sexta-feira, março 27, 2009

acho que alugo aqui uma mesa

Regresso à melhor esplanada de Lisboa. O texto deixado a meio pelas 3 da manhã está finalmente completo, metido num email e remetido ao destino. Demasiado longo, mas ao fim de tanto tempo continua a faltar-me poder de síntese. Arrumo apontamentos, vou acompanhando, num sussurro, a voz da Maria Rita que sai das colunas. Ao fim de dois dias e meio sinto-me finalmente de férias. Espreguiço-me, numa manifestação despudorada de contentamento. Pouco falta para começar a ronronar. O próximo passo é pedir ao Francisco, que me liga o portátil à corrente, e vai passando a perguntar se está tudo bem, se posso alugar esta mesa, mesmo de frente para o Tejo. Assim trocava facilmente o Chiado.

quinta-feira, março 26, 2009

há vidas piores ii


Ainda por cima com este homem mesmo aqui ao lado...

[em versão não há condições]

há vidas piores

O rio corre vagaroso do meu lado direito. Das colunas sai o som de jazz característico das tardes passadas na melhor esplanada de Lisboa. Eu devia estar a trabalhar, mesmo que não me passe pela cabeça deixar este meu lugar ao sol. 4000 caracteres prometidos em dias que se querem de férias. Mas não tenho sorte nenhuma, ninguém me atende o telefone. As palavras, as que deviam ficar agora escritas na folha [quase] em branco não dão sinais de vida. Penso no Vian que deixei no carro para não ceder a tentações. Resta-me descansar a vista e a cabeça.

Pequeninos

Descobri recentemente, na TV Cabo, dois canais surpreendentes: o MVM TV e o RTV. Para quem pensava que o Porto Canal é hilariante, passe, por favor, nos canais 201 e 79. E a depressão vai-se embora. Sem comprimidos e terapias caras. Estou a falar de dois canais regionais que, como quase tudo o que é regional, são pequeninos. Não por terem meios escassos, cenários que são comprados no IKEA, espaços que parecem um TO no Bairro Alto (sem vista), iluminação precária no estúdio(?). São pequeninos porque estão repletos de clichés, apresentadores miseráveis, programas que querem ser ousados mas que se tornam ridículos, miúdas que saíram da escola e ainda nem sabem ler, quanto mais falar para uma câmara. Estou a exagerar? Assisti hoje a um programa - não me lembro como se chama - onde o entrevistado era Mário Dorminsky, o homem do Fantasporto. Talvez por estar agora envolvido na política, ao que parece na Câmara de Gaia, Dorminsky aceitou o convite da televisão local e foi entevistado, num frente-a-frente de nos atirarmos para o chão a rir. Perguntas: "Que amigo escolheria para salvar o Soldado Ryan?"; "Que mulheres escreveu no seu diário?" (numa referência patética aos filmes de Bridget Jones); "Quem escolheria para dançar consigo em Dirty Dancing?"... e assim sucessivamente, perguntas pessoais com a muleta dos filmes mais óbvios do mercado, onde não faltou a pergunta "Qual o seu Instinto Fatal". E Dosminsky respondia, animado, babado com a apresentadora - que, pelo que percebi na ficha técnica é também directora de Informação (!). Uma vez que estive a fazer zapping entre os dois canais, agora da minha preferência, não sei que programa vi em que canal. Porque ontem assisti a uma entrevista maravilhosa, feita por uma tal Sílvia, a um convidado surreal, dono ou director de uma revista que dá pelo nome de Noite.pt. E o apresentador, que iniciava todas as respostas por "Sílvia", era tão cretino como a apresentadora, incapaz de uma pergunta com sentido, de uma questão que valesse a pena.

Numa altura em que a ERC não permite um 5º canal (e acho bem) não se percebe como há espaço e antena para estes canais miserabilistas e miseráveis, com problemas técnicos que davam para parar um comboio durante um ano, e aspirantes a qualquer coisa que a imagem traz à vida das pessoas e que eu não consigo compreender. Aparecer no ecrã é tão importante que justifique esta vergonha? Quem investe nestes canais e permite que tão fraca qualidade vã para o ar? Quem vê estes programas fá-lo por razões de proximidade? (são os parentes das apresentadoras)... Enfim... perguntas sem resposta. A não ser, e se calhar só isso já chega, que estes canais tenham nascido para nos fazer rir. Se assim é, obrigada. Eu rio-me um pouco todas as noites, antes de passar o televisor para o modo DVD, e beber uma chávena de leite a ver mais um episódio de Sherlock Holmes.

domingo, março 22, 2009

lista de compras

Gelado de limão, cachaça e vodka.

sexta-feira, março 20, 2009

primavera

Há demasiadas borboletas e joaninhas à minha volta para conseguir pensar ou escrever. Ando distraída com as cores.

quarta-feira, março 18, 2009

Em estágio

Sem querer parafrasear os meus pais, ou tantas outras pessoas com mais (ou muito mais) de 30 anos, tenho que dizer que "no meu tempo, é que era"... No meu tempo, ser estagiário era estar interessado, empenhado, era gostar e lutar, era fazer, era aceitar, era tentar. Nunca, durante o meu estágio (não remunerado, durante 7 meses, arranjado por mim e não pela minha Universidade que se estava borrifando para pessoas como eu, mesmo sendo estatal) me lembro de ter dito "eu sei", "sim, sim", "pois claro". Nunca. Durante o meu estágio, e conhecendo já bem a redacção onde estava a fazê-lo (já lá tinha trabalhado durante três anos numa função diferente, é uma longa história...) bebia cada palavra dos meus editores e chefes. Lia com atenção os textos dos outros, procurava erros nos meus e aceitava as críticas sem uma qualquer desculpa esfarrapada. Sei que muitos, anteriores a mim, viram folhas rasgadas, lápis partidos, reportagens acabadinhas de escrever deitadas ao lixo. Já não havia disso, quando cheguei ao jornalismo, já lá vão 15 anos. Felizmente. Os estagiários já não eram tratados como lixo, ignorantes e incapazes. Mas havia respeito, noção, bom senso. Por parte da maior parte de nós, estagiários.

Hoje, não. Hoje, saem já sabichões das Universidades, quase sempre a Católica, muitas vezes a Nova ou a UBI. Tanto faz. Perguntam primeiro se podem ler para o microfone, dar a voz na televisão, mostrar a cara lá para casa. E só depois se lembram (lembrarão?) que ainda nem sabem fazer uma pergunta, que não conseguem escrever uma linha, que têm voz de copo de leite e imagem de quem agora nasceu. E não assumem nada disto. Ser estagiário hoje - salvo honrosas excepções - é ter a certeza de que se sabe mais do que é suposto saber-se. Um estagiário de jornalismo não lê uma página de jornal, mas sente que escreveria qualquer artigo em menos de um "ai". Não vê noticiários em nenhum canal, não questiona, mal sabe que em Espanha há um Rei e que por cá já se vê a República desde 1910, mas acredita que já merece um ordenado jeitoso, mais de mil euros, para começar, porque é preciso dinheiro para os copos e para roupinha nova, talvez um maço de tabaco por dia e duas bicas, pelo menos. Ser estagiário, hoje, é ter uma cara laroca e usar decotes generosos para chamar a atenção. É enturmar-se nas festas e tirar fotografias com os mais velhos. É sair cedo, chegar tarde, não acompanhar um trabalho até ao fim. É trocar a redacção por uma festa ou um jantar de um amigo. É não trabalhar ao fim-de-semana nem ao ensolarado feriado. É chegar a casa e dizer à mãe e ao pai "se calhar não é bem isto que eu quero" (agora que já gastaram uma fortuna em propinas), é não fazer mais do que aquilo que lhes é pedido... mesmo que nas entrelinhas haja oportunidades para agarrar.

Fazer um estágio é um exercício de aprendizagem. Partir para tal com a noção de tudo se saber, é a mais errada opção de que consigo lembrar-me.

sofrimento em formato mensal [vi]

Bem ou mal hoje pareceu-me uma brincadeira de crianças...

terça-feira, março 17, 2009

Confirma-se: é o Mestre

Não sou de chorar. Mas emociona-me esta música do filme Gran Torino, cantada pelo próprio Clint Eastwood com Jamie Cullum. Tem de ser ouvida em silêncio, com a alma posta em Paz e o coração em sossego...

segunda-feira, março 16, 2009

Os Produtores


Ossos do ofício, primeiro. Pura diversão, depois. Por duas vezes vi esta versão portuguesa de "Os Produtores", o mais famoso e premiado musical de sempre. Quando entrevistei Mel Brooks - o autor da obra de 1968, primeiro em filme - em L.A., mostrei-lhe o cartaz do elenco português e ele deliciou-se com Rita Pereira. É, sem dúvida, uma mulher escultural. E ele fixou-se nela. Mas a minha chamada de atenção vai para Miguel Dias e Manuel Marques. Miguel tem um voz muito bonita, forte e capaz de encher uma sala (por agora, a do Tivoli, em Lisboa), é bonacheirão q.b. e tem o timing certo para as questões de humor. Manuel Marques é o lingrinhas. E faz o papel na perfeição. E não se pense que é apenas porque o actor é pequenino e magro, como se espera da personagem Leopold Bloom. Não! Manuel, que vimos sempre com Herman José e agora muito bem, na série "Os Contemporâneos", é expressivo, engraçado, canta o suficiente para a interpretação. Pode não ser a Broadway, aqui em Lisboa, mas parece-me que este musical está muito acima daqueles que Lisboa tem e que são todos encenados por Filipe La Féria. A peça é talvez grande demais, mas isso já vem de origem. E os cenários precisam de uns arranjos, pois já andam a rodar desde a estreia, em Portimão. De saudar ainda a interpretação de Pedro Pernas. Nunca tinha ouvido falar nele, mas dizem que fazia anúncios de telemóveis, daqueles engraçados, que estão na moda. Pois no palco sai-se muito bem, tem voz firme e boa presença. Se fecharmos os olhos, nos momentos em que a orquestra ataca os instrumentos, até parece um espectáculo a sério. Para deixarmos de pensar que só "lá fora" é que se fazem coisas boas...

Bosch


Fiquei ali, a olhar para ele.
E depois parei na cafetaria para uma meia de leite.

*Tentação de Santo Antão, no Museu Nacional de Arte Antiga, Lisboa

domingo, março 15, 2009

...

"mas o problema não é só aprender
é saber a partir daí que fazer"

sábado, março 14, 2009

estados d'alma

Os efeitos terapêuticos de uma boa noite de dança são frequentemente menosprezados.

sexta-feira, março 13, 2009

vou andar por aí



Este fim-de-semana vou andar por aí, com uma igual a esta na mão, a fazer os TPC. A fotografar sem rede, sem segunda oportunidade.

Cinco sentidos

Por estes dias a Serra está pintada de todas as cores, o branco das amendoeiras, o rosa das magnólias, o amarelo das Primaveras. Cheira a relva acabada de cortar, cheira a flores e pólen, cheira à promessa de verão. Os pés descalços na relva, as mãos na água gelada da piscina, o calor do sol na pele. Sabem a pouco as últimas tangerinas apanhadas da árvore, sonha-se com o sabor das cerejas. Na serra ouvem-se as abelhas em voo picado, os pássaros e o riso dos miúdos. E fica-se com vontade de não partir.

quinta-feira, março 12, 2009

medo

Na 2: passa '6 Billion Others'. Pessoas de todos os países, culturas, credos, raças, falam do seu maior medo. A fome. A morte. Ataques terroristas. O outro. A seca. A noite. As guerras. A maldade da humanidade. O medo em si. E o teu qual é?

segunda-feira, março 09, 2009

Rio - A Praia

Praia, 40º. A areia queima os pés e não são umas Hawaianas novinhas em folha que me vão salvar a pele. Duas cadeiras e um guarda-sol ferrugento alugam-se por tuta e meia. Pedimos água de coco e como melancia fresca, à dentada. O monte dos "Dois Irmãos" ergue-se lá para trás, quase a chegar ao Morro do Vidigal, uma das favelas maiores do Rio de Janeiro. O sol vai para lá, pôr-se, ao final de cada dia deste quente mês de Fevereiro.


Vende-se de tudo, por aqui. Passam homens e mulheres de corpo quente e bronzeado, muitos páram para tomar um banho no intervalo das vendas, regressam ao grito, à chamada de atenção. E vendem o mate e a linomada, os cremes para quem quer cor, a sanduiche no pão árab(i). Cantam. Calcorreiam a praia de Copacabana ao Leblon. Vendem barato: uma nota de dois reais serve para um cartuchinho de amendoíns com sal. Com 5 reais já se compra um lanche fresco, e bebe-se.


Famosas são as bundas. Brasileiras. Redondas e de calcinha pequena. Bochechas para fora, fio dental para dentro. E regalam-se os olhos dos cariocas. Mas, sobretudo, dos turistas, quase todos europeus - alguns americanos - homens branquinhos de países sem sol.

quinta-feira, março 05, 2009

Mega saldos

quarta-feira, março 04, 2009

Berlin

Vi Berlim pelo vidro de uma minivan. Ao longe o Bundestag, mais de perto as portas de Brandemburgo, o resto são imagens difusas de uma cidade limpa e organizada. Conheci três hotéis, duas salas de conferências e um centro comercial. Vi Berlim através de um vidro, a respirar com dificuldade, com ar condicionado a 40º graus. Mas vi por dentro um centro comercial, com café português de péssima qualidade e uma casa de fados improvisada. Enregelei à porta de um hotel à conversa com um ministro, o cigarro apertado entre os dedos para as mãos não tremerem, o sorriso forçado para não baterem os dentes. Não vi Berlim, a verdade é essa. Resta-me a Friedrichstrasse palmilhada já de noite à procura de sítio para jantar. A ponte sobre o Spree. Restam-me os jantares [um italiano e um vietnamita, com as salsichas prometidas para Munique], de copo de vinho na mão, boa conversa e gargalhadas. Resta-me o caminho entre o hotel e a porta da Brandemburgo e uma noite de [mau] fado. Resta-me o saxofone a aquecer a noite da Pariser Platz. Há uma fotografia da porta de Brandemburgo, a quadriga de frente, virada para leste. A prova que estive aqui. Passei os últimos dois dias na antiga RDA e a verdade é que nem dei por isso.

segunda-feira, março 02, 2009

A room with a view

[Friedrichstrasse, Berlin]

Fui

Chove em Berlim.