segunda-feira, março 31, 2008

kashab spa

Não sou [infelizmente] cliente habitual de Spa, mas já conheci alguns. No curriculum conto com uma ida ao bamboo garden spa na Quinta das Lágrimas, meio dia no spa do Ritz, uma ida à talassoterapia do Vila Vita Parc, e claro, o [meu] incontornável Le Spa. Acrescentem-se várias sessões de massagens numa esteticista de bairro de onde saia, invariavelmente, a flutuar. Ou seja, presumo que sei o que esperar de um spa. Ainda assim, é coisa simples. Entra-se num spa para sair relaxada ponto

A excepção? O Kashab Spa.

O sítio é lindo de morrer. Só a porta de entrada promete um mundo exótico e de mistério. O hall tem uma cadeira suspensa no tecto. Algumas almofadas espalhadas pelo chão. Para lá de uns cortinados com motivos árabes uma sala de relaxamento, com camas rasteiras feitas de enormes almofadas. Ao fundo um porta espelhada abre-se sobre um banho árabe [vulgo piscina aquecida] com um imponente candeeiro. Promete! Mas por pouco tempo...

Sou encaminhada para uma sala. Gelada! Tiro o roupão. Tapo-me com a tolha deixada em cima da marquesa e espero. Espero. Espero. Algum tempo depois lá aparece o terapeuta. É a primeira vez que sou massajada por um homem e ao início a sensação é de desconforto. Penso que estou a ser tonta. Digo-lhe que sim, que a sala está fria, e preparo-me para relaxar enquanto ele mexe no ar condicionado. As mãos estão tão frias como a sala, mas o pior é a aspereza do toque. Sim, porque é um toque, não uma massagem. Penso que devia dizer qualquer coisa. Mas odeio falar nestas alturas, deixo-me estar. Cinco minutos depois não aguento e peço-lhe para aumentar a pressão. De nada vale. A música é qualquer coisa de medieval que longe de descontrair invade o cérebro e irrita. Lá tenho que falar outra vez. Peço que baixe a música. Não sei o que pensa que estamos ali a fazer. Mas a mim não me apetece uma rave. A massagem pára, mas depois disso o barulho continua a invadir-me o cérebro. Estou também cada vez mais gelada. Mas já desisti. Agora só quero mesmo sair dali. Quando ele finalmente me diz que a massagem terminou, que tenho chá de menta na sala de relaxamento, penso que é isso mesmo que vou fazer. A sala está lá, só falta o chá de menta…

No meio do paraíso que é o Vila Monte, o Kashab Spa é de um amadorismo arrepiante. Um desconsolo.

dúvida

Em pé à porta do pasquim, cigarro na mão, olhos fixos nos [já] verdejantes jacarandas do Carmo dou por mim a pensar para que raio serve um blog. E não consigo chegar a conclusão nenhuma.

domingo, março 30, 2008

obrigada... [ii]

O corpo a rebelar-se a semana inteira. A cabeça a pedir descanso. Os pés cansados das botas. A pele a exigir sol. Os dedos a pedir areia. A surpresa prometida há semanas. Chegar, noite avançada, sem saber onde. Entrar devagar. Deixar os olhos repousarem nos motivos árabes. Deixar a cabeça descansar sobre o [teu] peito. Maldizer as camas separadas. Adormecer em segundos. Acordar com sol. Tomar o pequeno-almoço com vista para a serra. Passear nos jardins. Trocar os Timberland pelas havaianas. O regozijar dos dedos pintados a escarlate. Mais uma surpresa. Um SPA lindo, que é pouco mais do que uma promessa [dará outro post]. Sentir a brisa quente na sombra da varanda. Ainda ontem tremia de frio. Almoçar com calma junto ao rio. Partilhar os jornais. Rir. A tarde ao pé da piscina. Comer sopa do mar no Ideal. Caminhar nas ruas familiares. Ver o que mudou. Voltar a ‘casa’ e adormecer em paz.

Obrigada...


























sábado, março 29, 2008

Ainda o ontem

Não sei bem como dizer isto: ainda não ultrapassei o pior episódio da minha vida. Recordo-o a cada dia que passa e recuso, interiormente - nem sei bem - ultrapassá-lo. Quero, racionalmente; não me deixo, emocionalmente. À memória vêm os bons dias de outrora, os sorrisos e as palavras, as gargalhadas e a aventura. Esqueço-me do resto, do que me fez parar, do que me fez pedir que parasse, do que me entristeceu. Dizem-me para pôr um ponto final, tomar medidas, avançar. Faço-o sem conseguir pôr um ponto final, tomando medidas insuficientes, sem avançar. Estou contra mim, e sei quem é o meu adversário: eu própria. A situação é tão preocupante quanto ridícula e pode acabar mal. Há mais pessoas a serem prejudicadas. Talvez não saibam como, mas estão a sofrer ainda com o meu ainda sofrimento. Se não é de dia, é de noite. Lá está sempre o nome, o momento, a partilha, os dias que um dia aconteceram, a parte da minha vida que passou. Sinto que nada há a fazer. Parece-me que arrastarei para sempre estas recordações, esta responsabilidade quase maternal, esta suave dor que, devagarinho, arrasa. Rezo para que assim não seja. Mas outra pessoa, que sou eu, torna-se agnóstica. Fica o lamento de não saber ser uma, quando ser duas me faz recuar, quando a da frente não puxa a de trás, mas a de trás impede a outra de andar. Assim sou. Assim estou.

sexta-feira, março 28, 2008

Parabéns Princesa!


a pedido


Malmequer
. Sol. Água. Resiliente. Memória. Sorriso. África. Silêncio. Livro. Branco. Surpresa. Estórias.


[Aqui estão
Miguel. As doze palavras pedidas, por nenhuma ordem especial, e ainda no prazo de validade. Não gosto de correntes, mas gosto de palavras. Passo-as, às 12, às três meninas deste blog, e a todos os que quiserem parar na caixa de comentários]

quinta-feira, março 27, 2008

Tudo o que nunca quis[eram] saber

Para quem é este País?

Não é para velhos, disseram.
O filme é bom, não o melhor que já vi, mas bom. É assim americano, muitos tiros, muito sangue, angústia e vilões, heróis e vítimas deles. A fotografia é excelente e a realização é soberba. Tem uma cor fantástica e planos de pormenor que me fazem fixar o ecrã. Gosto, por exemplo, daquele que mostra o Tommy Lee Jones a entrar no quarto do hotel, arma desembainhada, braços caídos e mostra-se a sombra na parede, parece um cowboy. Gosto de mais, também dos planos no interior da casa, sentados à janela, dois homens bebem leite em momentos diferentes e numa mesma posição em relação ao sofá, à mesa e à televisão. Vou esquecer-me de tudo isto, provavelmente. O que não esquecerei é Bardem. O olhar frio e distante que coloca na personagem é tão bom quanto fundamental. Óscar merecido, sem dúvida, para o homem que é o terror de tantos. A ferida na perna arrepia-me. Ao pé dela, os tiros e as mortes violentas nada significam. Curiosamente, custa-me ver os cães mortos. Aos homens já me habituei. É preocupante. Recomendo. Não como prioridade mas, pelo menos, em dvd, quando sair.

Tony

Estou sempre nervosa nestas ocasiões. Mal vejo a câmara o pânico apodera-se de mim, olho para baixo e aperto o microfone na mão. Não supero este medo de um dia para o outro. Desta vez, um ambiente festivo, uma apresentação daquilo a que chamaram um livro, um artista de renome, de carreira, de nome Tony Carreira. Fila interminável na Bertrand do Vasco da Gama, terça-feira à noite, o Jornal já no ar. Os gritos e as lamúrias, os cânticos e os quase-desmaios, livros na mão, à espera de um beijo, uma fotografia, um autógrafo. E eu ali, ao lado do homem, observo-o, reparo nos sapatos de bico, no blusão brilhante, aprecio o penteado moderno, deslumbro-me com o tipo de público. São essencialmente mulheres, mães e filhas, tias e sobrinhas, irmãs. Falamos antes, digo que somos conterrâneos, sim, a minha mãe é de uma aldeia próxima daquela onde nasceu Tony. Sem água corrente, sem luz eléctrica, poucas condições, miúdo sem meios, vontade de cantar, o pai em Paris. A minha mãe é de perto, digo eu, lá de Pampilhosa da Serra, sorri, estamos já próximos, conta-me da dele, da mãe que vendia peixe onde a minha avó o comprava, talvez se tenham cruzado, conhecido, trocado escudos e bens.

A luz acende-se e vejo o repórter colocar-se à minha altura, câmara em frente aos meus olhos, a voz que me fala ao ouvido, oiço a deixa, começo. O tempo passa, passam mais de seis minutos, uma eternidade para um directo de televisão, mas lá estão o Tony, as fãs, a mulher com um crachá onde leio "o Tony é o meu anti-depressivo", desejo-lhe melhoras, falamos de novo, as fotografias a clicar de todos os lados, a ansiedade de quem espera por uma assinatura, ele em pé naquele trabalho, resistente, simpático. Pergunto-lhe sobre o avô, o pacote de bolachas que lhe oferecia em miúdo, pelo Natal, Maria, doce presente para um menino sem nada. Depois Paris, dias de emigrante, rapaz mal vestido de quem os colegas troçavam, elogio-lhe a roupa de hoje mas não sou sincera. Estamos em directo. Agradeço, peço o autógrafo para a imagem, assina o livro e saímos do ar.

Fico admirada com a resistência de Tony. Dizem-me que na noite do concerto no Pavilhão Atlântico - esgotado - ele ficou até às seis da manhã a dar autógrafos. Sempre de pé. De pé por causa das fotografias e dos beijinhos que todas querem. O livro está cheio de segredos sobre a vida do cantor de sucesso. Não gosto como está escrito mas agrada-me a simplicidade. Gosto da honestidade, aprendo sobre o mito. Despeço-me com dois beijos e, sei-o hoje, achou-me simpática. Mais, comentou, sou uma mulher frágil! E ele, um observador. Não sei se certeiro. Pelo sim, pelo não, guardei o livro de capa dura. Até onde irá António Antunes, nome artístico, Tony Carreira?

Parabéns

No dia em que o Teatro faz anos em todo o mundo, estás tu, no meu, de Parabéns. Passas já a barreira dos 40 e vejo-te tão novo como as crianças de escola, mochila às costas, caderno na mão, caneta pronta a escrever... na mala trazes o que te ajuda a ficar mais dias, escreves no caderno as memórias e o que não podes esquecer. Porque não esqueces, como já não me esquecerei de ti. Entraste na minha vida de noite, copos na mão, música alta, mulheres em redor. Imprevisível, fazias-me companhia, os outros saíam, conversávamos ao cimo das escadas, olhar na pista de dança, mais um gin tónico que me oferecias. Excepto à quinta, Ladies Night, mais gelo e água tónica, e o teu Jameson de sempre. Numa noite perto do Verão ficámos lá fora, só os dois, disse-te que estava triste, que vivia triste, falei-te do passado. Foste o amigo e o ouvinte, passámos despercebidos e os outros passaram por nós, ambiente de engate. Nós, nada, apenas as lágrimas que corriam comigo, o teu olhar fixo, a tua voz quente, o gelo a tremelicar de frio. Estava lua cheia. Vi-a bem quando regressei a casa, 24 de Julho fora, e tu a passar na Ponte. A mensagem que te mandei nessa noite fez-me tremer os dedos. Mão no volante, a outra no teclado, dedilhei a frase que te ficou gravada, esperei pela resposta que não tardou a chegar. Nessa noite, pela primeira vez, pensei em ti antes de adormecer. É o que tenho feito, desde então. Às vezes contigo a meu lado, outras, como hoje, deitado na outra margem. Tens mais quem olhe por ti. E tens-me. Como te tenho no coração. Amanhã voltas para celebrarmos o teu dia.

quarta-feira, março 26, 2008

arco-íris

Fui atrás de um arco-íris. Cores demasiado vivas num céu carregado de chumbo. Fui atrás de um arco-íris e no final encontrei uma lareira e um livro. O frio cortante do lado de fora da janela. O vento rasante, estridente, demolidor. Gotas pesadas espalhadas na relva, engolidas pela água da piscina. Encontrei uma lareira e um livro. Álcool, sexo, drogas, inveja, dor, perda. A decadência humana contada por Irvine Welsh em 460 páginas devoradas em dois dias. Como não fazia há muito. Perdida nas horas. Deliciada.


[Post em diferido]

domingo, março 23, 2008

Avózinha III

'Rezamos o terço duas vezes', diz-me ela. Esteve na cama até às sete e meia da tarde e, mesmo assim, prefere não se levantar. Digo-lhe que sim, que vamos sair, que vamos à Vigília Pascal, a uns 15 minutos de casa. Que vou todos os anos, que gosto, que só lhe faz bem ir comigo. Teme a noite. Tanto como o Calvin teme os monstros debaixo da cama. Pergunta-me se estamos a caminhar para a manhã, já que são oito horas e ela mal se levantou... digo-lhe que não, que a hora é nocturna e que agora só vai ficar mais escuro. A lua está cheia mas, tão alta, que não a vê. 'Cheia de quê?', pergunta-me. Sorrio. Cheia de tudo, avózinha. E a avó, cheia de medo, no percurso que nos leva de casa à Igreja, ela agasalhada, com as três camisolas mais uma interior e o manto por cima com um cachecol meu a afagar-lhe o pescoço. Reclama todo o caminho porque eu decidi tão em cima da hora, porque é de noite, porque ela está muito mal, porque é de noite, porque não dissemos à minha mãe que íamos, porque é de noite. 'Porque teme tanto a noite, avó?' Não sabe.

A Igreja está escura e silenciosa. Entramos antes de todos para que tenha um lugar sentada, à frente. Refila outra vez e diz que só pela madrugada sairemos dali. A Igreja está vazia, repara, ela que nada vê. Ouvem-se os cânticos à porta e as formas luminosas começam a entrar e a deixar ver os limites das batinas brancas. Seguram o círio Pascal, o que dá início a um novo ano litúrgico, o que marca o princípio de tudo, o que assinala a Ressurreição. Vêm aí, alerto. E todos, de velas acesas, caminham em cântico pelo centro da Igreja, dispersando pelos bancos até ali vazios. Enchem-se de ponta a ponta. A Igreja está repleta. Cantam-se Glórias. As luzes acendem-se e substituem as velas.

Toda a cerimónia é de festa. São sete leituras da Bíblia e mais o Evangelho: Da criação do Mundo à libertação do povo do Egipto por Moisés, cada momento é assinalado nesta Vigília de duas horas e meia. O apogeu acontece no Aleluia, o primeiro, em 40 dias. A avózinha canta, mas nem ouve o repique dos sinos, que acompanham as vozes e proclamam um novo dia. Recebemos uma pomba recortada, letra juvenil, diz-nos que 'O Amor venceu'. Ela dá-me a que recebeu e guardo as duas no bolso. O nosso amor também venceu.

Regressamos a casa perto da uma da manhã. Diz-me que vá devagar mas tem, agora, menos medo. Não está ensonada e admite, foi bonito! Ainda não sabe como me deu na cabeça para ir lá. Não sabe que é dos poucos momentos do ano que não gosto de perder. Digo-lhe, mas esquece-se.

Ainda dorme. Espero que acorde para lhe dar banho e seguiremos para almoçar. Agora em família. É Domingo de Páscoa, avó! Mais valia termos rezado dois terços em vez de termos saído à noite. Mais valia...

sábado, março 22, 2008

Avózinha II

Come devarinho, sem faca, enquanto beberica o sumo de pêssego. Estamos a almoçar quase às três da tarde porque, pasme-se, saímos da cama às duas e meia! A avózinha terá ido à casa-de-banho umas 15 vezes, durante a noite. É um ritual: acende a luz, vai, devagarinho, está, regressa, devagarinho, deita-se, apaga a luz. Uma e outra vez. Não irá lá fazer nada, suponho, talvez seja um vício, talvez o faça a dormir, não sei. Mas que o faz, faz. E eu acordo todas as vezes, deitada no outro lado da cama, medindo-lhe os passos com medo que tropece numa casa que não conhece todos os dias. De manhã, eu ensonada, pergunto-lhe se quer sair da cama. Diz-me que ainda não. Aproveito para recuperar da noite mal dormida e fico. Diz-me várias vezes 'Eu não sou que coma', mas componho-lhe o prato e faço orelhas moucas. Acaba por comer e pergunta-me se pode voltar para a cama. Dói-lhe a cabeça (pudera!). Deixo-a ir. O sumo de pêssego, bebeu-o até ao fim. Pede-me comprimidos de minuto a minuto. Digo-lhe que já os tomou. Volta a perguntar. Incrédula, confia na minha palavra. Tem dúvidas, esquece-se. Não é uma doença. É apenas idade: a avózinha faz 93 anos no mês que vem.

sexta-feira, março 21, 2008

Avózinha I

Dorme ao meu lado no sofá. Teve medo de chegar já de noite mas o sol pôs-se connosco já em casa. Lanchou e comeu metade do meu lanche. Ainda não me pediu comprimidos mas perguntou várias vezes se tem roupa para vestir. Entrego-a no domingo. Até lá sou a ama dela. E sabe bem.

Confissões

Costumam guardar segredos, as confissões. Refiro-me aqui às que se fazem perante a Igreja, nomeadamente perante um padre: Acto de Contricção, palavras, arrependimento e penitência. No sigilo da confissão, o sacerdote nada pode dizer ou fazer. Limita-se a ouvir, talvez aconselhar, sobretudo apresentar a visão da Igreja perante isto ou aquilo.

Em Sexta-Feira Santa decidi dar uma nova oportunidade à Igreja. Como sempre faço, na Páscoa, procurei as cerimónias que assinalam a morte de Jesus. São solenes e gosto sempre do diálogo do Evangelho, aquele em que Pilatos "lava as mãos", em que Pedro nega três vezes, em que Cristo é trespassado por uma lança... Terminada a celebração pensei que era bom falar com o Padre L.. Com ele fiz toda a minha vida dita religiosa, excepto o Baptismo. Foi com ele a Primeira Comunhão, a Profissão de Fé, a catequese e as actividades na Paróquia... Foi ele quem me casou. And that's the point...

Desde o meu casamento que não pisava um confessionário. Foi em 2001. E desde o meu divórcio que não cumpro a maior partre dos preceitos da Igreja. Já lá vão 5 anos. Decidi então, dizia, conversar com o Padre L. - sempre tão preocupado comigo - e falar-lhe, em confissão sobre o que me fez parar. Puxou-me para um canto da Igreja e sentou-se numa cadeira, esperando que me joelhasse no móvel para o efeito. Há muitos anos que não me joelhava. Mesmo noutras confissões, sempre tive oportunidade de ficar sentada, frente-a-frente com o sacerdote. Propositadamente, ou não, ele escolheu hoje esta posição para mim. 'Devias pedir a anulação do casamento', começou. Sorri. Já me tinha oferecido esta possibilidade de recuar no tempo e na vida. 'Não quero', disse-lhe convictamente. Explicou-me, sem querer saber pormenores, porque devia eu optar por essa solução. E a única e verdadeira razão chama-se Instituição - Igreja. Essa pesada e maçadora instituição controla a vida de um católico de forma aterradora, manieta-nos como Cristo foi manietado naquela sexta-feira de morte; apodera-se de nós como se nada pudessemos decidir sem condições, sem hierarquia, sem um olhar soberano. A conversa terá durado uns 20 minutos. Disse-me o Padre L. que eu tinha três hipóteses para que a minha vida fosse sã e em conformidade com a Igreja Católica e Apostólica: a anulação do casamento, já referi; uma vida em solidão, com a possível adopção de crianças; a morte do meu conjuge (perante a Igreja, leia-se, o meu ex-marido). Negando eu os dois primeiros e não desejando o terceiro, nada mais me restava (ainda aventou a possibilidade de viver com um homem 'como irmãos', mas logo adiantou que nem ele achava boa ideia). Para a Igreja, não é possível um casamento suceder a um casamento; não é possível uma pessoa reconstitruir a vida sem que se arrependa de um passo anterior. O Padre L. deu-me a entender que a opinião dele é diferente. Ele, que diz ser meu 'amigo até ao fim da vida', garante-me que não acha bem eu ficar sozinha. E percebe que eu não espere uma morte que pode ser posterior à minha... mas gostaria muito que eu avançasse para a dissolução. Compreende a minha rejeição, aceita-a e respeita-a, mas tenta convercer-me e pede-me para pensar sobre isso. Eu não penso mais sobre um assunto que está, para mim, arrumado. Duas pessoas casam-se, acreditam amar-se mutuamente, juram a eternidade, sabem qúe é um risco, uma aventura, uma decisão de responsabilidade. Avançam. Nem tudo corre como o esperado, termina a relação, o que parecia para sempre acaba no aqui e agora. Acontece todos os dias...

Tenho pena que a Igreja que segui desde miúda não respeite a minha forma de estar, não aceite uma postura que mais não é que honesta, humilde e de grande respeito por todos. Seria preferível dizer que um dos momentos mais felizes da minha vida simplesmente não existiu; negar 12 anos de uma relação; esquecer que o amor tanta vezes foi jurado... Mas, pelo menos, a Igreja ficaria satisfeita.

Um outro padre sugeriu que fizesse a minha vida num sítio onde não me conhecem. Vida religiosa, bem entendido. Ou seja, disse-me para ignorar os preceitos de uma Igreja retrógada, mas não dizer a ninguém. É tão terno quanto triste.

Não me surpreeendeu, a conversa desta tarde. Nem sequer me deixou triste. Mais triste fiquei quando me foi dito que poderia ir lá, bater à porta, sempre que quisesse chorar. É que nunca me tinha visto chorar, disse-me o Padre L. É porque não olhou para mim durante dois anos inteirinhos, pensei. Porque nesses mais de 700 dias, eu não fiz outra coisa.

quinta-feira, março 20, 2008

Começa hoje

quarta-feira, março 19, 2008

Pai

Tinha escrito um texto maravilhoso sobre o meu Pai. A net foi-se abaixo e levou tudo. Excepto a minha vontade de abraçá-lo e dizer que é, para mim, o melhor do mundo. E não é preciso nenhum cartão para provar isso.Bolas! Estava mesmo bonito, o sacana do post.

terça-feira, março 18, 2008

Estados d'Alma [xi]

Em modo 'panela-de-pressão' sem água.

O [meu] bairro [ii]

Eu e a Aprendiz à entrada do pasquim. As duas sentadas de cócoras, encostadas à parede. Discutimos o tema que lhe cabe escrever. Eu desenho páginas num caderno de apontamentos. Estudamos a melhor forma de encaixar tudo em tão pouco espaço. É sempre pouco espaço para quem gosta de escrever. E escreve bem, ela. Vamos fumando um cigarro enquanto conversamos. Aproxima-se uma mulher. Cabelo branco, andar vagaroso. Abranda o passo quando se aproxima. Penso que vamos ter direito ao sermão do dia. Ela olha para nós e sorri. ‘O pior é se chove’. Levantamos as duas a cabeça. Olhamos sem termos a certeza de ter ouvido bem. Ela repete. Sempre com um sorriso nos lábios. Tem uns 70 anos e um sorriso doce. ‘É uma chatice’. Eu e a Aprendiz rimos, sem saber que dizer. ‘Tenho que fazer queixa ao primeiro-ministro’, diz em jeito de despedida. E continua pela rua fora, descansada. O passo de quem tem todo o tempo do mundo.

segunda-feira, março 17, 2008

sofrimento em formato mensal [iii]

Não, não dou autógrafos!

[O meu clube de fãs: 'Falaste muito bem e estavas linda', G., 4 anos]

Casamento por um fio I

A noite, passou-a sozinha. Ele tinha saído para jantar com amigos e não anunciou a hora de chegada. Não telefonou. Esperou por notícias antes de adormecer mas fechou os olhos sem saber nada de novo. Ligou, mas ninguém do outro lado da linha. Não era a primeira vez que ele lhe fazia isto.

O sono foi aos solavancos, assim de minutos em minutos, acordando com o mais pequeno som na escada do prédio naquela rua sossegada de Cascais. Não tinha relógio mas nem era preciso. Sabia que o tempo passava sem que a porta se abrisse e houvesse um outro corpo na cama. Nunca tinha desconfiado dele. Nunca. Achava que o amor que nutria por ela era só um, único, sem ser partilhado nem reclamado por mais ninguém. Mas a angústia de dormir sozinha...

A manhã estava a querer entrar mais cedo e voltou a abrir os olhos. Era ainda ténue a luz que via da janela pequena do quarto. Preocupou-se. Preocupava-se sempre. Carregou nas teclas que lhe davam o nome dele e ouviu a chamada seguir. Não soube para onde. Lá longe um atender sem voz. Estou? Estou? Nada. Ouviu que falavam, não com ela, mas falavam. Deixou-se estar naquele silêncio de uma cama meio-vazia e esperou. Era ele. Do outro lado, era ele. Apurou o ouvido para entender o que estava passar-se. Estaria no bolso o telefone. Sim, no bolso dos jeans onde sempre levava aquele Nokia último modelo. Uma voz feminina fez-se entender através da ganga. Quis perceber o que dizia mas nem sempre as telcomunicações servem para bons entendedores. E ela não era, definitivamente, uma boa entendedora. Precisava mais do que meia palavra.

Gritou o nome dele como se se pudesse fazer ouvir. Uma e outra vez. O telefone foi desligado. Não parecia ter sido um acaso.

Às sete da manhã ouviu a porta bater. Um cheiro forte a tabaco entrou no quarto e, com ele, o homem que um dia a tinha esperado junto ao altar. Estás tão bonita, tinha-lhe dito. Hoje isso não importava. Acendeu a luz como se naquele quarto não houvesse outra mulher. Tirou a roupa e preparou-se para um banho. Ela abriu os olhos e perguntou-lhe porquê. Ias refilar, respondeu. Despido seguiu para a água quente que corria tanto como a manhã. E saiu para trabalhar.

Nesse dia, ela não dormiu.

Jet Lag II

Vomitei o jantar. A cabeça a andar à roda. Tremo de frio. É preciso sofrer tanto por causa de uma diferença de 3 horas?

domingo, março 16, 2008

Ovinho de Páscoa

A C. fez ontem uma semana. Vi-a hoje pela primeira vez, ao contrário do que aconteceu com os irmãos. A esses, vi-os uma hora depois de nascerem. Peguei nela com jeitinho e acariciei-lhe a cabeça. Olhos fechados, dedos compridos, um centímetro a mais desde o dia em que nasceu. Pouco cabelo, rareado, numa cabecinha sem marcas de dar à luz. Estava de branco e rosa, como uma bonequinha que escolhemos como a preferida e tratamos como se fosse a sério. Mas a C. é a sério. Choramingou. Quase nada. Era fome. A C. já não mama porque a mãe não tem leite. Pude então dar-lhe o biberão e pô-la a arrotar numa fraldinha bordada a criança. O cheiro é o dos bebés, claro. E entra-nos na alma. A C. também é minha. Não é só minha, mas também me pertence um bocadinho. E quando crescer vai correr para mim como fazem os irmãos ao ver-me chegar. E também ela ouvirá as estórias que invento, sobre um ratinho com óculos que caiu em cima de um elefante, também ele caído num buraco. E vai fazer perguntas. E vai querer que a leve para acama. Para já, a C. simplesmente existe. E isso é suficiente quando se é como ela!

Lisboa é uma aldeia

Ainda entra pela janela o som dos últimos cânticos. A voz sai de um altifalante. Pausadamente. Do cimo da rua ainda vi o andor, as vestes vermelhas do padre ou dos ajudantes, não sei. As pessoas que caminhavam lentamente. É Dia de Ramos e a procissão é tal e qual as que lembro da minha infância. Duas semanas de férias bem medidas que começavam neste mesmo dia. Havia missa e depois lá íamos atrás do padre por toda a aldeia. Lembrei-me disto pela manhã, a caminho do pasquim, cruzando-me com mulheres e crianças com ramos de oliveira na mão. Lembrei-me das férias, dos passeios até à barragem, dos bailes na casa do povo, dos primeiros amores, das amendoeiras floridas, dos primos ‘que nascem debaixo das pedras’, dos folares doces cozidos no forno a lenha, dos pés do menino, que o padre levava de casa em casa, beijados por todos.

desvantagens de trabalhar ao domingo

"Agora não posso. Ligue-me daqui a meia hora que estou a atracar o barco."

Mudança [ii]

"Ele fitou-a. Ao fim de algum tempo, disse: A questão não é sabermos onde estamos. A questão é pensarmos que chegámos a esse lugar sem levarmos nada connosco. As tuas ideias sobre começar de novo. As tuas ou as de qualquer outra pessoa. Ninguém começa de novo. Eis o fundo da questão. Cada passo que damos é definitivo. Não o podemos apagar. Nem um bocadinho. Percebes o que eu estou a dizer?
Acho que sim.
Eu sei que não estás a perceber, mas deixa-me tentar mais uma vez. Tu pensas que, quando acordas de manhã, o dia de ontem não conta. Mas o dia de ontem é tudo o que realmente interessa. Que mais existe? A tua vida é feita dos dias que a compõem. Nada mais. Talvez julgasses que podias fugir e mudar de nome e mais não sei o quê. Começar de novo. Até que certa manhã, acordas e olhas para o tecto e adivinha quem ali está estendido?"


Este país não é para velhos, Cormac McCharthy

Jet Lag

Continuo com as horas de lá. Deito-me e não adormeço. Talvez por ter dormido 8 horas durante o dia. Talvez por ser ainda cedo, no meu cérebro. Tenho a meu lado um chá de cidreira, quente, adoçado com mel. Espero que arrefeça e tremo de frio. Há pouco mais de 24 horas dormia com um lençol a tapar-me as pernas. Esta noite nem o edredon e o cobertor são suficientes. Dizem-me, muitos, que viveriam lá. Eu não. Mas sabe bem, a visita. Conto três vezes no meu currículo de viagens: 3 idas ao Rio de Janeiro. Já sei que voltarei, ou não fosse a cidade de eleição do R. Na sexta, enquanto tomávamos o pequeno-almoço no 'Talho Capixaba', um animado cidadão cantava à chuva, bem alto, 'como é bom trabalhar no Leblon'. Sorri. Não se imagina ninguém, por cá, a cantarolar na rua 'estou na boa porque trabalho em Lisboa' ou, para os da margem Sul: 'é porreiro trabalhar no Barreiro'. Outras formas de estar...

Tenho pensado muito nas pessoas que vivem com o salário mínimo. Como passar um mês com uns 400 euros, questiono-me? São pessoas incríveis, essas, as que conseguem ter famílias assentes em tão pouco. E sobrevivem. Não viverão em êxtase mas são, provavelmente, felizes. No Brasil isto é ainda mais preocupante tendo em conta o elevado custo de vida e os salários para lá de baixos. Olho para as pessoas que estão nas lojas - uma média de 3, por cada pequeno espaço comercial - olho para os que estacionam carros nos restaurantes (não são arrumadores, isso não existe, por lá. São uma espécie de vallet parking), olho para os que vendem na rua, um pouco de tudo. Na miséria há poucos pedintes. Quase nenhum. Cada um procura o seu caminho e faz por viver melhor sem incomodar os outros.

Hoje comprei o meu primeiro creme anti-rugas.

Cidade Maravilhosa




sábado, março 15, 2008

Da Beleza

Dobro os 35 anos com problemas da adolescência. Olho para o espelho e não gosto do que vejo. Reparo nas rugas junto à boca, de expressão, talvez de sorrir, talvez de chorar. Vejo as sobrancelhas coladas ao olhos, recortadas numa forma que me aborrece. O cabelo desfiado e fraco, com um corte que nunca me agrada; a pele rosada onde e quando não deve. Sinto o peito descaído mesmo sem ter amamentado, e cai sobre as dobrinhas da barriga - 3, conta o R. com graça - e pareço uma mulher que nunca andou direita, erecta. Os meus pés são horríveis e as mãos têm demasiadas peles à volta das unhas. Ancas largas, rabo alargado pela gordura acumulada. Joelhos grossos e pernas com celulite. Já lá vai o tempo em que havia uma ou outra coisa que gostava em mim. Já lá vai... O R. diz-me que temos de trabalhar a minha auto-confiança. Mas para mim isto é apenas um retrato da realidade. Eu nem leio revistas de moda e afins mas, confesso, quando uma me passa pelos olhos fico pregada àqueles corpos delineados, àqueles rostos bonitos, àqueles cabelos soltos e saudáveis. Mesmo que haja um pouco de photoshop, alguma coisa tem de ser verdade. A S. foi há pouco tempo capa da GQ. Está linda. Mesmo. E ela é assim: bonita, calma, doce, uma mulher dos diabos! Podia não me importar com isto, mas quando o espelho me reflecte penso duas vezes. Não é por causa dos outros. Se gostam de mim, ou não. Porque gostam, eu sei. É por causa de mim. Por causa do meu olhar, por causa da minha postura perante o que sou. E o que sou, assim à vista, é muito pouco...

Acordo Ortográfico

Estou ainda fresca para falar deste assunto. Sou contra, completamente contra, o acordo ortográfico. A S., que vive no Rio há 3 anos, decidiu tirar lá um curso de Jornalismo. Na Faculdade, foi aplaudida pelos professores e um exemplo para os colegas por 'falar tão bem português'. Pediam-lhe que repetisse palavras, que pronunciasse frases, que deixasse os sons de sotaque português de Portugal fluir. Mas, pelos vistos, não chega! Bem sei que eles são muitos mais. Bem sei que, só o Rio, o Estado do Rio, tem mais habitantes que Portugal inteiro, mas, ainda assim... Nós teremos de alterar cerca de 5 por cento da nossa escrita. Para eles, nem chega a meio por cento. Porquê? Porque os brasileiros têm mais dificuldades? Porque, na geral, são mais iletrados? Não me parece! Eu gosto de escrever baptismo com p, acção com dois c. Gosto. Eu gosto de uma escrita que não é óbvia, que não se ouve, que se sabe para além do que se diz. Eu gosto. Mas não. Já aí estão os dicionários, os apêndices, as ajudas para saber, daqui a 6 anos, escrever uniformemente. Bolas. Terei de adaptar-me. Mas sou contra. Imaginem as crianças que agora aprendem a escrever. Vão ter erro se escreverem ótimo. Mas, temos de ensinar-lhes, daqui a meia dúzia de anos terão erro se escreverem óptimo. Coitadas. Que confusão. Para quem a escrita faz parte da vida isto é muito importante. Se eu fosse revisora de um jornal fazia-me de esquecida e deixava passar as letras que não se ouvem. Os mudos também não falam e comunicam. Fazem-se ouvir. Assim são as letras silenciosas...

P.S. A RTP fez uma peça miserável sobre este assunto. A jornalista fez de conta que estava numa aula de português e ia tirando dúvidas de português. Péssima. Vi no avião. Porque é que deixaram de ter as notícias da SIC, na TAP?

Home sweet Home

A viagem foi um sacrifício. Quase 18 horas em aeroportos. Um voo nocturno muito diferente daquele que anuncia o Jorge Palma num cd maravilhoso. Um lugar junto aos lavabos e uma mudança para um pouco melhor. Ainda assim, mau. Um A330 velho e sem direito à escolha de programação no ecran pessoal. Uma refeição mal confeccionada e uma brasileira insuportável no banco da frente (tanto, que depois de pentear-se mal raiou o sol, acabou por deixar um par de sapatos esquecidos no banco dela, soltos, assim, no chão. E se tresendava a perfume...). As crianças calaram-se, coitadas, lá aguentaram calminhas as 9 horas de voo. Mas os adultos não conseguiram descansar durante toda a noite. A executiva vinha cheia e as milhas do R. não serviram para nada. Restou-nos a boa disposição. E um filme. 'A História de uma Abelha' é genial e o Nuno Markl está muito bem na dobragem. Fartei-me de rir sozinha. Eu, que só gosto de mel no chá.

Dormi 8 horas na minha cama quente e confortável. Preparo-me para um belo duche antes de ir ver a C., que faz hoje uma semana. Já falei com os meus irmãos e com a minha mãe.
No fim de contas, sabe bem voltar a casa!

Momento baby blog ou a importância das coisas simples

Há uma hora às voltas com os jornais, sentada no sofá, ainda em pijama. Toca o telefone. Atendo a minha irmã e oiço do outro lado uma voz pequenina, atabalhoada: ‘tia quero que venhas a minha casa que tenho saudades tuas.’ E toda eu derreti. Profundamente apaixonada como sou por estes dois seres que não sendo meus será sempre como se fossem.

sexta-feira, março 14, 2008

Atrasos

Dentista às dez e uma espera de 40 minutos apaziguada pela companhia da A. que não via há uns cinco anos. Consulta e hora confirmada na véspera e a médica que não há meio de chegar. È aflitiva esta mania dos portugueses de acharem que não precisam de cumprir horários. Que quando chegam, chegaram, não é mal que venha ao mundo. Os outros… que esperem. Que se adaptem, que reformulem a agenda, que encaixem no tempo que sobra todo o que ainda tem por fazer.

No Rio V

Digo adeus à cidade numa noite de chuva tropical. Dizem que amanhã, da Rocinha, virão notícias de mortes por causa das cheias e dos desabamentos. Acredito, a julgar pelas fortes bátegas de água e pelo mau escoamento das ruas, aqui em baixo. Jantámos com portugueses: o homem que trouxe a Mc Donalds para o Rio, o director-geral dos canais Telecine no Brasil, o director de uma empresa de cimentos xpto e as mulheres dos dois primeiros. Fiquei a saber que há máquinas que fazem canja de galinha como quem faz café. Com uma cápsula. Fiquei também a saber que sou mesmo pobre e que, naquela mesa, era a única (e o R.) éramos então os únicos que, nos últimos 6 meses, não tinham ido a Buenos Aires. Mas parece um bom destino, para breve. O 'Siri Mole' é caro e especializado em marisco. Na parede há diplomas e prémios para quase todos os pratos. Comi Frigideira de Siri. Nome bonito, não é? E saboroso.

Vejo que estão bem, estes casais que apostaram viver no Rio. Muito bem na vida. Ainda assim, não trocava. Não é que não me apetecesse falar de mil euros como quem fala de cem... não é que não me soubesse bem ter casas cá e lá, opções de vida dos dois lados do Atlântico... mas eu gosto de Lisboa e até da minha vida. Aliás, e pegando no post anterior, da Carrie, diria que a verdadeira mudança está nas nossas cabeças e na forma como interpretamos o que temos. É que mudar de sítio não chega. É o que eu acho. Vejamos as coisas neste prisma: a Carrie quer que chegue o dia dela quando, num belo almoço no Chiado, tem tempo para conversar com uma amiga. Eu, quando almoço, em dias de trabalho, limito-me a pensar qual dos meus colegas ou qual o jornal que me vai servir de companhia. E penso se quero a sopa sem sal ou o prato sem sabor. Carrie, é um privilégio ter amigos no Chiado! Pensas nisto e sorris, sim?!

O R. tem pena de deixar o Rio. Ele realmente gosta disto. Eu sei que voltaremos, por isso não me preocupo. Por agora penso na viagem de avião e na forma como vou recuperar do jet lag. Não há-de ser nada. Fizemos umas comprinhas. Nada de mais. Desta vez não gastei muito dinheiro a pensar nos outros. Conselhos do Leão. E da minha conta bancária. Voltamos a ver-nos um destes dias, já em casa.

Mudança.


Almoço com a G. numa esplanada do Chiado. Risoto de tamboril sem queijo. Nada de especial. Para a próxima mantenho-me fiel e escolho a tosta de salmão. Mudar nem sempre é bom. Almoço com a G que um dia se cansou do ram-ram de todos os dias e que fez o que muitos gostariam. Simplesmente mudou sem pensar um segundo, sem olhar para trás. Em três anos nunca a vi tão feliz. Bonita. De bem com a vida. Tranquila. Mudou de vida, de continente por uns meses. Arriscou. Falamos da experiência. Do que fez nestes seis meses em que não deu notícias. Explica-me porque não o fez. Falamos da mudança radical. Do quanto preciso de lhe seguir as pisadas. Dos gastos. Da mentalidade pequeno-burguesa que nos leva a apegarmos ao conforto material. Que nos prende. Que não deixa arriscar. Dos dias em que nos perguntamos porque não mudar. E nenhuma resposta nos sai dos lábios. Ela conhece os meus sonhos. Sabe que daria tudo para estar agora no lugar dela. Mas ela apenas chegou onde chegou porque ‘estava no sítio certo à hora certa’, diz-me no meio de uma gargalhada. Insiste que foi pura sorte. Eu sei que não. Que trabalhou para isso. Ainda existem algumas nuvens, muito altas, muito ténues no olhos da G. Mas sei que vai correr tudo bem. Há poucas mulheres com a fibra da G. Despedimo-nos sob o sol quase primaveril. Abraçamo-nos. Prometemos não estar tanto tempo sem nos vermos. Desejo-lhe boa sorte. Desço a rua a pensar quando será o meu dia?

quinta-feira, março 13, 2008

hobbies

Faço chá verde enquanto descarrego as fotos que fiz na manifestação de sábado. Percebo, com alguma mágoa, que estava na altura de perder a mania de que sei fotografar.

quarta-feira, março 12, 2008

No Rio IV

Viva! Fomos ao Corcovado, finalmente. É maravilhosa, a vista. Prometo deixar, em breve, fotos comprovativas. Fomos com um taxista que fez todo o percurso de ida e volta por 100 reais. O Ivan foi falando do perigo e da cidade e confidenciou-nos que, em Santa Teresa, a vista é a mesma que do Cristo Redentor. E não se paga. Ainda assim, não há como ir a esta agora Maravilha do Mundo. O Cristo é enorme, muito mas muito maior que o nosso Cristo Rei. E tem expressão. Achava que era coisa de turistas mas tinha curiosidade de subir. E fiz bem. Lá em cima avista-se todo o Rio, do Maracanã à Barra, passando pelo morro do Pão de Açúcar ou pela ponte que liga a Niterói. Mar e montanhas, morro e urbanização. Prédios gigantes entrelaçados de arvoredo. Difícil é fotografar o Redentor. Há muita gente, muitos turistas, mesmo num dia de semana. Vê-se em pouco mais de meia hora, e é comparável, em sensação, a uma ida ao Empire State Building. Também é impressionante. O Ivan falou muito dos homossexuais, homens e mulheres. Ele diz que os homens andam direitinhos, de camiseta colada ao corpo e namoram no taxi. E elas, ai meu Deus, 'moças tão bonitas beijando-se no banco de trás. É uma pena!'

Jantar no Da Silva. Pertence a portugueses. Aqui em Ipanema.

tecnologia

Os jornalistas portugueses andam cada vez mais sofisticados. Há uns tempos fui com uma estagiária ao Parlamento que esteve umas três ou quatro horas a trocar sms. Hoje sentei-me ao lado de um jovem que esteve mais ou menos o mesmo tempo dedilhando no msn [vulgo messenger] com uma loira oxigenada.

[a gerência pede desculpa pelo desinteresse do tema, mas não se passa nada]

No Rio III

O R. ainda dorme. Planeámos ir hoje ao Corcovado mas ainda nem são 10 horas. Eu fui acordada pelas dores. As mesmas que me fizeram levantar a meio da noite. Ando a ben-u-rons. Vários por dia. As dores de reumático são insuportáveis e surpreendentes aos 35 anos. Mas não falemos de coisas tristes. O R. anda agora a deambular pelo apartamento. 400 reais por dois quartos, dois 'banheiros', uma pequena cozinha e uma boa sala. Vista de mar, se olharmos entre os grandes prédios da Prudente de Moraes. Dizem que é um bom preço. Especialmente se pensarmos que cabem aqui dois casais. O preço inflacciona, se assim for, mas não muito. O R. vai pagar a maior parte da conta.

Ontem o dia foi esquisito. Fomos às compras a Copacabana, à única loja que o R. conhece para comprar calças do número dele, marca YSL. A Ives, como lhe chamam aqui com pronúncia, vai deixar o Rio, diz o vendedor. Vão abrir uma loja própria. Olho para os pólos Lacoste e não gosto de nenhum. O R. pergunta-me se quero aquele com gola amarela. Não! Claro que não! À tarde fizemos uma visita a um amigo do R. No hospital. Um hospital privado. Em Botafogo. Um mundo à parte porque lá não há turistas, como em Copa ou mesmo aqui, em Ipanema. O homem anda em hospitais há 3 meses. É português. Muito rico. Mais ainda que o pai do F., que também vive no Rio e trouxe para cá a Mc Donalds. Foi com ele que almoçámos, no Giuseppe Grill. Comi uma picanha maravilhosa. (Fui agora interrompida pelo R. que, a cair de sono, apareceu para me dar mimos) A picanha, comi-a com arroz maluco. É assim parecido com o arroz dos chineses mas melhor, com mais iguarias. Pagou o pai do F., o que é importante num restaurante daqueles.

Soube que fazem visitas de jipe, guiadas, às favelas. O R. não me deixa ir. Por causa das balas perdidas. Eu tenho uma enorme curiosdidade mas já conheço o 6 de Maio e a Cova da Moura. Não tem nada a ver com a possibilidade de conhecer a Rocinha. Acho que fica para a próxima.

terça-feira, março 11, 2008

formas

A Luso mandou-me as imagens da nova campanha das Formas Luso. Dizem-me que a loira escultural que se senta, de biquini, num cadeirão verde é a Flor. Nenhuma das mulheres que comigo trabalha consegue disfarçar completamente o espanto pela minha cara de ignorância. Só folheio revistas do social nas idas à depilação. Nunca demoro o tempo suficiente em cada página para fixar as caras. [A partida da C. também contribui para a minha ignorância em relação a vida social do ‘jet set’ português. Só fiquei mais pobre porque tenho muitas saudades da C.] Voltemos pois à Flor. Dizem-me que é uma das modelos portuguesas que mais trabalha em desfiles internacionais. Talvez seja. Mas continuo sem perceber o objectivo da campanha da Luso. A dita Flor está sentada, com os cotovelos apoiados sobre os joelhos, e tem dobra da barriga três ligeiros refegos de celulite. Não sei se a intenção das Formas Luso é fazer uma segunda fase da campanha em que a Flor aparece já sem a celulite, para provar as verdadeiras capacidades da água. Ou se quer mostrar que a Flor é uma mulher como outra qualquer. Ou se enviou as imagens antes de lhes passar com o photoshop…

No Rio II

Pedimos comida ao Room Service. O R. está com um escaldão na barriga e nas pernas e eu tenho dores de reumático. Pasme-se! Pedimos um fillet com queijo. Traz batatas fritas. Ontem andámos pela feira hippie e não cometi nenhuma loucura. Todos os domingos há uma feira hippie, em Ipanema. Tem de tudo mas, sobretudo, roupa, malas e arte. É a parte que gosto mais de ver, a das pinturas. Tem uns quadrinhos engraçados que retratam as favelas. Não sei os preços, nunca perguntei.

A praia estava quente e com um bocadinho de vento, hoje. Por isso era fácil ficar queimado. Eu pus creme protector, mas as partes que escaparam aos meus dedos estão vermelhas. Não me doem, apesar de tudo. A praia é um misto de gente e de acontecimentos. Daria uma bela reportagem fazer uma história só com os vendedores ambulantes. O que vende os sucos, o que vende o pão árabe, o que vende as cangas ou o que vende o queijo coalho. São imensos. As vozes e os pregões fazem parte do ambiente. E cruzam-se. Páram e cumprimentam-se. Trocam favores: uma sanduiche por dois mates. E têm pregões próprios, engraçados, coisas que inventam. Gosto de abrir os olhos por debaixo do chapéu e vê-los passar. Compro pouco, ou nada. Hoje bebi uma limonada e comi uma sandes. Ainda pedi uma água de coco. Soube-me pela vida, naquele calor.

O tempo passa depressa e o R. comprou hoje mais livros. Talvez tenhamos de dividir o peso, no regresso. Ou não, já que ele tem milhas para a classe executiva. Eu ainda não sei. Mas se for outro A330, como para cá, quase vazio, vem-se bem na económica. Por agora aproveito os dias. O jantar já chegou.

domingo, março 09, 2008

Estados d'alma [x]

Demasiado impaciente para poder ter um jardim. É que não há meio de ver o resultado final!

No Rio I

Estavam 34º quando passeámos pela Visconde de Pirajá, esta manhã. Dormi mal e senti os efeitos do jet lag. Os sonhos maus encheram-me a noite e o ar condicionado foi desligado por causa do barulho. O R. ressonava baixinho. Tomámos o pequeno-almoço no 'Café dos Autores' onde fui surpreendida com um brownie embrulhadinho em celofane e com um laço. Por ser Dia da Mulher, disse o empregado. O Café dos Autores é uma das muitas livrarias do Rio de Janeiro. E, como todas, tem um café. Ambiente simpático, docinhos, crepes e variedade de bebidas. É o ideal: boa comida e livros em volta. O que mais posso querer para acordar?

A C. nasceu às 6 da manhã. Recebi a mensagem com um sorriso. É a terceira filha dos meus primos mais apertados. Combinei com a mãe ficar com a criança para mim. Assim de brincadeira. Eles já têm dois! E eu nada. Está tudo acertado: ela dá-lhe de mamar por uns tempos e depois dá-ma para sempre! Como uma mãe de aluguer, igual à do filme que vi ontem no avião, o 'Juno'. Mas eu quero uma criança minha, pensei. Então fala com o Pandas. Falei. Aguardo resposta. A C. pode ficar com os pais verdadeiros.

A Visconde de Pirajá estava cheia de gente de hawaianas e calção, biquini e saia curta. É Verão. No Rio a gente é boa e maioritariamente pobre. Não há roupas de marca - tirando o pólo Pierre Cardin do R. - e todos parecem saídos de uma caixa de sapatos usados. É quase tão comovente quanto triste. Andámos às compras. Escusado será dizer que já ganhei uns quantos presentes. Ele mima-me. Mais uma loja, mais um presente de Dia da Mulher. Levam isto a sério, por cá. Almoço na Espelunca, espetinho de mignon, que é como quem diz uma espetada de carne de vaca.

O JMM deixou o Cavaco Silva para jantar connosco. Fomos ao mítico Bracarense, onde se come, segundo o R., o melhor fillet do Rio de Janeiro. Concordo. Muitos garotos depois - e um suco de maracujá para mim - conversa fiada e esplanada cheia. Ambiente carioca. Valeu a pena ter vindo!

sexta-feira, março 07, 2008

Estado crítico

Mais de 40% do meu prémio de produtividade foi para o Estado. Como se lhe devesse o facto de trabalhar muitas horas por dia. Como se lhe devesse o facto de pagar impostos todos os anos. Como se lhe devesse o facto de cumprir a minha função. É o chamado Estado de Direito. Direito a nada.

E por falar em turismo...

Porta de embarque 18. Cheguei cedo, o que me deu tempo para uma viagem à janela e numa saída de emergência. Desta vez não vou em executiva. Não há milhas nem favores. Para trás, uma semana cheia de trabalho e uma série de gente com pouca vontade de trabalhar. E ainda alguns chatos, outros arrogantes, e gente divertida. Como em todo o lado. À minha frente, 10 horas de viagem. Conto dormir 70 a 80% do tempo. Levo comigo o Público, o Courrier Internacional e a Visão. E ainda o Padura. Para as horas em que estiver acordada. O computador segue, meio por motivos profissionais, meio por causa deste blog e por causa do tempo em que o R. vai ver televisão e a mim não me apetece. A net é um mundo. Levo uma ou duas ideias que não sei se são concretizáveis: uma ida ao Cristo Rei - é a minha terceira viagem ao Rio de Janeiro e nunca lá fui - e um voo de asa delta. Projectos demasiado altos, talvez. Estão 35º no Rio. O Cavaco está por lá, de visita ao Lula e à cidade, por causa do dia em que Portugal começou a ser governado a partir do Brasil. Ainda me encontrarei com o JMM à conta disto. É um grande jornalista!

quarta-feira, março 05, 2008

inveja é coisa feia

Tenho inveja dos turistas que se sentam nas esplanadas do Chiado. Postais rabiscadas nas mesas de ferro. O sol que aquece do vento frio. Ar despreocupado. De quem está bem com a vida.

frio

Os ossos gelaram perante a perspectiva de continuar no frio de Lisboa. Passo a tarde de casaco vestido no meu micro clima em tons laranja. Clima tropical como lhe chamava a C. Tento não pensar no assunto. Não dramatizar. Convencer-me que era apenas mais uma viagem. Digo-te ao telefone que estou bem. A voz tremida. Estou bem. No pasa nada. Quero que acredites que sim. Preciso de acreditar que sim. Tento não dar mais importância ao assunto. Faço de conta que nada aconteceu. Respondo em monossílabos rápidos de ‘presidente da junta’ atarefada, enquanto do alto do meu ateísmo rezo para que não me digam nada. Há um jornal para fazer. O resto são histórias. Mesmo que não concretizadas.

terça-feira, março 04, 2008

Zen

As minhas mãos cheiram a chocolate.

[...] [ii]

vim aqui para escrever qualquer coisa. dizer mal da vida. do mundo. percebi que as palavras não respondem à chamada. presumo que estejam demasiado tristes.

segredos de estado

Dou por mim parada, sentada ao volante, à espera que o sinal mude de vermelho para verde, com um sorriso nos lábios. Dou por mim a pensar no teu desconforto, na atrapalhação, o ar acabrunhado, meio sorriso meio lágrima, com que me preparas para me contar o teu segredo de estado. Dou por mim, sentada à porta do pasquim enquanto fumo o primeiro cigarro do dia, de sorriso nos lábios a pensar como, logo tu, a quem chamei um dia desbocada, de quem duvidei da capacidade de guardar segredo, a quem me recusei a contar algumas coisas, não muitas, sabes como eu própria sempre fui inconveniente em relação às minhas histórias, logo tu guardaste do mundo o maior dos segredos. Vejo como descontrais, enquanto te abraço e digo que és tonta. Que podias ter contado, o que no fundo sempre desconfiei. Que nunca te poderia censurar, principalmente quando estás tão feliz. Falas-me de compreensão, de apoio, maturidade. Vejo-te feliz. E sorrio.

domingo, março 02, 2008

Na Lua

Vêm-me à memória demasiadas coisas. O passado anda por cá a espreitar, como se não fosse nada. Deixando marcas no dia mas, sobretudo, na noite. Aparece-me em sonhos como se o tivesse visto ontem, faço comparações enquanto durmo, não fecho os olhos sem uma recordação. Enumero o bom e o mau e pergunto-me porquê. São pensamentos que vão e vêm, assim numa espécie de alívio e de incompreensão. Como se o presente não chegasse. Quando chega. A vida hoje parece diferente de há uns anos. Há cinco tudo me parecia negro. Agora há apenas uma nuvem, uma neblina que passa, uma neblina do passado para citar o livro que ando a ler. Disseram-me que estava velho e já com muitos cabelos brancos. Não consigo imaginar nada de mau. Uma figura alienada, fora de si, sempre na lua e sem ninguém a prestar contas. E imagino-me também numa certa lua, aluada, esquecida do que realmente importa quando somos dois. Não é saudade, não é paixão, não... apenas um amor quase maternal, uma vontade de corrigir tudo com caneta a vermelho. Vês o que esteve mal? Isto não se faz, isto também não, e isto, nem pensar. E depois um sorriso de perdão que é também de tréguas. Não me interpretem mal: não é o presente que não me satisfaz, apenas o passado que ainda dorme comigo. E três na mesma cama é demais.

Dia 18

Vão espetar-me duas grandes agulhas na face. E depois passam um líquido pelas duas agulhas, e entre os ossos do meu maxilar. Anestesia local. O médico perguntou-me se era mariquinhas. Disse que não. Menti.

Tarde infantil

E se de repente tivesse que gritar bem alto: 'Rucaaaaa...., Rucaaaaa'? E se ele aparecesse, todo contente (no que é possível um boneco estar contente) e fizesse rir as crianças? Isso era um espectáculo no Pavilhão Atlântico, de Ruca ao Vivo.

E se a mãe dele fizesse anos e nos 'obrigasse' a cantar os Parabéns? E se lá estivessem também o Pai, o Riscas (o gato, para quem não sabe), a Rosita e a Clementina?

E se de repente um vendedor nos dissesse que uma inutilidade luminosa com o Ruca na ponta custava 15 euros?

E se mesmo assim comprássemos dois?

Isso era uma grande tolice, não era?

Porém...
Espero que o G. e o F. não os deitem fora já amanhã.