segunda-feira, outubro 31, 2005

É que não apetece fazer mesmo nada!

preguiça
1. tendência de uma pessoa para evitar ou recusar o esforço;
2. indolência;
3. inacção; moleza; lentidão;
4. mandriice; vadiagem;

preguiçar
1. dar-se à preguiça;
2. não fazer nada; mandriar;

Direitos humanos

Acender um cigarro em Nova Iorque é a mesma coisa que pedir que nos fuzilem ali mesmo. Na verdade não lhes dou muitos anos para que criminalizem o consumo do tabaco. Fumar dentro de um edifício deve ser punido com a pena de morte, por isso cada vez que os níveis de nicotina descem abaixo do desejado lá vamos parar ao meio da rua.

Na New York Stock Exchange, onde passei quase seis horas, vinguei-me obrigando a ‘baby-sitter’ de serviço (nenhum visitante pode andar sozinho, só falta entrarem connosco para a casa de banho) a descer duas vezes do sexto andar. Nos restaurantes levantamo-nos a meio das refeições, correndo o risco de passar por anti-sociais, o que no meu caso também não é mentira nenhuma. Obrigados a fumar na rua enfrentamos, ainda que só em Outubro, outro inimigo mortal. O frio.

Sexta-feira à noite, enquanto fumava e tentava controlar o bater dos dentes, antevendo já uma valente constipação dei comigo a pensar: Será que esta gente já comparou o número de pessoas que morre de cancro no pulmão com as mortes causadas por pneumonia? Terão feito as contas a quanto gasta o serviço nacional de saúde numa e noutra situação? Já fizeram? Ah sim? É mais barato proibir o consumo do tabaco? Então e os direitos humanos? Ah? De certeza que há alguma cláusula que impeça os Estados de maltratarem as pessoas desta forma. Os activistas dos direitos humanos que andam preocupados com Guantánamo deviam pôr os olhos na angústia dos homens e mulheres que diariamente lutam contra tudo e todos – a porta do Empire State Building, ou de qualquer edifício de escritórios, à porta dos restaurantes e nas traseiras das lojas –, e que sentem na pele o desprezo dos seus concidadãos, apenas para desfrutarem de um pequeno prazer.

Sete horas de NY

Sete horas para subir do Soho à 50th street, horas em que me esqueci de almoçar, ‘perdida’ nas ruas e avenidas, subindo numa para voltar, contornando o quarteirão, a descer na seguinte, andando em círculos. Perdida a olhar pessoas, prédios, árvores, igrejas, montras de lojas, sapatos, malas, roupa, jardins, carros. Sentada na estação de Prince Street a ver passar as carruagens do metro. Perdida em livrarias, em títulos novinhos, em livros antigos. Deixando as horas passar nas escadas da NY Public Library. Descansado a olhar para o ‘céu’ da Grand Central Station, envolvida no vaivém de pessoas que chega e que parte. Empoleirada no varandim da praça do Rockefeller Center onde se desafia a gravidade em cima de patins em linha. Parada junto a um bando de gente que espera que do outro lado da rua o estático boneco vermelho passe a branco, ganhando movimento. Fascinada perante a visão do Times Square. Nada disto é novo. São ruas já calcorreadas em outras viagens. Por ver ficaram, como sempre, os museus, mas em NY sou incapaz de trocar o frenesim das ruas pelo silêncio da arte. Para a próxima...

À espera

Quatro dias que pareceram um mês pela espera. À espera do avião, de chegar, das malas, dos colegas, das conferências, de fazer o check in, de ordem para levantar voo, de fazer o check out, do táxi para o hotel, das conferências, que tocasse o sino. À espera...

De Washington só vi o que o Mr. Martinez ‘on the rock’, como o próprio se apresentou, nos foi mostrando da janela do carro. Da Casa Branca vislumbrei, de longe os jardins. O imponente Capitólio vê-se de quase toda a cidade, ‘rasteira’ por imposição governamental, que impede que qualquer construção seja mais alta que o edifício do Congresso ou que o Washington Monument, onde passei, mais uma vez de carro, ao largo. A única coisa que de facto visitei foi a Georgetown Law School (mas isso dará uma prosa, se tiver tempo e paciência) e o Ronald Reagan National Aeroport, onde passei três horas intermináveis. Da 'capital do império' fica a impressão de uma cidade organizada, burocrática, académica e com um ritmo muito próprio, longe do stress de Nova Iorque.

sábado, outubro 29, 2005

Telegramas dos States

'Tugas'
GAP da 5th Avenue. Estou entretida a escolher um gorro para o meu sobrinho, quando de repente começo a ouvir alguém a falar, ou melhor, a gritar em português. O pai dizia para o filho que fosse arrumar qualquer coisa, e a criança respondia em tom de birra que a mãe o fazia. O pai insiste falando ainda mais alto. Volto a cabeça para ver de onde vem o som. Fico de queixo caído quando dou de caras com o presidente de uma das ‘minhas’ empresas xpto, enquanto ele se encolhe, ao reconhecer-me, até ficar do tamanho de um ervilha. Tugas!

Friends
À porta do Mr. Chow – ao que consta o mais trendy restaurante de Manhattan this season – eu e o F. fumávamos um cigarro, quando saem dois homens que pedem lume, começando a falar entre si em castelhano. O F. mete conversa, diz que somos portugueses, e aproveita para perguntar onde se vai na noite nova-iorquina. A conversa vai animada quando chega um terceiro. Eu e o F. afastamo-nos, enquanto eles trocam cumprimentos, convencidos que a conversa tinha acabado. Terminadas as saudações entre eles, o que tinha acabado de chegar estende a mão ao F., enquanto o búlgaro lhe vai dizendo “they are not ours friends, we just meet them”, mas não suficientemente depressa para evitar que ele se chegasse ao pé de mim estendendo-me a cara enquanto eu lhe estendia a mão. Fiquei, portanto, a conhecer o Steven que cumprimentei com dois beijinhos. Mais tarde foi a vez da italiana Isabella, que repetiu a cena do amigo. Ainda dizem que NY é uma cidade impessoal, de gente anónima.

Politicamente incorrecto
Entre a mesa e o buffet do pequeno-almoço, em Washington D.C..
Empregada afro-americana: Tea or coffee?
Eu: Coffee, please. (pausa) Black!
(Tivesse eu vestida uma túnica branca e um pontiagudo chapéu da mesma cor e o olhar que ela me deitou não teria sido tão assassino.)

A room with a view III

The Waldord Astoria, entalado entre a Park e a Lexington, a 739 dólares o quarto, mas sem direito a abrir a janela, virada para um varandim desengonçado. Se encostar a cabeça ao vidro, vejo a esquina da Park com a 50th. Não há luzes brilhantes, nem neons, apenas dois arranha-céus de escritores com algumas janelas iluminadas.

sexta-feira, outubro 28, 2005

A room with a view II

7th Avenue, New York

O blogger tem é inveja

por eu estar em Nova Iorque e por isso não me deixa por fotografias. Fica aqui o meu voto de protesto.

quinta-feira, outubro 27, 2005

A room with a view

Hilton Embassy row, Washington D.C.

Diário de Viagem I

distance to destination 3863
time to destination 4:47
time at destination 10:57
ground speed 890
altitude 11000
outside air temperature -51º C


Olhando para o mapa estou algures entre a Irlanda e a costa Norte do EUA. E aqui para nós: Chega! São qualquer coisa como seis da tarde em Lisboa e eu estou a voar desde as 7 da matina com uma pequena interrupção de duas horas no aeroporto de Frankfurt. Sim, é verdade, ninguém vai para a Europa central para depois andar novamente tudo para trás, sobrevoando o Atlântico quatro horas e meia depois de ter saído de Lisboa.

Andar de avião é para mim como um dia de chuva. Horas e horas fechada sem [cigarros] saber muito bem o que fazer… pega num livro, muda de canal, escolhe outro CD, vai à estante buscar um DVD, passa pelo frigorífico para trazer um gelado [e já agora um maço de cigarros], enquanto se passa na despensa para ir buscar umas gomas. Com a vantagem que mesmo nos dias de chuva podemos sempre fugir a qualquer altura para onde nos apetecer. Ou acender um cigarro e ficar a ver o fumo a esbater-se no ar.

Aqui não há fuga possível. Morro de tédio. Desde que estou sentada nesta cadeira já gastei umas quantas páginas d’”Os Outros” do Martin Amis, almocei [cigarros] enquanto via o Mr. & Mrs. Smith – que é mau, muito mau, mas que compensa por ter dois dos actores com uma sensualidade tão evidente, que transmitem uma energia sexual quase palpável [cigarros] – já preenchi os papéis para me deixarem entrar nos States, tendo o cuidado de responder correctamente às perguntas sobre doenças transmissível (ontem estivesse no largo do Carmo a dar milho aos pombos, será relevante?), se já fui traficante de droga [ganzas, as ganzas levam tabaco] ou se estou ligada a qualquer tipo de práticas terroristas ou, quiçá, relacionada com as actividades Nazis entre 1933 e 1945.

Depois dos pontos altos da viagem, confesso que estou sem saber o que fazer. O Martin continua aqui ao meu lado, mas agora que tenho todo o tempo do mundo (e mais algum) para ler, simplesmente não me apetece. Seria preocupante se não fosse assim com tudo na vida, o desejo de ter o que não posso e o desconsolo, quando o objecto do desejo é alcançado, de perceber que “é-só-isto”. Dormir também era bom, sempre se queimavam [cigarros] umas milhas sem dar por elas…

Distance to destination 3422
Time to destination 4:14
Time at destination 11:30
Ground speed 870
Altitude 11000
Outside air temperature -48º C

quarta-feira, outubro 26, 2005

A caminho de NY

Não me apetece ponto!

Está uma mulher sossegadita, toda contente por ter finalmente despachado um dos cinco textos que devia ter entregue na segunda-feira, quando de repente toca o telemóvel. O nome do chefe a piscar no visor e eu a pensar “que foi que eu fiz agora?”, a que se segue uma rápida busca pelo disco rígido, ocupados que estavam o Tico e o Teco a cogitar sobre o que iam escrever a seguir, para chegar à conclusão que provavelmente era só mais uma qualquer história sobre o plano tecnológico e afins. No news!, portanto.

A conversa começou mal, com o chefe a dizer que tinha havido uma falha de comunicação. Parece que afinal sempre fiz alguma coisa, é desta que ele me despede e eu posso ir gozar os meus dias a plantar tomates ou outra coisa qualquer para o Alentejo, de preferência bem juntinho à praia, que esta vida anda a dar cabo de mim. Respiro fundo quando percebo que afinal a falha tinha sido da empresa xpto, que o convidou para ir a Washington tratar de um assunto que afinal é da minha competência. E, quando eu achava que ia ter mais uma semana enfadonha, lá vem a ordem para preparar a mala e embarcar para os States. Não está mal, não senhora, penso nos dois segundos que demoro a perceber que a viagem é amanhã (ou seja hoje), que tenho o Esparguete a passar férias cá em casa, que não sei se tenho roupa para ir de viagem de um momento para o outro, que... que... que... basicamente o que em outra altura qualquer teria sido recebido com saltos de alegria, transformou-se num momento de puro pânico e stress absoluto. Para complicar as coisas a avô do Esparguete não me atende o telefone e eu sem saber o que fazer com o meu mais que tudo.

O pânico rapidamente se transformou em irritação que descambou para uma verdadeira birra. Pela primeira vez na vida não me apetece fazer uma viagem. Estou cansada, tenho sono, preciso urgentemente de compensar mais um fim-de-semana mal dormido, e a última coisa que me apetece é passar quatro dias com pessoas com quem não tenho a mínima afinidade. Não me apetece ponto! Ainda por cima, não se manda uma mulher de viagem – principalmente numa que inclui uma paragem em Nova Iorque (!!!!) – no final do mês, quando a conta bancária está tão magra que já é preciso fazer uns quantos buracos no cinto para que não caia.

Quatro horas depois lá consegui arranjar ama para o Esparguete, a mala está feita, os livros, obrigatórios quando se perspectivam longas horas de avião, arrumados e eu para aqui sem sono, a ver as horas passar e a pensar que às seis manhã (hora completamente criminosa e imoral) tenho que estar no aeroporto... pelo sim, pelo não, já pus o despertador e liguei para o serviço de despertar.

Se me apetece? Agora que as coisas estão todas no devido lugar já consigo esboçar o sorriso. Amanhã quando chegar perto da Casa Branca e poder chamar uns quantos nomes ao Bush de certeza que o sorriso se terá transformado numa gargalhada. E na sexta, enquanto me passear pela Madison Av ou pela 5th, vou estar na fase das coisas que me fazem sorrir. Ai vou, vou!

terça-feira, outubro 25, 2005

E quando vamos juntas à cidade deste blog?

Uma limpeza

A culpa é minha.

Deixo acumular tudo meses a fio. Tornei-me uma desorganizada pessoal. A minha vida é uma espécie de quarto que começa por ter a cama desfeita e, à medida que o tempo passa, já tem os sapatos desarrumados... a roupa espalhada no chão, o tapete repisado, duas ou três malas esventradas...

Quando chegamos a este ponto deixamos correr. Prometemos que um dia, no futuro (num muito distante) havemos de pegar naquilo tudo, dar a volta ao quarto, arrumá-lo. Até lá competimos com o Evereste e também gelamos... sempre que a porta não abre, impedida pelo lixo atrás dela.

Hoje foi um dia diferente.

Hoje comecei a limpar o quarto. Não foi assim tão difícil. Pensava eu que ia ter problemas a escolher o pano do pó, a verter o detergente, a calçar as luvas de borracha... enganei-me. É, de facto, uma questão de pôr mãos à obra, começar. Retirado o primeiro grão, tudo parece vir agarrado (como se usassemos aqueles 'agarra pó' dos anúncios publicitários, que trazem tudo colado à esfregona e até ficamos envergonhados com o lixo que acumulámos debaixo do sofá).

Não está tudo resolvido. Mas é um princípio. Também já corei, ao perceber como teria sido mais fácil se tivesse pensado nisto mais cedo (em 2004, nalguns casos). Mas perdi a vergonha para ganhar forças e continuar a organizar-me. Na vida. Como na alma.

É que se não tiramos logo o pano, para enfiá-lo, a correr, no lixo... corremos o risco de voltar a espalhar o pó. E depois não há quem o volte a agarrar.

segunda-feira, outubro 24, 2005

Não quero saber...

...dos teus compromissos profissionais. Este 'marcha' esta semana!

sábado, outubro 22, 2005

Uma vez sem exemplo

Eu sei que não é suposto isto ser um blogue político, também não é suposto ser sobre futebol, o que não me tem impedido de escrever sobre o assunto. Na verdade cada vez me convenço mais que isto não é sobre coisa nenhuma, assim sendo bem posso espetar aqui com as declarações do professor que ninguém vai reparar.

Devo ter sido a única pessoa de território continental e ilhas que não ouviu o anúncio da candidatura do professor, também conhecido por Cavaco Silva (já é a segunda vez que falo do homem e ainda não pedi a devida vénia), em directo em todas as televisões e rádios. Temos pena, mas estava às voltas com uma cacha, porque há valores que falam mais alto, afinal o futuro do País, para quem não sabe, está no choque (suspeito que a voltagem esteja acima dos níveis recomendados, só isso explica que naquele ministério nada funcione, que ninguém se entenda, muito menos na unidade, dita de coordenação, em que a desorganização é palavra de ordem), dizia eu que o futuro do País está no choque tecnológico e não nas presidenciais, e por isso não tive tempo para assistir ao circo que se montou à volta do homem (vénia). Também confesso que, à parte das peças de antevisão publicadas no meu pasquim, não tive tempo para ler o que publicaram os outros. Passei a manhã numa entrevista e quando cheguei estive a escrever sobre ao assunto e a discutir com a R.T. as possibilidades do tipo, além de ser casado, ser insuportavelmente “atinadinho” e mau na cama, e com isto eram horas de começar a trabalhar para a cacha, que eu ainda não sabia que o ia ser, mas como sou muita boa saquei a notícia e fiz um brilharete (sim, a modéstia continua a ser a minha principal qualidade).

Por esta altura já três dos nossos cinco leitores desistiram de ler, mas para os que se mantém estoicamente eu volto à questão: o professor! Ontem, ao final do dia, um colega meu decidiu pôr o som da televisão mais alto, suponho que por ter visto a imagem do Aníbal, a que se seguiu o meu já estafado comentário “não te estou a ver fazer a vénia”, depois de ter ouvido a voz do homem (a explicação para a história da vénia pode ser encontrada no Mau Tempo, no Bicho Carpinteiro ou no Insubmisso. Quem não tiver paciência para tanto pode passar no Glória Fácil, onde o JPH faz um apanhado da discussão).

Não faço a mínima ideia se eram declarações feitas durante o anúncio da candidatura ou noutra altura qualquer, nem sei do que é ele estava a falar, mas as campainhas de alarme soaram quando o oiço falar da “Assembleia Nacional”. Desculpe? Importa-se de repetir? E ele lá repetiu e corrigiu. Afinal estava a falar da Assembleia da República. Uff… Voltei a respirar, depois de perceber que afinal não tínhamos voltado ao Estado Novo. Já não bastavam as semelhanças com o outro, que também primava pela austeridade, que começou por ser ministro das finanças, e que depois foi o que se viu, como agora ainda vem falar de instituições do tempo da outra senhora. Se dúvidas havia…

PS: A “posta” é longa, tão longa como cada um dos cinco textos que tenho para entregar até segunda-feira, mas escrita entre dois cigarros. Fosse eu tão profícua a falar de outras coisas e a minha vida seria de certeza mais feliz. Já para não falar no fim dos pesadelos que tenho tido nas últimas semanas em que os ditos textos aparecem invariavelmente, qual exame final nos tempos de faculdade.

sexta-feira, outubro 21, 2005

Outono

Ainda não me está na pele este Outono tímido, quem sabe se prenúncio de Inverno ligeiro?, que ainda não me obrigou a tirar camisolas e sobretudos dos armários. Talvez por isso me saiba bem este cinzento que cai do céu e invade as janelas, empalidecendo as luzes e tornando o dia em noite. A chuva miudinha que bate nos telhados do outro lado da rua. A água que corre calçada abaixo. Os chapéus de chuva abertos, numa manta de retalhos colorida. Não pode o Outono dar lugar à Primavera?

quinta-feira, outubro 20, 2005

Temos pena, temos muita pena

Todos os dias deviam começar assim. Todos os gestores deviam ser assim! Ai Ai Uma entrevista logo pela fresca com o presidente de uma empresa lindo de morrer. Cabelo desalinhado, olhos castanhos, lábios apetecíveis, sorriso enigmático, um traço de timidez a compor o retrato… e eu, de cabeça encostada à palma da mão, cotovelo sobre a mesa, a ouvi-lo falar sobre protocolos de internet, tecnologias, investimentos, routers e afins, como quem ouve poesia. A verdade é que a certa altura deixei simplesmente de prestar atenção ao que me dizia. Só me apercebi que estava a olhar para ele embevecida quando se calou à espera da resposta a uma pergunta que me tinha feito. Corei. Muito. Retomei a compostura, endireitei-me na cadeira, e lá peguei na caneta para tirar umas notas, como quem está realmente interessada no assunto. À despedida, dois beijinhos e uma olhadela para a mão esquerda como quem não quer a coisa. E lá estava, qual alarme anti-roubo, a bela da aliança dourada. Temos pena. É que temos mesmo muita pena!

quarta-feira, outubro 19, 2005

Em português

Alguém é capaz de me explicar que vírus atacou as cabecinhas de tanta alma que anda perdida por essa blogosfera (principalmente nas caixas de comentários) para deixarem de escrever português correctamente?

Nos SMS até percebo. Sou capaz de desculpar que não se escrevam os c cedilhados, que se use e abuse de abreviaturas, que não se ponham acentos, que se deixe o ‘estar’ coxo sem as primeiras duas letras... Tá-se bem! e dá trabalho andar para ali a carregar em teclas do tamanho de uma formiga.

Agora, porque é que com um teclado à frente se trocam ‘ques’ por Ks?, se substituem os dígrafos como ‘CH’ por 'Xs'?, ou os acentos por ‘H’? Será mais chique (!) escrever ‘eh’ ou ‘estarah’? (De certeza que esta lista poderia ser bem mais longa, mas eu sou uma conservadora e não me lembro de outros exemplos.)

Das duas uma, ou andamos todos (aqui também me incluo porque sei que não sou perfeita e muitas vezes lá saem uns acentos e vírgulas fora do sítio) a ficar burros ou então queremos dar um ar jovem e divertido, crucificando (o já de si mau) português que aprendemos na escola. Tenham dó!

Alice

Ainda bem que apareceu um filme como Alice.
Alice desapareceu. Ia com o pai para a escola e desapareceu.
O filme de Marco Martins que Cannes já premiou é diferente. E digo diferente porque não parece um filme português. Não é bonito dizer isto, bem sei... mas foi o que senti, na sala.

A certa altura abstraí-me da conversa em português, para entrar numa história universal: a dor de um pai e de uma mãe face ao desaparecimento de um filho.

Alice tem um, ou outro momento despropositado, a meu ver - acho excessiva a parte dos ouvidos e da piscina e a forma como, de repente, Beatriz Batarda volta a ouvir a voz do 'marido' - mas é um filme para ver com atenção. Envolvemo-nos facilmente na história e ficamos amigos dos personagens.

Nuno Lopes é fantástico. Só não me fez chorar porque deixei de fazê-lo, involuntariamente... Mas Nuno Lopes leva-nos a procurar a filha com ele.
Beatriz Batarda está mais retirada do ecran, mas as vezes que por lá entra, marca presença. A cena da polícia é brutal.

Lisboa está bonita, no olhar de Marco Martins. Identificamos as zonas, nós que cá vivemos, e olhamos para a cidade todos os dias... Mas vêmo-la aqui mais bonita, a Lisboa que conhecemos...

Alice vê-se com gosto. Tem sentimento, tem dor, tem esperança. É uma realidade tornada irreal porque a ignoramos. Desaparecem facilmente, para nós, os problemas dos outros. Só os nossos parecem estar sempre presentes... mesmo quando o que os motiva há muito não se vê.

Vejamos Alice...

De Gala...




Vesti o meu melhor fato para voar contigo...

Fura-greves

Querida Carrie...

O Governo chamar-te-ia um 'figo' (não uma laranja azeda - na verdade, verde, porque às vezes ingénua - que é coisa que não és) porque contigo nem há necessidade de fazer uma requisição civil...

Confesso que o tempo tem sido pouco. E os ultimatos agradam-me. Mais pelo desafio... Sabia que não ias aguentar não escrever.

E ainda bem.

Isso também fez com que (eu) voltasse.
Para fazer-te companhia.
Só para isso.

Eu devia ser menos pessoa

"As pessoas deviam ter mais cuidado. Com o que dizem, com o que fazem. Se bem que se tiverem demasiado cuidado não dizem nem fazem nada. As pessoas deviam ser mais pessoas (...) As pessoas deviam ter mais respeito pelo que não lhes diz respeito. Só deviam ver televisão em casa dos vizinhos."
Viver todos os dias cansa, Pedro Paixão


Confesso que há anos que não leio nada do homem, nem gosto particularmente, mas este livro a modos que me persegue. Esta é uma das passagens que sei praticamente de cor. Não tanto por nos mandar ver televisão em casa do vizinhos (?!), mas porque acho que as pessoas realmente deviam ser mais pessoas.

Eu, por exemplo, ando há semanas com vontade de telefonar a um amigo. Dizer-lhe que tenho saudades. Combinar um café, um jantar, um cinema, qualquer coisa. Mas sei que não [posso] devo. Porque aquilo que é bom para mim não é necessariamente benéfico para ele. Neste caso tenho a certeza que não é.

Às vezes gostava de ser menos pessoa. Gostava de ser como alguém que conheço, decidir com o coração e mandar as consequências que não me afectam às urtigas. E depois lá vem outra vez a “voz” do Paixão a dizer “que as pessoas deviam ser mais pessoas”... E eu apago o email ou desligo o telemóvel.

PS: Sim, acabou-se a greve de zelo, sob pena de não haver mais nenhum post neste blog.

Hoje estou assim...


... azeda.

quinta-feira, outubro 13, 2005

Greve de zelo

até que alguma das restantes personagens deste blogue se digne a arranjar tempo, a lutar contra o défice de comunicação, e a escrever uma linha que seja.

Até lá, talvez vá cá deixando umas fotografias.

Hoje sonhei contigo


[Adenda: Visto que este post pode ser sujeito a más interpretações, acrescento que sonhei com a lua e noites de Verão na Serra. Daí o título, ok?]

terça-feira, outubro 11, 2005

A balança

acusa hoje mais dois quilos que da última vez. Que me perdoem todas as mulheres que se debatem com gorduras e celulites (que, para que conste, é um mal de que também sofrem as magras e esqueléticas), mas no meu caso são mais do que desejados. E para comemorar nada como um crepe com duas bolas de strawberry cheesecake, natas e chocolate de leite. É já a seguir na Häagen-Daz.

Alguém

esteve esta manhã lá em cima a olhar por mim. Com tanta azelhice que fiz na estrada é praticamente um milagre ainda estar viva e o carro inteiro. Mesmo com muita velocidade, ultrapassagens mal feitas e traços contínuos atravessados, conduzir com boa música continua a ser a melhor terapia para dias cinzentos (descansa, Samantha, estou mesmo a falar da meteorologia!)

segunda-feira, outubro 10, 2005

Agenda

Adivinhem com quem vou estar amanhã? Pois é! Com o senhor secretário de Estado.

(Os meus colegas, entretanto, já começaram a fazer a festa em antecipação à mini-saia...
E eu, que não estou desocupada, também não tenho mais nada de interessante para partilhar convosco. Temos pena...)

Em alta

De conversa com dois colegas sobre ministros e secretários de Estado, e sobre um em particular, comecei a magicar uma ‘operação de charme’ ao dito, que deixou de me atender o telefone. Mandei a boca que tinha que descobrir a agenda do homem e vir preparada de mini-saia.

C: “O que querias era um pretexto para usar saias”.
Eu: “Não preciso de falsos pretextos. As minhas pernas são pretexto suficiente”.

Os meus colegas? Foi cada um à sua vidinha visivelmente incomodados com o desplante. Isto só para dizer que não vale a pena virem com conversas sobre a minha auto-estima, ok?

Sem aviso

Anda,
tira essa dor do peito, anda
despe essa roupa preta e manda
seu corpo deslembrar
canta
vira a dor pelo avesso, canta
larga essa vida assim às tontas
deixa esse desenganar
calma
dê o tempo ao tempo, calma
alma
põe cada coisa em seu lugar
e o dia virá, algum dia virá
sem aviso
então ...

"Segundo", Maria Rita

A resposta às minhas dúvidas


Via Bloguite

domingo, outubro 09, 2005

Devolvo

O passaporte, o bilhete de identidade, o cartão de eleitora, tudo e mais qualquer coisa que me reconheça legalmente como cidadã deste país (hoje em caixa baixa, porque não merece mais!). Tenho vergonha de ser compatriota de pessoas que se deixam governar por Isaltinos, Felgueiras e Valentins. Tenho vergonha por eles e ao mesmo tempo confesso o meu mais profundo desconhecimento. Como é possível que haja quem aceite, quem escolha de livre e espontânea vontade, ser governado por estas pessoas? O que os move? Será pura ignorância, alicerçada em elevados índices de iliteracia? Terão a esperança de que no meio de tanto compadrio lá se consiga meter a tia, o primo, a cunhada, o canário e o periquito na autarquia? Será que esperam que no meio de tanta corrupção (sim, eu sei, innocent until proven guilty) algum acabe na sua conta bancária? Ou será que somos tão maus como povo que não merecemos mais?

Quando chegar a altura de emigrar Angola será (é) uma hipótese a considerar seriamente. Os políticos são corruptos, a ‘democracia’ (com muitas aspas) não funciona, mas ao menos por lá tudo isto são dados adquiridos. Não há nada na manga. Além disso, só há chuvas de Verão e também estão no Mundial. Assim como assim, eu já ia torcer por eles!

It's, oh, so still

It's, oh, so still
You're all alone
And so peaceful until...
It's Oh So Quiet Lyrics It's, oh, so quiet, Bjork

Quarenta e oito horas depois tenho novamente só para mim os meus 80 metros quadrados de casa. Foram-se a Mommy, o Daddy, o cão, os sobrinhos, a mana, o cunhado... Na televisão já não passam novelas nem desenhos animados. Estou sou eu! Ou melhor, estava. Vou ali – ver a chuva a cair no Rio, enquanto me iludo que isto ainda não é o Inverno, que é só mais uma chuva de Verão – e já volto.

sexta-feira, outubro 07, 2005

Mais um fim-de-semana

Mommy is coming to Town. Pela primeira vez desde que… Pois é! Os olhares da Mommy vão estar atentos a todos os pormenores, principalmente a qualquer vestígio de presença masculina. E eu para aqui na dúvida se a deixo de sorriso nos lábios, convencida que há esperança (em relação ao que vocês sabem), ou se me esqueço da caixa de pílulas e dos preservativos em cima do armário da casa de banho.

E depois há a inevitável revista ao congelador e o já costumeiro nem-para-comer-serves, enquanto me vai enchendo o frigorifico de frutas, hortaliças, coelhos, aves e mais qualquer coisa que a terra tenha dado e que ela acha que me faz falta. Não vale a pena explicar que sozinha não dou conta do recado, que nunca chego a horas, nem com paciência, para fazer jantar e quando chego prefiro ir comê-lo a casa da minha irmã, que nunca se engana nos temperos e cozinha como ninguém.

Resta-me o consolo da Mommy não ver os netos há coisa de dois meses e muito provavelmente estar com mais vontade de passar os dias em casa da minha irmã, e usar a minha como pensão. Menos mal…

quarta-feira, outubro 05, 2005

Tarde




Ontem fiquei na praia até o dia ficar assim. Nem o Auster, que se intrometeu entre um café e dois dedos de conversa, me convenceu a desviar os olhos do azul do mar. Entre o barulho das ondas e os teus silêncios passei a tarde em paz.

O Ninho

Depois de todas as decepções, canseiras, medos e irritações, aproxima-se finalmente o momento de ir para o novo ninho. Não sem que antes se vá gastar um bocado de horas, de nervos e de músculos a pô-lo de acordo com os nossos sonhos. Exigências que vão quadriplicando à medida que a imaginação ganha velocidade supersónica e que só se controlam porque o extracto bancário não deixa margem para dúvidas. Mas é o novo ninho e com ele vem a antecipação de novas rotinas, de novas histórias, da construção de uma memória que se prende com aquele lugar, com quem o habita e visita.
Um ninho é muito mais do que um novo lugar... é, sobretudo, a promessa de um novo tempo. Conto convosco para o viver.

terça-feira, outubro 04, 2005

Ainda o Auster

Alguém se lembra do "Smoke"?
Existe uma estranha, ou propositada, familiaridade entre a capa do novo livro e a esquina que Auggie (Harvey Keitel - vénia) fotografava todas as manhãs. Quando acabar The Brooklyn Follies logo digo se há alguma ligação... ou não, para não estragar a surpresa.

Auggie: If you can't share your secrets with your friends then what kind of friend are you?
Paul Benjamin: Exactly... life just wouldn't be worth living.
Smoke, Paul Auster (1995)

Coisas que me fazem sorrir 16*


O novo livro do Paul Auster, acabadinho de chegar às prateleiras da Fnac.

* Em versão recusar-qualquer-convite-para-esta-noite-e-ficar-acordada-até-tarde.

(Já não sorri tanto ao ver o preço do livro na Amazon, onde fui buscar a imagem. Resta-me o consolo de não ter que esperar uma semana inteira até o ter na caixa do correio)

segunda-feira, outubro 03, 2005

Prazeres

De que nos serve decorar geografias que não podemos voltar a percorrer?

Coisas que me fazem sorrir 15*

Chegar a casa sem passar por nenhuma operação STOP.

* Novamente em versão qualquer-dia-fico-sem-carta.

sábado, outubro 01, 2005

Fica

Deixa-te ficar. Nem que seja só mais um bocadinho. Um mês? Dois? Fica porque não sei viver sem ti. Deixa-te ficar porque não tenho saudades de camisolas de gola alta, de botas ou cachecóis. Quero continuar de t-shirt, camisolas de alça, chinelos e umbigo à mostra. Fica porque preciso destas noites quentes. Não quero mantas por cima do edredão. Deixa-te ficar porque preciso de praia e banhos de mar, não quero ver as ondas ao longe, quero continuar a enterrar os pés directamente na areia. Demora-te mais um tempo porque quero passar tardes inteiras a olhar o sol escaldante reflectido no Rio. Não me chega a imitação barata que me prometem os teus substitutos, nem preciso do frio como pretexto para um bom chocolate quente. Fica porque quero andar descalça sempre que me apetecer, não quero andar de meias, vestir um casaco ou ligar o aquecedor. Não quero sentir o fumo das lareiras. Prefiro o “imoralmente fantástico” cheiro da madeira queimada. O cheiro das noites da Serra. Fica porque preciso de ti. Ficas?