quarta-feira, agosto 31, 2005

Não, ainda não mudei de CD*

Foste a razão da viagem
De umas férias para fugir
Encontrei-te na paragem,
No descer e no subir

Dei teu nome a toda a gente
E a todos te quis chamar
Dei a tua voz ao vento
E ao movimento o teu andar

"Gelado de Verão" - António Variações

*mas acordei a ouvir os Humanos na TSF e percebi porque é que alguém quis partilhar esta música comigo... (versão revista e encurtada! Não há paciência para "postas" demasiado longas)

Coisas que me fazem sorrir 11

Ver os meus sobrinhos ao fim de duas semanas. Ouvir o Francisco dizer que tinha saudades minhas e receber os beijos doces do Guilherme. Passar uma hora em lutas de almofadas e cair para o lado de cansaço. Tenho os putos mais lindos do mundo.

terça-feira, agosto 30, 2005

Privilégios

Sou uma privilegiada por trabalhar no Chiado. Sinto-o todas as manhãs depois de subir os quatro lances de escadas que me trazem das catacumbas do metro. Sinto-o no ar que ainda guarda a brisa fresca da noite. Nas esplanadas da Brasileira e da Benard. No sol que engrandece os prédios que guardam a traça de outros tempos. Nas pessoas que parecem mais bonitas.

E logo ali ao lado, à esquerda de quem desce a rua Garret, há o Largo do Carmo. Os frondosos Jacarandás. O GNR de serviço, qual homem-estátua dentro da guarita à entrada do quartel. Os velhos que à tarde jogam às cartas. Os turistas no seu linguajar nem sempre percebido. As excursões de escola com os miúdos que ouvem, talvez pela primeira vez, falar dos ‘bravos de Abril’.

Hoje pela primeira vez percebi que também aquela praça é um privilégio. E ali fiquei mais de uma hora, menos concentrada no livro que ando a ler, atenta às conversas de quem passava, com olhos que fugiam para as ruínas e para o Sol, para um céu que hoje me pareceu mais azul, mais doce…

O poder das palavras*

Na era das comunicações mediáticas, no tempo dos telemóveis e do SMS, conheceram-se num mundo virtual. A empatia surgiu por um nome, que era também o nome de uma banda. Nunca foi capaz de se lembrar dessa primeira conversa: meia dúzia de caracteres trocados numa noite de insónia, que criaram nela uma lembrança doce e a vontade do reencontro.

Há coisas que é suposto acontecerem, que estão marcadas nas estrelas, que fazem parte do destino. Por estas ou por outras razões, voltaram a cruzar-se por breves momentos. Sem querer que o destino voltasse a decidir por eles, trocaram endereços. Estava selada uma amizade. Tímida ao início. Séria muito rapidamente.

Ainda hoje não sabe dizer o que a cativou. Sabe apenas que a personagem do outro lado do ecrã era uma espécie de alma gémea. Mas era coisa recatada. Ela estava cansada de relações e das ralações que traziam. Ele deixava-se levar por um namoro que deveria acabar em casamento. Aos poucos as mensagens electrónicas foram substituídas por longas conversas telefónicas. Ela servia-lhe de travesseiro. Ouvia-lhe as magóas. Os desencantos. As noites em claro. As ressacas. Ele? Ele era um homem que não pedia nada, só precisava de um ombro. Isso ela podia dar. Era feliz assim.

De repente o inevitável: dar um rosto aos caracteres, uma cara à voz. Ela aceitou o encontro a medo. Não o receiava. Só não queria perder o encantamento. Quando se encontraram cara a cara, junto ao rio, ela percebeu o que um velho amigo lhe costumava dizer com insistência: a verdadeira amizade entre um homem e uma mulher só pode acontecer se existir aversão física.

Um dia ele partiu. Namoro desfeito, queria ser homem. Conhecer o mundo. Ela foi ficando. A ausência substituida por cartas. Cartas a sério, escritas em papel. Envelopes entregues pelo senhor carteiro! Ela sentia-se uma miúda. Porque estas coisas só aconteciam quando era pequenina. Eram passado. Agora já ninguém escreve cartas.

Com o tempo foi crescendo a vontade de chegar a casa. As chaves emaranhadas na ânsia de abrir a caixa de correio. O envelope rasgado. Quase que parava de respirar enquanto sorvia cada palavra.Também ela partia de vez em quando. Escrevia-lhe longas cartas. Páginas e páginas cheias de letras. Palavras que contavam como era o mundo que via. O mundo que não podia partilhar com ele. Ele que de repente não lhe saía da cabeça.

Até um dia. Sentada na cama, onde sempre lia as cartas dele, as letras começaram a ficar desfocadas. As lágrimas que caíam sobre a folha de papel. Na amizade sincera, desinteressada, ele contava-lhe tudo. Até a aventura na noite cabo-verdiana. Falava-lhe de uma “cabrita” de olhos verdes. E as lágrimas que caíam sobre a folha de papel.

Levou meses e muitas outras cartas a perceber porquê. Disseram-lhe as borboletas que voaram aos milhares na barriga dela quando o voltou a ver. Confirmou-o na longa conversa de dois amigos que nunca deixaram de se encontrar, dia após dia. Só que agora já não eram só amigos. Apaixonara-se pelas palavras. E o homem que tinha à sua frente encaixava tão bem numa folha de papel...

*Tentativa mais ou menos (isto sou eu a ser simpática comigo própria) falhada de entrar na ficção que me apeteceu partilhar com vocês...

quinta-feira, agosto 25, 2005

Monogamia ou burkas?

Hoje à hora de almoço a conversa andou à volta de questões estéticas, com particular insistência em depilações, barbas, bigodes e pilosidades afins. A certa altura falamos dos metrossexuais e de como os homens em geral continuam a ter muito menos cuidado com eles do que nós mulheres. É então que um colega meu, elogiando a evolução estética das mulheres portuguesas, diz que no meio disto tudo só há um problema: “As mulheres mais bonitas são incompatíveis com a monogamia”. Das duas uma, ou passamos a aceitar a bigamia ou lançamos uma petição nacional para impor as burkas como vestuário obrigatório. Eu? Eu voto na bigamia.

quarta-feira, agosto 24, 2005

Ordem despejo…

…ao pessimismo e aos pensamentos desagradáveis.

As vacas ruminam erva, eu rumino pensamentos. Cansei

terça-feira, agosto 23, 2005

Arrumações

Todos os dias, antes de sair, arruma. Passa o pano nos substantivos, areja verbos, alinha pronomes,varre adjectivos, compõe os acentos, muda a água aos advérbios, ajeita os parágrafos. No final deixa sobre a página uma prosa nova, com um adocicado cheiro a canela e um leve sabor a maçã.

Pressa

Sinto que tenho muitas vezes pressa do futuro e tenho vindo a tentar controlar isso porque é cada vez mais cansativo e frustrante. Tenho mil ideias e parecem-me fantásticas quando as vou escalpelizando finamente no meu cérebro, ansiosa do momento em que as possa concretizar. Depois, quando o presente chega e as estou a pôr em prática parecem que perderam o brilho e que não eram, afinal, assim tão fantásticas. E começo o processo todo outra vez. A única vantagem tem sido a de olhar para o passado e ver que, a bem dizer, ficaram algumas coisas boas e bem feitas, mas... Não é que nelas não houvesse mérito, mas talvez falte reconhecimento externo. E será isso bom, ou maior fonte de frustração e de angústia? Uma pessoa disse-me que eu devia ver a minha vida com a subida de uma montanha. Ninguém o faz a correr, porque cairía para o lado nos primeiros quilómetros. Mas eu teimo em querer chegar ao topo, ou perto dele, a breve prazo e... lá está, fico com pressa do futuro. No meu caso, maturidade deve ser conseguir acertar estes tempos. Oxalá não demore muito (lá estou eu com pressa!).

Sociedade de consumo imediato

Não me sai da cabeça o refrão da “Chiclete” dos Táxi. Aquela coisa sobre a “sociedade de consumo imediato”.

Na voragem dos dias queremos tudo para ontem. Queremos resolver as crises, materializar sentimentos, consumar os amores, gastar as gargalhadas, enxugar as lágrimas… tudo a um ritmo que não se adapta à velocidade dos dias. Não damos tempo ao tempo, que insiste em passar segundo a segundo pelos ponteiros do relógio. E assim vamos deixando a vida passar-nos ao lado. Ou talvez seja só eu e seja injusto estar aqui a generalizar.

segunda-feira, agosto 22, 2005

Coisas que me tiram do sério 4

Apanhar turbulência num avião a hélice. Quinze minutos de tormento dentro da barriga de uma mosca: igualmente pequeno e com o mesmo zumbido irritante.

domingo, agosto 21, 2005

Coisas que me tiram do sério 3

Pôr o despertador para as cinco da manhã. É imoral, doentio e devia ser punido com a pena de morte.

sábado, agosto 20, 2005

Coisas que me fazem sorrir 10

Ouvir "Que falta você me faz" da Bethânia, dançar o "Tarde em Itapoã" num abraço apertado e perceber que sou a mulher mais sortuda do mundo. A sério que sou!

Coisas que me fazem sorrir 9

Ver que esta cidade sem sexo está finalmente completa.

sexta-feira, agosto 19, 2005

Os últimos são os primeiros...

Os primeiros a reconhecer que nem sempre escolhem bem as prioridades e que deixam as rotinas controlar essas mesmas escolhas. A que acresce, devo reconhecer, um desconforto e alguma impreparação emocional para lidar com esta "exposição". Talvez me surpreenda ao fim de alguma prática e, quem sabe, se torne até um vício. Em nome da louvável partilha de estados de alma, prometo esforçar-me para estar à altura, já que pode revelar-se uma forma de arrumar as ideias. Como escreveu o Dalai Lama: "Um espírito indisciplinado é como um elefante. Se o deixarmos à solta, sem controlo, ele causa inúmeros estragos".

P.S. Espólio fotográfico pessoal! Inspirem-se...

Reflexos de domingo à noite*

Tough, you think you've got the stuff
You're telling me and anyone
You're hard enough
You don't have to put up a fight
You don't have to always be right
Let me take some of the punches
For you tonight

Listen to me now
I need to let you know
You don't have to go it alone
And it's you when I look in the mirror
And it's you when I don't pick up the phone
Sometimes you can't make it on your own

We fight all the time
You and I...that's alright
We're the same soul
I don't need...I don't need to hear you say
That if we weren't so alike
You'd like me a whole lot more
U2 2005

(* Ou talvez não...)

Noites brancas

...

quinta-feira, agosto 18, 2005

NY 2



Vou!

Equilíbrio

Na balança entre o deve e o querer qual é a medida certa para abraços e beijos?

Mudanças


O malmequer é a designação dada a várias espécies da família das compostas, algumas das quais são também designadas de bem-me-quer, calêndula e de margarida.
Wikipedia

(Só para dizer que a pedido de várias famílias mudei de nome)

quarta-feira, agosto 17, 2005

Jogos

“Continham-se, reprimiam-se, como amantes jovens e absurdamente orgulhosos, convencidos de que aquele que telefonasse revelaria uma fraqueza, uma desprezível dependência emocional.”

Cães pretos, Ian McEwan

NY



Qualquer dia vou e não volto.

Vens comigo?

Prazo de validade

Até ontem achava que as relações eram como os iogurtes, com prazo de validade. Até pode ser verdade, mas há tanta coisa que depende de mim que decidi remodelar a minha concepção. Passei dos iogurtes para as pilhas Duracell...

Coisas que me fazem sorrir 8

Abrir este blog e poder ler qualquer coisa que não tenha sido escrita por mim.

terça-feira, agosto 16, 2005

Amizade Apaixonada 2

Acreditei ser apenas isso. Enganei-me.

Quis que fosse apenas isso. Mudei de ideias.

Férias das Férias

Depois de uma semana na Ilha do Pico, Açores, quatro dias a trabalhar. Férias das férias, que continuam quando for domingo e só mudam de arquipélago. Porto Santo, para repousar a cabeça sobre um livro que vou lendo, nos intervalos do sono que me ataca sempre no Verão.

E ainda tenho a sorte de ter, como companhia, as únicas pessoas do mundo que nunca, mas nunca mesmo, deixarão de gostar de mim... Sem o patrocínio do leite 'Matinal', esperam-se manhãs de sol, calmaria à tarde e conversas de fim de dia.

Faltam 4 dias.

segunda-feira, agosto 15, 2005


Oh não............. os meus piores receios confirmaram-se aos ler os últimos posts. Here we go again!

domingo, agosto 14, 2005

À espera

Sente-se como um marinheiro, pronta a levantar âncora. Como um tuaregue de tenda arrumada, pronta a partir à mais leve brisa que traga com ela o cheiro de uma tempestade de areia.

sexta-feira, agosto 12, 2005

Escolhas difíceis

Domingo lá estarei em Alvalade (os sacrifícios que uma mulher tem que fazer!). Espero que os senhores não desiludam, porque ao preço que os bilhetes estão no mercado no negro tenho na carteira o suficiente para, no mínimo, dois meses de férias nas Maldivas...

quinta-feira, agosto 11, 2005

Coisas que me fazem sorrir 7

Um dia de praia com a companhia perfeita. E não, não é um livro!

quarta-feira, agosto 10, 2005

Saudades

Tinha saudades de abrir os olhos com um sorriso nos lábios e o pensamento numa cara bonita, num gesto feito no dia anterior, numa palavra dita na altura certa. De receber mensagens a desoras. De sentir milhares de borboletas a voarem-me na barriga. Das confidências. Da partilha, do que é bom e do que é mau. Do riso despreocupado. Dos arrepios provocados pelo toque. Tinha saudades.

terça-feira, agosto 09, 2005

Um dia destes tenho que mudar de CD

I know there were days that I left you when you needed me most, so please forgive me for the times that I made you cry. Life sent to me signs to know how simple things matter. If I didn’t realize I'll try to do my best so I don’t fail this time. Not anymore. I guess this must be a kind of a modern love because I’ll love till the day that I die.

The Gift, AM-FM

segunda-feira, agosto 08, 2005

Para melhor

O mundo, o meu mundo, acordou hoje diferente. Para melhor.

Enganos*

Sabias, perfeitamente, que não vinhas para ficar, Meu Amor, mas continuaste a mentir, e a dizer que era essa a tua vontade…

* Post roubado em E as fadas também se enganam no caminho

domingo, agosto 07, 2005

Vida

SA, Faial 2005

Porque é que deixamos que a vida nos escape por entre os dedos?

sexta-feira, agosto 05, 2005

A mais velha história de amor*

Entre eles existia, dizia-se, uma química poderosa e uma atracção física irresistível. Chumbaram miseravelmente, porém, nas ciências sociais.

* Post roubado no Nariz de Ferro

Coisas que me fazem sorrir 6

Ser trocada por um Gajo.

quinta-feira, agosto 04, 2005

Cheira à Serra

Mafra está a arder pela segunda vez este ano. Sentem-se no ar os resquícios de fumo que o vento arrasta. Pelas piores razões, Lisboa cheira à Serra nas noites de verão.

quarta-feira, agosto 03, 2005

O Amigo

O passado chegou-me hoje pelo fio do telefone. Uma chamada profissional transformou-se, de um momento para o outro, no 'reencontro' com um amigo que não vejo há mais de dez anos. Não é uma pessoa qualquer, é O Amigo de liceu.

Lembrei-me dele há pouco mais de uma semana. Não pensava nele há anos. Lembrei-me porque usei numa estória uma expressão que ele utilizava muitas vezes. Dizia-me que a amizade verdadeira entre um homem e uma mulher só pode acontecer se houver alguma aversão física. Aquilo que nos unia era a materialização dessa ideia. Durante anos o J.P. esteve sempre lá. Ouvia-me os amores e os desamores. Aturava-me nas ressacas. Servia-me de travesseiro. Amparava-me as frustrações. Era o meu ‘saco de pancada’ sempre que me chateava com o mundo, ou o mundo comigo. Estava sempre lá e nunca pedia nada em troca. Pensei nele porque me falta agora um amigo assim.

Até que percebi - acho que foi aí que os nossos passos se começaram a separar - que por ele aquela amizade sincera e incondicional teria evoluído de outra forma. Confirmei-o hoje quando, numa conversa que durou pouco mais de cinco minutos, percebi o quanto de mim ainda lhe vai na memória.

Combinamos um almoço para quando ele regressar de férias. Por mim seria já amanhã. Mas quem esperou dez anos, pode esperar mais uma semana. Sei que vai ser um longo almoço. Há tanta vida para pôr em dia...

terça-feira, agosto 02, 2005

Sexo




Finalmente sinais de sexo, neste blog...

Devolva-me

Tenho ouvido a Adriana Calcanhotto fora da versão 'Partimpim'. Não sei porquê, é mais infantil a minha reacção à música adulta de Adriana.

Quando ela por cá esteve, há cerca de um mês, tive o privilégio de entrevistá-la. Foi no meio dos miúdos, numa escola de crianças certinhas com notas invejáveis e uma bata azul. Sabiam a música do 'Fico assim sem você' na ponta da língua. Sabiam que um 'avião sem asa' não voa, que uma 'fogueira sem brasa' não arde, que um 'futebol sem bola' não joga.

Então, porque não hei-de eu saber de que devolução fala Adriana, senhora sem Partimpim?

'Devolva-me', da grande Adriana é uma música lindíssima. Mas deixa-me na dúvida. Entre o bom e o mau. Entre o querer mandar para trás a peça com defeito e exigir uma nova, ou o resgatar daquilo que em tempos ficou perdido.

Vou ouvindo um disco que não é meu. Às vezes volto atrás para repetir a faixa. Outras deixo seguir... e quando acaba o cd apago a luz.

A Capital 2

Era sábado e já passava das seis da tarde. A minha reunião com a HSO foi breve e pouco houve para dizer. Era dia 4. Janeiro de 1997.
- Segunda, pode ser? Às 08H00.
- Ok.Cá estarei.

80 contos. Nem mais um tostão. Metade do que já tinha ganho, a recibos verdes, no emprego anterior.

Promessas? Um grande projecto, na altura do mesmo grupo da SIC, estação em progressão e com provas dadas na área da informação. E eu queria mesmo era abrir portas na SIC... pois se tinha acabado de sair de um canal perdedor. Nem a fé movia as montanhas de audiência do terceiro e novo canal.

Obrigações? De sol a sol. Entrada às 08h, no outro lado da cidade. Saída da primeira edição ao meio-dia. Duas horas de almoço - quase sempre passadas nas pizzas ou nos bifes do centro comercial dos Olivais... ainda não havia Parque das Nações - e o regresso até altas horas. Saíamos com as rotativas. Com o mesmo cansaço enrolado ao corpo.

Carrie era a minha admiradora número 1. Cada linha que eu escrevia era, para ela, uma espécie de arte das letras. Não esqueço o dia da reportagem da 'menina do cabelo em canudinhos'. Precisava de um transplante de medula. Fui lá a casa, algures na Amadora ou assim - lembro-me que era um daqueles bairros sociais com casas em frente à janela - e estive com ela na sala, no quarto. Com a mãe na cozinha. Um dia depois a fotografia dela estava na primeira página da edição matinal.

Outra vez... dolorosa... foi a que me levou ao Intendente ao longo de uns quantos dias. A freira - a da minha história é boa - espanhola que ensinava as prostitutas a fazer Arraiolos. Tapetes feitos por quem estava mais habituada a ser pisada. Fiquei tão emocionada que até fiz de conta que acreditava em todas as histórias. Elas eram todas antigas prostitutas, diziam. Não eram, na verdade. Mas sentiam que o seriam. Mais tarde ou mais cedo ficaria para trás, a vida escondida.

Quando a reportagem saiu tive uma das piores sensações da minha vida profissional. Havia uma delas a fazer o tal tapete. Linda, numa fotografia, só ela e as agulhas, no tapete. Acordámos pôr a fotografia com a cara tapada. Acordámos e foi o que pedi, a quem disso tratava na redacção. Quando abri o jornal e vi, naquelas páginas de uma tiragem considerável, a mesma cara que tinha confiado em mim no dia anterior... Destapada, como se a vida fosse toda contada naquele rosto a descoberto. Fiquei de rastos.

Soube pouco depois que tinha razões de sobra para assim ficar. O 'chulo' dela, o namorado como quis ela chamar-lhe, bateu-lhe. Espancou-a por aparecer assim, no jornal. Senti-me agredida, nesse dia. E nunca mais deixei por mãos alheias uma responsabilidade tão grande...

Guardo pouco, desse ano num jornal onde adjectivar as peças era trabalho de director. Mas guardo as três - comigo 4 - que mais tarde deram origem a um grupo 'Dumas' miúdas fantásticas, inseparáveis, sempre lá. Já agora, Carrie, não ia nada à bola contigo, também. Mania de 'cortar os pulsos' sem sequer arregaçar as mangas... Enervava-me, isso. Hoje, fico feliz por não teres conseguido afiar as navalhas.

Da Miranda já muito sabia. Dos tempos partilhados a aprender (?) a ser jornalista, numa Faculdade a saber tanto da matéria como eu de física quântica. O reforço foi chegando, na mesma proporção de umas quantas viagens de Lisboa a Cascais.

E à ausente deste blog, recordo-a de vestido branco. Sinal da pureza que ainda mantem. Só ela. Como mais nenhuma de nós.

A felicidade que espelhava no dia do meu adeus, naquele gabinete de directora e sub-directores que, no minuto da minha saída, consideraram-me 'fantástica, uma grande jornalista, a perder uma grande oportunidade' contracena com o que sinto agora, sabendo que o fim que eu desejei para mim chegou para outros, que não o queriam.

Não foi capital a existência de um jornal tornado sério com a evolução dos dias. Para cada uma de nós, afastadas desse projecto há tempo suficiente para não sentir mágoa foi, porém, um ponto de encontro. Um período para guardar no bloco-de-notas, certas de que não temos, nós, uma última página já escrita.

Repetição por motivos nada técnicos*

As lágrimas e os sorrisos têm igual grau de contágio.

Porque ontem voltei a falar contigo a desoras. Porque senti na tua voz a segurança com que decidiste baixar as defesas, fazendo sair os fantasmas e deixando entrar na tua vida uma amizade apaixonada. Porque ouvi na tua voz a tranquilidade de quem sabe os passos que quer dar. Porque confirmei aquilo que a minha própria inquietação não permitiu ver no sábado: estás feliz.

* Título roubado no blog de um amigo

Coisas que me fazem sorrir 5

Uma ida ao Facto.

segunda-feira, agosto 01, 2005

Sorrisos

As lágrimas e os sorrisos têm igual grau de contágio.