quinta-feira, maio 29, 2008

em contagem decrescente

[António Sá - Rotas & Destinos]

quarta-feira, maio 28, 2008

dor de alma [ou o papel...]

É como se arrancassem bocados de mim, devagarinho, de imprevisto, quando não estou a olhar, como se assim pudessem enganar a dor. São bocados importantes de mim, que um dia, logo no primeiro dia, me farão falta.

- Mas eu não quero ir.

- Então não vás.

- Mas eu não posso não ir só porque...

- Então vai.

- Mas eu não quero ir.

- Então não vás.

- Mas se eu for...

- Então vai.

- Mas eu não posso ir só porque...

- Então não vás.

[...]

[És grande. Muito grande]

terça-feira, maio 27, 2008

Viagem no tempo







Depois de 50 anos de ditadura entrámos num clube de ricos que nos ajudou a minorar o que já pareciam séculos de atraso. Mas no velho continente ainda há milhões à espera desse salto em frente. Como na Geórgia, onde os "inimigos" do regresso ao berço europeu estão apenas do outro lado das magníficas montanhas do Cáucaso. (Embora ainda haja catinhos em Portugal onde estas imagens não destoam).

A feira

À primeira vista, ainda do outro lado do parque, não havia razões para tanto. Uma dúzia de pavilhões entrincheirados junto à tenda dos pequenos editores. Pavilhões com livros lá dentro, a mesma coisa uns metros mais abaixo. A diferença está na cor. O que me leva a pensar que não percebo a má vontade da Leya. Afinal as barraquinhas da feira até foram pintadas este ano! Como é que podem acusar a APEL de não querer inovar? Também barulho para nada.

Digam o que disserem, que a feira está morta, que este formato já não funciona, que é preciso modernizar, digam tudo isso, mas ainda assim não me convencem a deixar de ir. De Cumprir o meu calendário emocional. De me sentar no topo do Parque Eduardo VII com o rio lá bem ao fundo, os telhados de Lisboa pelo meio, e o burburinho das conversas em volta. Nada como descer a calçada entre as barracas, folhear livros, comparar preços com os desejos que colei nos pulsos agora na contracapa da Moleskine, subir a calçada pelo lado contrário, demorar tempos infinitos nas barracas preferidas, temperar tudo com o açúcar das farturas. O que não combina com a Feira do Livro é o frio de rachar, a chuva torrencial, os pés alagados e o corpo a tremer de frio. Não achasse eu que este blog está a um passo de se transformar num site da meteorologia e desatava a mandar vir com o tempo. Mas hoje não. Fico por aqui que já gastei as palavras para uma semana.

sexta-feira, maio 23, 2008

3 anos de Mais Cidade

A dizer coisa nenhuma. Ainda assim, gosto de aqui estar. Às minhas companheiras de viagem um ‘bem haja’ por existirem na minha vida. Aos outros, os que passam e deixam marca, os que vêm sem dizer palavra, o meu [nosso] obrigada.

[É estranho como me lembro tão bem do primeiro dia, da escolha do nome – autoria da Samantha -, dos primeiros posts, escritos em catadupa, quando a Carrie ainda não era Carrie, antes Bea, personagem de um livro que marcou uma vida, do enorme vazio que este espaço preencheu, do gozo que me deu desde o primeiro minuto. E apesar da dificuldade que tem sido estar mais presente, gostava sinceramente que continuássemos...]

status report

Girassóis, dálias e coroas imperiais devem florir dentro de dias. Os malmequeres, depois de lhes ser diagnosticada a morte prematura, estão verdejantes. Continuam a existir várias espécies não identificadas.

quinta-feira, maio 22, 2008

Identidade

Sabe quem eu sou? Demasiadas pessoas o sabem. Muitos descobriram já que esta Samantha não é loira como a da série, não dorme todos os dias com um homem diferente, não fala de sexo oral ao pequeno-almoço (mesmo que toque no assunto ao jantar)... A minha identidade foi descoberta e não sei se gosto disso. Venho menos a esta cidade por ser reconhecida. Venho a medo, sem saber se os que aqui passam me vêem como sou ou como imaginam que seja. Estas coisas dos blogs são estranhas e não me habituei a ser quem se sabe que sou. Prefiro o tempo em que Samantha, assumidamente é apenas uma mulher de mais de 40 anos, amiga das amigas do sexo e a cidade, desbocada, corrosiva, ordinária sem ser vulgar. Mas eis que o meu rosto saiu à rua e a minha personalidade passou a ter uma imagem. Eis que as minhas palavras passaram a ter um eu e os meus pensamentos são mais do que pura imaginação. Penso se vale a pena vir, desta forma. Venho para fazer companhia. Ficarei?

quarta-feira, maio 21, 2008

A minha passagem por Cannes

[Reuters]

terça-feira, maio 20, 2008

Maio

Esta cidade está quase a fazer três anos e não merecia ser tão mal tratada. Eu ando às voltas com a vontade de escrever, faz-me falta este exercício de exorcismo, começo posts mentais à saída da garagem, na descida para os Restauradores, mas quando chego à Avenida já a cabeça vai a mil hora, a pensar nas queixas, nas resmunguices, na vida que não se vive. Experimento frases soltas a meio de um cigarro enquanto olho os jacarandás no Largo do Carmo, raramente contra o céu azul, como deviam estar sempre os jacarandás, ficam mal no céu carregado de cinzento que parece chumbo, que me pesa nos ombros e na alma. Pensei em escrever sobre as cerejas, já pintam o verde da Serra e vieram por ai abaixo na carreira das seis, mas é sempre mais do mesmo. Acho que já disse tudo o que havia a dizer, basta procurarem nos arquivos em Maio de há dois anos, que não me apetece andar com links. Sei que este ano mal terei tempo para subir às árvores, comer directamente dos ramos, suster a respiração para não pensar nas vertigens enquanto salto para o chão, já enjoada com o peso das cerejas no estômago. Dar tempo para me recompor e voltar lá, ter que subir mais um pouco, procurar as que estão escondidas entre os ramos mais altos que o meu pai tenta a todo o custo vergar sob o peso de um arado velho, para que as cerejas não sejam somente comida de pássaro. Vão-me fazer falta estes dias, mas Maio este ano parece mais curto.

segunda-feira, maio 19, 2008

Letras maiúsculas

No espaço de três dias entrevistei o António Lobo Antunes e o José Saramago. E apetece-me (re)ler os dois!

Quidam

Acabei de chegar do Passeio Marítimo de Algés e de um espectáculo de 65 euros. É certo que fiquei num lugar que custava 90, mas apenas porque a arrumadora era simpática... Não posso dizer que foi uma desilusão, mas também não preencheu as minhas expectativas. Quidam é bem feito, tem qualidade, momentos espectaculares, mas não será o melhor do Cirque du Soleil. Nada do que vi esta noite me foi dado a conhecer pela primeira vez. Nada. Todos os números tinham qualquer coisa de Dejá vu. Havia, aliás, um momento de comédia que eu já tinha visto num qualquer Circo de Natal... Claro que o "palhaço" do Cirque é genial, mais bem vestido, com as feições correctas e os gestos no lugar... mas o número é o mesmo.

Não caiam agora as críticas a desmentir esta opinião dizendo que o Cirque du Soleil é único e eu não sei o que estou para aqui a dizer... Concordo: é único! Mas já não é tão único como noutros tempos e, para mim, não vale bilhetes tão caros. Bem sei que sou pouco dada a coisas de circo e os números de trapézio, cordas e malabarismo não são a minha paixão... mas, ainda assim, há coisas que me surpreendem. E o Cirque não me surpreendeu muito. Gostei do momento em que quatro meninas (teriam mais de 15 anos?) faziam um jogo de malabarismo com uma espécie de ampulheta gigante equilibrada numa corda. É uma brincadeira que já vi por aí, entre miúdos mas, claro, houve naquele número mestria e capacidades para lá do normal. Não digo que também não fiquei impressionada com a rapariga do hula hula... fiquei. Mas é imperdoável, por exemplo, que um malabarista deixe cair uma das bolas. Imperdoável porque o meu bilhete custou 65 euros. Imperdoável porque são muitas as equipas que formam a grande companhia que é o Cirque, e porque a escolha dos artistas é feita a dedo.

Mas o Cirque du Soleil é organizado, profissional, comercial. E nisso, não haverá melhor. Há ali muito trabalho, muito empenho e muito profissionalismo. E isso vale dinheiro. Além disso, há prazer, o que sabe bem apreciar. E não se denota cansaço, o que é impressionante. E há ainda os números em simultâneo, quando o nosso olhar se distrai por vários pontos da arena. E o guarda-roupa.

Os trabalhadores do Cirque du Soleil vivem como ciganos. Viajam, acampam, ficam uns dias e partem. É uma grande máquina, a companhia. As crianças têm que estudar com professores particulares porque não podem inscrever-se na escola; os casais formam-se no grupo; há uma mescla de nacionalidades que vai buscar os melhores de cada País... e há camiões de material, dezenas... para que o mundo se mude para cada cidade onde actuam.

Há, portanto, magia neste circo. E não há nada que choque, não há momentos mortos nem motivo para apontar o dedo (nem tem animais)... Mas eu só consegui levantar-me para sair. Mesmo quando muitos estavam de pé apenas para aplaudir.

Ao 17º...

Amanhã é o meu 16º dia de trabalho consecutivo...

quinta-feira, maio 15, 2008

Repetição por motivos nada técnicos*

Cansa-me a esquizofrenia destes dias de Maio. Esgota-me o cinzento do céu. Pesa como chumbo. Dói-me o frio despropositado. É uma tristeza que não consigo definir. Apenas esperar que passe depressa. Salvam-me os jacarandás* do Carmo. Floriram mais tarde este ano, mas chegaram [enquanto eu dormia] este fim-de-semana como prova da capacidade da reabilitação dos seres.

[a gerência pede desculpa pela repetição, mas a primavera que teima em não chegar anda a trocar-me as voltas]

quarta-feira, maio 14, 2008

formas de vida

“Há vinte anos, no meu país, pôs-se o problema de criar um fundo de pensões para os jornalistas, dado que no fim de todas as carreiras profissionais, supostamente, vem a reforma. No sindicato dos jornalistas chegámos a esta conclusão: era um problema que não se colocava, visto que na nossa classe quase ninguém vive até à idade da reforma. Esta é uma das características da nossa profissão, uma profissão feita de stress constante, nervosismo, insegurança, riscos e em que trabalhamos noite e dia.”

os cínicos não servem para este ofício’, Ryszard Kapuscinski

apetece-me [muito] ii

[desta vez já com viagem marcada]

quarta-feira, maio 07, 2008

Boas vindas

Quando me vê chegar os olhos amendoados ficam mais rasgados, a boquinha abre um sorriso doce, as mãos erguem-se. Apalpa o território que é o meu rosto para depois o lambuzar. "És tu", parece dizer quando puxa o cabelo e sorve o aroma da minha pele. Faz uma careta, emite um som esganiçado e volta a sorrir. Enrola-se à volta do meu pescoço, volta a olhar-me, encosta-se ao meu peito. Sinto a confiança, o carinho, a inocência.

Quando me vê chegar os olhos amendoados ficam maiores, o sorriso é franco, os braços abrem-se em arco. Aperta-me o pescoço e esconde-se entre os meus cabelos. "Olá!!!", grita quando enrola as pernas à volta da minha cintura. Dá-me um beijo e pede-me para brincar. Sinto a confiança, o carinho, a inocência.

Ele tem oito meses, ela tem cinco cinco anos e dão-me as melhores boas vindas do mundo. Têm o condão de com elas tornarem o meu dia muito mais feliz.

pergunta

Se um jornal for publicado apenas dia-sim-dia-não deixa de ser diário?

domingo, maio 04, 2008

BSB

Consegui os bilhetes à borla. Levei os meus sobrinhos mais velhos - ela de 10, ele de 7 - e uma amiga deles. Depois da típica refeição no McDonalds, o Pavilhão Atlântico. Não vamos ver nada, pensei. Enganei-me. Plateia a menos de metade e bancadas cheias. Bilhetes em pé, para a plateia a meio gás. Os mais velhos encostados às paredes; os mais novos - filhos, irmãos ou sobrinhos - junto ao palco, aos saltos. Os meus mantiveram-se ao meu lado, cá atrás, de onde se via melhor. A amiga era a que mais que mais dançava. Nunca tinha estado no Atlântico! Falámos do concerto que tinham visto dois dias antes: os GNR com a banda da GNR. E agora, ali estavam, à espera de ver aparecer os Backstreet Boys. Alguma cerveja a copo rodava no público, mas também se vendiam pipocas. Comprámos. Depois de um rapper qualquer, lá veio a banda dos quatro (ou cinco? perdi-me...) rapazes, outrora apetecíveis, 15 anos de carreira e alguma energia e estilo próprio. Mudaram de roupa três ou quatro vezes, durante o espectáculo. Os passos ensaiados, os gestos simultâneos, em coreografia. Vimos no you tube, não sabíamos quem eram, disseram-me os meus. E então? O meu pai gosta desta música, confidenciou o mais novo. Gosta? Uma daquelas conhecidas, de outros tempos. Lembrei-me de cinco amigos que chegaram a subir ao palco imitando os "rapazes da rua de trás". Cantavam os hits do momento e faziam o mesmo que eles, mas em gestos descoordenados. Um dia gravaram um vídeo na praia. Risos na sala. Vestidos de fato e gravata, camisa branca, uma autêntica Boys Band da Damaia. Genial! Aqueles eram os verdadeiros. Ri-me outra vez. As miúdas guinchavam por eles. Os pais, cá atrás, encostados. Os meus miúdos quiseram sair mais cedo. Já passava das 11 da noite. Ficaram para trás os aplausos e os gritos. Para a próxima vamos ver o Aznavour. É mais para a idade deles.

Fim de tarde

O sol põe-se à minha frente. Trago o portátil para o terraço e sento-me numa das minhas cadeiras novas - 49 euros, na area - depois de me ter espreguiçado na rede que trouxe há anos de uma viagem ao Brasil, mas que só ontem pude colocar na parede. Este meu cantinho agrada-me. Cheira a Verão. Pendem do céu uns cortinados vermelhos e amarelos que comprei para cortarem a luz. Não cortam. Mas ficam bonitos, presos em baixo. As cadeiras de plástico em ripas brancas têm agora uma almofada fofa. Tudo parece jogar. Mas amanhã regresso ao trabalho... e ninguém para aproveitar este espaço.

Big Brother

Sinto-me observada...