sexta-feira, junho 30, 2006

Compensações

A mulher linda que se senta a minha frente tem uma teoria sobre as compensações da vida. Hoje estacionei à primeira à porta do jornal. Devia saber que alguma coisa ia correr mal.

Para a semana...




Estarei aqui...

profissioduvida

E já pensaste no que gostarias de fazer na vida?
.............................. (merda)......................

quinta-feira, junho 29, 2006

Cheesecaker Anónima

Estou viciada em Cheesecake. Mais!... estou viciada na generalidade dos doces seja, ou não, doçaria regional.

Ainda não estou balofa, mas preocupada com o que pode vir a acontecer.

Não como carne há vários dias. Peixe, nem se fala. Ontem jantei um crepe de espinafres e foi o mais saudável que fiz, esta semana. Também experimentei uma salada de rucla com parmesão mas fiquei-me por ali. Num dia em que tinha comido oito - oito - profiteroles...

Alimento-me a galões e a meias-de-leite. Que acompanho com tudo o que me enche a barriga e me vicia o estômago. Não tenho fome. Só quero guloseimas. No frigorífico tenho cerejas enormes e frescas, pêssegos e nectarinas, ameixas e alperces. Não lhes toco. Só se lhes despejar um pacote de chantilly por cima. O que já faço no leite, em jeito de capuccino...

Se alguém no grupo quiser partilhar uma experiência, talvez me sinta melhor...

Perdi o apetite. E tornei-me numa cheesecaker anónima. Mas deixarei de o ser quando toda a gente reparar no meu corpo, daqui a uns tempos...

Ainda o aborto...

Católica, na altura muito praticante, também eu votei 'sim', pela despenalização, em 1998. Nunca fiz nenhum ãborto e espero, claro, nunca ser confrontada com essa situação de ter de optar, e decidir, talvez contra todos...

Mas uma vez, em tempos idos que me conduzem à casa dos 20, emprestei oitenta contos a uma amiga. Ela tinha engravidado, por 'azar'.

Tinha sido um caso daqueles imperdoáveis. Primeira vez, namorado fresquinho, gravidez na primeira relação que, claro, 'apaixonadamente' não tinha sido protegida. Pagou-me em três prestações, o que já dá para ver como estava a vida dela. Já trabalhava e tinha um ordenado - curto, pois - uns pais fora de Lisboa - distantes, pois - e uma casa para manter. Tinha pouco mais de 20 anos e era uma rapariga consciente, boa pessoa e de poucos namoricos (para evitar aquelas teses do 'andam com todos'...

Eu fui confrontada com o pedido. Aceitei sem pensar duas vezes.
Não sei porquê. Talvez por ver aquele pânico todo e não ser aquele o olhar que reconheço numa grávida disposta a ser mãe.

E depois votei sim, com a mesma consciência.

É o que farei, para a próxima.

A favor da despenalização. A favor do voto.

Se Sócrates cumprir o prometido, se Cavaco Silva lhe fizer a vontade, em Janeiro teremos novo referendo à interrupção voluntária da gravidez (IVG). O meu voto – obrigatório – é inquestionável. Tal como em 1998 votarei a favor da despenalização.

Não defendo o aborto. Defendo que as mulheres não devem ser julgadas em praça pública por aquilo que devia ser um direito. Àqueles que defendem o direito do feto, só posso dizer que a proibição de um aborto seguro viola os direitos da mulher à vida, à liberdade e à integridade física.

Não defendo o aborto como medida contraceptiva. Condeno quem se recusa a tomar a pílula ou a usar preservativos e depois, quando o mal está feito, resolve o problema com mais um ‘desmancho’, como se chamava no tempo dos meus pais. Acredito que os ‘azares’ acontecem. E que nenhum casal – sim, estamos a falar [idealmente] de uma decisão que deve ser conjunta, e recuso a ideia peregrina defendida, se não estou em erro, pela Ana Drago que ‘na minha barriga mando eu’ – deve ser obrigado a trazer ao mundo uma criança que não poderá criar com dignidade. Defender o direito à vida passa por recusar que haja crianças mal tratadas, evitar que existam ‘Vanessas’ ou ‘Joanas’. Defender o direito passa por criar condições de segurança económica, educativa e acima de tudo, por dar Amor.

Nunca tive que fazer um aborto. Não sei o que faria se me visse confrontada com essa situação. Mas conheço muitos casos. Há um que nunca me saíra da cabeça. Uma mulher na casa dos trinta, católica praticante, com duas filhas pequenas, a trabalhar ‘de sol a sol’, que no momento de decidir não teve dúvidas: antes educar, sustentar, criar duas crianças com dignidade, do que pôr no mundo uma terceira, correndo o risco de por em perigo o saudável desenvolvimento das duas que já existiam. E não me venham dizer que onde comem dois, comem três!

É verdade que antes de despenalizar a IVG era urgente pôr em prática políticas de planeamento familiar responsáveis. Educar mulheres e homens que despertam agora para a sua sexualidade, mas também mulheres e homens na idade adulta que nunca foram educados nas mais elementares regras de saúde pública, porque em última análise é disso que estamos a falar. O problema é que passaram oito anos desde o primeiro referendo e os abortos clandestinos continuam a acontecer. Diziam-me ontem que fazer um aborto em Portugal, com o mínimo de condições, custa em média 1.200 euros, em Espanha não ultrapassará os 300. Com a diferença de que as mulheres com capacidade para atravessar a fronteira trazem na bagagem medicação para uma recuperação eficaz.

Passaram oito anos desde o primeiro referendo. E gostava de saber o que fizeram durante este tempo os movimentos pró-vida para mudar as condições de acesso às consultas de planeamento familiar. O que fizeram para melhor as condições das crianças que nasceram sem que os pais pudessem assumir a sua educação e, principalmente, o seu sustento.

Não defendo que se repita o referendo as vezes que forem necessárias para que vença o ‘Sim’. Nem que os defensores do ‘Não’ venham depois exigir novos referendos. Defendo apenas que se cumpra a lei. Em 1998, o ‘Não’ ganhou com 50,07% dos votos. O ‘Sim’ teve 48.28%, com uma abstenção de 68,11%. Ora, a Constituição da República Portuguesa é clara: “O referendo só tem efeito vinculativo quando o número de votantes for superior a metade dos eleitores inscritos no recenseamento”.

Faça-se um novo referendo, consciencializem-se mulheres e homens de que todos têm uma palavra a dizer. Evitem-se situações como as que aconteceram há oito anos em que mesas de voto não chegaram a abrir por falta de comparência dos elementos convocados. É preciso que as pessoas percebam que a decisão está nas suas mãos. Não se trata de escolher tecnocratas que vão decidir por nós, que legislam por nós. O que está em causa é uma matéria que mexe com a vida de cada um de nós. Cada voto – a favor ou contra – é imprescindível para que se cumpra a lei.

Faça-se um novo referendo. Pela minha parte, prometo respeitar qualquer resultado.

quarta-feira, junho 28, 2006

Amor em tempos de blogues

'Eu li-te os arquivos!'

A idade da inocência

Enrou no meu carro vestida de negro. Só deixava ver uma blusinha pintalgada a branco, a primeira que lhe vejo em anos, desde que a morte passou lá em casa. Entrou a lamentar as doenças, os ouvidos que tanto barulho fazem, as costas que não ficam direitas. Ajeitei-lhe o cinto de segurança e avançámos.

Destino: Sintra, a minha vila de eleição, e aquela que já me viu rir e chorar em iguais proporções. Ontem decidi voltar, guardada por alguém com experiência, alguém cujas lágrimas já só surgem em pesados momentos porque os olhos, de tudo já viram, e o coração de tudo já sentiu.

Arrisquei. O IC 19 fez-se sem pressas.

Mal chegámos, abriu-se-nos o mundo num Palácio de Seteais sem nuvens, com uma cobertura verde de deixar passar princesas - que o éramos, ali - e respirámos fundo. O andar vagaroso permitia a conversa, sussurada, porque ela não ouve, e eu não grito com ela. Encontrámos esta forma de comunicar.

Voltámos à vila já o cansaço lhe pesava nas pernas e a minha alma tinha percorrido uma década. Nada nos fez parar. O carro ficou no alto, o que nos obrigou a mergulhar nas ruelas onde turistas riem, o Brasil ouvia-se jogar e o artesanato enfeita o chão empedrado e escorregadio. Até que a noite caia. Claro que o destino era a Periquita, e um travesseiro para cada uma, recompensa pelo esforço de chegar ali: ela ao local eu, ao momento de vida, ali mesmo.

Regressámos gulosas. Não pareceu tão distante, o carro. Conversámos e evitámos as doenças e as mazelas de ambas. E o regresso fez-se em silêncio, até casa.

Foi mais um passeio com a minha avó, que me obrigou a receber os cinco euros do lanche, e que pensa que o que faço com ela é só por ela.

Não é.

Também o faço por mim. E faz-me bem.

o meu eu

Acordei cansada de ser quem sou.
Poderá a vida mudar-me?

terça-feira, junho 27, 2006

Não interessa

De tempos a tempos vem-me a memória uma citação do Ian McEwan. Não interessa qual. Não interessa sequer o título do livro. É uma estória de amor entre um homem e uma mulher. Pessoas que não se sabem agir na presença e na ausência recíproca. Hoje revejo-me naquela sentença, que saltita entre ‘cash flows’ e ‘leilões concorrenciais’, negando a ordem de expulsão. Os dedos atropelam-se nas teclas. Recusam-se a escrever os que lhes mando. A mão salta do teclado para o rato. No ecrã trocam-se janelas de documentos Word. Escrevo milhares de caracteres [impublicáveis] e nem um para publicar. A página continua em branco. Imaculada. Levanto-me. Quem sabe se as ideias recorrentes [houve alturas em que lhes chamei ruminantes] não se esvaem pelo meio do fumo do cigarro.

Motivos de preocupação

P: Agora pára!
C: Paro? Com que?
P: Com as parvoíces em geral.

Voltar a escrever

Vou deixar-me de lirismos. Render-me a evidência que nunca produzirei grandes obras literárias. Quando é que começas a escrever um livro. Eu ajudo. Escrevo-te o prefácio. Vou falar sobre as coisas mais comezinhas. A greve do metro que me rendeu mais uma hora de sono. Vou voltar a escrever sobre os cheiros de Verão. O aroma das sardinhas assadas que daqui a nada entrará pela janela do segundo andar. Afinal quando comemos sardinhas sem espinhas?. Escrever sobre a travessa que vejo do outro lado do vidro. Sobre a rua onde, de tempos a tempos, se ouvem gritos. Em que se trocam mimos e alguns sopapos. Insulta-se a família do outro até à quinta geração. Da janela espreitamos a casa dos vizinhos. Não pedimos chávenas de açúcar, nem raminhos de salsa, mas desvendam-se as tatuagens do vizinho que, saído do banho, cabelo molhado, boxers justos, insiste em apanhar a roupa estendida sempre em trajes menores. Escrever sobre as ausências e as presenças. Entendes se te disser que ao fim de três dias passados a teu lado sinto a tua falta? Escrever sobre o teu cheiro, que não estando aqui, me começa a perseguir nas ruas do Chiado.

Coisas que me fazem sorrir [xxii]

Palavras como cerejas. Livros partilhados entre um copo de vinho e um café. Estórias como beijos na boca. Títulos antigos. Cumplicidades. Histórias de amor. O reencontro com livros esquecidos. Letras que fogem das páginas impressas a preto e branco. Autores lidos até à exaustão. Mundos para descobrir. A ficção. Os clássicos. Histórias contadas por frames coloridos. Livros dentro de livros. O suficiente para confirmar que preciso de muito pouco para ser feliz.

segunda-feira, junho 26, 2006

Finalmente sinais de sexo neste blog... [VI]

Sexo e a Cidade em versão Chiado. Discute-se a plástica da Victoria Beckman que o A. chama de ‘retoque à prateleira’. Fala-se de mamilos artificiais ou nem por isso. Que são sexys, ainda que constrangedores. Há risos nada contidos. Conversas sobre sexo. Gargalhadas soltas. Não há uma alminha que fique corada.

sexta-feira, junho 23, 2006

Dizem...

...-me que a minha escrita está diferente. Não serei, como em outras ocasiões, a melhor pessoa para o julgar. Ninguém é bom juiz em causa própria. Estará, a escrita, mais cuidada. Mais exigente. E por tudo isso, menos frequente. Mas também menos intimista. Desde ontem à noite que se acumulam pedaços de prosa no documento Word que uso desde que perdi um post de 3000 caracteres [mais coisa menos coisa] graças aos humores do blogger. Nada me satisfaz. A verdade, sabem-no todos os que me rodeiam, é que sou uma eterna insatisfeita. Sempre achei que não era um defeito. É a insatisfação que nos faz querer ser melhores. Até ao dia em que percebi que tudo, mesmo quando é muito [bom], sabe sempre a pouco. A muito pouco.

Foot massage*

Jules (Samuel L. Jackson): Whoa, whoa, whoa, whoa... stop right there. Eatin' a bitch out, and givin' a bitch a foot massage ain't even the same fuckin' thing.
Vicent (John Travolta): It's not. It's the same ballpark.
Jules: Ain't no fuckin' ballpark neither. Now look, maybe your method of massage differs from mine, but, you know, touchin' his wife's feet, and stickin' your tongue in her Holiest of Holies, ain't the same fuckin' ballpark, it ain't the same league, it ain't even the same fuckin' sport. Look, foot massages don't mean shit.
Vincent: Have you ever given a foot massage?
Jules: [scoffs] Don't be tellin' me about foot massages. I'm the foot fuckin' master.
Vincent: Given a lot of 'em?
Jules: Shit yeah. I got my technique down and everything. I don't be ticklin' or nothin'.
Vincent: Would you give a guy a foot massage?
[Jules gives Vincent a long look, realizing he's been set up]
Jules: Fuck you.
Vincent: You give them a lot?
Jules: Fuck you.
Vincent: You know, I'm getting kinda tired. I could use a foot massage myself.
Jules: Man, you best back off, I'm gittin' a little pissed here.
Pulp Fiction (1994)

[*ou post com dedicatória]

terça-feira, junho 20, 2006

As bolas do João

Volto a Monte Gordo, ao areal, para dar a conhecer o João. Outro João, o das bolas.

São de Berlim e, diz, ele, 'vieram de camioneta, porque o nosso melhor marcador há-de ser o Pedro Pauleta'.

Veste branco e pele castanha, escura, tez ressequida pelo sol, e um chapéu de palha na cabeça, que o faz parecer uma das personagens do Feiticeiro de Oz, o Espantalho, naturalmente.

Ouço-o para cima e para baixo mas não me cansa. Tem cantilenas sempre diferentes, apesar de todas serem viradas para o futebol. Do género: 'Olha as bolinhas do João, quem vai ganhar este ano é a nossa selecção'; 'Olha a bola tradicional, Portugal e o Brasil é que vão chegar à final'. E assim por aí adiante...

O João das bolas tem um concorrente. Limita-se a dizer 'há com creme, e sem creme', mas acaba por vender bem porque tem uma voz mais possante que a do João. É mais novo. Faz-se assim um verdadeiro jogo de forças onde a imaginação e as qualidades físicas rivalizam.

Muita gente compra. Aos dois, creio eu. Mas o João é que me faz recordar a infância em Cascais, quando as bolas de Berlim saiam das tenazes para um pequeno saco de plástico e depois para as nossas mãos cheias de areia. Naquele tempo a Bola de Berlim vendia-se com batatas fritas. Hoje deve ser proíbido misturar os dois gostinhos de praia.

Ainda não comi nenhuma. Mas se o João aaranjar cantilena que me faça rir, chamo-o e dou-lhe um euro, em troca de uma bola daquelas que engordam.

Never the least II

Eu podia estar quieta, mas não consigo.

A Carrie temia, ontem à noite, esta falta neste blog. Achava que nenhuma de nós ia cumprir a tradição e escrever a tal mensagenm de Parabéns, em forma de post.

Já passava da meia-noite quando saí do pé dela, em Cabanas de Tavira, depois de um belo pargo assado temperado com sal e azeite que me deixou a boca doce. Estava nisto, com uma enxaqueca brutal.

Temi também o pior. Eu não teria cabeça para postar, e as outras meninas do quadro podiam não ter tempo, não lhes ocorrer, estarem também elas com uma grande dor de cabeça. Mas não! Obrigada por isso, Miranda.

Ainda assim:

A Carrie é o doce que escolhemos na sobremesa e parece sempre uma gelatina, mesmo quando pedimos cheesecake. Treme demais sabendo ela que sabe bem, em qualquer das suas formas de doçaria. A Carrie é amiga. Também os braços dela se abrem para os meus e se fazem de aperto para os momentos mais duros. Ao telefone é irrequieta. Vejo-a atender-me, acender o cigarro, e dizer 'Olá miúda, estás boa?', à medida que se levanta da cadeira, assim de rompante. Uma vez, não há muito tempo, a Carrie saiu de casa e foi ter comigo ao trabalho para me levar a uma farmácia porque - mais uma enxaqueca - não me deixou conduzir. E depois as dores passaram e ela voltou à sua vida, de dever cumprido. A Carrie é uma miúda de deveres cumpridos. Pelos outros. Como a vida que leva...

Só lhe falta cumprir mais por ela. Mas lá iremos. Talvez este ano...

Parabéns amiga, do fundo do coração. Espero que pelo menos o cântico - na marginal, de isqueiro aceso - te tenha feito sorrir, por mais um.

segunda-feira, junho 19, 2006

Never the least

No calendário anual das celebrações deste blog, é o aniversário da Carrie que encerra o ciclo. E é hoje. The last, but never the least. Em comemorações anteriores, foi sempre ela quem tomou a iniciativa de brindar a aniversariante com um post. E não estará desta feita à espera de menos no que a si toca.
Pois bem, aqui vai a devida homenagem - embora inicialmente possa assim não o parecer :)
A Carrie é a minha amiga mais..., mais... (como dizê-lo...) estável em toda a sua instabilidade. A inquietude em pessoa, como quase todos nós, mas com pouco jeito para o disfarçar. Há dias em que me exaspera. E ela sabe-o. Chega-me com o rabo entre as pernas, menina mal comportada, entristecida a pedir colo. Noutros, vem simplesmente como uma personagem sem a qual a história não ficaria completa.
A Carrie é bonita, de olhos meigos e mãos nervosas. Inteligente, sensível, previsível, imprevisível. Generosa.
E é por tudo isto que, na verdade, nunca me exaspera de vez. Porque lhe sinto a falta. Dos livros que me conta, do sorriso, dos braços ternos desejosos de congregar. Na última vez que estivemos juntas, servi-me eu do seu colo. E soube-me bem. Vou fazê-lo mais vezes.
Muitos parabéns, querida Carrie

Ano Novo II

Há um ano estava sozinha numa praia do sudoeste alentejano. Fugi do mundo. Fugi de mim. Hoje acordei com uma massagem que me soube pela vida. Mas já antes tinha sentido que este ano ia valer a pena. Uma noite quente de Junho, um olhar, um sorriso e um beijo. Foi quanto bastou para eu saber que estou onde quero.

João Egídio

Terá uns 5 anos, o João Egídio.

Veio para Monte Gordo com o avô, e com a avó a quem chama, muitas vezes, mãe.
O João é um miúdo como os outros: trouxe uma bola, pá e ancinho e um balde para carregar água e areia molhada. Mas o João Egídio é único noutros aspectos: não só tem o nome mais horrível de toda a praia (até ver), como tem uma avó que o grita e repete, por tudo e por nada:

- João Egídio, limpa a boca;
- João Egídio, sai do sol,
- João Egídio, põe aqui a bola...

E ali anda o João (vamos evitar o segundo nome, para protecção da criança) feito gato-sapato, de um lado para o outro. A avó/mãe sempre em cima dele, não o deixa respirar, e a pobre da criança não pode fazer nada. Se quer jogar à bola puxa pelo avô que já se arrasta para andar, quanto mais para bater na bola; se quer jogar raquetes, está sempre vento - na cabeça da avó - e não pode ser que a bola voa; se quer ir à água, 'espera lá que o avô já lá vai contigo. Vens? Não me apetece. Pronto, vou eu, és sempre o mesmo!'

Hoje, avô e neto comeram bolas de Berlim - talvez amanhã escreva sobre o vendedor - e ambos deitavam creme pela boca. 'Não tenho guardanapos', disse a avó. E nem sei como se limparam porque desviei a cara.

O João Egídio tem sorte porque a praia está boa. Tem azar porque veio com as pessoas erradas. Ainda para mais, a grande avó- umas maminhas avantajadíssimas e barriga a apará-las - apanhou um escaldão. Teve de ser a vizinha de chapéu de praia a barrar-lhe um creme nas costas, porque o avô pouco se importou com ela. Aos 70 e tal anos - presumo - umas costas vermelhas parecem ter outra cor qualquer, aos olhos de um cansado marido.

O João Egídio aguenta-se. Não chora. Grita pouco e é um mimo, na obediência. Passa a vida a ouvir os exemplos de uma - o Filipe - que fazia tudo o que aquela mulher mandava.'Ouviste?'

Eu, quando eles enchem a boca de creme, aproveito o silêncio e durmo.
Mas sonho com uma vida melhor para o pequeno João.

sábado, junho 17, 2006

Férias? Que férias?

Ao primeiro dia as nuvens descambaram e encharcaram o areal, extenso.
Eu dormi durante o Portugal-Irão porque não quis partilhar o meu sono com a euforia de ninguém.
Dormi na cama. Não na praia, como gosto.

À tarde voltei.
O vento empurrou-me de lá para fora.

Vou às páginas da CNN na net, verficar o weather para os próximos dias.
Ou terei, amanhã, de procurar outra praia.

Hoje é o meu primeiro dia e férias.

sexta-feira, junho 16, 2006

O tal banho de gargalhadas

Ahhhh ahhh ahhhh aaaahhahahhhahhha AhhhhAhaaaAhhhhhhhhaaaaaAAAAAAAAAAAAhhhhhhh.
Acabei de chegar de férias - ao contrário da minha mala que ainda anda por aeroportos fora num exercício de autonomia ( em latim diz-se Alitalium)
. Prometo um relato nos próximos dias. Até lá, não te podia deixar, Samantha - e para a Carrie, que também parece estar a precisar - com as gargalhadas pedidas.

quarta-feira, junho 14, 2006

Da vida

É tudo mais simples quando não esperamos nada. Quando não há expectativas para gerir. Quando não contamos com ninguém a não ser nós próprios.

What

De nada serviu procurar em todos os recantos da casa. Muito menos perder horas a folhear a agenda do último ano. Estava errada. Agora, se repetisse tudo outra vez, já saberia o que procurar. Esta tudo no What que me chegou ali na curva a seguir ao Sargo. O barulho do mar a entrar pela janela aberta. O cheiro da maresia a confundir-me os sentidos sem que me fizesse esboçar um sorriso. Pestanejei para ter a certeza que estava a ‘ver’ bem. Que não havia dúvidas. Que as ideias não se atropelavam. É isto. Reduzi uma mudança. Carreguei no travão. Pensei em voltar para trás. Mas ainda não estava convencida. Havia que ‘partir pedra’. Passei pelo Casino. As ideias a esvanecerem-se. A cabeça de repente mais clara. O laranja do semáforo a passar para encarnado. O mesmo vermelho com que escrevia mentalmente uma única palavra. Confiança. Mas ainda não é isso. Não é só isso. A [des]confiança nasceu de algum lado. Passo pelas esplanadas pejadas de gente apesar do adiantado da hora. Invejo-lhes, às pessoas, a descontracção aparente. O sorriso ainda não voltou. Não voltará hoje. Já o sei quando entro na recta do Guincho. Mesmo assim sigo em frente, nesta terapia que bem podia ter o patrocínio de uma qualquer petrolífera. Junto à praia decido que já chega. Paro. Inverto a marcha a caminho de casa. Decomponho mentalmente a confiança. A falta dela. Procuro o isqueiro no banco do pendura. Procuro os cigarros. Expulso o fumo pela janela. No Moinho já percebi que tudo se resumo a outra palavra. Acelero. É desta que me sacam a carta. Acreditar. Sei que deixei de acreditar. No amor? Talvez. Na sinceridade? Em mim própria? Na bondade dos outros? Na felicidade? É tema para mais uma hora de viagem. Agora só sei que não quero pensar. Hoje quero adormecer no teu abraço.

terça-feira, junho 13, 2006

Paixão

Gostava de a ter sempre nos pés. Rebolava com ela nos campos onde viviam e juntos, inseparáveis, corriam pelos mais estranhos caminhos, os mais diferentes pisos, as mais diversas curvas e contracurvas. Sempre sós. Não precisavam de mais ninguém.

Ele era pequeno e tinha aprendido a respeitá-la, a driblá-la para que ela só fizesse o que ele queria, a fazê-la pular quando havia motivos de alegria, saltitar quando se sentia uma criança. Ele tratava-a como um ícone, uma peça única e insubstituível. E ela gostava. Era uma verdadeira paixão.

Ela, a bola do menino, sentia-se amada como poucos outros objectos, e até mesmo pessoas. Era a bola preferida, o brinquedo único, a companheira.

Em tempos de futebol, na tv, o menino pregava os olhos com ela ao lado. Gostava de ver o que faziam as outras, mas sabia que era a sua a melhor. Às vezes até desejava tocar nelas, nas belas bolas que percorriam outros campos, outros pés, mas recolhia-se sempre na sua, na mais perfeita bola do mundo.

Em tempos de futebol na tv, o menino imitava com ela o que via outros fazerem. No intervalo copmbinavam a táctica e, no fim, passados os 90 minutos, lá iam eles preparar terreno, montar baliza e fazer de conta que o jogo era grande, suplicado pelos fãs, gritado pelos adeptos.

Ele chutava com jeito para não magoá-la, fazia remates de longe mas sempre escolhendo o melhor sítio para lhe acertar. Marcavam golos atrás de golos, os dois. Era uma bola feliz. Para um menino que só tinha aquela. A sua paixão única.

Apelo

ALGUÉM DÁ UM BANHO DE GARGALHADAS, NESTE BLOG????

segunda-feira, junho 12, 2006

Entre a tristeza e a aparência

Parecia triste mas ninguém podia afirmar que realmente o estava. Tinha tudo para ser feliz: vivia numa bela casa com vista para o sol poente, tinha uma família adorável, um carro que a levava onde queria ir, um emprego que a estimulava e colegas agradáveis, daqueles com quem dá para beber copos à noite sem ter medo de beber um a mais. Tinha amigos. Dos bons. Dos verdadeiros. Dos que duram vidas no telemóvel e estão também na memória, para alguma eventualidade teclável. Tinha amigos que gostavam mais dela do que ela pensava... talvez mais do que ela gostava deles.

Parecia triste, naquele dia.

Mas já assim o parecera, noutras ocasiões.

E nesses dias de tristeza ninguém lhe podia dizer nada porque o certo era que lhe dissessem 'mas estás triste porquê?' e ela, furiosaa porque ninguém percebia, desaparecia e não dizia uma palavra.

Ficava ainda mais triste.

Não lhe adiantavam segredos e truques adiantados por outros: ir ver o mar, ler um livro, beber um café, trocar palavras com este ou com aquele. Não. A tristeza, ou o que aparentava ser aquele estado de alma, levava-a sozinha para casa. Não ouvia um disco, não folheava uma página, não comia uma cereja. Deitava-se ao largo da cama e não chorava. Não era capaz. Por isso também não sabia se estava , ou não, triste. E porquê.

A verdade é que não estava feliz, e isso bastava-lhe para se sentir triste. Daí à tristeza profunda deveria ser um passinho, não?

Aos olhos dos outros era feliz, por tudo o que tinha. Aos seus, triste pelo que queria ser... mais feliz.

Até que um dia, aos olhos de todos, a aparência assumiu-se e a tristeza instalou-se.

Nunca ninguém soube por que razão. Mas foi assim que deixou de sorrir.

Divã XII

(Ao telefone)
- Doutor, hoje não posso ir aí...
- Então?
- Estou ausente.
- Mas está fora da cidade?
- Não. Estou fora de mim. Até para a semana.

domingo, junho 11, 2006

Férias - Parte I


Sexta-feira...

sábado, junho 10, 2006

Exagero


'A Carris apoia a Selecção' vi hoje num autocarro.
As bandeiras nas janelas.
Os estendais com a bandeira posta.
O verde e o vermelho por todo o lado.
As promessas de ruas desertas em dias de jogo.
Mais um mês de cerveja a mais.
Todas as televisões sintonizadas.
Bolas.
E Bolas!
Por causa delas o País parou outra vez.

Sentimentos gelatina

Já não sabia se gostava dele. Ele tinha sido o melhor na vida dela. Mas tinha sido também o pior. Habituara-se a essas mágoas e quando chorava já lhe parecia tudo normal. Normal se ele lhe faltava ao respeito, normal se não aparecia, normal se não atendia o telefone, normal se chegava tarde, normal... era normal todo e qualquer confronto, todas as lágrimas de dia e de noite, todas as dores mal abria os olhos. Era normal...

Mas ele tinha mudado. Não de forma de estar, mas de local para estar. E não a tinha levado. Estavam afastados e afastadas estavam também as esperanças de voltarem a estar juntos, de voltarem a sorrir juntos, de voltarem a fazer planos em conjunto. Isso também já se tinha tornado normal, e o afastamento só veio acicatar a dor e recordar que ainda podia ter sido pior. Poderia?

Ela bateu no fundo. E chorou. Mais e mais, e mais. Até rebentar numa fúria e gritar que já não o queria ver. Que já não amava. Nunca mais.

Já não sabia se gostava dele ou da imagem que então criara à volta dele. O sorriso, a doçura, a piada, as palhaçadas e a genialidade. Imagens de um homem que não via, não sentia e não ouvia. Passados anos lembrava-o assim. Como nunca tinho sido.

Às vezes abria os olhos e via o que tinha realmente acontecido, sentia o sal tocar-lhe nos lábios e mal podia controlar a memória. Não era dele que gostava.

Mas também não era dela. E isso deixava-a vulnerável para gostar outra vez. Da única pessoa que sempre soube amar.

Divã XI

- Não sei se vale a pena voltar cá.

- Como queira. Mas o que a faz desistir?

- Eu e ele.

- Não percebo...

- Se me diz que ele faz parte de mim, então é porque vimos os dois.

- De certa forma...

- Mas trago-o comigo de má vontade. Queria estar aqui sem ele, e não sou capaz.

- Queria estar com ele, onde?

- Em lado nenhum.

- Então não deixe de vir. Mais tarde ou mais cedo ele fica aqui comigo, e você parte sozinha.

sexta-feira, junho 09, 2006

Cheiros

Quero ir para casa. A voz arrastada num queixume que é uma súplica. Sim. Mas antes é preciso que o ponteiro se canse na volta das horas. Que os minutos se esgotem no vagar dos dias de estio. Enquanto espero, adormeço agarrada a um pedaço de tecido branco. O cheiro de casa enrolado no pijama.

quinta-feira, junho 08, 2006

A caminho

Esperam-me 300 quilómetros de asfalto sem ar condicionado. Pela primeira vez na vida não me apetece sentar atrás do volante. Por causa do calor. Por causa dos ruídos. Irrita-me que a minha auto-suficiência, que chega para mudar um pneu, não me ajude a resolver os barulhos estranhos que saem do capot do carro. Os ruídos que a ignorância amplia. Devia procurar um mecânico. Talvez à chegada. Se chegar... Esperam-me 300 quilómetros de asfalto sem ar condicionado.

Memória

Esqueço-me das chaves do carro e de casa dentro de portas,
esqueço-me dos óculos de ver e não vejo nada sem eles;
esqueço-me se usei primeiro o champô ou se lavei a cabeça com o gel de banho,
esqueço-me a que horas combinei encontros,
a que horas tenho consulta,
a que horas cheguei ao trabalho.
Esqueço-me de comer e de quantas horas dormi,
esqueço-de do que sonhei, excepto se acordo contigo
esqueço-me de comprar almoço,
de ler um livro,
de ouvir as músicas que gosto.
Esqueço-me da primeira página do jornal que li hoje,
da piada do Calvin,
da notícia do dia.
esqueço-me do caminho para casa,
de marcar férias
e de responder a convites.
Esqueço-me de telefonar a alguém,
de visitar amigos,
de aniversários recentes.

Só não me esqueço de ti.
O que é pena...

terça-feira, junho 06, 2006

Finalmente sinais de sexo neste blog... [V]

Há quem não acredite que o sexo tem efeitos terapêuticos sobre as mais terríveis enxaquecas. Está demonstrado empiricamente por casos que me são próximos. Está confirmado por mim. Como pelos vistos a minha palavra não chega, aqui fica um excerto de um artigo sobre o benefícios do sexo na saúde. Leiam e aprendam.

Alivia as dores - De cabeça, reumáticas, menstruais... As enxaquecas são caracterizadas pela vasodilatação, uma vez que os vasos sanguíneos da cabeça dilatam e ficam muito doloridos. Durante a excitação e o orgasmo, o cérebro é inundado pela endorfina cujo efeito analgésico e tranquilizante pode fazer a dor desaparecer repentinamente.

Voltarei

Volto para dizer que também tenho saudades tuas, Miranda.

Volto já!

Barreira invisível

Há vidas que são compartimentos estanques. Cenários em que não entramos sem pedir licença. A luz até pode estar acesa, a porta entreaberta, mas percebemos, mais tarde ou mais cedo, que entrar, sem convite, será uma invasão de privacidade. Taparuweres hermeticamente fechados que impedem que os ingredientes se misturem. A barreira que separa a privacidade do outro e a intimidade que se quer partilhada é ténue. Saber até onde podemos ir exige uma ginástica, actos de contorcionismo, que nem todos aprendemos a fazer. Por isso espera-se que o convite, de preferência remetido por correio azul, chegue à caixa do correio.

Declaração

SAMANTHA, TENHO SAUDADES TUAS!

domingo, junho 04, 2006

When

Agenda aberta à minha frente. Folheio as páginas com os dias do ano, as horas dos dias. Atenta ao mais pequeno rabisco. Junho de 2005. Dias cheios de gargalhadas, algumas lágrimas. Paro quando não percebo a minha própria letra. Baixo a cabeça, aproximo os olhos do papel amarelado. Julho passou com a promessa de uma vida nova. Dias de sol, preenchidos com mar e livros. Agosto marcou um retrocesso. Afinal era só a fingir. O calor das noites, partilhadas até de manhã, em madrugadas surpreendidas com sussurros e palavras de amor, passou deixando sonhos desfeitos. Em Setembro, o calendário marca horas passadas à volta de um puzzle. Foi assim em Outubro. Novembro. Dezembro. Caíram as folhas das árvores, passaram as páginas da agenda. Juntaram-se novas vozes e novos afectos a uma história que se queria cada vez mais feliz. Em Fevereiro, no calor de uma noite do Rio, chegaram as borboletas que morreram no frio do Inverno de Lisboa. A inconsequência dos actos mostrou-me que estava crescida. Numa noite de Maio, pronta para escrever uma nova história, descobri que era estéril a certeza de que o trabalho estava terminado. Folheio as páginas da agenda. Vou eliminando datas. Mas não percebo quando falhei.

Dou-te um malmequer

Obrigada por perguntares por mim, como quem quer mesmo saber.

quinta-feira, junho 01, 2006

Cartas de amor

O tempo não apagou da memória dos dedos a sensação de abrir uma carta. A ansiedade de rasgar o envelope. Lá dentro uma folha manuscrita. Palavras que se conjugam para falar da vida. Para mim palavras de amor.

Fénix renascida



Faltam dois dias para ir de férias!

para aqui!!