terça-feira, novembro 24, 2009

avózinhas

Chegou o Inverno. Parte das avózinhas dos meus amigos estão doentes. A minha tem-se safado da gripe. Amanhã temos uma sessão de fotografias para ficar para a história da família! Depois conto...

sexta-feira, novembro 20, 2009

Deus

Hoje critiquei a religião que sigo desde criança. Mas não perdi a fé.

sábado, novembro 07, 2009

Sábado

Acordo com a enxaqueca de ontem à noite mais poderosa. Um comprimido tomado há mais de uma hora não fez efeito. As dores repetem-se a cada dia, às vezes fazem um intervalo, mas já estou viciada nesta moínha que me traz má disposição e uma vontade louca de vaguear no interior da minha cabeça. A sensação é de alheamento e o estômago revolta-se a cada cinco minutos. A enxaqueca não é uma dor de cabeça normal, é uma espécie de companhia indesejada que se deita e acorda connosco sem termos tido uma noite de sexo. De manhã olhamos para o lado e lá está ela, na nossa almofada, junto ao peito, cabeça encostada à nossa, repousando, à espera do raiar do dia para atacar mais forte. Estranho mais se aparece ao fim-de-semana, como hoje. E já estranho quando não aparece todos os dias. Fez-se parte de mim, esta dor de alma. Não estou nervosa, nem demasiado cansada, nem constipada, nem irritada. Apenas existo a par de uma enxaqueca, dia após dia. A cervical ressente-se e deixa passar o mal-estar pela linha do trapézio. Equilibra-se a enxaqueca neste espécie de circo que é o meu corpo. Sei que não acaba agora e que voltará, mais cedo ou mais tarde. Sábado, sete e 20 da manhã. Desperto com ela no bolso e penso que Sport Billy teria melhores razões para existir. Não tenho a fisga nem o canivete suiço, não tenho nada que me faça falta. Apenas uma quase eterna dor de cabeça que dá pelo nome pomposo de cefaleia.

terça-feira, novembro 03, 2009

Constatação

Sinto-me só nesta cidade...

sexta-feira, outubro 30, 2009

Mamã, estou aqui

Um amigo foi hoje pai pela terceira vez. Deixou no facebook uma fotografia feliz com a mãe e a criança lado-a-lado com o pai babado. Ainda na sala de parto e vestidos de verde como nos filmes sobre hospitais. Ontem, a caminho de casa, ouvi Mariza, a fadista, dizer que muito gostaria de ser mãe mas que a vida profissional e, sobretudo, a idade, estão a pregar partidas e a querer evitar que tal aconteça. A diva do fado levaria uma criança em digressão e não hesitaria em cantar-lhe ao ouvido. Fado e outras canções. Chego a casa depois de uma conversa de mulheres em que os filhos não nos passam ao lado. Nenhuma mãe, ao contrário do que é habitual nestas reuniões de pós-trintas. Sofremos a ausência e ainda fazemos planos. E contas, sobretudo contas. A vida apressou-se e passou à frente de algumas de nós. Quando me contam que uma mãe se usou de uma consulta da Gripe A para pedir à pediatra que faça o aborto, ali mesmo, na filha de 13 anos, tremo. Que injusto é este mundo, mesmo quando acreditamos numa mão divina. Uma mulher que conheço passou os 45 e não conheceu o prazer da maternidade. Tentou de todas as formas e falhou o objectivo. Nem um míssil terra-ar faria pior se estivesse a ser lançado numa guerra desigual. A maternidade recebe caras felizes todos os dias e deixa tristes outros rostos. Talvez mais jovens, mais pobres, menos organizados familiarmente. Talvez arrependidos. Mas as que querem mesmo ser mães, podem nunca vir a sê-lo. As que querem evitar tal missão, têm 3 meses para desistir. É pena não haver troca por troca e cada experiência acabar apenas na barriga certa. E se há barrigas certas! Só não é certo o futuro das mulheres que sonham ter, um dia, um filho.

quinta-feira, outubro 29, 2009

O gosto da vida

Respondemos "mais ou menos" se nos perguntam se estamos bem, sorrimos timidamente se alguém bem-humorado nos conta uma piada... mas nem ousamos a gargalhada; acordamos com dores nas costas e temos, no fim do dia, uma valente enxaqueca; corremos de um lado para o outro, suspiramos, olhamos para o espelho e sentimo-nos gordas, o cabelo está a ficar branco aqui e ali; não há maquilhagem que disfarce os papos nos olhos pela noite mal dormida a acalmar a criança que está com tosse, deixamos queimar o jantar; o café foi mal tirado, a unha pintada partiu, a meia tem uma malha. Este tanto pode fazer de nós pessoas tristes e desmotivadas, sem sabor, sem alegria, sem prazer. Até choramos ou enrugamos o rosto numa marca descendente.

Mas eis que o sol nasce aqui 365 dias por ano; eis que temos acesso ao jornal e à informação num canal de 24 horas completas; eis que podemos ler um bom livro no caminho para o emprego, sentados no banco livre do metropolitano. E o nosso filho tem o mais belo sorriso do mundo, os nossos amigos estão sempre presentes, a nossa família tem para nós uma palavra de apoio. Temos um emprego e salário no fim do mês, ninguém que nos é próximo sofre de uma doença fatal, fomos de férias no Verão e teremos subsídio para presentes de Natal. Ou para pagar as dívidas. Mas teremos. Na escola, o nosso filho aprendeu o aeiou. Mas já o sabia, porque tivemos tempo de lhe ensinar as vogais numa tarde de domingo. Amamos e somos amados. Temos uma flor numa jarra e às vezes olhamos a lua. Bebemos café quando nos apetece porque temos sempre moedas de um euro. E rimos com as piadas, com o dia que temos, com a vida que levamos. E sabemos que vale a pena acordar outra vez, quando for amanhã.

terça-feira, outubro 27, 2009

O homem ideal

Não existe, bem sei... mas e se existisse? Como seria?
Reúno os comentários das minhas amigas, das colegas, das mulheres que oiço nos restaurantes e paragens de autocarro que não frequento. Hoje, ao balcão, enquanto comia bifes panados com alface, uma estranha dizia estar "em baixo", incapaz de resolver o problema e esquecê-lo, a ele. Outra, que pediu uma água natural, sentou-se no banco do lado e disse que tinha reparado nela, pela manhã, que estava infeliz quando chegou ao escritório. Desliguei da conversa e paguei a minha sopa alentejana que tomei com uma coca-cola. Eu esperava por um homem que fora cortar o cabelo para ficar com um ar limpinho e arrumado. Questiono-me o que importa, realmente, num homem? Leio um e-mail de uma amiga que encontrou, por acaso, um brasileiro lindo, de olhos azuis, e conversa boa para aquecer a alma. Penso na minha colega que há anos não tem vida sexual com o marido mas que teve, há uns meses, uma criança. Uma espécie de obrigatoriedade paternal. Vejo-a apaixonada pelo rapaz do bar ou pelo que trabalha numa qualquer sala fora da redacção. Mas nunca me disse que amava o marido. Recordo alguém que julgou ter nas mãos o homem de uma vida mas, passados uns meses e uma outra mulher, mudou de ideias. E a colega cujo marido nada faz pelo filho e também não trabalha porque tem uma depressão e, "coitado", quer é ficar na cama o dia todo sem que ninguém o mace. E na que tem um companheiro de vida que passa a noite ligado à internet, às vezes com as gatas aos pés, mas nunca junto à cozinha e a ela que faz o jantar. E a que ficou sozinha mal nasceu a segunda filha e que vive agora com outra mulher. E a que foi trocada (tão) pouco depois do casamento e fez almofadas brancas com o vestido do dito. Em comum, estas mulheres têm más experiências com os homens. Não digo que o mal é geral... mas atinge uma grande camada da população feminina. Se Sócrates fosse esperto, criaria o Ministério do Amor e dedicaria parte do Orçamento de Estado a tratar esta gente num bom psiquiatra. Era bom para todos e talvez me decidisse a ir votar nas próximas eleições.

Será o homem ideal o que nos compra presentes todas as semanas, mas que se esquece de pagar a conta da luz? Será aquele que é óptimo parceiro sexual mas que está a trabalhar quando é preciso dar banho aos filhos? Será o que tem um emprego altamente qualificado e uma secretária competente, mas que se refere ao nosso trabalho como uma ocupação secundária que para pouco ou nada serve na gestão familiar? Ou o excelente pai de família que quando chega à cama se vira para o outro lado e ressona porque está cansado demais para amar? Todos estes são casos que conheci, ouvi falar, soube por aí... É verdade que uma ou outra mulher estar feliz com o marido que tem. Mas também é verdade que somos cada vez menos exigentes. Falo por mim: contento-me com um homem que não minta, que me telefone para saber como estou, que me diga se vai chegar tarde, que me dê conta das saídas com os amigos e que goste de me levar com ele; contento-me com um abraço, com um beijo carinhoso, com a barba feita uma vez de 3 em 3 dias, com um bom filme visto a dois sentados no sofá. Já lá vai o tempo em que me preocupava com a tampa da sanita, com a pasta de dentes fora do sítio, com a toalha molhada em cima da cama, com o champô aberto na banheira, com as beatas no cinzeiro da sala, com a mania de possuir o comando da televisão, com a loiça suja fora da máquina, com as cascas da tangerina em cima da mesa... Sou uma mulher fácil de satisfazer, já que o meu grau de exigência é quase nulo. Porém, nem eu conheço o homem ideal. E sei que a minha amiga com três filhos e uma casa grande também não o conhece, e nem a outra que teve uma filha porque quis ser mãe solteira; nem tão pouco a que engravidou para solucionar os problemas do casamento.

Não há mulheres ideais. Mas há homens mais exigentes, que não hesitam em somar umas às outras sem que cada mulher saiba algo da segunda. Eles acumulam experiências. Nós assumimos um só para o resto da vida. Claro que nada disto é aplicado a toda a gente dom mundo, mas todo um mundo percebe a quem pode isto aplicar-se.

quinta-feira, outubro 22, 2009

Lugares inesquecíveis


Há lugares onde voltaria amanhã...

Dias felizes

Durmo 12 horas e acordo com dores nas costas. Sinto falta da fisioterapia e tomo comprimidos para as enxaquecas. Tudo bem. Podiam ser motivos para me irritar, para entristecer, para queixas. Mas eis que estou apaixonada! Almoçamos tarde no bar irlandês onde fomos e seremos sempre, os únicos portugueses. O dono pergunta-nos pelo concerto dos U2 em Portugal e confirmamos a nossa presença. Lá estaremos, a trabalhar. Mais um dia, mais um concerto. Almoço uma omelete de queijo e bebo coca-cola. Gosto de beber coca-cola quando estou de férias. Não, bebo antes uma meia de leite, com espuma, como tão bem a tiram no restaurante "De Barra". Saboreio a meia de leite com o último livro do Robert Wilson, aquele que estava a ler em inglês mas que passei para português, esta semana. Prefiro a minha língua para ler romances e policiais. Não sei porquê. É um amor à palavra. Aguardo com expectativa as de Saramago e acho ridículas as críticas que fazem a "Caim". Não me importo que o Nobel critique a Bíblia e a Igreja católica. Há críticas que fazem sentido e, se outras não fazem, é apenas mais uma opinião. Oiço-o na RTP e penso em trabalho. Vejo mais televisão, por estes dias. Perdi a entrevista nos Gato a Marcelo Rebelo de Sousa mas sei que tenho de vê-la, mais tarde. Percebo que a SIC tem um concurso novo que me cheira a antigo: em tempos houve um assim, apresentado pelo Nicolau Breyner, acho. Hoje dormi três horas à tarde. A enxaqueca voltou depois disso e jantei crepes. Estou viciada. Jogámos "trivial", um novo, que comprámos no Shopping. São caros, estes jogos, e têm erros de português, o que me enerva. Não é admissível. Ainda assim, jogamos, por cartões, sem tabuleiro. Gosto de me sentar numa ponta do sofá a observá-lo. Por agora dorme e tapei-o com um cobertor que estava na cama. Beijei-o de forma suave para deixá-lo sonhar. Não é costume adormecermos separados. Gostamos de partilhar a noite até à última. Ontem vimos mais um episódio de Ruth Rendell, mas hoje já só havia a primeira série de "Ossos" para passar o tempo. Gosto. Antes de escrever este post acompanho a noite com um CSI Miami, tão ridículo quanto divertido. Aquela personagem do Horatio Cane é demais, tal o exagero e a "branjisse" do tenente. Adoro! Estou apaixonada pelo homem com quem partilho a vida. Ontem fiz anos de um outro casamento e nem me lembrei. Passaram 8 anos e nem me lembrei. Foi a primeira vez que não recordei o dia. Curiosamente, ao jantar, falei sobre isso e critiquei o custo da refeição no copo de água. Mas não fiz contas ao calendário. É uma sensação de alívio. Vejo a minha vida através do presente o futuro afigura-se-me sorridente. Parece que o passado ficou mesmo lá atrás. Sem ressentimentos. É tarde, mas estou de férias e posso dormir toda a manhã. Depois faremos o que nos apetecer. Voltaremos a ser os únicos portugueses no restaurante irlandês. E diremos "gosto de ti" como se fosse a primeira vez. São dias felizes, estes que terminam Outubro.

quinta-feira, outubro 08, 2009

Pós-Amália

O projecto Amália Hoje é do melhor que a música portuguesa fez, este ano. Nuno Gonçalves é um génio. Sónia Tavares uma musa. E Fernando Ribeiro uma surpresa. Paulo Praça é!

segunda-feira, outubro 05, 2009

FJV

O senhor que inspirou este post tem um livro novo. Vai lançá-lo quarta-feira no meio de croquetes ou, como diz o convite, num "cocktail ao gosto do inspector Jaime Ramos". Já marquei na agenda e o mais provável é passar lá, trazer o livro para casa e deixar de lado o Bolaño que ando a ler, o que é coisa para chocar muito boa gente. O Francisco José Viegas já escreveu outros livros depois d'‘As duas águas do mar’, ganhou um prémio por ‘Longe de Manaus’, mas é neste livro de capa amarela que continuo a perder-me de tempos a tempos. O amor não se explica. Sente-se. Sempre achei que com os livros acontece o mesmo.

domingo, outubro 04, 2009

Amália

Quando era miúda achava que o fado era coisa de velhos. Punha-o no mesmo patamar da ópera e do folclore e dizia "não gosto" com o orgulho de quem vai na flor da idade e ouve dizer assim. Amália não me dizia nada, era apenas uma mulher de negro vestida que cantava fado e que não apreciava. Sabia-a famosa e pouco ou nada mais conhecia sobre ela. Um dia, já nos vinte e poucos anos, quis a minha profissão que me cruzasse com ela. Foi numa noite de fim-de-semana, no Parque das Nações, no teatro Camões onde era convidada após uma actuação. Estava já velha, naquele ano de 1998, quando a Expo '98 a levou ao palco pela última vez. Eu estava lá, no cair do pano, nos bastidores, e vi. Amália era então motivo de risota quer por ser já ida na idade que tinha, quer por ter tiques que muitos ainda imitam com um sorriso - como aqueles das palminhas e das mãos que pedem mais quando diz "obrigada" e repete "obrigada".

Por tudo isto, só dei valor a Amália depois de morta. Agora, que passam 10 anos sobre esse 6 de Outubro que vi na televisão, sobre o dia em que passei para word uma mensagem de condolências a enviar pelo ministro da altura, Manuel maria Carrilho, dia em que o gabinete ficou tão só, ao olhar a multidão que chorava e clamava por ela. Só então, Amália. Que Deus quis fosse o seu nome.

Quando passa esta década sem ela, dedico-me a preparar trabalho sobre Amália. Já passou a Grande Reportagem que há-de repetir e (voltar a) valer a pena; amanhã um Especial para ver quando forem 18H na SIC Notícias, e muitas reportagens sobre exposições e homenagens, a uma mulher que feliz, deixou de o ser para ficar triste e depois morrer. Hoje ouvi Amália e arrepiei-me. A voz que Deus levou era, de facto, única, e nenhuma outra surgiu igual. Bem dizem os que a acompanhavam que nem Mariza nem Mafalda, nenhuma fadista se compara a Amália. Podem ter vida e sucesso e podem ser referência lá fora, mas foi Amália quem lhes deu caminho, foi Amália quem deu ao fado o mérito de ser canção.

A caminho dos 40, eis-me com Amália nas mãos e vontade de escutá-la. Respeito hoje a mulher a quem dei o braço sem pensar mais que de uma velhota se tratava. Vaidosa, fora do tempo, fora de si. E, no entanto, única, como só mais tarde consegui ver. Mas sinto que ainda vou a tempo. Vamos todos.

quarta-feira, setembro 23, 2009

domingo, setembro 20, 2009

Confesso...

Fiquei maravilhada com a Casa Branca (e só a vi de fora) e senti-me emocionada por saber que pertence, agora, a Barack Obama. Estou num País livre.

sábado, setembro 19, 2009

segunda-feira, setembro 14, 2009

Envelhecer

Olha para as fotografias tiradas nas férias e vê as rugas que rasgam os olhos castanhos sem maquilhagem. Um pequeno papo surge muitas vezes abaixo do pescoço, apesar de ser parte de um rosto fino, longe dos dias em que as bochechas eram atracção principal de uma feira sem vaidades. Ancas robustas e pernas a acompanhar sem vontade de perder peso no lastro de cremes de marcas mais ou menos baratas. E o cabelo que cai. Fraquinho, fraquinho, de cor encarniçada para disfarçar os brancos que atropelam as orelhas pequeninas. O aparelho recente nos dentes dá um certo ar de adolescência mas é feio, dá nas vistas, torna-se único ponto de focagem no espelho. As dores nas costas acordam com o levantar e agudizam-se no rato do computador. Sobem à cabeça, tantas vezes... Chamam-lhe Dona e Senhora, menos vezes Menina. Três comprimidos de manhã e meio ao deitar, sem falhas, já lá vão quatro anos. Barriga flácida, à espera de um filho que ainda não foi gerado. Entusiasmo relativo, noites de sofá em frente a uma série de televisão antiga, ausência de exercício e inscrição paga na piscina a 50 metros da porta de casa. Falta de memória, falta de tempo para tratar das unhas e da celulite e da conta bancária e do cartão de cidadão que o BI caducou. Estava velho. Ausência de imaginação, incapacidade de contar histórias e escrever de forma arrebatadora, contagiante. A menos de 4 anos dos 40. Divorciada. Realizada q.b. mas mal paga para a experiência e para a função. Apaixonada de novo mas sem vida inteiramente partilhada. Sente que o tempo urge. Carro à porta a celebrar 8 anos, sem garantias de substituição. Serve. Casa a ser paga mas em vias de mudança. Sem vontade de procurar uma nova, apesar da necessidade e da magia que um novo canto há-de trazer. Parada no tempo, muitas vezes no passado, quase incapaz de ver o amanhã. Tenta. Continua a tentar.

uma semana ou nove dias bem contados

uma semana ou nove dias bem contados foram suficientes para perder o ritmo, para que os dedos se troquem no teclado, para que a cabeça perca o tino e deslize para fora do open space, uma semana ou nove dias bem contados passados ao sol, entre letras, os livros do costume, porque jornais nem vê-los. Sim, passei uma semana na montanha sem direito a televisão. Não sei dizer, por muito que queira como foram os confrontos pré-eleitorais, como Sócrates arrasou com Louça, ou se Portas deu cabo de não sei quem. Deu? foi disso que falaste? vês, nem isso fixei... uma semana ou nove dias bem contados para tentar esquecer que o mundo existe e se não o mundo por inteiro pelo menos parte dele.

domingo, setembro 13, 2009

Um mundo mágico



sábado, setembro 12, 2009

Chamem-me Burra




quinta-feira, agosto 27, 2009

e não acaba?

Irra! semana mais comprida, ainda por cima com sofrimento em formato mensal para fechar com chave de ouro. Não se pode passar já para sábado?

quarta-feira, agosto 26, 2009

Questão pertinente

Continuará a Samantha interessante com aparelho nos dentes?

sábado, agosto 22, 2009

À noite

Recordo de manhã cedo o que me atormentou. Revejo rostos e passagens e momentos e conflitos. A vida é calma e alegre durante o dia, à noite transforma-se num suplício como se tudo corresse mal. Acordo cansada, desgastada, enxaquecas e dores musculares. Tudo acumulado sobre os ombros e a cabeça que rebenta de ansiedade e de culpa. Reconheço aqueles que me passaram pela vista durante a madrugada, num sono atribulado e nada profundo. Muitos fazem-me mal, muitos dos que me são queridos, de quem não tenho uma queixa. Vêm à noite zangar-se, prejudicar-me, indicar-me caminhos que não são meus. Durante o sono percorro outros mundos. Odiosos, tristes, conflituosos. Não sou eu, realmente, naqueles sonhos, mas sim, revejo-me, olho para o meu rosto, sinto o meu coração, penso com a minha mente. A noite cansa-me e acordo como se nunca tivesse adormecido. A noite dói-me. Magoa-me. À noite não há descanso nem repouso, mas tão só problemas e corridas e azáfama e pessoas que me querem mal quando afinal não são elas o inimigo. A manhã acorda com enxaquecas e remorsos de não ter dormido. A noite fica para trás e regressa à noitinha, quando voltar para a cama, e os meus olhos fecharem.

Em Setembro

sexta-feira, agosto 21, 2009

Sobre António...

O sorriso final enterneceu-me. Agradeceu. Mas eu é que tinha ganho com aquela conversa. Falou-me de Balzac e de Joseph Conrad, de África e dos dias de Angola, de ser quase menino e logo ter aprendido a usar uma arma pendurada no braço. "Escrever é como escrever", disse-me, e fixei a frase como uma das mais belas que já ouvi. Tão simples de bela que até aborrece. António é Lobo Antunes, este escritor que me deixa a ouvi-lo enternecida no olhar e no gesto sereno das mãos. Pernas cruzadas na ganga de umas calças já velhas e camisa aos quadrados, blusão, olhos muito azuis e cabelos grisalhos. Mais de vinte caixas de livros espalhadas pela garagem e um convite a levar o que quiséssemos. Livros que já leu, que repetiu, autores que não conheci, revistas dos anos 20 e 30. E páginas. Muitas para ler e folhear como quem ama um livro. António ama tanto os livros que quer que outros os leiam. Partilha, pede que se interessem, convida, incita. António convence-me com uma só palavra. Ele não sabe que eu, perante ele, fico sem contraponto, sem argumentos. Concordo. Deixo-me levar. Àquele país de palavras que António habita por toda a vida.

domingo, agosto 16, 2009

Velhice

Hoje a avozinha está sem memória. É como um computador sem hardware, que se farta de dar erro. Pergunta cem vezes a mesma coisa, de segundo a segundo. Encosta a cabeça na almofada do sofá e vira frequentemente o olhar para fazer perguntas. Repete o movimento mais, e mais uma vez. Respondo que sim, que não, aceno e faço gestos para evitar falar alto porque também não ouve bem. Hoje a avozinha está sem memória e isso cansa. Hoje que dia é? Quem é que me vem buscar? Fico contigo atè à noite? Deixam-me sozinha? Tem dias assim, a avozinha. Ontem estava calma, comeu bem, não fez perguntas mais do que as necessárias, andou a passear, experimentou sapatos que não comprou, comeu um pastel de nata com prazer, bebeu um descafeinado com muito açúcar. Hoje acordou-me várias vezes durante a manhã, chamou pela minha mãe, pela Emília que toma conta dela durante a semana, pediu-me comprimidos para a dor de cabeça, quis repetir a dose que já tinha tomado, não quis tomar banho, mas tomou, não quis almoçar, mas comeu... E esqueceu-se de tudo isto. Onde estou? Para onde vamos? Mas a avozinha não se esqueceu de amar. De amar-me, pelo menos. Chama-me "minha querida" e aperta-me a mão, dá-me beijinhos e diz que a felicidade dela depende, num dia como o de hoje, de mim. Não tenho dúvidas de que a minha felicidade também depende, e muito, da existência dela. Todos os anos, a cada aniversário, ela deseja chegar ao seguinte. Eu idém. Andamos nisto há 94 anos. Ela anda nisto há tanto tempo. E agora vou parar de escrever porque tenho queixas para ouvir e perguntas a que dar resposta. Antes que me esqueça que a avozinha precisa de muita atenção...

quarta-feira, agosto 12, 2009

À espera

Tenho saudades de uma carta de Amor...

segunda-feira, agosto 10, 2009

A Sudoeste do Paraíso

Eu gosto de lá estar, mas tomo banho todos os dias. Acho piada ao ambiente, mas não fumo ganzas. Aprecio o género, mas almoço de faca e garfo. O Sudoeste é um misto de amo e detesto.
Seria incapaz de me deitar numa daquelas tendas encostadinhas umas às outras, de lavar os dentes no mesmo sítio onde se lavam as panelas, de ver cabelos nos ralos do chuveiro, de tomar banho no canal cheio de gente, de ir para a praia da Zambujeira e não ter espaço para esticar as pernas, de beber até cair, de correr para a primeira fila do palco para ver melhor o concerto dos Faith no More, de vestir aquelas calças que parecem saias e que servem para acumular coisas entre as pernas, de usar um lenço igual ao do Arafat (que Alá o tenha), de calçar as mesmas meias dois dias seguidos, de andar de hawaianas no meio do pó, de dormir encostada a um tipo que não conheço, de gastar 400 euros em três dias de festival, de mentir à minha mãe, de não pentear o cabelo, de usar rastas, de fazer tatuagens, de dormir no chão em plena vila junto ao mar.
Mas eu já tenho 36 anos.
Gosto do espírito que por lá anda, da quantidade de gente feliz, das miúdas de calções para os rapazes repararem e trocarem telefones, das farturas, das pulseiras hippies, da música que faz saltar e bater o pézinho, da tenda vip com coca-cola à borla, do cheiro da cerveja, dos jornalistas em stress na sala de imprensa, da diversidade de classes, da diferença de idades, da música diferente, da noite que só acaba se eu quiser, das pessoas a saltar à corda, dos directos com miúdos aos pulos, da maneira como todos se amam, dos pais que levam os filhos, dos filhos que respeitam os pais, dos namorados no chão aos beijinhos e abraços, das promessas de ligo-te depois, do sotaque do Porto, da quantidade de espanhóis, da música portuguesa, dos palcos alternativos, das reportagens originais.
E ainda só tenho 36.

da rejeição

"Flora regateava sempre a mínima concessão. E a melhor forma de ela conceder fosse o que fosse era eu não manifestar nem o menor interesse. E não tendo eu interesse em receber, já lhe não era a ela difícil dar. Porque o preço de dar está na valia para quem recebe."

Até ao fim. Vergílio Ferreira

de alma e coração cheios [iii]

Há um post por escrever. Há um fim-de-semana para contar. Praia-concertos-praia-concertos-praia. Podia viver assim. Pelo menos durante mais uma semana. Há gargalhadas intermináveis, há a história de uma ganza que não viu um festival, um telemóvel perdido e a amante de Alcobaça. Há um carro sempre cheio, comigo os miúdos vão sempre atrás, há um desfiar de bandas, canções que marcaram e marcam, conversas longas com os pés dentro de água, vodkas com sumo de morango, marés demasiado cheias e praias sem rede de telemóvel. Há uma pedra no sapato durante o concerto dos Faith No More, saltar muito, voltar a ter dezoito anos, mas só na minha cabeça, porque as costas e as pernas, essas lembraram-me que já não vou para nova, há zero7 em versão demasiado electrónica, uma montanha russa e um cão a querer brincar. Há tudo isso e muito sono. Cansaço bom em todos os músculos. Sobrevivi ao Sudoeste. Adormeço de alma e coração cheio.

domingo, agosto 02, 2009

sábado, agosto 01, 2009

um outro eu de mim

"Tinha um dedo imperativo no ar. Arrumei os utensílios e dispus-me a sair. Mas quando justamente ia a sair. Porque a vida é assim. Súbitas resoluções sem cálculo. Como se nós trabalhássemos para um lado e a vida para outro. Subitamente foi assim. Havia uma poderosa força vinda de Flora. E eu deixei-me ir, um outro eu de mim deixei-o. No fundo, seria isso? a instintiva certeza de que outra força a trabalhava também. Mas quando a tomei com determinação - a cara rápida voltada de lado, aproveitei a nuca o pescoço. E foi aí. Ela respirava forte sobre o meu ombro."

Até ao fim, Vergílio Ferreira

sexta-feira, julho 31, 2009

quarta-feira, julho 29, 2009

pernas*


quando for grande quero ter as pernas da charlize, pode ser?

[*ou ando a trocar demasiados 'cromos' com o Miguel]

Visto no El Rastro

post a FB

Carrie acha que a estante dos Clássicos da Fnac é um sítio óptimo para se apaixonar.

terça-feira, julho 28, 2009

as desculpas não se pedem, evitam-se

Oiço-te, engulo em seco e fico com o coração muito pequenino. Perco todas as palavras. Sei que a única que me saí dos lábios, que repito uma e outra vez, de nada serve. Não apagará a omissão. O maior dos pecados entre pessoas que se querem tão bem.

do beijo ou da cegueira

"[...] Devia, antes, concentrar-me na personagem da cantora Kianda, essa mulher tão fácil de amor ("Decifra-me ou devoro-te", promete a Falcato), mas estou outra vez enredado nessas confusas coincidências e, talvez por isso, penso em Walter Lago Bom, no médico de Saramago, em Bartolomeu Falcato e nas muitas formas de alguém contrair cegueira para não ver o mundo tão claramente como via a mulher do médico. Pondero nisto e ocorre-me ainda essa espécie de cegueira que é beijar alguém com os olhos fechados, longamente e sem pressa, como se não houvesse mais mundo lá fora e tudo, afinal, se pudesse resumir a isto. E é bom. É muito boa esta cegueira."

Jorge Marmelo no P2 [sem link directo]

fim

"O que resta é sempre o princípio feliz de alguma coisa."

Dicionário Imperfeito, Agustina Bessa-Luís

domingo, julho 26, 2009

instantes

"Não temais pela minha sinceridade quando falo de mim, se vos disser que o melhor das minhas memórias são instantes e não horas nem dias."

Dicionário imperfeito, Agustina Bessa-Luís

sábado, julho 25, 2009

queimar os últimos raios de sol

queimam-se as últimas horas das verdadeiras férias de verão com direito a batidos de gelado de limão e polpa de morango generosamente regados com cachaça. quando chegar o almoço já estou bêbada. com sorte o suficiente para me embalar na viagem de regresso. pouca-terra-pouca-terra até Lisboa. de manhã houve guerras de água e areia, autênticas lutas de lama entre adultos, porque os petizes não estavam nem ai. ontem saltamos ao eixo na praia e à noite houve direito a passeio até albufeira. o algarve que odeio em todo o seu esplendor. ruas cheias de gente, com licença, desculpe, facilmente albarroada com um dos miúdos pela mão. Bares cheios, onde não cabe nem mais uma formiga, música e karaoke a furar tímpanos, ingleses rosados a ameaçar cancros de pele, de sandália e meia branca. depois o regresso a casa, o silêncio deste algarve que cada ano se faz mais meu, ruas quase vazias e espaço na praia para estender a toalha. volto sem vontade, pelos que ficam, pelo que me espera.

quarta-feira, julho 22, 2009

Procura-se

Grupo de mulheres onde não se fale de crianças

segunda-feira, julho 20, 2009

'cais sete, levantas-te oito'

Queria pegar nas minhas amigas e levá-las para um mundo onde o ‘para sempre’ e ‘final feliz’ sejam as únicas conjugações possíveis para a vida. Queria estar ai para te passar a mão pela cabeça e dizer-te que a tatuagem do outro, que por estes dias transformei num mantra, que repito baixinho quando ninguém está a olhar, faz mais sentido do que pensas. Que a dor vai passar e que o sorriso é a única coisa que te fica realmente bem.

sexta-feira, julho 17, 2009

Vazio

Sem nada para dizer há demasiado tempo. Nada preocupada com isso.

amanhã é outro dia

Quer queiramos quer não, há dias que nos obrigam a parar, a pensar na vida, frase feita e gasta de ser usada e abusada, a fazer contas de cabeça, a escrever cuidadosamente as colunas do deve e do haver, a olhar para trás, medindo a régua e esquadro, o quanto de nós ficou nos dias que já passaram, quanto estamos dispostos a dar daqui para a frente. Que escolhas faremos no caminho. E por mais que se pense, por mais que se tente ordenar ideias, fazer projectos, traçar planos, há dias em que nada faz sentido e quase tudo parece insignificante e fútil. Nesses dias mais vale juntar amigos à volta de uma mesa, [agora, dia, sou eu a depender das bondade de estranhos], dizer disparates e rir por tudo e por nada para esconjurar fantasmas. E depois, se a receita não for suficiente, é descer ao Tejo, encher a alma de maresia, a cabeça com as palavras dos outros, a pele de sol. Deixar-me embalar no jazz que sai das colunas, retribuir o sorriso do empregado de bar mais simpático de Lisboa e esperar que a amanhã seja mesmo outro dia.

sábado, julho 11, 2009

fico

Não fui ao São Carlos, não voltei a enterrar nariz no pescoço do homem do perfume. Mas a noite cumpriu-se. O mau humor a desaparecer na proporção exacta em que se abriu um sorriso. As mesmas ruas de sempre, copo de cerveja na mão, conversa boa, um largo escondido com uma bica, festas alucinadas e uma fuga estratégica — andamos a ficar bons nisto – para os sítios do costume. Por mais voltas que dê não imagino melhor forma de começar as férias. Dancei até que a Janis me mandasse para casa, tive direito a uma sessão de engate, subi a colina devagar. A noite foi promessa de dia, com as gaivotas a sobrevoarem as ruínas. As ruas acordam aos poucos e vai movimentada a cidade quando o céu ainda nem clareou. Ao longe o som de um galo, rouco, deslocado no meio dos prédios. Reordenar memórias. Escutar pedidos. Calar promessas. E voltar para casa, quando já se fez dia, de coração cheio, por entre o esvoaçar descontrolado dos pássaros à volta das árvores de uma colina de Lisboa.

terça-feira, julho 07, 2009

porque ainda há prazeres no caos

Tenho uma verdadeira pancada, mais do que confessada, por homens de calças de ganga e camisa ou t-shirt branca. Há qualquer coisa na imagem que me tira do sério. Talvez a culpa seja do homem que cozinhava para mim numa casa perto da praia, com o sabor do sal na pele muito morena, a fazer sobressair o branco, e os pés descalços no chão da cozinha. Não sei. Sei que hoje fiquei capaz de casar com um dos meus gestores 'xpto'. O homem a levantar-se da mesa do restaurante para me receber, todo sorrisos, o branco da camisa, sem gravata, sobre as calças de ganga e eu a derreter que nem uma tonta, a não conseguir pronunciar uma palavra, ainda por cima em estrangeiro. E o almoço todo, a desfazer-se em simpatias, com o seu very british accent, e eu sem conseguir pensar para fazer uma única pergunta minimamente inteligente, aos risinhos tipo adolescente. No final, sem que eu percebesse porque, foi cada um para seu lado, ele para o aeroporto, eu para o parlamento. Agora estou seriamente a pensar mudar de país.

domingo, julho 05, 2009

hoje era um bom dia

Hoje era um bom dia para fugir. Para fazer a mala, entrar num comboio sem destino definido, sentar-me à janela num compartido de primeira de um qualquer inter-regional, os desconfortáveis bancos de napa, a janela aberta sem os males do ar condicionado, o livro na mão e os olhos perdidos na vida que corre lá fora, a ouvir a conversa da família que sairá antes do fim, que me deixará sozinha com o rio lá fora, com a música que os phones debitam nos meus ouvidos, hoje podia ser Cohen ou então Sérgio, a falar da cidade que amanhece, a música que me há meses me deixa desassossegada. Ou então sentava-me nas escadas do comboio do Tua, as escarpas lá em baixo, a sensação de vertigem, o vento que não deixa respirar, nos phones tocaria Maria Rita, Fiona ou os Zero7, músicas sem o peso de qualquer história. Limpava a alma das mágoas passadas e presentes. Ia para qualquer sítio, numa declarada fuga para a frente, para longe de mim.

sábado, julho 04, 2009


[um bom decote faz mais pela auto-estima de uma mulher do que meses de análise]

sexta-feira, julho 03, 2009

Uma portuguesa nas Bahamas III





Portuguesa nas Bahamas II

Acordo com uma enxaqueca no dia de regresso a casa. Nao faz mal, ainda nem sao nove da manha e vou tomar o pequeno-almoco para ir, depois, dar uma volta pela ilha. Falei com o meu amigo taxista, o do neto, que vai levar-me por ai. Ontem o dia foi passado no hotel, a preparar a entrevista, a esperar pela entrevista, a fazer a entrevista. E uma mulher surpreendente, esta Shakira. Quanto mais falo com ela, mais gosto dela. Ouvi algumas musicas do novo disco e, honestamente, detesto-as! Mas nao sou o publico-tipo desta colombiana pouco mais alta que eu. Porem, dizem que o QI de Shakira e de 140 e eu acredito. Falar com ela e um prazer. E fez um enorme esforco para responder sempre em portugues, aquele que aprendeu em miuda, no Brasil. Ri-se, aplaude as minhas perguntas (!), sorri, fica pensativa, responde com calma e mistura o espanhol quando e preciso. Oferece-me o po compacto que usa no rosto para eu disfarcar os brilhos para a entrevista televisiva. Tenho pudor e nao aceito. Ela e demasiado bonita para eu partilhar maquilhagem. Dirao que sou uma tonta, quase com tendencias lesbicas, com esta Shakira. Nao. E que nao estou habituada a artistas famosos e interessantes, pessoas que nao sao o que aparentam, que sao mais, que tem mais para dar. Fiz-lhe um convite (que nao posso revelar) para a proxima visita a Lisboa. Aceitou. Vais ser uma cacha! Fico satisfeita com os resultados da entrevista e ate lhe peco para tirarmos uma fotografia juntas. Para a posteridade.

De manha passei uma hora na piscina, com as folhas na mao. O sol queima como nenhum outro e a agua estava mais quente que o ar. Garantido. Desisti do ocio para voltar ao ar condicionado do quarto onde pude ler com calma e sem o calor a distrair-me. A tarde fui filmar com o Steve, um free lancer fantastico, de Miami. Nunca foi a Portugal e na Europa so conhece Londres. Mas tem os Estados Unidos na ponta da lingua e invejo-o. E ele a mim. O John, um motorista que, sinto, me roubou 95 dolares por hora e meia de passeio, a procura de bons lugares para filmar, nao percebe nada da ilha. Tambem ele leva a filha no carro. Percebo que as criancas nao tem onde ficar, nas ferias, aqui em Nassau. Andam atras dos pais. Janele tem 6 anos e aos 17 quer ir ao Canada, como lhe prometeram. Nunca ouviu falar da Europa. Tentamos varios pontos de filmagem e sao todos fracos. John pensa que fazer imagens para televisao e como tirar fotografias: uma arvore aqui, uma casa ali... Finalmente encontramos uma praia com bahamianos a nadar. E, num tipico bar, quatro homens jogam domino a dinheiro. Filmamos. Um deles pede-me emprego. Tem os dentes da frente dourados.

As Bahamas tem muito de bom. E muito de mau.

quinta-feira, julho 02, 2009

Portuguesa nas Bahamas I

Bebo um cafe latte enquanto escrevo no lobby do Sheraton de Cable Beach, em Nassau, capital das Bahamas. Percebo que tudo e muito americano, por aqui - a comecar pelo teclado, como se ve - e arrependo-me de nao ter tido mais imaginacao que aquela que me levou a almocar, tardiamente, num Burguer King no centro da cidade. La, onde um gigantesco iate despejava turistas mais endinheirados que eu, aqueles que hao-de encher as lojas das ruas principais de Nassau, neste off shore que sao as Bahamas. Vejo relogios Rolex e Omega sem precos a vista, a espera que lhes perguntem quanto custam, arrisco a pergunta num technomarine para levar para casa e recebo 600 dolares de resposta. Nada feito. E sera dos mais baratos. As casas do city center sao de cores vivas ou adocicadas, amarelos e rosas e violetas clarinhos. Um taxista com o neto dentro da furgoneta leva-me a passear pelas zonas nao turisticas. Explica-me que mais de 75% da populacao e negra, que sao muitas as religioes que aqui operam, e por isso a quantidade inusitada de igrejas. E bares. Sao muitos, a cada esquina um novo bar, daqueles que aparecem no anuncio do Malibu. O velho taxista com a crianca de 4 anos ao lado, sem cinto, espalhada pelos bancos da frente da carrinha envelhecida, de sete lugares, diz-me que na parte mais antiga de Nassau vive a classe pobre. Ve-se que sim. Mas as casas sao desenhadas, pintadas, com banquinhos na soleira da porta como aquele em que se sentou Clint Eastwood em Gran Torino. O cor-de-rosa e a cor oficial das Bahamas, diz-me o meu novo amigo, e prossegue evitando o transito que vem do centro da cidade, que encerra as 17h30 (nao a cidade, em si, mas as lojas) e que traz para a zona de Cable Beach os mais ricos, ja cheios de compras. Sao quatro classes, aqui, continua a contar-me, a baixa, a media, a media-alta e a alta. Mas sao os pobres os que aqui vivem em maior numero. Em contrapartida, fala-me da pequena ilha por onde passamos e dos 22 quartos sobre as aguas limpidas - como nunca tinha visto - obrigados a encerrar depois de um terramoto em 1995. Robert Mugabe dormiu la, e nao percebo se o taxista me fala deste terrifico homem com orgulho ou, simplesmente, sem pudor. Ao lado aponta-me outra ilha. Pertenca de Eddie Murphy. Conhece? O comediante. Digo que sim e surpreendo-me com a riqueza que Hollywood pode gerar. Aqui nas Bahamas vive ainda Sean Connery, conta, e ate ja se naturalizou cidadao da ilha. Saio da carrinha com menos 20 dolares - dados de boa vontade - e um aperto de mao com a promessa de nos voltarmos a ver. Encontrei o guia certo. E o neto, a garantir seguranca. Amanha faco a entrevista aquela que ja quase podia ser minha amiga. E a terceira vez que nos encontramos. Uma hora de conversa, e o que nos espera. E tenho de maquilhar-me, como se valesse de muito. Felizmente estou com a pele bronzeada! Gosto de estar aqui.

estou para aqui a tentar decidir se escrevo sobre as pesquisas que levam uns quantos leitores a sentirem-se enganados no maiscidade - sexo com anões, sexo com a sogra, sexo com a branca de neve, sexo com a irmã, só para falar daquelas que me lembro assim de repente - ou sobre a capacidade que tenho de me lembrar de coisas inúteis na mesma medida em que não me lembro de muitos dos meus colegas de faculdade, já para não falar dos de liceu. e ainda dizem que é o queijo que faz mal à memória.

segunda-feira, junho 29, 2009

da magreza ou post-it [para os outros]

Estou a fazer o jantar e a lembrar-me da conversa do RP que encontrei sexta-feira à noite, por entre o fumo dos grelhadores e o cheiro a febras e a sardinha assada. A bem da verdade, a conversa nem foi comigo, foi com a C., mas para o caso vai dar ao mesmo, porque este post anda aqui a rondar há uns tempos. Dizia ele, a propósito da minha pessoa: ‘Está tão magra.’ Agora, repitam comigo: não se diz a uma mulher que está magra ou muito magra da mesma maneira que se tem o pudor de dizer a qualquer mulher ‘estás tão gorda’, acentuando as sílabas e revirando os olhos para que não restem dúvidas. É uma indelicadeza do mesmo tamanho e igualmente desagradável de ouvir. Há pessoas que são naturalmente magras, sem que isso signifique que estão doentes, que não fazem dietas, que comem o que querem e lhes apetece e não engordam. Ganhar peso é tão ou mais difícil do que o perder. Imagino que isso cause inveja, que por sinal é coisa feia, a muito boa gente, mas seria simpático que fizessem um esforço de não nos chamar esqueletos, da mesma maneira que nós, as magras ou muito magras, não andamos a chamar baleia a muito boa gente. Agradecida. E agora vou jantar.

zen

Estou capaz de casar com o miúdo, muito desinteressante por sinal, que me lava a cabeça de cada vez que vou cortar o cabelo. Mãos de anjo capazes de me fazer esquecer que é segunda-feira e que ainda por cima está a chover.

sábado, junho 27, 2009

Próxima entrevista


Quinta-Feira, nas Bahamas, em português...

Visto na Noruega





quarta-feira, junho 24, 2009

E agora como é que vou viver?

Sem a calçada que se estende até ao Largo, sem os jacarandás floridos em Maio, sem a conversa dos vizinhos a entrar pela janela, sem a música que sobe a calçada nos dias quentes, a mercearia ao fundo da rua, as lojas da rua Garret, as horas de almoço passadas de livro na mão num dos bancos do largo, sem o cheiro a grelhados, a sardinha assada nos dias de verão, sem o quiosque do Largo, as idas constantes à FNAC, sem o sol reflectido nos prédios das traseiras, sem os cigarros partilhados à entrada, sem o bazar para comprar gomas, sem o vizinho das traseiras na varanda em roupa interior, sem os almoços no Fábulas, sem o linguajar dos turistas, rua acima rua abaixo de máquina fotográfica na mão, sem a má disposição do senhor Zé, sem o bitoques do Alcobaça, sem a descida íngreme do Sacramento e os saltos enterrados nas pedras da calçada portuguesa, sem a sombra dos Jacarandás durante todo o Verão, sem os cafés bebidos à porta da Nespresso, sem as esplanadas cheias de gente...

quinta-feira, junho 18, 2009

gostar

[muito] de dias de verão e de mimo. da pele a saber a sal. do calor. da água gelada da costa alentejana. das noites quentes. de livros cheios de areia. de voltar em direcção ao pôr do sol.

Para a Carrie

Amanhã é outro dia e não te vejo. Não me vês. É um dia só teu, que gostas de partilhar com aquele sorriso e as mãos trémulas de cigarro entre os dedos. Afasto o fumo e seguro o olhar no teu. Olhos bem abertos, dúvidas que persistem, incertezas, gostos e outros que não o são, esperança. Não digo nada e tu nada dizes. Recordo o dia em que te desprezei numa redacção alcatifada a cinza e um cheiro a jornal da tarde. Sei que também o fizeste, reprovaste o meu ar de graça, a mania de ser mais que os outros, de brilhar como tu, como eu. E então veio a Amizade. Instalou-se sem lugar marcado e nunca mais largou o sofá. Recostou-se satisfeita por ter chegado até nós. E fica a ver-nos todos os dias, ao longe, como se soubesse que precisaremos uma da outra para sempre.
Parabéns, amiga. É no meu coração que passas o dia de amanhã.

Estou velha p'ra isto

Recebo uma mensagem onde me dizem que às 5h da manhã, em Washington, pensavam em mim. Pedem-me uma explicação para tal, ressalvando o facto de nos termos encontrado 4 dias numa vida que ainda vai a meio mas já conta muitos mais. Não respondo. Já não gosto que se apaixonem por mim. Agora só quero manter o que tenho. Isso basta-me!

segunda-feira, junho 15, 2009

domingo, junho 14, 2009

2009 não existe

devido à falta de comparência de três das pessoas mais importantes da minha vida, acabo de decidir que em 2009 não faço anos. continuarei por isso a ter 34 por mais 370 dias. agradecida

sexta-feira, junho 12, 2009

conceitos

"We're so over... we need a new word for over."

Carrie para o eterno Mr. Big

quinta-feira, junho 11, 2009

espelho

"- Essa mulher não está apaixonada por você – disse, referindo-se a Kianda. – Quando olhamos para um espelho, não é o espelho que vemos. O que vemos é a nossa imagem reflectida nele. Você é como um espelho para essa mulher. Ela nem sequer repara em você, filho, está apaixonada pelo próprio reflexo. Do que ela gosta é do seu deslumbramento, gosta da forma como você a vê."

Barroco Tropical, José Eduardo Agualusa

prazeres de maio

Cumpro mais um item do meu calendário sentimental. Venho com semanas de atraso, mas compensa. O calor convida a banhos de piscina, as cerejeiras ainda estão carregadas, os canteiros cheios de flores, com malmequeres por todo o lado, coroas imperiais e cravos vermelho vivo, a relva fresca acabada de regar. Subo às cerejeiras e como cerejas negras até ficar com os lábios pretos, como até ficar enjoada. Alterno com banhos de piscina. Repito tudo a intervalos regulares.

quarta-feira, junho 10, 2009

terça-feira, junho 09, 2009

Portugal visto do Céu I

Acredito em Deus e que Ele paira sobre as espessas nuvens numa observação atenta ao que cada um de nós sente e ao coração que bate. A 300 pés não subi alto demais, mas estivemos mais próximos. Curiosamente, não pensei n'Ele, ao longo da tarde, e só agora, em fim de dia, assumo que é culpado pelo que me vai acontecendo de bom. Sobre o mal, não sei, não importa. Vi hoje a Costa portuguesa de perto, mas de cima, como numa fotografia aérea permanente, que nos deixa fixados na beleza da Terra e no que nela existe. Natural, ou não, a paisagem portuguesa vista a bordo de um Cessna 172, quatro lugares, asa alta, é deslumbrante. Mesmo entre solavancos que a chuva abanou a partir do Centro do País, mesmo quando nos auscultadores éramos aconselhados a aterrar, mesmo quando um enorme vale se atravessou à nossa frente quando desviámos a rota, na Barragem de Crestuma. Do alto, o País parece mais rico, mais igual. Passar sobre a Quinta da Marinha e por cada casa, uma piscina, faz-nos pensar que ali se vive melhor que junto à Pedreira à beira-mar plantada, num sítio que não recordo. Mas até essa grandiosidade do homem me parece feliz, vista do céu. Aperto o cinto que o comandante diz ter air bag incorporado e olho para baixo sem tirar os olhos das arribas e das praias, das dunas e do mar que bate na rocha. É imensa esta beleza. E vejo os faróis que apontam o porto de abrigo, escuto indicações sobre um Charlie qualquer coisa, passa um F16 às nove horas, sigo uma rota que já é minha. E hoje foi só para abrir o apetite. Nos próximos quatro dias o céu não terá limites.

segunda-feira, junho 08, 2009

é fácil

Estou capaz de me apaixonar por esta cidade, que hoje, por segundos, me transportou para uma outra, no sul do Brasil onde ameaçavam nascer borboletas. É do calor e das ruas largas, é do calor e das árvores frondosas, do mar de gente para cima e para baixo, das esplanadas. É do calor que se cola à pele. A culpa é sempre do calor. Haverá melhor afrodisíaco que as noites quentes de Verão? O termómetro não deve descer dos 30º, não há uma brisa e eu a andar pelas ruas de Chinatown, a comer em pratos de plástico, a ouvir o burburinho constante, o olhar o velho chinês que vende quebra-cabeças feitos de pregos, que nos desafia a tentar, que bate palmas quando resolvo um deles à primeira. Um homem sem idade de sorriso doce. Eu a comer gomos de Jaca comprados na rua e a sonhar com São Tomé. As melhores férias da minha vida. A deixar Chinatown, a voltar às ruas cheias de gente, de carros e mais carros, e o ar irrespirável e eu a sentir-me em casa com o termómetro nos 30º. Eu a fazer quilómetros para voltar a pé para o hotel, de sorriso nos lábios, de gargalhada fácil, porque a vida a esta distância, com tantos fusos horários pelo meio, parece mesmo fácil.

[adenda: ... ou não]

mapa mundo

Estou com a cabeça em três fusos horários diferentes. O meu cérebro não sabe se está na hora do lanche, do pequeno-almoço ou simplesmente no fim de uma noite de sono. Sei onde está o meu corpo. Já é alguma coisa.

a room with a view

[Kuala Lumpur City Centre]

domingo, junho 07, 2009

chegada

A humidade colada à pele, o cheiro que enche a alma, os passos que se fazem lentos em ruas que não foram feitas para andar a pé. A cabeça a dizer que o dia está a começar, mas é a noite e o calor afrodisíaco que me deixam a cabeça e a imaginação a andar a mil. A fazer contas aos fusos horários. Às horas de partida e de chegada. Hoje adormeço do outro lado do mundo com a janela aberta sobre uma paisagem de postal.

sábado, junho 06, 2009

heathrow

Só faltam três horas e meia para o próximo voo. Num aeroporto sem zona de fumadores. Só faltam três horas e meia para um voo de 12 horas. Em económica, sem direito a janela. E eu em frente à porta G. na única zona de fumadores, a gelar no frio de Londres. Vento e céu encoberto a ameaçar chuva Quem vem do calor [tímido] de Lisboa e se prepara para aterrar nos 33 graus [chuvosos] de Kuala Lumpur não está preparada para o frio de Londres.

sexta-feira, junho 05, 2009

Emplastro

Chego a horas ao Centro Cultural Olga Cadaval, numa Sintra iluminada pelo Castelo à volta da Serra e um Palácio no alto que, só quem sabe, o vê amarelo e rosa doce. Sempre foi a minha vila. Ali perto ergui uma casa que nunca cheguei a habitar. Digo sempre que o meu casamento durou menos que a construção do que seria um lar. Lembro-me de tudo isto quando saio do IC19 e sigo o caminho que me levaria à Várzea. Mas fico-me pela vila das queijadas e da Periquita. Vou em trabalho e já se faz noite, num céu azul malhado a vermelho pelo pôr-do-sol. Entro sob autorização superior e deparo-me com mulheres bem vestidas, vestidos de seda, lenços esvoaçantes, sapatos de salto fino e um perfume no ar. São nove da noite mas cheira a amanhecer, no átrio do teatro municipal. Falo com o coreógrafo no meu português impecável, para ouvir castelhano numa resposta simpática e interessante, camisa de punhos largos, enfeitados, colar a deixar-se mirar por debaixo do decote em "V". É um artista. Segue-se a mulher, directora disto e daquilo, penteada nessa mesma tarde num cabeleireiro perto de si, um vestido cor de beringela e um peito saliente. Tem os olhos pintados e fica-lhe bem. É então, quando a puxo para a frente da câmara, que ele surge, nariz avermelhado, bochechas salientes, papo debaixo do queixo, fato igual a tantos outros e uma insígnia de vereador. Cola-se à mulher como um emplastro e espera que fale com ele como falarei com ela. Digo que não, que se separem, que prefiro assim. Pergunto-me porque quer aquele homem ser interrogado por mim se nada tenho para lhe perguntar, se sei que nada tem para me dizer. Estrago a memória a recordar o nome escutado enquanto senti aquele beijo molhado e interesseiro, o sorriso matreiro e o comentário "assim só se estraga uma parte do filme". Tem razão, mas não quero, ainda assim, dar-lhe essa oportunidade. Ela fala comigo e ele fica paralelo, pondo-se a par, a escutá-la, sem aparecer porque peço para não ficar na mira da objectiva. O poder político envolve-o e com ele os convivas que querem os tais beijos molhados e apertos de mão de conveniência. A minha entrevista termina na hora certa e toca o bombo, pancadinhas que só se tocam nas costas do vereador. Fujo para a sala que já escureceu e ocupo um lugar no topo. O Ballet Nacional de Espanha é fabuloso.

quinta-feira, junho 04, 2009

Penso nisto

Sinto que o tempo passa. Encontro pequenos apontamentos do ano passado, um bilhete de avião que é de Novembro e cujas milhas ainda não reclamei, um presente de aniversário que tem de ser gozado até Agosto. Acordo todas as manhãs sem ir ao ginásio que pago desde Janeiro. Prometi não falhar. Falhei. Disse ao recepcionista que não gostava de fazer ginástica, do ambiente dos ginásios, das aborrecidas mudanças de roupa... mas quem falha um compromisso que fica à porta de casa por quase 50 euros? Acordo e penso que é hoje que vou desistir, que vou rescindir, que deixo de pagar a mensalidade inútil. Desisto da ideia que me obrigaria a percorrer 200 metros. Corro para a garagem onde o carro sujo me espera. Penso que tenho de mandar lavá-lo, precisa de uma aspiração, as árvores do estacionamento diário deixam-no manchado e sem cor. E os pássaros. Não encontro o rapaz das lavagens e entro para mais um dia de loucos. Poupo 14 moedas e imagino um azul sem brilho, or mais uns dias. Nem sempre almoço. O telefone toca de minuto a minuto, ora fixo, ora móvel. E se saio em reportagem olho sempre para o relógio. Reparo, anoto, faço perguntas. Nem tive tempo para preparar o trabalho que me dá gozo. Regresso e conto os minutos para tudo o que ainda me falta fazer. Não telefono aos amigos, nem à família, não marco o dentista, os exames que me foram recomendados em Janeiro, falho por dois meses a segunda toma de uma vacina de 150 euros a dose. Não telefono ao banco para baixar o seguro automóvel, nem consigo lembrar-me de anular uma conta e dois cartões que continuam a ter anuidades exorbitantes. E não são usados. Passo tudo isso ao lado e prossigo na tarde até que seja demais. Quando finalmente faço logout corro para casa ansiosa por um sofá e jantar. Aqueço a sopa feita pela empregada à segunda-feira, o empadão que hei-de comer toda a semana, levo o tabuleiro comigo e divago em frente à televisão. Deixo uma nota no facebook e raramente respondo às interpelações. As redes sociais não me tornam mais humana. Vejo duas, três, quatro séries de seguida enquanto mastigo macias fatias de pão de ló. Penso nas calorias. Disfarço com um copo de leite e olho para o relógio enquanto espero um beijo de boa noite ao telefone. Podia ler, mas não consigo virar a página da minha vida. O meu dia acaba enroscada na cama, absorvida pelos pensamentos de tudo o que ficou por fazer. Felizmente tive breves minutos com a minha mãe. Agradeço por isso à rede móvel, que às vezes não interrompe chamadas. Não dispenso esses momentos carinhosos, de cuidado. Sei que a avó já dorme. Respiro fundo. Por vezes faço uma breve oração como que querendo convencer-me que acreditar continua a ser fácil. O sono tarda. Faço planos e imagino que tudo será diferente no dia seguinte, dedico-me a elencar o que me obrigarei a fazer, elaboro jogos para adormecer, alguns inventados na hora, como o que me desafia a escrever, mentalmente, nomes de capitais de A a Z. A minha mente corre e percorre Atenas, Brasília, Bruxelas, Genebra e Santiago do Chile. Muitas são-me desconhecidas mas gosto de imaginá-las. O jogo pretende adormecer-me mas desperta a minha atenção. Dedico-me então aos países, da Áustria à Bulgária, do Paquistão ao Zaire. Desisto de jogar contra mim própria e contra a minha vontade e admito que tenho sono, que devo dormir, repousar. Procuro aconchego na almofada que me ampara a alma mas, por estes dias, não tenho abraços nem conversas de ouvido. Cansada, perco-me na noite e sonho. Sonho até à manhã que me vê acordar de olheiras e memórias vivas de noites atribuladas. Porque a paz não está agora comigo.

quarta-feira, junho 03, 2009

estados d'alma

eu costumava gostar de Junho.

Paris