quinta-feira, agosto 27, 2009

e não acaba?

Irra! semana mais comprida, ainda por cima com sofrimento em formato mensal para fechar com chave de ouro. Não se pode passar já para sábado?

quarta-feira, agosto 26, 2009

Questão pertinente

Continuará a Samantha interessante com aparelho nos dentes?

sábado, agosto 22, 2009

À noite

Recordo de manhã cedo o que me atormentou. Revejo rostos e passagens e momentos e conflitos. A vida é calma e alegre durante o dia, à noite transforma-se num suplício como se tudo corresse mal. Acordo cansada, desgastada, enxaquecas e dores musculares. Tudo acumulado sobre os ombros e a cabeça que rebenta de ansiedade e de culpa. Reconheço aqueles que me passaram pela vista durante a madrugada, num sono atribulado e nada profundo. Muitos fazem-me mal, muitos dos que me são queridos, de quem não tenho uma queixa. Vêm à noite zangar-se, prejudicar-me, indicar-me caminhos que não são meus. Durante o sono percorro outros mundos. Odiosos, tristes, conflituosos. Não sou eu, realmente, naqueles sonhos, mas sim, revejo-me, olho para o meu rosto, sinto o meu coração, penso com a minha mente. A noite cansa-me e acordo como se nunca tivesse adormecido. A noite dói-me. Magoa-me. À noite não há descanso nem repouso, mas tão só problemas e corridas e azáfama e pessoas que me querem mal quando afinal não são elas o inimigo. A manhã acorda com enxaquecas e remorsos de não ter dormido. A noite fica para trás e regressa à noitinha, quando voltar para a cama, e os meus olhos fecharem.

Em Setembro

sexta-feira, agosto 21, 2009

Sobre António...

O sorriso final enterneceu-me. Agradeceu. Mas eu é que tinha ganho com aquela conversa. Falou-me de Balzac e de Joseph Conrad, de África e dos dias de Angola, de ser quase menino e logo ter aprendido a usar uma arma pendurada no braço. "Escrever é como escrever", disse-me, e fixei a frase como uma das mais belas que já ouvi. Tão simples de bela que até aborrece. António é Lobo Antunes, este escritor que me deixa a ouvi-lo enternecida no olhar e no gesto sereno das mãos. Pernas cruzadas na ganga de umas calças já velhas e camisa aos quadrados, blusão, olhos muito azuis e cabelos grisalhos. Mais de vinte caixas de livros espalhadas pela garagem e um convite a levar o que quiséssemos. Livros que já leu, que repetiu, autores que não conheci, revistas dos anos 20 e 30. E páginas. Muitas para ler e folhear como quem ama um livro. António ama tanto os livros que quer que outros os leiam. Partilha, pede que se interessem, convida, incita. António convence-me com uma só palavra. Ele não sabe que eu, perante ele, fico sem contraponto, sem argumentos. Concordo. Deixo-me levar. Àquele país de palavras que António habita por toda a vida.

domingo, agosto 16, 2009

Velhice

Hoje a avozinha está sem memória. É como um computador sem hardware, que se farta de dar erro. Pergunta cem vezes a mesma coisa, de segundo a segundo. Encosta a cabeça na almofada do sofá e vira frequentemente o olhar para fazer perguntas. Repete o movimento mais, e mais uma vez. Respondo que sim, que não, aceno e faço gestos para evitar falar alto porque também não ouve bem. Hoje a avozinha está sem memória e isso cansa. Hoje que dia é? Quem é que me vem buscar? Fico contigo atè à noite? Deixam-me sozinha? Tem dias assim, a avozinha. Ontem estava calma, comeu bem, não fez perguntas mais do que as necessárias, andou a passear, experimentou sapatos que não comprou, comeu um pastel de nata com prazer, bebeu um descafeinado com muito açúcar. Hoje acordou-me várias vezes durante a manhã, chamou pela minha mãe, pela Emília que toma conta dela durante a semana, pediu-me comprimidos para a dor de cabeça, quis repetir a dose que já tinha tomado, não quis tomar banho, mas tomou, não quis almoçar, mas comeu... E esqueceu-se de tudo isto. Onde estou? Para onde vamos? Mas a avozinha não se esqueceu de amar. De amar-me, pelo menos. Chama-me "minha querida" e aperta-me a mão, dá-me beijinhos e diz que a felicidade dela depende, num dia como o de hoje, de mim. Não tenho dúvidas de que a minha felicidade também depende, e muito, da existência dela. Todos os anos, a cada aniversário, ela deseja chegar ao seguinte. Eu idém. Andamos nisto há 94 anos. Ela anda nisto há tanto tempo. E agora vou parar de escrever porque tenho queixas para ouvir e perguntas a que dar resposta. Antes que me esqueça que a avozinha precisa de muita atenção...

quarta-feira, agosto 12, 2009

À espera

Tenho saudades de uma carta de Amor...

segunda-feira, agosto 10, 2009

A Sudoeste do Paraíso

Eu gosto de lá estar, mas tomo banho todos os dias. Acho piada ao ambiente, mas não fumo ganzas. Aprecio o género, mas almoço de faca e garfo. O Sudoeste é um misto de amo e detesto.
Seria incapaz de me deitar numa daquelas tendas encostadinhas umas às outras, de lavar os dentes no mesmo sítio onde se lavam as panelas, de ver cabelos nos ralos do chuveiro, de tomar banho no canal cheio de gente, de ir para a praia da Zambujeira e não ter espaço para esticar as pernas, de beber até cair, de correr para a primeira fila do palco para ver melhor o concerto dos Faith no More, de vestir aquelas calças que parecem saias e que servem para acumular coisas entre as pernas, de usar um lenço igual ao do Arafat (que Alá o tenha), de calçar as mesmas meias dois dias seguidos, de andar de hawaianas no meio do pó, de dormir encostada a um tipo que não conheço, de gastar 400 euros em três dias de festival, de mentir à minha mãe, de não pentear o cabelo, de usar rastas, de fazer tatuagens, de dormir no chão em plena vila junto ao mar.
Mas eu já tenho 36 anos.
Gosto do espírito que por lá anda, da quantidade de gente feliz, das miúdas de calções para os rapazes repararem e trocarem telefones, das farturas, das pulseiras hippies, da música que faz saltar e bater o pézinho, da tenda vip com coca-cola à borla, do cheiro da cerveja, dos jornalistas em stress na sala de imprensa, da diversidade de classes, da diferença de idades, da música diferente, da noite que só acaba se eu quiser, das pessoas a saltar à corda, dos directos com miúdos aos pulos, da maneira como todos se amam, dos pais que levam os filhos, dos filhos que respeitam os pais, dos namorados no chão aos beijinhos e abraços, das promessas de ligo-te depois, do sotaque do Porto, da quantidade de espanhóis, da música portuguesa, dos palcos alternativos, das reportagens originais.
E ainda só tenho 36.

da rejeição

"Flora regateava sempre a mínima concessão. E a melhor forma de ela conceder fosse o que fosse era eu não manifestar nem o menor interesse. E não tendo eu interesse em receber, já lhe não era a ela difícil dar. Porque o preço de dar está na valia para quem recebe."

Até ao fim. Vergílio Ferreira

de alma e coração cheios [iii]

Há um post por escrever. Há um fim-de-semana para contar. Praia-concertos-praia-concertos-praia. Podia viver assim. Pelo menos durante mais uma semana. Há gargalhadas intermináveis, há a história de uma ganza que não viu um festival, um telemóvel perdido e a amante de Alcobaça. Há um carro sempre cheio, comigo os miúdos vão sempre atrás, há um desfiar de bandas, canções que marcaram e marcam, conversas longas com os pés dentro de água, vodkas com sumo de morango, marés demasiado cheias e praias sem rede de telemóvel. Há uma pedra no sapato durante o concerto dos Faith No More, saltar muito, voltar a ter dezoito anos, mas só na minha cabeça, porque as costas e as pernas, essas lembraram-me que já não vou para nova, há zero7 em versão demasiado electrónica, uma montanha russa e um cão a querer brincar. Há tudo isso e muito sono. Cansaço bom em todos os músculos. Sobrevivi ao Sudoeste. Adormeço de alma e coração cheio.

domingo, agosto 02, 2009

sábado, agosto 01, 2009

um outro eu de mim

"Tinha um dedo imperativo no ar. Arrumei os utensílios e dispus-me a sair. Mas quando justamente ia a sair. Porque a vida é assim. Súbitas resoluções sem cálculo. Como se nós trabalhássemos para um lado e a vida para outro. Subitamente foi assim. Havia uma poderosa força vinda de Flora. E eu deixei-me ir, um outro eu de mim deixei-o. No fundo, seria isso? a instintiva certeza de que outra força a trabalhava também. Mas quando a tomei com determinação - a cara rápida voltada de lado, aproveitei a nuca o pescoço. E foi aí. Ela respirava forte sobre o meu ombro."

Até ao fim, Vergílio Ferreira