...

Mesmo assim fez-se. A FESTA.

Consta que a carne era boa e bem assada, os enchidos uma maravilha, o vinho de bom trato, os queijos para todos os gostos, as sobremesesas um doce - havia até uma, feita por uma criança e estragada pela mãe (dela) mas que todos comemos e apreciámos. É que estava mesmo boa se pensássemos que os morangos congelados era apenas um truque de cozinha...

Resultado: Positivo!

Agora...
Pela parte que me toca, acabaram-se as tretas e vamos lá a blogar como gente grande, que já ninguém pode enganar o outro: Eu sei que a Chatterbox não é odiada pelo Leão, que o Vice não é uma transexual, que a Suricata também fala (baixinho) e até dá ordens ao Dr. Bunsen.... ele que parece tão duro nas opiniões por escrito mas, pessoalmente, chega a ter paciência para pessoas como o Sô Manel, impossível de aturar e pessoa capaz de montar uma bicicleta da Barbie em pleno condomínio de gente bem (senão seria uma da Tucha, claro...). Sei que a Meninadalinha não gosta de comportamentos de avó - pelo menos nas tias - que a Tia Guida não é tão velha como quer ser, que o Jonas também acha isso, que a Floresta se preocupa quando a criança está doente... que Aprimazana foi recebida em braços, e ainda bem... que este é um grupo com piada apesar de eu lhes achar graça há já algum tempo.

Mas, com tudo isto, os próximos posts podem ser demolidores.
Para eles, mas sobretudo para nós, inocentes criaturas de uma cidade sem sexo que fomos à procura de um naco de pão e serviram-nos chouriço assado.

Fica apenas o agradecimento pelo convite. A promessa de falar bem da FESTA. E uma leve esperança de que a próxima seja 'entre as dunas e os canaviais', sinal de Verão e de música apropriada.

sábado, abril 01, 2006

Aquecimento Global


Sem prejuízo para o Planeta aguardo algum aquecimento, e que as nuvens desapareçam de vez. Mesmo que para trás fique algum gelo; que isto há coisas que não derretem nem no pino do Verão...

Luz que ilumina o caminho



Nenhuma virgem precisa que lhe segurem na vela.
Senão nunca mais...!

Ainda os homens

Teoria:

Os homens descobriram que as mulheres que andam deprimidas - desde que não em estado absolutamente crítico - se desforram em uma de duas coisas: ou vão às compras, ou fazem limpezas em casa.

Eu acho que eles escondem o cartão de crédito e, depois, só têm de ficar sentados no sofá...

Exigências para o Churrasco

Leão:

Quero que haja farinheira e pimentos padrón, ok?

BCC com doce de abóbora

Já disse, num post anterior, que comecei o dia a ler o 'Expresso'.

Mas uma mulher dita 'independente', casa própria, sem empregada, tem sábados dolorosos mesmo que viva numa casa linda - como eu acho que é a minha - com todas as máquinas prontas a ajudar nas 'lides'...

O tempo que levei nas arrumações e limpezas não foi assim tão expresso, antes expressivo, e a coisa prolongou-se até ao fim da tarde.

Mas, eis que descubro que a hora mudou e o sol sai mais tarde do meu terraço.

É certo que o jardim mantém a vegetação tipo floresta, Amazónia sem rio, e, graças a Deus, sem macacos por lá deambular - nas redondezas, se exceptuarmos o vizinho de cima que passa tardes a comentar filosofias baratas com a namorada - mas a varanda... Ai, a varanda....

Se soubessem o bem que me soube aquele queijo fresco alentejano, a boiar em doce de abóbora com banana a acompanhar...

Pequenas coisas da vida.
Saborosas.

Ah! E usei factor 40, no creme que tive de pôr na cara.

Nos anais do jornalismo II

E não conta terem uma capa - da 'Única' - com um Stanley Ho vestido de concubina?

Eu também comecei o dia a ler o 'Expresso', ao sabor de uma meia-de-leite morna e de uma sandes de queijo com manteiga.

Não peguei - como nunca pego - no Caderno de Economia, mas vi as gordas do Caderno Principal e fiquei curiosa com a Única.

Um hábito ou uma esperança vã, esta leitura semanal?

Para a semana vem ter comigo. No 'Banho do Manel'o 'Expresso' lê-se com mais sumo...

Nos anais do jornalismo

Mais um sábado.
Mais edição muito anal do Expresso, pelo menos no que toca ao caderno de economia.
Há que dizê-lo com toda a frontalidade.

Qual simplex?

Ninguém me basta. Muito menos eu.
Não admira que até os meus sonhos estejam armadilhados.
Ficar parece quase tão doloroso quanto partir. E para onde, se eu estarei sempre lá?
Procura-se um lugar com a ausência de mim.