domingo, agosto 31, 2008

O que eu vi em Veneza II...

Estava tanta gente à porta que temi não poder entrar. Mostrei o cartão vermelho com a fotografia e a palavra "daily", imprensa diária, portanto, e a luz verde acendeu-se para mim e para o repórter de imagem. Ali, a dois passos, os homens das revistas e da televisão, dos filmes e dos Óscares. Sorriso lindo, o do Clooney... Brad Pitt de chapéu na cabeça, um certo ar de cowboy, e a frescura de quem acabou de desembarcar em Veneza, ao sol. Dezenas de jornalistas de mão no ar para fazer perguntas. Também levantei a minha, microfone em riste, lá atrás as muitas câmaras a captar as respostas das estrelas. E os Cohen, irmãos, bem-dispostos, sempre a rir e a fazer piadas. Agora tu, George, agora tu, Brad... E os dois homens, provavelmente dos mais bonitos do Universo (que eu não sei como é em Marte, mas na Terra são, de certeza, dos melhores) ali estavam, à minha frente, à distância de uma pergunta que não consegui fazer. Tanta gente. Um pseudo-repórter brasileiro conseguiu ter voz e perguntou se seria melhor um óscar ou encontrar a mulher de uma vida em Veneza... interesante, pois, a pergunta... e eu, os jornalistas da BBC e da Time, outros italianos e tantos japoneses, à epsera de um "talking head" aproveitável. Mas não, veio uma tonta, italiana, vestida como quem vai fazer jogging e perguntou: "Brad, George, algum de vós quer correr comigo?" Responde Clooney, com graça: "Eu fugia era de si..." E a plateia riu.

Meia hora passa num instante e ainda houve tempo para a Tilda Swinton, também ela protagonista no filme que abriu Veneza (depois de uma curta do nosso Manoel... pois), "Burn After Reading". Fim da conferência anunciado, uma multidão de máquina em punho e papel a pedir autógrafos. Eu, retirada, a observar. Não, eu não vou lá... Não fui. Para quê? Lembro-me de um anúncio de há uns anos sobre uma boneca, a "Joana" (fazia bolinhas). Dizia: "É mentira, é mentira, ela é mesmo igual a nós!"

sábado, agosto 30, 2008

quinta-feira, agosto 28, 2008

angústias

O meu desejo é de morrer, pelo menos temporariamente, mas isto, como disse, só porque me dói a cabeça. E neste momento, de repente, lembra-me com que melhor nobreza um dos grandes prosadores diria isto. Desenrolaria, período a período, a mágoa anónima do mundo; aos seus olhos imaginadores de parágrafos surgiram, diversos, dos dramas humanos que há na terra, e através do latejar das fontes febris erguer-se-ia no papel toda uma metafísica da desgraça. Eu, porém, não tenho nobreza estilística. Dói-me a cabeça porque me dói a cabeça. Dói-me o universo porque a cabeça me dói. Mas o universo que realmente me dói não é o verdadeiro, o que existe porque não sabe que existo, mas aquele que se eu passar as mãos pelos cabelos me faz parecer sentir que eles sofrem todos só para me fazerem sofrer.

Livro do Desassossego, Bernardo Soares

quarta-feira, agosto 27, 2008

beijos de veneza

Acabei de assistir a uma conferência de imprensa com os cohen, george clooney e brad pitt. a 3 metros deles. já posso morrer. Samantha

acabado de chegar


e a pedir uma tarde à beira mar.

quinta-feira, agosto 21, 2008

Nelson

[Lusa]

O homem vale ouro, é atleta do benfica e lindo de morrer. Que mais se pode pedir?

quarta-feira, agosto 20, 2008

delitos

Os actos são quase nada. O delito é obra do pensamento. E para esse não há grades nem prisões.

In Páscoa Feliz, José Rodrigues Miguéis

[rabiscado numa agenda velha, guardada numa gaveta e cheia de frases incoerentes]

meu [muito pouco] querido agosto

Não me lembro quando ou como nasceu a ideia de gostar de trabalhar em Agosto. Há aquela coisa de ter a cidade deserta, de não apanhar trânsito, de ser fácil arranjar lugar para estacionar mesmo no centro de Lisboa, de ficar por cá quando todos partem, de ter esplanadas vazias, de percorrer as ruas com o sol abrasador. Mas depois há o lugar na garagem, por isso que se lixem os lugares para estacionar na rua, não há tempo sequer para um café de fugida e de nada servem as esplanadas vazias, e não há ninguém do outro lado para atender os telefones que tocam insistentemente, e quando há não se aguenta a resposta, o desculpe não dá estou de férias, estou com os miúdos na praia, num almoço com amigos [mesmo que sejam já cindo da tarde], numa viagem no estrangeiro, não há quem faça negócios, quem mexa uma palha e faças as coisas acontecer. Trabalhar por estes dias é um verdadeiro tormento e já não faço ideia porque raio gosto de trabalhar em Agosto.

segunda-feira, agosto 18, 2008

inhale exhale

respirar fundo. contar até 10. imaginar que o estagiário não continua a tratar-me por você, depois de eu lhe ter dito duas vezes que não havia necessidade, como se eu tivesse 60 anos.

o pássaro ii

O Andorinhão foi entregue são e salvo na polícia florestal em Monsanto. Prometeram cuidar dele e voltar a soltá-lo por estas bandas logo que esteja melhor. Segui os conselhos da S., mas a verdade é que fiquei satisfeita por não ter que deixar o pássaro no sítio exacto que ela me indicou. É que ter uma ‘clínica’ para animais ao lado, incluindo aves, do clube português de tiro a chumbo parece-me uma péssima ideia.

o pássaro

O café, tomado há menos de dois minutos, ainda não fez efeito. Subo a rua em passo trôpego. Está um pássaro no meio da rua. Dá passos pequenos, pára, anda mais um bocado, arrasta as asas nos paralelos pretos, volta a parar, vai do meio da estrada para junto do passeio. Está na trajectória dos pneus de qualquer carro que decida descer a calçada. Fico a olhar para ele sem saber o que fazer. Estará melhor no passeio, sempre evita as rodas dos carros… Tento pegar-lhe e dá novo salto visivelmente assustado. Acabo por pegar nele e deixá-lo no passeio. O facto de quase ser pisado por uma colega que vem a subir a rua, convence-me a levá-lo para o pasquim. Agora tenho um pássaro numa caixa e não faço ideia que raio faço com ele.

domingo, agosto 17, 2008

the control switch

"At first, all goes well, but after two or three months a pattern begins to emerge, and Grace understands that she’s trapped in a machine. Trause wants her and he doesn’t want her. He knows he should give her up, but he can’t give her up. He vanishes and reappears, withdraws and comes back, and each time he calls for her, she goes flying into his arms. He loves her for a day or a week or a month, and then his doubts return and he withdraws again. The machine goes off and on, off and on… and Grace isn’t allowed near the control switch. There’s nothing she can do to change the pattern."

Oracle night, Paul Auster

terça-feira, agosto 12, 2008

E quem processa os pais da criança por negligência?

“Uma criança de 12 anos foi morta segunda-feira por disparos de um militar da GNR, após uma perseguição automóvel depois do assalto, em que participaram dois adultos, a bordo de uma carrinha Ford Transit. Durante a perseguição foram disparados tiros para imobilizar a carrinha e um deles acertou no pneu traseiro direito da viatura, obrigando à imobilização do veículo junto à Igreja de Santo Antão do Tojal, a cerca de um quilómetro da propriedade onde começou a perseguição, revelou à Lusa o comandante do Grupo Territorial da GNR de Loures, tenente-coronel Cardoso Pereira.

Outro dos disparos entrou na viatura e atingiu a criança, um rapaz de 12 anos, conhecido por "Canigia", filho de um dos dois assaltantes, que veio a falecer depois de transportado para o Hospital de Santa Maria.”

“O advogado dos familiares da criança baleada mortalmente segunda-feira pela GNR em Santo Antão do Tojal, Loures, disse hoje à Lusa que os parentes vão avançar com um processo-crime por homicídio.”

In Lusa

sábado, agosto 09, 2008

desassossego

e aos 34 descobri Pessoa.

sexta-feira, agosto 08, 2008

para a Charlotte

[reuters]



[que volta a ter cinco anos sempre que vê fogo de artifício]

o largo

A vida tem outro ritmo quando se desce a rua. Os jacarandas perderam o azul lilás mas deixaram as sombras caídas sobre as esplanadas, sobre as mesas onde os velhos jogam domino e matam os dias. Há os turistas e os outros e mesmo estes parecem ver com outros olhos estes dias de estio. É contagioso. Perde-se a vontade. A única que fica pede languidez e caipirinhas.

terça-feira, agosto 05, 2008

auster [outra vez]

A Fnac volta a ser um vício diário. As prateleiras cheias de livros a cinco euros absolutamente irresistíveis. Mesmo que já tenha muitos dos livros que por lá andam a pedir para ser levados para casa. Como o magistral “The Brooklyn Follies”:

“Yes, I suppose you could. And you’d wind up regretting it every day for the rest of your life. Don’t go there Joyce. Try to roll with the punches. Keep your chin up. Don’t take any wooden nickels. Vote Democrat in every election. Ride your bike in the park. Dream about my perfect, golden body. Take your vitamins. Drink eight glasses of water a day. Pull for the Mets. Watch a lot of movies. Don’t work too hard at your job. Take a trip to Paris with me. Come to the hospital when Rachel has her baby and hold my grandchild in your arms. Brush your teeth after every meal. Don’t cross the street on the red light. Defend the little guy. Stick up for yourself. Remember how beautiful you are. Remember how much I love you. Drink one Scotch on the rocks every day. Breathe deeply. Keep your eyes open. Stay away from fatty foods. Sleep the sleep of the just. Remember how much I love you.”

O outro post já tem três anos... parece que estou a ficar velha.

sexta-feira, agosto 01, 2008

a mudança não é necessariamente uma coisa boa...