segunda-feira, junho 29, 2009

da magreza ou post-it [para os outros]

Estou a fazer o jantar e a lembrar-me da conversa do RP que encontrei sexta-feira à noite, por entre o fumo dos grelhadores e o cheiro a febras e a sardinha assada. A bem da verdade, a conversa nem foi comigo, foi com a C., mas para o caso vai dar ao mesmo, porque este post anda aqui a rondar há uns tempos. Dizia ele, a propósito da minha pessoa: ‘Está tão magra.’ Agora, repitam comigo: não se diz a uma mulher que está magra ou muito magra da mesma maneira que se tem o pudor de dizer a qualquer mulher ‘estás tão gorda’, acentuando as sílabas e revirando os olhos para que não restem dúvidas. É uma indelicadeza do mesmo tamanho e igualmente desagradável de ouvir. Há pessoas que são naturalmente magras, sem que isso signifique que estão doentes, que não fazem dietas, que comem o que querem e lhes apetece e não engordam. Ganhar peso é tão ou mais difícil do que o perder. Imagino que isso cause inveja, que por sinal é coisa feia, a muito boa gente, mas seria simpático que fizessem um esforço de não nos chamar esqueletos, da mesma maneira que nós, as magras ou muito magras, não andamos a chamar baleia a muito boa gente. Agradecida. E agora vou jantar.

zen

Estou capaz de casar com o miúdo, muito desinteressante por sinal, que me lava a cabeça de cada vez que vou cortar o cabelo. Mãos de anjo capazes de me fazer esquecer que é segunda-feira e que ainda por cima está a chover.

sábado, junho 27, 2009

Próxima entrevista


Quinta-Feira, nas Bahamas, em português...

Visto na Noruega





quarta-feira, junho 24, 2009

E agora como é que vou viver?

Sem a calçada que se estende até ao Largo, sem os jacarandás floridos em Maio, sem a conversa dos vizinhos a entrar pela janela, sem a música que sobe a calçada nos dias quentes, a mercearia ao fundo da rua, as lojas da rua Garret, as horas de almoço passadas de livro na mão num dos bancos do largo, sem o cheiro a grelhados, a sardinha assada nos dias de verão, sem o quiosque do Largo, as idas constantes à FNAC, sem o sol reflectido nos prédios das traseiras, sem os cigarros partilhados à entrada, sem o bazar para comprar gomas, sem o vizinho das traseiras na varanda em roupa interior, sem os almoços no Fábulas, sem o linguajar dos turistas, rua acima rua abaixo de máquina fotográfica na mão, sem a má disposição do senhor Zé, sem o bitoques do Alcobaça, sem a descida íngreme do Sacramento e os saltos enterrados nas pedras da calçada portuguesa, sem a sombra dos Jacarandás durante todo o Verão, sem os cafés bebidos à porta da Nespresso, sem as esplanadas cheias de gente...

quinta-feira, junho 18, 2009

gostar

[muito] de dias de verão e de mimo. da pele a saber a sal. do calor. da água gelada da costa alentejana. das noites quentes. de livros cheios de areia. de voltar em direcção ao pôr do sol.

Para a Carrie

Amanhã é outro dia e não te vejo. Não me vês. É um dia só teu, que gostas de partilhar com aquele sorriso e as mãos trémulas de cigarro entre os dedos. Afasto o fumo e seguro o olhar no teu. Olhos bem abertos, dúvidas que persistem, incertezas, gostos e outros que não o são, esperança. Não digo nada e tu nada dizes. Recordo o dia em que te desprezei numa redacção alcatifada a cinza e um cheiro a jornal da tarde. Sei que também o fizeste, reprovaste o meu ar de graça, a mania de ser mais que os outros, de brilhar como tu, como eu. E então veio a Amizade. Instalou-se sem lugar marcado e nunca mais largou o sofá. Recostou-se satisfeita por ter chegado até nós. E fica a ver-nos todos os dias, ao longe, como se soubesse que precisaremos uma da outra para sempre.
Parabéns, amiga. É no meu coração que passas o dia de amanhã.

Estou velha p'ra isto

Recebo uma mensagem onde me dizem que às 5h da manhã, em Washington, pensavam em mim. Pedem-me uma explicação para tal, ressalvando o facto de nos termos encontrado 4 dias numa vida que ainda vai a meio mas já conta muitos mais. Não respondo. Já não gosto que se apaixonem por mim. Agora só quero manter o que tenho. Isso basta-me!

segunda-feira, junho 15, 2009

domingo, junho 14, 2009

2009 não existe

devido à falta de comparência de três das pessoas mais importantes da minha vida, acabo de decidir que em 2009 não faço anos. continuarei por isso a ter 34 por mais 370 dias. agradecida

sexta-feira, junho 12, 2009

conceitos

"We're so over... we need a new word for over."

Carrie para o eterno Mr. Big

quinta-feira, junho 11, 2009

espelho

"- Essa mulher não está apaixonada por você – disse, referindo-se a Kianda. – Quando olhamos para um espelho, não é o espelho que vemos. O que vemos é a nossa imagem reflectida nele. Você é como um espelho para essa mulher. Ela nem sequer repara em você, filho, está apaixonada pelo próprio reflexo. Do que ela gosta é do seu deslumbramento, gosta da forma como você a vê."

Barroco Tropical, José Eduardo Agualusa

prazeres de maio

Cumpro mais um item do meu calendário sentimental. Venho com semanas de atraso, mas compensa. O calor convida a banhos de piscina, as cerejeiras ainda estão carregadas, os canteiros cheios de flores, com malmequeres por todo o lado, coroas imperiais e cravos vermelho vivo, a relva fresca acabada de regar. Subo às cerejeiras e como cerejas negras até ficar com os lábios pretos, como até ficar enjoada. Alterno com banhos de piscina. Repito tudo a intervalos regulares.

quarta-feira, junho 10, 2009

terça-feira, junho 09, 2009

Portugal visto do Céu I

Acredito em Deus e que Ele paira sobre as espessas nuvens numa observação atenta ao que cada um de nós sente e ao coração que bate. A 300 pés não subi alto demais, mas estivemos mais próximos. Curiosamente, não pensei n'Ele, ao longo da tarde, e só agora, em fim de dia, assumo que é culpado pelo que me vai acontecendo de bom. Sobre o mal, não sei, não importa. Vi hoje a Costa portuguesa de perto, mas de cima, como numa fotografia aérea permanente, que nos deixa fixados na beleza da Terra e no que nela existe. Natural, ou não, a paisagem portuguesa vista a bordo de um Cessna 172, quatro lugares, asa alta, é deslumbrante. Mesmo entre solavancos que a chuva abanou a partir do Centro do País, mesmo quando nos auscultadores éramos aconselhados a aterrar, mesmo quando um enorme vale se atravessou à nossa frente quando desviámos a rota, na Barragem de Crestuma. Do alto, o País parece mais rico, mais igual. Passar sobre a Quinta da Marinha e por cada casa, uma piscina, faz-nos pensar que ali se vive melhor que junto à Pedreira à beira-mar plantada, num sítio que não recordo. Mas até essa grandiosidade do homem me parece feliz, vista do céu. Aperto o cinto que o comandante diz ter air bag incorporado e olho para baixo sem tirar os olhos das arribas e das praias, das dunas e do mar que bate na rocha. É imensa esta beleza. E vejo os faróis que apontam o porto de abrigo, escuto indicações sobre um Charlie qualquer coisa, passa um F16 às nove horas, sigo uma rota que já é minha. E hoje foi só para abrir o apetite. Nos próximos quatro dias o céu não terá limites.

segunda-feira, junho 08, 2009

é fácil

Estou capaz de me apaixonar por esta cidade, que hoje, por segundos, me transportou para uma outra, no sul do Brasil onde ameaçavam nascer borboletas. É do calor e das ruas largas, é do calor e das árvores frondosas, do mar de gente para cima e para baixo, das esplanadas. É do calor que se cola à pele. A culpa é sempre do calor. Haverá melhor afrodisíaco que as noites quentes de Verão? O termómetro não deve descer dos 30º, não há uma brisa e eu a andar pelas ruas de Chinatown, a comer em pratos de plástico, a ouvir o burburinho constante, o olhar o velho chinês que vende quebra-cabeças feitos de pregos, que nos desafia a tentar, que bate palmas quando resolvo um deles à primeira. Um homem sem idade de sorriso doce. Eu a comer gomos de Jaca comprados na rua e a sonhar com São Tomé. As melhores férias da minha vida. A deixar Chinatown, a voltar às ruas cheias de gente, de carros e mais carros, e o ar irrespirável e eu a sentir-me em casa com o termómetro nos 30º. Eu a fazer quilómetros para voltar a pé para o hotel, de sorriso nos lábios, de gargalhada fácil, porque a vida a esta distância, com tantos fusos horários pelo meio, parece mesmo fácil.

[adenda: ... ou não]

mapa mundo

Estou com a cabeça em três fusos horários diferentes. O meu cérebro não sabe se está na hora do lanche, do pequeno-almoço ou simplesmente no fim de uma noite de sono. Sei onde está o meu corpo. Já é alguma coisa.

a room with a view

[Kuala Lumpur City Centre]

domingo, junho 07, 2009

chegada

A humidade colada à pele, o cheiro que enche a alma, os passos que se fazem lentos em ruas que não foram feitas para andar a pé. A cabeça a dizer que o dia está a começar, mas é a noite e o calor afrodisíaco que me deixam a cabeça e a imaginação a andar a mil. A fazer contas aos fusos horários. Às horas de partida e de chegada. Hoje adormeço do outro lado do mundo com a janela aberta sobre uma paisagem de postal.

sábado, junho 06, 2009

heathrow

Só faltam três horas e meia para o próximo voo. Num aeroporto sem zona de fumadores. Só faltam três horas e meia para um voo de 12 horas. Em económica, sem direito a janela. E eu em frente à porta G. na única zona de fumadores, a gelar no frio de Londres. Vento e céu encoberto a ameaçar chuva Quem vem do calor [tímido] de Lisboa e se prepara para aterrar nos 33 graus [chuvosos] de Kuala Lumpur não está preparada para o frio de Londres.

sexta-feira, junho 05, 2009

Emplastro

Chego a horas ao Centro Cultural Olga Cadaval, numa Sintra iluminada pelo Castelo à volta da Serra e um Palácio no alto que, só quem sabe, o vê amarelo e rosa doce. Sempre foi a minha vila. Ali perto ergui uma casa que nunca cheguei a habitar. Digo sempre que o meu casamento durou menos que a construção do que seria um lar. Lembro-me de tudo isto quando saio do IC19 e sigo o caminho que me levaria à Várzea. Mas fico-me pela vila das queijadas e da Periquita. Vou em trabalho e já se faz noite, num céu azul malhado a vermelho pelo pôr-do-sol. Entro sob autorização superior e deparo-me com mulheres bem vestidas, vestidos de seda, lenços esvoaçantes, sapatos de salto fino e um perfume no ar. São nove da noite mas cheira a amanhecer, no átrio do teatro municipal. Falo com o coreógrafo no meu português impecável, para ouvir castelhano numa resposta simpática e interessante, camisa de punhos largos, enfeitados, colar a deixar-se mirar por debaixo do decote em "V". É um artista. Segue-se a mulher, directora disto e daquilo, penteada nessa mesma tarde num cabeleireiro perto de si, um vestido cor de beringela e um peito saliente. Tem os olhos pintados e fica-lhe bem. É então, quando a puxo para a frente da câmara, que ele surge, nariz avermelhado, bochechas salientes, papo debaixo do queixo, fato igual a tantos outros e uma insígnia de vereador. Cola-se à mulher como um emplastro e espera que fale com ele como falarei com ela. Digo que não, que se separem, que prefiro assim. Pergunto-me porque quer aquele homem ser interrogado por mim se nada tenho para lhe perguntar, se sei que nada tem para me dizer. Estrago a memória a recordar o nome escutado enquanto senti aquele beijo molhado e interesseiro, o sorriso matreiro e o comentário "assim só se estraga uma parte do filme". Tem razão, mas não quero, ainda assim, dar-lhe essa oportunidade. Ela fala comigo e ele fica paralelo, pondo-se a par, a escutá-la, sem aparecer porque peço para não ficar na mira da objectiva. O poder político envolve-o e com ele os convivas que querem os tais beijos molhados e apertos de mão de conveniência. A minha entrevista termina na hora certa e toca o bombo, pancadinhas que só se tocam nas costas do vereador. Fujo para a sala que já escureceu e ocupo um lugar no topo. O Ballet Nacional de Espanha é fabuloso.

quinta-feira, junho 04, 2009

Penso nisto

Sinto que o tempo passa. Encontro pequenos apontamentos do ano passado, um bilhete de avião que é de Novembro e cujas milhas ainda não reclamei, um presente de aniversário que tem de ser gozado até Agosto. Acordo todas as manhãs sem ir ao ginásio que pago desde Janeiro. Prometi não falhar. Falhei. Disse ao recepcionista que não gostava de fazer ginástica, do ambiente dos ginásios, das aborrecidas mudanças de roupa... mas quem falha um compromisso que fica à porta de casa por quase 50 euros? Acordo e penso que é hoje que vou desistir, que vou rescindir, que deixo de pagar a mensalidade inútil. Desisto da ideia que me obrigaria a percorrer 200 metros. Corro para a garagem onde o carro sujo me espera. Penso que tenho de mandar lavá-lo, precisa de uma aspiração, as árvores do estacionamento diário deixam-no manchado e sem cor. E os pássaros. Não encontro o rapaz das lavagens e entro para mais um dia de loucos. Poupo 14 moedas e imagino um azul sem brilho, or mais uns dias. Nem sempre almoço. O telefone toca de minuto a minuto, ora fixo, ora móvel. E se saio em reportagem olho sempre para o relógio. Reparo, anoto, faço perguntas. Nem tive tempo para preparar o trabalho que me dá gozo. Regresso e conto os minutos para tudo o que ainda me falta fazer. Não telefono aos amigos, nem à família, não marco o dentista, os exames que me foram recomendados em Janeiro, falho por dois meses a segunda toma de uma vacina de 150 euros a dose. Não telefono ao banco para baixar o seguro automóvel, nem consigo lembrar-me de anular uma conta e dois cartões que continuam a ter anuidades exorbitantes. E não são usados. Passo tudo isso ao lado e prossigo na tarde até que seja demais. Quando finalmente faço logout corro para casa ansiosa por um sofá e jantar. Aqueço a sopa feita pela empregada à segunda-feira, o empadão que hei-de comer toda a semana, levo o tabuleiro comigo e divago em frente à televisão. Deixo uma nota no facebook e raramente respondo às interpelações. As redes sociais não me tornam mais humana. Vejo duas, três, quatro séries de seguida enquanto mastigo macias fatias de pão de ló. Penso nas calorias. Disfarço com um copo de leite e olho para o relógio enquanto espero um beijo de boa noite ao telefone. Podia ler, mas não consigo virar a página da minha vida. O meu dia acaba enroscada na cama, absorvida pelos pensamentos de tudo o que ficou por fazer. Felizmente tive breves minutos com a minha mãe. Agradeço por isso à rede móvel, que às vezes não interrompe chamadas. Não dispenso esses momentos carinhosos, de cuidado. Sei que a avó já dorme. Respiro fundo. Por vezes faço uma breve oração como que querendo convencer-me que acreditar continua a ser fácil. O sono tarda. Faço planos e imagino que tudo será diferente no dia seguinte, dedico-me a elencar o que me obrigarei a fazer, elaboro jogos para adormecer, alguns inventados na hora, como o que me desafia a escrever, mentalmente, nomes de capitais de A a Z. A minha mente corre e percorre Atenas, Brasília, Bruxelas, Genebra e Santiago do Chile. Muitas são-me desconhecidas mas gosto de imaginá-las. O jogo pretende adormecer-me mas desperta a minha atenção. Dedico-me então aos países, da Áustria à Bulgária, do Paquistão ao Zaire. Desisto de jogar contra mim própria e contra a minha vontade e admito que tenho sono, que devo dormir, repousar. Procuro aconchego na almofada que me ampara a alma mas, por estes dias, não tenho abraços nem conversas de ouvido. Cansada, perco-me na noite e sonho. Sonho até à manhã que me vê acordar de olheiras e memórias vivas de noites atribuladas. Porque a paz não está agora comigo.

quarta-feira, junho 03, 2009

estados d'alma

eu costumava gostar de Junho.

Paris



Estado de espírito

Quando tudo parece ser ideal, tudo se torna impossível. Tenho tido dias felizes, as melhores experiências profissionais, a confiança, a segurança. E eis que não me vejo. Esta manhã conheci uma oficina de restauro. Durante mais de quatro horas interessei-me pela talha dourada, pelo ouro quase líquido gravado em livros de capa dura, pela arte do século XVI, pelas mãos delicadas de um mestre, pela escriturária que é agora marceneira com um sorriso... E não almocei. À tarde ouvi Lobo Antunes. Conversámos. Fixei-me naqueles olhos azuis e deixei-me escrever. Deu-me tempo, palavras, pensou comigo, alta voz. E ofereceu-me livros. Antigos, de caixas espalhadas pelo atelier (chamemos-lhe assim), disse que tinha mais de 40 mil, em casa. Escolhi revistas dos anos 20, livros em castelhano, em francês. António leu-os todos, retirou um e outro dos caixotes, folheou, referiu autores. Conhece-os. É um homem único. Jantei sozinha, depois das 10 da noite. Sentei-me com o AXN. Gosto do Detective Crews, em Life. Amanhã há tudo por fazer.

terça-feira, junho 02, 2009

a caminho [v]