segunda-feira, fevereiro 26, 2007

As boas acções começam em casa

O F. fez ontem a promessa de Lobito. Não sabia o que era um Lobito até o F. entrar nos escuteiros. Também não sabia o que era uma Velada de Armas. Não sabia que os escuteiros tinham padrinhos. O F. escolheu-me como madrinha. E ontem, quando cheguei atrasada – mesmo em cima da hora para subir ao altar e colocar a minha mão direita em cima do seu ombro, antes de dizer a minha parte da promessa – ele deu um suspiro de alívio e disse ‘Vieste’. Senti um aperto no peito por pensar que até ele já tem consciência dos estranhos horários da tia. O que ele não sabe é que nem que o mundo caia, eu estarei lá quando ele precisar. Que mesmo que suba mais um degrau no mundo dos crescidos, estarei sempre ao lado das pessoas que amo quando precisarem de mim. Ontem o F. prometeu cumprir uma boa acção por dia. Espero que ele saiba que as boas acções começam em casa.

domingo, fevereiro 25, 2007

Gordura não é Formosura

Engordei pelo menos 5 quilos nos últimos meses. Os comprimidos terão algum efeito sobre isso, mas não posso deixar de culpar a minha má alimentação e, claro, as faltas ao ginásio. Não pus lá os pés, nos últimos três meses. E sempre a pagar.

O Rei diz que tenho três barrigas. Exagera um pouco, bem sei, mas sinto que pelo menos uma está maior do que devia. Depois são as ancas, e as pernas, os joelhos e por aí fora. Eu estou gorda que nem um texugo, é o que é!

A gordura não me assusta nem me deixa histérica, complexada ou esse tipo de coisas. Mas deixa-me insatisfeita, especialmente quando sei que já tive melhores dias e que a roupa já me assentou melhor. E depois é esta treta que toda a gente vê: as modelos das revistas, a mulher-perfeita, o corpo magro e sem curvas, as curvas certas, nos lugares certos. É a imagem que temos da perfeição. É a imagem que nos entra pelos olhos. É a imagem que todos queremos ter.

Eu quero emagrecer, mas não me parece que tenha força de vontade suficiente para o fazer. Tenho uma bicicleta maravilhosa fechada numa arrecadação há um ano; tenho uma inscrição que me permite ir todas as manhãs fazer uma aula de ginástica, tenho uma mãe que me fornece, gratuitamente, frutas e legumes, iogurtes e alimentação saudável... Só não tenho capacidade para me levantar mais cedo, para me deitar mais tarde, para evitar o croissant do lanche e o pão de Deus do pequeno-almoço. Sou uma falhada alimentar.

Eu tenho amigas magras - até neste blog - que são giras e todos os trapinhos lhes assentam. Eu tenho amigas elegantes e altas; amigas que tiveram filhos e que estão mais magras do que eu. Tenho amigas que são estrelas televisivas e têm rostos de princesa. Eu tenho um cabelo curto despenteado, maquilho-me para os casamentos e ando há mais de um mês para pintar as unhas de bordeaux. Sou uma falhada na elegância.

Este desabafo não tem nada a ver com nada. Não comi nenhum doce, hoje, e não me sinto culpada por nada. Mas olho para mim, ao espelho, todas as manhãs, e penso 'tenho de melhorar, tenho emagrecer, tenho de perder cinco quilos até Maio'. E mesmo quando for Verão já sei que vou andar nestes pensamentos. E também não vou fazer nada. E eu que até vivo num sítio onde andar a pé é um prazer. E não tenho vontade de sair de casa. Mais: não tenho sequer vontade de sair da cama.

Eu sou gorduchinha aos meus olhos, nomal aos olhos de outros, provavelmente gorda na opinião de tantos. Eu não me orgulho de mim própria. Mas também não me envergonho.

Eu estive para aqui a escrever disparates. Mas apeteceu-me embirrar com a minha gordura. Que não é, de todo, formosura... Só para ver se me entusiasmo para emagrecer.

sexta-feira, fevereiro 23, 2007

Zeca Afonso

Morreu há 20 anos o cantautor da intervenção. Na Revolução deixou a senha, de uma vila, morena Grândola. Em Coimbra deixou saudade de serenatas na madrugada. E no país deixou legado, que fez dele um imortal.

Gosto de lhe ouvir a voz e lamento não ter tido idade para estar mais com ele, ao vivo, aonde quer que cantasse. Comunista? Pouco me interessa, eu até voto em branco. Anti-salazarista - como o compreendo - homem fora do Regime, pensador e lutador. Pela Liberdade. Uma liberdade que é de todos e a que todos têm direito. Uma liberdade no falar, no cantar, no sonhar, no viver. Ainda assim preso, detido nos dias da desgraça.

Gosto do Maio que é maduro, da Senhora do Almortão e dos amigos que vêm para mais um copo. Gosto das trovas e canções, de um timbre próprio, de uma guitarra na mão. Gosto da imagem de um homem normal, sem preconceitos nem luxos, sem vaidades nem teimosias. Um homem determinado que levou a vida a cantar.

Ainda hoje m'embala com aquela voz impossível de imitar. Ao vivo nos coliseus, ou em estúdio, no silêncio das quatro paredes. Ficaram canções para sempre. Ficou Zeca para todos. Um amigo, também.

Coisas que se descobrem…

… em cinco dias de folgas*:

  • Preciso de mais tempo para esvaziar a cabeça.
  • Um em cada dois portugueses ainda não tinha ido ao Ikea. Agora já foram.
  • O meu carro é um grande carro. Um 207 transforma-se facilmente num 807.
  • O Rio’s é o melhor sítio da linha para almoçar em dias de sol.
  • As mulheres desta Cidade continuam lindas.
  • O ‘Perdidos’ é uma grande série.
  • A &!%&/%#!”&/ da placa da TMN não funciona quando é precisa.

[*Os dias de folga já acabaram há muito tempo, mas decidi passar a escrever em diferido. Ou é isso ou não escrevo coisa nenhuma.]

quarta-feira, fevereiro 21, 2007

Regresso ao Divã VI

Estava maquilhada, naquele dia. Tinha sido lá no trabalho, por uma profissional, uma verdadeira maquilhadora com os pozinhos mágicos que dão mais cor a um rosto. Deitou-se, como de costume, mas sentia-se outra pessoa.
- Hoje não falarei de mim.... - deixou escapar.
- E porque não? Já vi que está pintada, mas não é a mesma pessoa?
- Sinto-me diferente. Não me sinto eu.
- Sente-se diferente, como?
- Mais bonita.
- Sabe que não vamos falar de si, nessa perspectiva...
- Mas era melhor. O que está cá dentro não tem rímel nem anti-cernes.
- Sim... de facto está bonito, o que se vê por fora. Mas não quer entrar? Eu consigo entrar pelos seus olhos rasgados de cor.
- Você nem vê os meus olhos...
- Já os decorei.
- E decora o que lhe digo?
- Memorizo.
- E não lhe parece tudo tão feio?
- Não. Faltam-lhe apenas os pós que lhe dão outro ar esta noite.
- E onde me maquilho cá dentro?
- Não se maquilha. Mas aqui vai ser uma pessoa muito mais bonita. Só depende de si.
- Como sempre...
- Feche os olhos e diga-me, não como se vê, mas como gostaria de ser. Na verdade, como se foi, outrora. Façamos um jogo de maquilhagem interior.

Descreveu-se como há muito não fazia. No fim sorriu, com tranquilidade e um brilho nos lábios já sem sabor a batôn.
- Consegue sair daqui hoje com tanta beleza junta?
- Acho que sim.
- Então faça o seguinte: hoje, antes de ir dormir, passe um desmaquilhante pela cara. Mas mantenha a alma pintada. As suas cores interiores só saem com uma limpeza a fundo. Não deixe que essa mágoa volte a atormentá-la.

Saiu. Viu-se num espelho e não estava borrada. Manteve o sorriso. Naquele dia tinha aprendido a maquilhar-se por dentro!

terça-feira, fevereiro 20, 2007

Passados os 33

Chegam os 34. E chegam mais calmos do que eu própria esperaria. Vêm de mansinho, como se bastasse passar mais um dia no ano para crescer, crescer mais um bocadinho e ficar diferente. Para nós, para os outros. Diferente porque a idade conta e quando nos perguntam sobre ela temos de agir em conformidade com o Bilhete de Identidade.

Dizem que aos 'trintas' 'é que é!' e eu ando há quatro anos à espera disso. 'É que é!' o quê? Um salto gigantesco na carreira? Bom, se é isso já tive um bocadinho, mas quero mais, especialmente no que toca à remuneração porque isto de ter mais responsabilidades e afazeres não é justo se não vier com gratificações atrás. Salto na vida pessoal? Bom, lá mudanças tive eu mas não sei se já me agradam. Confesso que nos primeiros anos foi pior. Agora o presente já me parece mais saboroso, e o futuro mais promissor. Mas então terei já 40 quando tudo acontecer. E será tarde demais...

Tenho pouco tempo para os meus objectivos mais imediatos. Tenho pouco tempo para enunciá-los, esquematizá-los, ordená-los por ordem alfabética, por prioridade ou por outra ordem qualquer... Eu não quero uns 34 iguais aos 33. Passei a idade de Cristo na corda bamba sem saber para que lado cair. Eu quero passar a corda de um lado ao outro, equilibrada, certa, vencedora. Eu quero estar no outro lado sem olhar para trás e sem saber que já lá estive, noutros tempos.

Mais um ano pode não ser nada. Mas às vezes é tudo. É como deitar os foguetes a 31 de Dezembro, numa passagem que pouco ou nada vai mudar na vida de cada um. Mas aqui personalizamos. Pensamos num ser apenas, que somos nós. Partilhamos com muita gente - e eu partilhei - mas não contamos a verdade, verdadinha. Eu tenho medo destes 34. E quero perder o temor antes mesmo de chegar aos 35. Porque aí, lá se foi mais um ano...

quinta-feira, fevereiro 15, 2007

Afectos [10]*

- Par ou impar? Um par. Dois impar. Três par. Quatro impar. Pois, é isso.. perdi.

[*Ou a inversão completa das regras matemáticas em nome do amor. Na realidade, este devia ser o Afectos xii. Por razões demasiado fortes passa a ser o 10.]

quarta-feira, fevereiro 14, 2007

Namorados II

Pousou a cabeça no ombro dele e continuou a ler as legendas na diagonal. O sofá dava para quatro mas, naquele momento, caberiam mais três. Estavam a ocupar um único lugar e sentiam-se bem, assim apertados.

Ele pegou-lhe na mão e, descontraidamente, acariciou-a. Não tirava os olhos da televisão. Ela também não. O filme era de guerra, sobre uma guerra perdida, onde havia apenas vencidos e não se conhecia o rosto aos vencedores. Eles estavam vencidos pelo cansaço de um dia de trabalho árduo para os dois. Mas tinham saído vencedores das múltiplas tarefas que tinham cumprido, cada um no seu lugar, cada um na sua ponta da cidade.

Agora estavam ali, lado a lado, sem dizer palavra. Apenas o gesto e o corpo, um contra o outro, dizia que se amavam. O filme não tinha intervalos porque escolheram um DVD. Não viram por isso as notícias do Dia dos Namorados, a publicidade do Dia dos Namorados, as ofertas possíveis para darem um outro, naquele 14 de Fevereiro.

Não se lembraram. Nunca se lembravam.
Há muitas noites que partilhavam um só lugar do sofá e aquele não era um dia diferente.

Ela desviou o olhar num momento mais violento do filme. Ele beijou-lhe a testa. Nos canais abertos continuavam a dizer que se celebrava um dia especial. Mas eles não ouviram nada. Voltaram a ver o filme com atenção e esperaram a ficha técnica para dormir. Adormeceram primeiro no sofá. E gostavam um do outro.

Só depois foram para a cama. Sem ligar a televisão.

terça-feira, fevereiro 13, 2007

Namorados

Seguiam, de mãos dadas, e um carinho ou outro pelo passeio da marginal. Falavam de coisas mundanas e apertavam os dedos como se temessem perder-se um do outro, ali mesmo, junto à praia. Eram namorados e toda a gente sabia. Tinham passado quatro anos. Ali já havia amor. E a paixão continuava.

Naquele dia não tinham aulas, nem trabalhos para a Faculdade, nem afazeres com a família. Decidiram passear-se juntos para aproveitar a companhia um do outro. Beijavam-se de quando em quando para provar dos lábios um sentimento único que não podiam explicar. Mas a explicação era óbvia para quem os observasse, um minuto que fosse.

Eram namorados e toda a gente sabia.

Era um dia treze de Fevereiro e, aquele dia era, para eles, de namoro e ternura. Não tinham comprado presentes e no dia seguinte seria igual. Não celebravam um dia com corações e estrelinhas. Celebravam um dia de cada vez, de coração aberto, e uma estrela a luzir no céu.
Era para ela que olhavam, a cada noite que passava, e pensavam um no outro. Na forma como se encontrariam no dia seguinte.

Eram felizes os dois.

segunda-feira, fevereiro 12, 2007

"Os 'tanto' faz"

Ontem a caminho de casa com os números conhecidos da abstenção às voltas na cabeça [às 16h era bom de ver que o referendo não seria vinculativo]. A pensar nos números e a sentir-me revoltada contra este povo de acomodados. Pensei em escrever um post sobre o assunto. Hoje leio a Isabela. Não podia estar mais de acordo. Com ou sem vitória do ‘Sim’ há coisas que precisam de mudar. Esta é uma delas.

domingo, fevereiro 11, 2007

SIM

A caneta escorregou para o sim como se já soubesse a minha intenção de voto há muito tempo. Nem me deixou ler e reler a pergunta que fala de despenalização e de interrupção voluntária da gravidez. Eu deixei-a fazer a cruz e dobrei o papel em quatro. Levei-o à urna, assim, dobrado e saí com os cartões na mão e a sensação de dever cumprido.

Eu votei sim no referendo. Por esta hora, não faço ideia se ganha o sim, se ganha o não. Tudo é, ainda, possível. Mas eu votei sim porque me parece que o não é um voto de atraso, hipócrita, e sem razão de ser nos dias que correm. Eu não sou a favor do aborto, não sou a favor da morte, não sou a favor de uma escolha incoerente e sem responsabilização. Mas sou a favor do respeito pelo acto de ter um filho; sou a favor do amor absoluto por uma criança, sou a favor de uma mãe feliz. Por isso votei sim.

Esta é uma discussão que nunca mais acaba. A abstenção dirá isso mesmo. Há muitas dúvidas, muitas pessoas que se ficam, sem saber que opção tomar. Porque é uma responsabilidade maior votar num referendo. Não quero aqui deixar mais explicações, convicções ou propaganda. A minha caneta - que estava pendurada na mesa de voto - sabia bem o que escrever, onde escrever. E o sentimento de que fiz o que estava certo vem dessa leveza, dessa forma rápida como a cruz se desenhou naquele quadrado. A minha consciência soube o que fez.

sexta-feira, fevereiro 09, 2007

Limites

Estou há mais de um mês sem fumar. Há doze dias sem parar para descansar. Levantei voo numa noite de segunda-feira. Demorei o tempo de um batimento cardíaco a perceber o quanto precisava desta viagem. Trocaram-me os fusos horários. E ao fim de uma semana ainda não recuperei. Não voltei ao normal. Exigem-me, em missivas escritas em 000 e 111, que reponha a verdade dos afectos. ‘És tão bonita a dormir’. Acordo, sem deixar o mundo da inconsciência apesar destas palavras doces. Volto sempre a adormecer. É tão difícil manter os olhos abertos por estes dias. Nunca lhe dou a atenção que merece. Mas sei que é a mais sincera declaração. O meu mundo está reduzido a quatro paredes em tons laranja. Pouco mais resta. É uma vida estúpida. Salvam-me momentos sublimes de boa companhia. Sempre curtos. Falta-me a paciência. Para tudo. Para quase todos. Tenho medo de não resistir. De passar os limites. Os dos outros. Os meus já passei há muito tempo.

quarta-feira, fevereiro 07, 2007

Planos profissionais para 2007

Ter um filho!

terça-feira, fevereiro 06, 2007

Regresso ao Divã V

Entrou ansiosa, naquele dia e não se deitou. Sentou-se na poltrona à espera do interlocutor.

- Não se deita no divã?
- Não. Hoje quero conhecê-lo. Quero ver as suas reacções às minhas palavras; quero ver os seus gestos, percorrer os seus olhares, interpretar cada gesto. Quero saber o que pensa do que lhe digo.
- Deite-se. Está completamente enganada. Eu não estou aqui para você me conhecer, nem tão pocuo para analisá-la. É você quem tem de fazer autoanálise. É você que tem de ficar com um autoconhecimento mais real. Não queira olhar para os meus olhos. Reveja-se nos seus. Recorde o que diz, repita as palavras. Conheça-se melhor. Eu só sirvo para ajudá-la, neste processo.

Ela saiu da poltrona e deitou-se no divã. Ainda tinha tanto para aprender sobre si própria.

"Como eu me comovo por tudo e por nada"

Principalmente quando sou citada na blogosfera pelo melhor cartonista português...

Afectos [xii]

- Porque sais tão tarde?
Custa-me a resposta... É esta a vida que escolhi. “…ninguém precisa de um filme para perceber que uma relação com uma jornalista se encontra na fronteira do impossível…” Como explicar-te que é assim que funcionam os jornais. Já passei por tantos. É sempre igual. Já perdi tanto de vida pessoal. Como explicar-te que as coisas mudam de um momento para o outro ao longo do dia. Que o que estava feito deixa de estar. Que é preciso começar de novo a meio da tarde. Como se o dia acabasse de começar. É assim que funciona. É esta a vida que escolhi. E queria tanto que a compreendesses…

sábado, fevereiro 03, 2007

6 anos

Parabéns!
Que a vossa união continue com a mesma frescura, o mesmo desembaraço, o mesmo amor.
Tenho pena de não festejar convosco.
E o tempo passou tão depressa.

Regresso ao divã IV

- E então sonho Doutor. Tenho sonhos seguidos que não consigo acabar. Acordo antes que um acabe e já está outro a começar, mal fecho os olhos.
- E sonha com o quê?
- Não me lembro. Mas sei que são memórias e coisas confusas, sem nexo...
- E quando decide acabr com os sonhos?
- Quando toca o despertador e me obriga a viver a vida como a tenho agora.
- Sonha acordada?
- Não. Não tenho nada com que sonhar. Só quero acabar com este degredo nocturno.
- Experimente não sonhar...
- Como Doutor?
- Experimente adormecer a pensar nas coisas boas que tem o seu dia. Mesmo que não as considere um sonho. Tem coisas boas, todos os dias, não tem? Por mínimas que sejam...
- Mínimas, sim.
- Então pense nelas antes de dormir. Se sonhar é com elas que vai fazê-lo e terão um gosto especial porque realmente acontecem.
- Não creio que isso resulte. Mas posso tentar.
- E escreva. Escreva os sonhos que tem para partilhá-los comigo.
- Vou tentar...
- Agora, pode ir.
- Esta noite vou fechar os olhos a pensar nesta conversa.
- Tirou dela coisas boas?
- A esperança de que posso melhorar. Falamos para a semana.
- Bons sonhos.

sexta-feira, fevereiro 02, 2007

E por cá?

Neste lado do mundo também se dorme pouco. Quando todos se deitam também eu tento ir para cama e logo que posso adormeço. Mas a noite faz-se de sonhos que quase sempre são pesadelos. A noite faz-se a acordar de tempos a tempos, a ficar de olhos bem abertos à espera que se vão os monstros que me atormentam. Não, não estão debaixo da cama como nos quadradinhos do Calvin, estão por todo o lado, na minha cabeça. Fantasmas em forma de gente, que se atropelam em pesadelos uns a seguir aos outros e que não me deixam descansar.

Depois acordo e tenho sono numa manhã já tardia, com o sol em roda livre. E não saio logo da cama porque o corpo não me deixa, e o pensamento é mais forte e não quer que me levante. Os compromissos atrasam-se, as horas certas resvalam, os dias passam iguais e não consigo mudar nenhum.

Neste lado do mundo há razões para organizar tudo, mas a razão não o permite, pelo menos a minha. Neste lado do mundo os dias são, para mim, como para tantas outras pessoas, que não tu que estás do outro lado, do lado de lá, onde eu também poderia estar porque dormiria o mesmo. Neste lado do mundo a cabeça acorda em dor e só não morre porque é acelerada com comprimidos para viver. E vive mais um dia, um a seguir ao outro.

Nenhum lado do mundo nos sabe bem. Nenhum lado da vida nos agrada quando não temos descanso.

Eu tenho saudades tuas e gosto de ti. Acordada e a sorrir. Pode ser que aqui me leias e que sorrias comigo. Eu estou à tua espera para voltarmos ao mesmo lado e para tentarmos descansar juntas. Mesmo que não seja comigo que dormes.

E podemos ir ao cinema. De olhos bem abertos, não?!

quinta-feira, fevereiro 01, 2007

A room with a view

[Xangai, Royal Meridien]

Fechar os olhos

E de repente faz-se escuro como breu. Não sei quando foi que os neons se apagaram, concentrada que estava a martelar o teclado na fúria de mandar trabalho para Lisboa. Anda tudo ao contrário. Acordo quando tu te deitas. Janto quando tu almoças. Vou dormir quando aí ainda é dia. Deito a cabeça na almofada, mas não convenço a cabeça a dar ao corpo o descanso que precisa. Os neurónios ainda acham que às 18h [com sorte vou para a cama às duas da manhã] são horas de dormir a sesta. Durmo uma hora, hora e meia no máximo e depois fico às voltas na cama. Às sete [é imoral e devia ser punido com pena de morte] toca o despertador. E começa tudo outra vez. Apertos de mão, assinaturas, formaturas. E nós, do lado de fora, a desejarmos que acabe. Nós que adormecemos à porta de reuniões de alto nível. Que cabeceamos nas conferências de imprensa. Que congelamos nas paradas. Nós só queremos dormir. Não me digam que é a viagem de uma vida. Eu sei que é. É bom. A Cidade Perdida é linda, mesmo quando vista a correr em passo acelerado. Mesmo quando se luta contra uma eventual hipotermia. A praça Tiananmen é uma desillusão. Escusam de dizer o contrário. Duas visitas não chegaram para me fazer mudar de ideias. Falta-lhe a imponência dos filmes. Pequim é enigmática, mesmo que seja apenas uma fachada de quarteirões de arquitectura a estrear, com avenidas imponentes e 11 horas diárias de hora de ponta. Xangai é a Nova Iorque da Ásia. Deslumbrada pelos neons. E eu queria ficar aqui para sempre. Neste 36º andar com a cidade aos pés... mas apenas se pudesse dormir!