sexta-feira, outubro 30, 2009

Mamã, estou aqui

Um amigo foi hoje pai pela terceira vez. Deixou no facebook uma fotografia feliz com a mãe e a criança lado-a-lado com o pai babado. Ainda na sala de parto e vestidos de verde como nos filmes sobre hospitais. Ontem, a caminho de casa, ouvi Mariza, a fadista, dizer que muito gostaria de ser mãe mas que a vida profissional e, sobretudo, a idade, estão a pregar partidas e a querer evitar que tal aconteça. A diva do fado levaria uma criança em digressão e não hesitaria em cantar-lhe ao ouvido. Fado e outras canções. Chego a casa depois de uma conversa de mulheres em que os filhos não nos passam ao lado. Nenhuma mãe, ao contrário do que é habitual nestas reuniões de pós-trintas. Sofremos a ausência e ainda fazemos planos. E contas, sobretudo contas. A vida apressou-se e passou à frente de algumas de nós. Quando me contam que uma mãe se usou de uma consulta da Gripe A para pedir à pediatra que faça o aborto, ali mesmo, na filha de 13 anos, tremo. Que injusto é este mundo, mesmo quando acreditamos numa mão divina. Uma mulher que conheço passou os 45 e não conheceu o prazer da maternidade. Tentou de todas as formas e falhou o objectivo. Nem um míssil terra-ar faria pior se estivesse a ser lançado numa guerra desigual. A maternidade recebe caras felizes todos os dias e deixa tristes outros rostos. Talvez mais jovens, mais pobres, menos organizados familiarmente. Talvez arrependidos. Mas as que querem mesmo ser mães, podem nunca vir a sê-lo. As que querem evitar tal missão, têm 3 meses para desistir. É pena não haver troca por troca e cada experiência acabar apenas na barriga certa. E se há barrigas certas! Só não é certo o futuro das mulheres que sonham ter, um dia, um filho.

quinta-feira, outubro 29, 2009

O gosto da vida

Respondemos "mais ou menos" se nos perguntam se estamos bem, sorrimos timidamente se alguém bem-humorado nos conta uma piada... mas nem ousamos a gargalhada; acordamos com dores nas costas e temos, no fim do dia, uma valente enxaqueca; corremos de um lado para o outro, suspiramos, olhamos para o espelho e sentimo-nos gordas, o cabelo está a ficar branco aqui e ali; não há maquilhagem que disfarce os papos nos olhos pela noite mal dormida a acalmar a criança que está com tosse, deixamos queimar o jantar; o café foi mal tirado, a unha pintada partiu, a meia tem uma malha. Este tanto pode fazer de nós pessoas tristes e desmotivadas, sem sabor, sem alegria, sem prazer. Até choramos ou enrugamos o rosto numa marca descendente.

Mas eis que o sol nasce aqui 365 dias por ano; eis que temos acesso ao jornal e à informação num canal de 24 horas completas; eis que podemos ler um bom livro no caminho para o emprego, sentados no banco livre do metropolitano. E o nosso filho tem o mais belo sorriso do mundo, os nossos amigos estão sempre presentes, a nossa família tem para nós uma palavra de apoio. Temos um emprego e salário no fim do mês, ninguém que nos é próximo sofre de uma doença fatal, fomos de férias no Verão e teremos subsídio para presentes de Natal. Ou para pagar as dívidas. Mas teremos. Na escola, o nosso filho aprendeu o aeiou. Mas já o sabia, porque tivemos tempo de lhe ensinar as vogais numa tarde de domingo. Amamos e somos amados. Temos uma flor numa jarra e às vezes olhamos a lua. Bebemos café quando nos apetece porque temos sempre moedas de um euro. E rimos com as piadas, com o dia que temos, com a vida que levamos. E sabemos que vale a pena acordar outra vez, quando for amanhã.

terça-feira, outubro 27, 2009

O homem ideal

Não existe, bem sei... mas e se existisse? Como seria?
Reúno os comentários das minhas amigas, das colegas, das mulheres que oiço nos restaurantes e paragens de autocarro que não frequento. Hoje, ao balcão, enquanto comia bifes panados com alface, uma estranha dizia estar "em baixo", incapaz de resolver o problema e esquecê-lo, a ele. Outra, que pediu uma água natural, sentou-se no banco do lado e disse que tinha reparado nela, pela manhã, que estava infeliz quando chegou ao escritório. Desliguei da conversa e paguei a minha sopa alentejana que tomei com uma coca-cola. Eu esperava por um homem que fora cortar o cabelo para ficar com um ar limpinho e arrumado. Questiono-me o que importa, realmente, num homem? Leio um e-mail de uma amiga que encontrou, por acaso, um brasileiro lindo, de olhos azuis, e conversa boa para aquecer a alma. Penso na minha colega que há anos não tem vida sexual com o marido mas que teve, há uns meses, uma criança. Uma espécie de obrigatoriedade paternal. Vejo-a apaixonada pelo rapaz do bar ou pelo que trabalha numa qualquer sala fora da redacção. Mas nunca me disse que amava o marido. Recordo alguém que julgou ter nas mãos o homem de uma vida mas, passados uns meses e uma outra mulher, mudou de ideias. E a colega cujo marido nada faz pelo filho e também não trabalha porque tem uma depressão e, "coitado", quer é ficar na cama o dia todo sem que ninguém o mace. E na que tem um companheiro de vida que passa a noite ligado à internet, às vezes com as gatas aos pés, mas nunca junto à cozinha e a ela que faz o jantar. E a que ficou sozinha mal nasceu a segunda filha e que vive agora com outra mulher. E a que foi trocada (tão) pouco depois do casamento e fez almofadas brancas com o vestido do dito. Em comum, estas mulheres têm más experiências com os homens. Não digo que o mal é geral... mas atinge uma grande camada da população feminina. Se Sócrates fosse esperto, criaria o Ministério do Amor e dedicaria parte do Orçamento de Estado a tratar esta gente num bom psiquiatra. Era bom para todos e talvez me decidisse a ir votar nas próximas eleições.

Será o homem ideal o que nos compra presentes todas as semanas, mas que se esquece de pagar a conta da luz? Será aquele que é óptimo parceiro sexual mas que está a trabalhar quando é preciso dar banho aos filhos? Será o que tem um emprego altamente qualificado e uma secretária competente, mas que se refere ao nosso trabalho como uma ocupação secundária que para pouco ou nada serve na gestão familiar? Ou o excelente pai de família que quando chega à cama se vira para o outro lado e ressona porque está cansado demais para amar? Todos estes são casos que conheci, ouvi falar, soube por aí... É verdade que uma ou outra mulher estar feliz com o marido que tem. Mas também é verdade que somos cada vez menos exigentes. Falo por mim: contento-me com um homem que não minta, que me telefone para saber como estou, que me diga se vai chegar tarde, que me dê conta das saídas com os amigos e que goste de me levar com ele; contento-me com um abraço, com um beijo carinhoso, com a barba feita uma vez de 3 em 3 dias, com um bom filme visto a dois sentados no sofá. Já lá vai o tempo em que me preocupava com a tampa da sanita, com a pasta de dentes fora do sítio, com a toalha molhada em cima da cama, com o champô aberto na banheira, com as beatas no cinzeiro da sala, com a mania de possuir o comando da televisão, com a loiça suja fora da máquina, com as cascas da tangerina em cima da mesa... Sou uma mulher fácil de satisfazer, já que o meu grau de exigência é quase nulo. Porém, nem eu conheço o homem ideal. E sei que a minha amiga com três filhos e uma casa grande também não o conhece, e nem a outra que teve uma filha porque quis ser mãe solteira; nem tão pouco a que engravidou para solucionar os problemas do casamento.

Não há mulheres ideais. Mas há homens mais exigentes, que não hesitam em somar umas às outras sem que cada mulher saiba algo da segunda. Eles acumulam experiências. Nós assumimos um só para o resto da vida. Claro que nada disto é aplicado a toda a gente dom mundo, mas todo um mundo percebe a quem pode isto aplicar-se.

quinta-feira, outubro 22, 2009

Lugares inesquecíveis


Há lugares onde voltaria amanhã...

Dias felizes

Durmo 12 horas e acordo com dores nas costas. Sinto falta da fisioterapia e tomo comprimidos para as enxaquecas. Tudo bem. Podiam ser motivos para me irritar, para entristecer, para queixas. Mas eis que estou apaixonada! Almoçamos tarde no bar irlandês onde fomos e seremos sempre, os únicos portugueses. O dono pergunta-nos pelo concerto dos U2 em Portugal e confirmamos a nossa presença. Lá estaremos, a trabalhar. Mais um dia, mais um concerto. Almoço uma omelete de queijo e bebo coca-cola. Gosto de beber coca-cola quando estou de férias. Não, bebo antes uma meia de leite, com espuma, como tão bem a tiram no restaurante "De Barra". Saboreio a meia de leite com o último livro do Robert Wilson, aquele que estava a ler em inglês mas que passei para português, esta semana. Prefiro a minha língua para ler romances e policiais. Não sei porquê. É um amor à palavra. Aguardo com expectativa as de Saramago e acho ridículas as críticas que fazem a "Caim". Não me importo que o Nobel critique a Bíblia e a Igreja católica. Há críticas que fazem sentido e, se outras não fazem, é apenas mais uma opinião. Oiço-o na RTP e penso em trabalho. Vejo mais televisão, por estes dias. Perdi a entrevista nos Gato a Marcelo Rebelo de Sousa mas sei que tenho de vê-la, mais tarde. Percebo que a SIC tem um concurso novo que me cheira a antigo: em tempos houve um assim, apresentado pelo Nicolau Breyner, acho. Hoje dormi três horas à tarde. A enxaqueca voltou depois disso e jantei crepes. Estou viciada. Jogámos "trivial", um novo, que comprámos no Shopping. São caros, estes jogos, e têm erros de português, o que me enerva. Não é admissível. Ainda assim, jogamos, por cartões, sem tabuleiro. Gosto de me sentar numa ponta do sofá a observá-lo. Por agora dorme e tapei-o com um cobertor que estava na cama. Beijei-o de forma suave para deixá-lo sonhar. Não é costume adormecermos separados. Gostamos de partilhar a noite até à última. Ontem vimos mais um episódio de Ruth Rendell, mas hoje já só havia a primeira série de "Ossos" para passar o tempo. Gosto. Antes de escrever este post acompanho a noite com um CSI Miami, tão ridículo quanto divertido. Aquela personagem do Horatio Cane é demais, tal o exagero e a "branjisse" do tenente. Adoro! Estou apaixonada pelo homem com quem partilho a vida. Ontem fiz anos de um outro casamento e nem me lembrei. Passaram 8 anos e nem me lembrei. Foi a primeira vez que não recordei o dia. Curiosamente, ao jantar, falei sobre isso e critiquei o custo da refeição no copo de água. Mas não fiz contas ao calendário. É uma sensação de alívio. Vejo a minha vida através do presente o futuro afigura-se-me sorridente. Parece que o passado ficou mesmo lá atrás. Sem ressentimentos. É tarde, mas estou de férias e posso dormir toda a manhã. Depois faremos o que nos apetecer. Voltaremos a ser os únicos portugueses no restaurante irlandês. E diremos "gosto de ti" como se fosse a primeira vez. São dias felizes, estes que terminam Outubro.

quinta-feira, outubro 08, 2009

Pós-Amália

O projecto Amália Hoje é do melhor que a música portuguesa fez, este ano. Nuno Gonçalves é um génio. Sónia Tavares uma musa. E Fernando Ribeiro uma surpresa. Paulo Praça é!

segunda-feira, outubro 05, 2009

FJV

O senhor que inspirou este post tem um livro novo. Vai lançá-lo quarta-feira no meio de croquetes ou, como diz o convite, num "cocktail ao gosto do inspector Jaime Ramos". Já marquei na agenda e o mais provável é passar lá, trazer o livro para casa e deixar de lado o Bolaño que ando a ler, o que é coisa para chocar muito boa gente. O Francisco José Viegas já escreveu outros livros depois d'‘As duas águas do mar’, ganhou um prémio por ‘Longe de Manaus’, mas é neste livro de capa amarela que continuo a perder-me de tempos a tempos. O amor não se explica. Sente-se. Sempre achei que com os livros acontece o mesmo.

domingo, outubro 04, 2009

Amália

Quando era miúda achava que o fado era coisa de velhos. Punha-o no mesmo patamar da ópera e do folclore e dizia "não gosto" com o orgulho de quem vai na flor da idade e ouve dizer assim. Amália não me dizia nada, era apenas uma mulher de negro vestida que cantava fado e que não apreciava. Sabia-a famosa e pouco ou nada mais conhecia sobre ela. Um dia, já nos vinte e poucos anos, quis a minha profissão que me cruzasse com ela. Foi numa noite de fim-de-semana, no Parque das Nações, no teatro Camões onde era convidada após uma actuação. Estava já velha, naquele ano de 1998, quando a Expo '98 a levou ao palco pela última vez. Eu estava lá, no cair do pano, nos bastidores, e vi. Amália era então motivo de risota quer por ser já ida na idade que tinha, quer por ter tiques que muitos ainda imitam com um sorriso - como aqueles das palminhas e das mãos que pedem mais quando diz "obrigada" e repete "obrigada".

Por tudo isto, só dei valor a Amália depois de morta. Agora, que passam 10 anos sobre esse 6 de Outubro que vi na televisão, sobre o dia em que passei para word uma mensagem de condolências a enviar pelo ministro da altura, Manuel maria Carrilho, dia em que o gabinete ficou tão só, ao olhar a multidão que chorava e clamava por ela. Só então, Amália. Que Deus quis fosse o seu nome.

Quando passa esta década sem ela, dedico-me a preparar trabalho sobre Amália. Já passou a Grande Reportagem que há-de repetir e (voltar a) valer a pena; amanhã um Especial para ver quando forem 18H na SIC Notícias, e muitas reportagens sobre exposições e homenagens, a uma mulher que feliz, deixou de o ser para ficar triste e depois morrer. Hoje ouvi Amália e arrepiei-me. A voz que Deus levou era, de facto, única, e nenhuma outra surgiu igual. Bem dizem os que a acompanhavam que nem Mariza nem Mafalda, nenhuma fadista se compara a Amália. Podem ter vida e sucesso e podem ser referência lá fora, mas foi Amália quem lhes deu caminho, foi Amália quem deu ao fado o mérito de ser canção.

A caminho dos 40, eis-me com Amália nas mãos e vontade de escutá-la. Respeito hoje a mulher a quem dei o braço sem pensar mais que de uma velhota se tratava. Vaidosa, fora do tempo, fora de si. E, no entanto, única, como só mais tarde consegui ver. Mas sinto que ainda vou a tempo. Vamos todos.