quinta-feira, janeiro 29, 2009

A menina da franja

Perdi o medo da franja. Nem sinal de Beatriz Costa e alguns elogios convenceram-me de que fiz bem. Arriscar e mudar: verbos a utilizar com frequência em 2009.

quarta-feira, janeiro 28, 2009

A farm in Africa

A minha amiga não pára de se referir à frase de Karen Blixen, que Meryl Streep passou ao ecrã, em África Minha: "I have a farm in Africa". Hoje mandou-me um primeiro e-mail, de Joanesburgo. Feliz da vida, escrita leve, letra animada. Dá gosto. Foi atrás do amor e de uma aventura. Coisas que já tinha por cá, garantidas, mas quis continuar. Gosto de pessoas que arriscam. Apesar de, confesso, não estar certa de que poderia fazer o mesmo. Em tempos, numa realidade semelhante, disse "nem pensar". E penso agora se não terá sido um erro, não ter pensado no assunto de outra forma. A minha amiga está verdadeiramente realizada: uma casa, uma creche para a criança, um jardim, um bairro simpático... e um alarme ligado a uma empresa de segurança. Mas não podemos também morrer a atravessar a estrada? Porque não? Porque havemos de ter sempre medo? A coragem move montanhas... e não só a fé.

Serei constituída arguida?

Fui ao Freeport e comprei um vestido maravilhoso, na Adolfo Dominguez, por... 19 euros!

terça-feira, janeiro 27, 2009

A folga

Almoço com vista para o Rio. Tarde numa casa de chá de nome singelo: "O Chá", em Alvalade, junta meninas todas iguais e tias com mais de 70 anos. Numa zona onde haverá, por certo, mais cabeleireiros que mercearias, um espaço dividido em dois, com o primeiro andar para os scones e para as variedades da infusão. No andar de baixo caixas e bules, malas e móveis chineses, a preços até convidativos. Bom ambiente, loiça singular, espaço reservado, empregados competentes. Eu saboreei o chá mistério.

e chorar é sinal de fraqueza?

segunda-feira, janeiro 26, 2009

Avozinha

Fim-de-semana acompanhada. Avósitting. Só existe em Portugal, e eu faço-o. Além das provas de amor, das declarações repetidas, fica a história dos tempos em que vestia um avental branco na Rua Morais Soares. Era a criada do menino. Criada, e não empregada, nem senhora, nem mulher-a-dias. Há 80 anos era-se criada. Sem vergonha.

Sábado volto a recebê-la. Para lhe dar banho e passar-lhe as mãos molhadas pelo cabelo branco. Para vesti-la, quando já não chega lá. Para lhe servir o descafeínado que tão bem lhe sabe. E mesmo que a noite seja dividida em 10, mesmo que os olhos estejam em permanente alerta, mesmo que o sono nunca durma comigo... mesmo que a manhã me traga dores de cabeça, vale a pena ficar com ela.

sábado, janeiro 24, 2009

Freeport

E ninguém fala dos saldos maravilhosos? Do estacionamento gratuito? Da saia que comprei a 10 euros na Purification Garcia. E nos casacos da Adolfo Dominguez? Disso ninguém fala, não é?

sexta-feira, janeiro 23, 2009

Novela da noite

É raro ter a televisão ligada nos canais generalistas, por esta hora. Mas aconteceu. Na SIC a novela brasileira; na TVI, mais uma portuguesa. Eu não vejo telenovelas desde os tempos da "Dona Xepa". Detesto-as. A todas. Não posso deixar de ficar uns minutos a ver a emissão nacional. Vejo quatro actores, em cerca de 5 minutos. Todos muito maus. Penso no share de mais de 40% que têm as novelas portuguesas. Questiono-me como. Maus argumentos, cenários sofríveis, planos sem raccord, actores com péssima dicção. E no Brasil, uma realidade que não nos pertence. Mudo de canal. Ainda bem que pago TV Cabo todos os meses!

My left foot

Comprei umas botas a 29.90 euros nos saldos. Cheguei a casa e quis calçá-las, dois dias depois. Tiro do saco uma, depois a outra. Ambas para o pé direito. Resultado do preço? Ou da incompetência da empregada da loja do Centro Comercial?

Dias na Invicta











terça-feira, janeiro 20, 2009

Aluga-se

Respirei da alívio quando finalmente pude subir à avenida sem me sentir violada pelas bolas gigantescas que, com o patrocínio de uma marca de telemóveis, transformaram o Marquês, num recinto de feira. Ou quando deixei de ver a bandeira norte-americana plasmada na árvore de natal no topo do Parque Eduardo VII, patrocinado por outra empresa qualquer. Durou pouco a ausência de poluição visual. Hoje, e presumo que durante o resto da semana, o Marquês está de novo alugado. O Marquês, os Restauradores, o Saldanha. Só para falar das praças que vi. Pergunto-me se o António Costa também aluga o seu gabinete ou o jardim lá de casa.

segunda-feira, janeiro 19, 2009

Para a Samantha

E não só.

Na edição de Fevereiro da Vanity Fair, que faz capa com a Cate Blanchett, o questionário de Proust, que encerra a revista, é respondido pelo Dustin Hoffman.

À pergunta: "Which living person do you most admire?"
Ele responde: "The portuguese director Manoel de Oliveira, who is 100 years old and still working."

Dia Obama


É já amanhã. Eis-nos à espera da mudança.

domingo, janeiro 18, 2009

Artes plásticas

Estavamos em Barcelona, faz agora um ano, quando olhei para elas com invejas dos tantos cabelos brancos, visíveis já em mim, mas ali ausentes. Nesse fim de semana descobri que era a única que não os pintava.
Um ano depois, olho-me num espelho portuense e pergunto-me o porquê da vida me estar a brindado com uma cara tão cansada e pouco luzidia. Partilho o desabafo. Lição 2: era a única que não me maquilhava. Volto então para Lisboa com uma super-blendale perfecting foundation, um pressed powder e um poudre eclat couleur na mala.
Mais uns fins de semana fora e se isto continua assim ainda descubro como regressar a casa com 1,80 me as medidas todas no sítio. Compro uma bimby e meto-me lá dentro?

Atoalhados

Quatro mulheres dentro de um carro, seguem viagem para o Porto. Percorrem o caminho em conversa animada, paragens para cigarros e meias-de-leite. Também cafés. Quatro mulheres acima dos 30, quase todas a dobrar a idade mágica que aproxima os 40. Angustiam-se, por isso. Mas riem. Nos planos, uma ida ao teatro, um actor atraente, uma peça de Shakespeare. E ainda um Museu, o último dia de uma exposição, figuras inanimadas que movem os lábios e pensam. Um hotel barato e camas de casal. Dormem duas a duas, as quatro. Entram numa farmácia e divertem-se com o anel vibratório da Durex. Mas acabam por comprar comprimidos para as dores de cabeça, para a tosse, para a dor ceática. O anel fica lá. Quatro mulheres chegam ao Porto e páram nas lojas de acolchoados. Fogem, quando dão conta que podem comprar, ali, um lençol de flanela ou uma toalha de linho. As quatro mulheres deste blog podem estar a ficar velhas, mas não são completamente loucas. Esta noite dormirão nas camas de sempre, duas sós, duas acompanhadas. Ou não. Esta noite dormirão a pensar que, a anterior, foi bem mais divertida. E sorriem quando recordam a conversa sobre sexo. E sobre Brecht. Cabe de tudo numa viagem ao Porto, mesmo que a invicta nos receba de chuva na ponta dos dedos. Cabe tudo. Até esta amizade que temos.

sexta-feira, janeiro 16, 2009

Imagem do Dia


A vida a correr (ou é o amor senhores)

Já lá vão 15 anos. E aguardo com imenso prazer os 15 que seguem.

quarta-feira, janeiro 14, 2009

Choque religioso

Eu não casaria com um muçulmano.

novos vícios [ii]

Ou mais uma boa razão para gostar do Chiado. Aqui

da possibilidade de trocar de emprego

Aos poucos devolvem-me este canto da cidade que sinto como meu. Esvaziam-se as ruas. Arranja-se lugar para almoçar. Acabam-se as filas intermináveis. Os encontrões, as pessoas cheias de pressas, carregadas de sacos, que atropelam qualquer ser que tenha o azar de lhes atravessar o caminho. Aos poucos volta-se a respirar no Chiado. O Largo está mais vazio, até os turistas partiram em debandada, talvez por se sentirem se enganados na ausência do alegado clima temperado. Há apenas as pessoas do costume, são quase como se fossem da família, a vida de todos os dias que sempre parece mais fácil por baixo daqueles jacarandás imensos. E ao canto, o quiosque fechado há tantos dias. Hoje passei-lhe em frente, convencida que tinha fechado de vez. Nas janelas uma folha A4, escrita com cuidado a desejar boas festas e a avisar que está fechado para férias. Parece que começaram a 23 de Dezembro e acabam a 18 de Fevereiro. A mim parecem-me umas excelentes férias. E estava capaz de trocar de emprego.

terça-feira, janeiro 13, 2009

Câmara Oculta

Questiono-me porque pode uma jornalista de desporto ser candidata a Presidente de Câmara? E porque pode um ex-Inspector da PJ, alegadamente "especialista em Maddie" ser, também, candidato a Presidente de Câmara? E ainda: porque pode um ex-jornalista, comentador em programas para idosos e donas-de-casa, ser candidato a uma Câmara Municipal?
Haverá uma verdade oculta, nas Câmaras do nosso País?
Ou serão tão maus, os políticos, que qualquer dia tiramos cursos de medicina se queremos ser Presidentes da República?

segunda-feira, janeiro 12, 2009

Primavera de papel

Pode dizer-se muito da futilidade das revistas femininas, mas não há dúvida que elas cumprem algumas funções não discipiendas em determinadas alturas do ano. Uma delas é, indubitavelmente, quando o frio ataca. Atacar é mesmo o termo porque vivo num país que não está preparado para estas incursões de vento polar. A Estónia pareceu-me muito mais acolhedora nesta altura do ano, apesar do meu ar de boneco da Michelin quando saía com o meu casaco comprido de penas. Era passar a soleira de qualquer porta e o calor entrava pelas narinas, afagava a pele e envolvia-me no seu carinho. Por aqui parece que as paredes andam em despique com o congelador. A lareira é um sorvedouro de lenha que faz desaparecer um cesto de toros num ai e o aquecedeor deixa apenas um pequeno halo com dez centímetros de diâmetro.
Por isso, voltando às revistas femininas, nada como folhear aquelas páginas da edição de Fevereiro (estão sempre um mês adiantadas em relação à ida para as bancas) cheias de vestidos floridos de algodão, sandálias de cores citrinas e maquilhagem pastel. As sugestões de férias mostram já os spas mais em voga e os típicos questionários falam em renovação espiritual e como começar a perder os quilinhos para o biquini que - não tarda nada - teremos de enfiar.
Lá fora o sol é só de brincadeirinha e no armário nem sinal de linho, algodão, seda ou tule, mas nas págimas das revistas já é Primavera, ainda que de papel. Bem hajam!

pergunto-me se serei o único português vivo que não suporta o Cristiano Ronaldo.

Post-it

Quando te "sussurram" ao ouvido ‘estamos a ir para aí’ deves ficar perfeitamente imóvel com um sorriso à espera para dizer ‘bom dia’ e nunca, mas nunca, nunca, resolver fazer qualquer gesto com as mãos à frente da cara. Estamos entendidas?

sexta-feira, janeiro 09, 2009

O dia depois

Já não tenho idade para noitadas. Uma festa até às 5 da manhã - mesmo sem uma única gota de alcool - dá cabo de mim. Dores nas costas, sono, dores de cabeça. E a terrível sensação de que não vou recuperar até Março. E as estágiárias que ficaram depois de eu sair, andam aqui frescas que nem alfaces... Outros tempos!

quinta-feira, janeiro 08, 2009

maldita terapia

Pois a história é esta: vai Janeiro já a dia 8 - com cinco dias úteis de trabalho - e estou a ser aparentemente bem sucedida na minha missão de ano novo sem stress no trabalho. Há quem não acredite muito e passe por mim todos os dias para aferir qual a temperatura do meu temperamento. Quem olhe para mim e faça uhhhhhhhhmmmmmm em tom de mugido meditativo. Então, continuas zen? - perguntam-me. E eu, nesta minha auto-induzida-e-não-medicamentada-condição, esclareça-se!, respondo que sim. Mas ainda nem passou uma semana e já sinto que esta calma está a dar cabo de mim. Acho que não sirvo para zen.

desejos

Os títulos dos jornais falam de frio polar, as câmaras lembram-se dos sem-abrigo, na rádio dizem que se morre mais de frio do que de calor e o meu carro avisa-me, quando o ligo, que há risco de gelo e o computador de bordo pisca incessantemente nos 3º. Penso por minutos que estou algures na Sibéria para descobrir rapidamente que afinal o trânsito é o mesmo de todos os dias. Não há ursos polares ou icebergs nas redondezas, mas os meus dedos, brancos como cal, ameaçam cair ao primeiro toque mais violento e os pés estão transformados em blocos de gelo. Quero palmeiras, água de coco, havaianas, esplanadas, vestidos curtos, biquínis, mar azul e temperaturas acima dos 30º. Tudo isto 355 dias por ano. Será pedir muito?

8 anos

E 24 horas por dia de notícias.
Continuo a gostar de cá estar.

Caminho junto ao mar

"A vida é o que acontece enquanto recordamos o passado e projectamos o futuro". (Acho que foi um Beatle que disse isto. Um dos que já morreram).

Faz frio, mas o sol espreita e dá algum brilho ao mar encrespado. No caminho acimentado que o ladeia, desfila um cortejo variado. Alguns diálogos, poucos risos, muitos olhares perdidos. Um casal de meia-idade, de polar e cachecol, ombro com ombro, sem palavra. Um colosso de músculo, de óculos espelhados e camisa de cavas a transpirar as estopinhas. As crianças almofadadas nos joelhos, nos cotovelos, na cabeça, em tons rosa choque ou cinzento, empoleiradas na bicicleta, nos patins, no skate e outros meios de locomoção com pequenas rodas. As amigas pós-aborrecentes de umbigo à mostra e mp3 que falam alto. O velhote de boina, meias brancas e blaser de xadrez que sorri às senhoras de xaile e cabelos brancos. Os namorados de longa data, os de primeiras descobertas e os outros. E ainda os que não passam mas ficam, encostados às canas que vasculham o mar. E os outros que não ficam mas passam, encavalitados nas ondas que desfazem com uma tábua lustrosa. E os representantes do reino animal: os cães em terra e as gaivotas no mar.
Eles e eu, neste início de ano, a recordar o passado. Ou a projectar o futuro. Antes que comece o presente. Quando a vida acontece.

2009 IV

Em 2009 vou manter o peso, depois dos cinco quilos que perdi. Vou ao ginásio três vezes por semana e fazer caminhadas outras duas. Vou comer menos doces e beber mais água. Vai ser o ano de arrumar o escritório, deitando fora milhares de páginas de papel amarelecido. Vou escrever sinopses de documentários e começar a filmar pelo menos um deles. Vou passar da 20ª linha da história que comecei a escrever. Vou estudar francês e espanhol e pensar numa pós-degradação ou amestrado. Vou conhecer pessoas novas e vou ver mais as pessoas que já conheço. Vou ser mais poupada. Vou tentar ganhar mais dinheiro. Vou continuar a ir a espectáculos e a fazer shiatsu. Seria bom poder ir a mais spas e viajar até ao Oriente. Talvez voltar a Nova Iorque. Vou brincar com os meus sobrinhos, treinando para os meus filhos. Vou amar mais. Vou escrever mais nesta cidade virtual. Será?

terça-feira, janeiro 06, 2009

futilidades

uma mulher percebe que precisa de uma máquina de secar quando ir apanhar a roupa se transforma numa expedição ao Alasca

percebe que precisa de dormir quando liga o ferro de engomar e só dez minutos e três verificações de temperatura depois vê que ligou a torradeira invés do ferro de engomar

que precisa de novos horários - uma mulher a dias interna também serve - quando se senta para jantar à meia noite.

E lembrei-me da minha caderneta



Há dias em que ainda é possível ler jornais e sorrir!

Crianças de seis e sete anos fogem de casa para casarem em África
Duas crianças alemãs fugiram de casa com a intenção de «se casarem em África», mas acabaram por ser apanhadas pela polícia quando chegaram a uma estação de comboios

Um rapaz de sete anos de idade e uma rapariga de seis que moram em Hannover, no norte da Alemanha, fizeram as malas e fugiram de casa. As crianças conseguiram chegar até à estação de comboios da cidade, onde foram interceptados pela polícia.

Segundo as crianças, queriam «ir a África para se casarem e viverem lá». Os 'fugitivos' tinham feito as malas e levavam a irmã da menina, de cinco anos, para servir de «testemunha do casamento».

Na bagagem, as crianças levavam fatos de banho, um colchão de ar, óculos escuros e comida. Queriam apanhar o comboio para o aeroporto na estação central de Hannover.

Funcionários da estação chamaram a atenção dos polícias, que conseguiram convencer as crianças de que sem bilhetes e sem passaporte não conseguiriam chegar a África.

Como consolação, as crianças puderam fazer um passeio guiado e exclusivo pela esquadra da polícia da estação, incluindo uma visita a uma cela.

Os pais, que ainda não tinham percebido a fuga, já que os seus filhos saíram da casa enquanto estes dormiam, foram buscar os filhos à esquadra.

As crianças disseram que queriam viver em África porque «lá é sempre quente».

Actualmente, a Alemanha está a passar por um duro Inverno com temperaturas abaixo de zero.

SOL com agências

Sem idade

Oiço agora, na televisão, um homem de quem nunca gostei: Mário Soares. Não posso, porém, deixar de admirar a lucidez e a sanidade mental de quem já passou dos 80. É certo que não sabe se leu no "El Pais" ou no "Le Monde", mas sabe o que leu e comenta. É certo que não sabe se ouviu na SIC ou na RTP, uma entrevista ao Ministro das Finanças, mas sabe o que ele disse e sabe porque não concorda com Teixeira dos Santos.

Não é caso único, Mário Soares. Felizmente.

No pós 80, temos nomes como Eduardo Lourenço, José Saramago e, claro, o centenário Oliveira. Todos eles são capazes, capazes de saber, de fazer, de estar. Parece que a cabeça faz o corpo funcionar. É como se trabalhar a mente, ao longo da vida, a pudesse prolongar. Vale a pena viver, desta forma.

As nossas avós deviam ser assim. Não arrogantes, como já foi Saramago (acho que já não é); não irritantes como já foi Soares... mas lúcidas, capazes de pensar até ao fim dos dias, prontas para raciocinar sobre qualquer tema. Eu gostava que a minha avó ouvisse. Ouvisse a minha voz, pelo menos. Já não falo sobre ouvir os telejornais e as notícias de última hora. Mas que ouvisse a minha voz em fundo.
Gostava que ela visse. Que visse a paisagem e as árvores, ao fundo. Já não peço que visse as letras miudinhas de um jornal diário. Mas que visse a cor dos meus olhos.
Gostava que a minha avó se lembrasse do que comeu ao almoço. Nem sequer quero que ela se recorde dos dias vividos durante a Segunda Guerra Mundial. Mas que saiba, de memória, quando nos vimos pela última vez.

Mas a minha avó foi habituada a trabalhar a terra, não a mente. Foi obrigada a servir, não a ser servida. Aprendeu a ler já adulta, quando o meu avô a ensinou a juntar as letras. Aos 94 anos, pouco mais saberá discutir que a doença que sente (e não a que tem, porque não tem nenhuma, felizmente); pouco mais saberá dizer que o nome de dois ou três comprimidos; pouco mais quererá fazer que sentar-se no sofá, ao calor do aquecimento, com o gato a roçar-lhe nas pernas.

Eu gosto da minha avó como é. E admiro esta gente, que ainda é gente depois dos 80.
Se lá chegar: quero ser doce, como a minha avó, e lúcida como tantos outros.

higiene mental


Não ouvi nem um segundo sequer da entrevista do nosso primeiro. E sinto-me tão sã por isso.

segunda-feira, janeiro 05, 2009

Dilema

O que fazer às 20H45? Ver a entrevista de José Sócrates na SIC, ou ir aos saldos procurar um casaco cor de beringela?

e deus...!


O Mais Cidade tem hoje uma casa emprestada. Durante o dia vamos estar no E Deus criou a mulher a convite do Miguel. O mote é a frase que tenho tatuada na pele: "'There are only three things to be done with a woman [...] 'You can love her, suffer for her, or turn her into literature.'" [The Alexandria Quartet, Lawrence Durrell]

sábado, janeiro 03, 2009

Reencontro

Eis-nos juntas de novo. Numa Lisboa que podia ser Nova Iorque. É até mais bonita, acredito. Pomos a conversa em dia: falamos do trabalho, das angústias; dos amores e desamores; falamos de planos, arriscamos sorrisos e a Carrie dará uma gargalhada bem alto. A Miranda será discretamente engraçada, a Samantha dirá piadas tolas. E a Charlotte vai gostar. Eis-nos a iniciar o ano com gosto, quatro amigas de longa data, quatro mulheres tão diferentes e com a escrita em comum. E com a amizade em comum. Onde iremos, este ano?

quinta-feira, janeiro 01, 2009

2009 III

Em 2009 vou comer melhor. Ceder menos vezes à preguiça. Stressar menos. Trabalhar mais feliz. Viver mais feliz. Vou a Berlim. Quero ir a Nova Iorque. Praticar um estilo de vida mais saudável. Não sei o que é a "liposhaper" mas se não doer parece-me também uma boa ideia. Deveria deixar de fumar. E engravidar. Oferecer cinco quilos meus à Carrie. Quem sabe começar a usar anti-rugas. Sentir-me menos só. Rir mais. Ser mais feliz. Ler mais. Ouvir mais música. Deixar de arrancar cabelos brancos. Comer menos pastilhas. Ter mais paciência para a minha mãe. Esquecer mais o que é para esquecer. Abraçar mais os amigos. Falar mais com a Samantha. Ralhar menos com a Carrie. Espevitar mais a Charlotte. Ir à praia. Ir ao campo. Ficar mais bonita. Ser menos intransigente. Menos exigente. Mais exigente, Mais aguerrida. Menos insegura. Dormir melhor. Ver mais exposições. Ir a Praga. Conduzir. Comprar um picador de gelo para para as caipirinhas. Ter menos medos. Ou talvez não.