segunda-feira, maio 30, 2005

Amizade insular

Minha Amiga,

O mar que nos separa parece, às vezes, enterrar na negra areia as tuas queixas, as tuas lamúrias, os teus anseios... o mar que nos separa é imenso (maior imensidão, só nos preços que a SATA e a TAP praticam, nas viagens entre o Continente e essa terra linda, onde 9 pedaços fazem um só arquipélago), e parece, tantas vezes, levar para o fundo tanto que tenho para dizer, não deixando vir à tona tanta coisa que só flutua na minha boca.

Estarás, por esta hora, numa daquelas aulas de 'body combat', ou de 'yoga', onde acreditas que o suor lava o que em ti levas para o ginásio. O meu combate é outro. Contigo, num corpo-a-corpo à distância, tentando evitar que o gerúndio a que o teu dialecto me habituou seja apenas de forma, e que consigas, o quanto antes, verbalizar uma atitude presente, que deixe para trás o passado. Sem hesitar.

Gostei de ter-te por cá. De te ouvir anunciar a mudança. Gostei.

Volto ao mar, como metáfora. Também ele enrola num vai e vem, num alisar constante de um chão rugoso e calcado, numa tentativa fria de apagar as marcas e levar, para dentro, os vestígios de quem para ele ousou olhar. De perto. Esse mar que recolhe, que apaga, que disfarça uma ruga na areia... esse mar também traz a espuma dos dias. Uma espécie de sal que polvilha cada grão da nossa existência. Olhar para ele, de perto, pode dar-nos vontade de fugir. Mas também pode obrigar-nos a molhar os pés.

O importante é que não nos deixemos afogar.

Avestruzes

Foi um descanso a minha ida à Serra.

Tinha-me esquecido que a família tem uma costela de avestruz. Adoram enterrar a cabeça na areia. E com isso passei um dia delicioso. Subi a uma cerejeira e comi cerejas até ficar enjoada. Andei de baloiço. Ri-me com as gargalhadas genuínas do G.. Li Eça. Comi mais cerejas. Fiquei horas na varanda a olhar para as estrelas. Horas a sentir o cheiro a Verão entranhar-se na alma, sem conseguir pensar em mais nada que não fossem coisas boas.

Faz-me bem o ar da Serra.

Se ninguém põe mão nisto...

... este blog, em vez de pertença de quatro, não passará de diário de uma só. E como só, também eu sou... e há muito mais tempo, não posso permitir tal domínio.

E pergunto, à quarta do grupo, quando dará sinais de vida aqui, pela blogoesfera. Faz falta uma mente sã, uma palavra positiva, uma conversa com nexo, uma gestão equilibrada do que se escreve... Onde andas?

domingo, maio 29, 2005

Rua

Há uma rua nesta cidade que faz parte da minha história por interposta pessoa. Ou melhor, fazia.

Há uns anos, uma amiga minha declarou-se a um amigo meu, nessa mesma rua. Lembro-me porque não foi uma história com final feliz. Ao fim de tantos anos, acho que talvez tenha sido melhor assim. Só espero que não tenha sido por encantamento da rua. Agora também eu lá tenho um pedaço da minha vida.

sábado, maio 28, 2005

O princípio do fim

“Alguém disse uma vez que no momento em que paramos a pensar se gostamos de alguém, já deixamos de gostar dessa pessoa para sempre.”
Carlos Ruiz Zafón

Qualquer dia, com tanta citação, passam a chamar-me Jóse Sócrates, mas esta, hoje, tinha que ficar aqui.

Porque me lembrei da primeira vez que li esta frase. Porque me lembrei do efeito que teve, lida pouco tempo depois da nossa ida a Óbidos. Porque me lembrei, quando li esta frase, d'A vida é muito difícil me dizer que estava muito diferente de há quatro anos. Porque me lembrei de como tudo começou a acabar.

Não é um lamento. Apenas uma constatação de que as coisas podem mudar quando queremos. Às vezes só precisamos de um pequeno empurrão.

Um beijo grande para as Mulheres da minha vida
Até já

sexta-feira, maio 27, 2005

Santa paciência

Realmente uma mulher precisa de ter muita paciência.

Estava eu descansada da vida, a dar cabo de uma embalagem de strawberry cheesecake da Häagen-Dazs. A cumprir religiosamente o meu estágio, quando, vindo do nada, aparece uma pequena janela azul a piscar no meu computador. Ok, já percebi que me esqueci de desligar o messenger.

Quem era, perguntam vocês? Um amigo de outras marés, que, como vos disse há dias, descobri que não era mais do que um mito. Brindámos ao assunto, lembram-se?

Pois não é, que a criatura vem agora cobrar-me por não lhe telefonar há três semanas? Só para verem o género, deixo-vos com a primeira mensagem: “ainda cheguei a pensar que houvesse também da tua parte algum interesse em saber qualquer coisa de mim... o que se passava... como eu estava...”.

Brilhante, não acham? Eu achei. E aproveitei para descarregar a bílis acumulada durante demasiado tempo.

Claro que ter discussões virtuais é fácil. Dizer algumas coisas por email ou sms mais simples e menos constrangedor do que dizer na cara. Mas juro que se ele me aparece à frente com a mesma conversa repito. Tudo! Santa paciência. Já dei para este peditório.

Tenho a mania...

... que percebo muito de tecnologia. Passo os dias ao computador e com um telemóvel ao lado, senão mesmo na mão. Dou "lições" a toda a gente da minha secção e até descobri como se criava um blog. Mas depois acontecem-me estas coisas e começo a acreditar que sou o Mr. Bean (versão feminina, claro).

Isto tudo para contar que andava a passear pela blogsphere (não faço a mínima ideia se é assim que se escreve e também não me apetece ir confirmar) quando encontrei um comentário assinado com o nome de uma de V. Exas. num blog muito particular. Querem lá ver o susto! O que me salvou do ataque cardíaco foi somente confirmar que, afinal, este nosso canto não é detectável através da dita assinatura.

Seja como for, toca de pegar no telemóvel e vai de enviar sms a “descompor” a Excelência. É o chamado “pior a emenda que o soneto”. Devo recordo-vos, antes de avançar, que estava perto de um ataque cardíaco. Assim, invés de enviar a mensagem para a devida destinatária enviei para o dono do blog. Sim, eu sei que já me tinham mandado apagar o dito número... e também não perguntem como se trocam as iniciais dos respectivos nomes.

Posto isto, resta-me respirar fundo e esperar que a mensagem não chegue ao destino. Caso contrário, corro o risco de ter que responder a algumas questões. E mentir é tão feio!

Em estágio

Entrei em estágio. Amanhã vou para a Serra e, como todas sabeis, isto de escalar qualquer coisa requer concentração, meditação e muito empenho.

Por isso cheguei a casa, pus o CD do momento e estive uma boa meia hora debaixo do chuveiro (sim, eu sei que o País está em situação de seca extrema. Que me desculpem os ambientalistas. Prometo não lavar o carro durante os próximos meses). Pena que a água não lave sensações e sorrisos. Mas isso é outra história. E não interessa para nada.

A verdade é que estou em estágio. Não há como encarar o touro de frente (não, não estou a chamar nomes a quem vocês sabem) e já que tem que ser, que seja de uma vez por todas. Mas pelo sim, pelo não, fico mais uma noite na cidade e vou só amanhã de manhã. Pela fresca. Assim como as ideias. Espero.

Mapa

Estou com um vago sentimento de perda. Não daquelas que passam pela ausência e inexistência de qualquer coisa que alguma vez tivemos. É mais uma espécie de falta de rumo. Dá-se um doce a quem me arranjar um mapa…

quinta-feira, maio 26, 2005

Caderno Vermelho

Tenho em casa um caderno vermelho. Maior que o do Paul Auster e, sem dúvida, menos interessante. É uma espécie de “diário”, onde vou escrevendo algumas coisas de tempos a tempos.

Outro dia, por questões que não vêm ao caso, estive a lê-lo de fio a pavio. Espero destruiu-lo antes que alguém lhe consiga deitar a mão. É confrangedor. Ao lê-lo fica-se a pensar que a minha vida é um emaranhado de desilusões, desamores e desencontros.

Numa palavra? Triste. Talvez porque só quando estou assim me apetece pegar no papel e na caneta. Talvez porque, como dizem, nunca aprendi a valorizar as coisas boas da vida. Talvez.

Prometo não fazer o mesmo neste blog.

Um sorriso

A vida é definitivamente injusta. Está um dia indescritível e eu fechada no trabalho a fazer coisas sem interesse nenhum. Mesmo assim, sinto-me a flutuar depois de um almoço absolutamente divino, junto ao rio com que esta cidade me presenteia.

Durante uma hora o tempo parou. Durante cinco minutos parou o mundo.

Estaria, sem dúvida, melhor na praia. Mas tenho que confessar que lá não teria o que tenho aqui. Um sorriso.

Vazio

Este fim-de-semana a casa vai ficar mais vazia. O Espinafre, o meu gato – que por esta hora se passeia por cima da secretária a tentar chegar a um copo de iogurte –, vai-se embora.

Vai para uma casa onde há um jardim e muitos amigos para brincar. O Espinafre não me deixa dormir à noite, atira tudo o que encontra para o chão, destrói os jornais, os meus blocos de apontamentos, arranha os sofás...

A decisão foi minha. É suposto ser mais feliz. Espero que seja. Eu vou de certeza ter saudades. Já tenho.

Registe-se

Bem me parecia que era sorte a mais conseguirmos encontrarmo-nos três vezes numa semana e meia. Espero que não se esqueçam de registar que desta vez a culpa não foi minha. E escusam de vir com “ai porque em Óbidos” e mais não sei o que do cinema. Águas passadas...

quarta-feira, maio 25, 2005

Parei para respirar...

... sem medo. Parei porque estava ofegante. Cá dentro o oxigénio corre depressa demais. Cansa-me. Páro sem medo. Mas com o terror de recomeçar.

Coisas boas

Temos (tenham calma que sou só eu a usar o plural majestático) pena, mas há coisas demasiado boas para serem desperdiçadas.

Miranda, não fosse eu estar convencida que há decisões que temos que tomar por nós próprias, diria que a tua “psicologia invertida” teve exactamente esse efeito… inverteu-se.

À personagem que falta neste blog, e que espero que se junte a nós em breve, devo dizer que os seus conselhos não caíram em saco roto. Mas acho que acreditas mais em mim do que eu própria.

Ignorância

A propósito de uma conversa com um amigo, lembrei-me de uma coisa que um outro me costumava dizer há alguns anos (por sinal, quando falávamos sobre o mesmo assunto). “A ignorância é feliz”. Não sei se percebem a ideia.

Resistir

Repetir recados não foi suficiente. Não responder a post subliminares não deu resultado.

As saudades crescem numa velocidade exponencialmente superior aos dias. É difícil passar a semana a fazer cara feia. A esconder sorrisos com medo das consequências. É difícil, senão impossível, resistir.

[É agora que preciso da faca para cortar os pulsos :) ]

O que preciso é de sol e mar

Porque é que não podemos simplesmente lutar pelo que queremos? Mesmo que não seja nosso por direito. Porque está errado? Segundo os princípios de quem? Quero fazer o que me apetece. Deixar de lado a razão. Perseguir a minha verdade. Seguir o que me diz o coração. Não será isso suficiente?

O que vale é que vem aí um dia de descansado. O que preciso é de sol e mar…

Ódios

Odeio pessoas com falta de coragem.

terça-feira, maio 24, 2005

Três segundos

O mar saiu à rua esta manhã e ainda lá estava quando passei. Fechei os olhos e inspirei sal. Por demasiado pouco tempo até levar com o fumo de um tubo de escape que virou a esquina. Foram os meus três segundos de dia...

Proposta indecente

Acabo de receber uma proposta absolutamente indecente. Não, não envolve sexo. É só mais uma pedra no sapato. Daquelas em que não devia tropeçar agora.

O que vale é que amanhã há “sexo e a cidade”.

Lugares

Há nesta cidade um lugar que me permite, quase todos os dias, começar de novo. Em dias como hoje, ver o sol reflectido no rio limpa a alma. Dá alento. Faz acreditar que tudo é possível. Talvez seja. Pena que a sensação só dure algumas horas.

Sentido proibido

Está bem. Chamem-me desocupada. A verdade é que não sou. Tenho pelo menos duas pessoas a reclamar pelo meu trabalho. Mas continua a haver demasiado barulho para me concentrar. Há tanta coisa que estou proibida de fazer que se torna insustentável, estes dias, tentar simplesmente passar pela vida a repetir recados.

Há um post num blog que reclama a minha resposta. Há uma atitude que me tira do sério. A resposta só poderia ser torta, mas mesmo muito torta! Definitivamente não quero prémios de consolação. Quanto à atitude, há duas reacções possíveis, mas sobre isso nem vale a pena falar. Talvez dizer que uma seria um passo em frente em direcção ao precipício.

Vão concordar que mais vale escrever aqui, a mandar emails ou sms, certo?

Uso indevido

Sei que me apoderei deste nome sem grandes cerimónias e já depois de termos acordado outra distribuição. Prometo voltar a mudar e devolve-lo a quem de direito, se assim o entender. Por agora a imaginação continua infértil.

Ursos

Ontem à noite fiquei a saber o nome da minha vizinha de cima. Chama-se Inês. Nunca lhe vi a cara, nem sei se alguma vez me cruzei com ela no elevador. Mas ontem lá pelas três da manhã, uma hora depois de lutar contra uma insónia e ter finalmente vencido, o marido vai de berrar com ela.

Não me lembro, confesso, dos termos exactos da discussão – o sono, que acabou por regressar depois de um cigarro, muitas voltas e reviravoltas na cama, e uns quantos exercícios de respiração (daqueles que o meu magnífico, em todos os sentidos, garanto!, professor de ioga me costumava ensinar) – o sono, dizia eu, acabou por apagar a discussão do já de si exíguo espaço do meu cérebro – ainda que fosse tão audível como se os dois estivessem na sala do lado.

Do pouco que me lembro, ele dizia-lhe qualquer coisa como “tu fazes-me mal”, ameaçava pedir o divórcio e urrava. A sério. Aquilo não eram gritos de raiva. Eram urros. O minha vizinha de cima chama-se Inês e é casada com um urso. Juro.

Hoje de manhã, ao sair de casa, não resisti a olhar para o andar de cima. Talvez o urso dormisse na varanda…

Recado I

“Voltaste a casa.” “Voltaste a casa.” Outra vez...

Recado

Lembro-me de um anúncio, ou de um programa de televisão... não consigo distinguir em qual deles era, mas lembro-me de ser numa velha RTP. Uma rapariga ia pela rua e dizia, em voz alta: "Um pão, uma garrafa de leite e um pacote de manteiga..." Dizia-o a cantar. E repetia-o. Era um recado.

Repetia-o para não esquecê-lo. Fazia-o em voz alta para memorizá-lo.
Às vezes precisamos de repetir e repetir até encaixar um recado. Temos de ouvir-nos dizer vezes sem conta a mesma verdade para que ela realmente o seja. E nem sempre acreditamos nela. Porque não pode ser verdade que a verdade, verdadinha, só o seja por convencimento. Não deveria a verdade ser real? Ponto!?

"Um pão, uma garrafa de leite e um pacote de manteiga..." Outra vez...

Também cá estou...

Porque há-de a ausência ser tão dura, se ainda cá estou?

segunda-feira, maio 23, 2005

Alguém?

A 2: está a dar mais um programa do “Clube dos Jornalistas”. Inenarrável. Alguém é capaz de arranjar a estes senhores uma jornalista a sério. É que nem era preciso ser mais bonita que a Estrela Serrano, bastava que fosse competente. Alguém?

Silêncio

Li, no blog de um amigo, um post que, sem me mencionar, me encaixa na perfeição. Por razões que o coração desconhece, mas que a razão conhece bem demais, fizemos uma espécie de voto de silêncio. Não sei quanto tempo vai durar. Sei que passaram quatro dias inteiros.

O silêncio dele faz demasiado barulho na minha cabeça para me deixar pensar (a frase não é minha, é dele), mas também não me deixa responder.

Primeira confissão

Às meninas, que me acusam de défice de comunicaçao, aqui fica a minha primeira confissão. Nunca serei brilhante e isso provoca-me silêncios.

p.s. - Peço-vos, desde já, desculpa. Tenho consciência de que ao utilizar o termo "défice" poderemos ser facilmente detectáveis nos motores de busca nacionais. Assumo o risco.

Eis-me!

Acabada de chegar e já com uma branca total. O que é que faço? Vou procurar uma citação.. falo da lua cheia... discorro sobre banalidades várias? Escrevo-apago, escrevo-apago, escrevo-apago escrevo que escrevo-apago... e só me vêm à cabeça as palavras da psiquiatra: descontrair, desmistificar. "Não se pode angustiar com tudo o que se passa a sua volta" - santa senhora, tem toda a razão. Na blogosfera como na vida.

Pois eis-me, de alma e cigarro na mão. Obrigada por me chamarem aqui.

Modernices

“Olhei-a como se olha um comboio que se escapa. Apercebi-me de que tinha passado os dias a caminhar sobre as nuvens e caiu-me o mundo das mãos”.

A frase como imaginam, não é minha. Pedi-a emprestada a Carlos Ruiz Zafón, direitinha do sublime “A Sombra do Vento”, que é, por enquanto, o livro da minha vida. Já o era há alguns meses. Agora é-o ainda com mais propriedade. Para quem não leu, é um livro sobre livros (a minha verdadeira e única paixão). É um romance com uma pontinha de mistério, passado numa enigmática Barcelona nas trevas do pós-guerra. São várias histórias numa só, qual delas a mais bonita, mas infelizmente nem todas com um final feliz. Como a história de cada um de nós, não é?

PS: Já agora, “ela” é um “ele”. E também não se escapou como um comboio. Foi mais como um Fórmula 1. Modernices!

Nota de boas vindas

Não se iludam com o nome deste blog. Não pretende ser um roteiro turístico, antes o ponto de encontro de amores e desamores, de risos e lágrimas, de existências mais ou menos perdidas. Acima de tudo o ponto de encontro de uma amizade que resiste a tudo, mesmo à falta de tempo e aos desvios de vários meses. Às três Mulheres mais importantes da minha vida um “bem haja” por existirem. E considerem abertos os preliminares.