sexta-feira, fevereiro 29, 2008

[...]

Ainda sinto um vago zumbido na cabeça. E a sensação de ter levado uma valente martelada. Foi do SMS recebido a meio da tarde. O acreditar que os deuses estão do lado de quem não merece. Respiro fundo. Afinal sempre perco o avião. Eu e todos. Não há vistos. Talvez venham a tempo para terça-feira. Fecho os olhos e abano a cabeça. Para que desapareça o zumbido.

quinta-feira, fevereiro 28, 2008

À cabeceira

Tenho sempre um livro à direita da minha cabeça, junto à cama. Tento pegar-lhe todas as noites, antes de adormecer. Às vezes é só um título, menos de uma página, não importa, fica qualquer coisa para a noite. Mas eis que às quintas-feiras o meu companheiro desaparece da minha cabeceira. Amontoa-se com os amigos num dos cestos onde os empilho, também no quarto. Agora é o Leonardo Padura. Na semana que vem será outro qualquer. A 'mãe da Lipa' (nome engraçado que arranjei para a minha empregada que é mãe de uma Filipa a quem trata por este 'lindo' diminutivo)insiste em arrumar-me tudo. Faz a cama. Ok. Limpa o chão. Ok. Arruma a roupa. Ok. Mas nem imagina que um livro na cabeceira não está desarrumado...

das relações

"[...]É um conceito que me ultrapassa bastante, devo dizê-lo. Uma relação é como uma bicicleta: se pára, cai. Não consigo especificar que tipo de bicicleta é, mas a julgar pelas taxas de divórcio e pela característica do terreno, será uma de downhill. O casamento é a colocação de rodinhas de apoio. A bicicleta pode parar à vontade que não cai tão facilmente, é preciso empurrá-la com muita força ou desaparafusar as rodinhas com a ajuda de um bom advogado. [...]"

Lourenço Bray in o nascer do sol

desafio

Invade-me a satisfação de uma folga a meio da semana na proporção inversa do que me custou trabalhar dois domingos seguidos. Tento resolver os estragos causados pela chuva da semana passada no meu jardim ainda por estrear. Retiro a teka e tento encaixá-la no sítio. Esforço inglório. Troco o trabalho físico pela jardinagem. Planto violetas. Amores-perfeitos. Galanthus [campainhas brancas] e triteleias. Sento-me no chão e olho para os girassóis que já começaram a despontar, as margaridas que não passam de uma folha verde. Pergunto-me como vou conseguir ter um jardim de verdade. Eu que nunca consegui sequer manter vivo o malmequer de S. Bento.


[A excepção é a orquídea oferecida há mais de três anos pela minha mãe, da qual só me lembro uma vez por mês e que estranhamente me continua a oferecer flores uma vez por ano. A dia diz que são plantas caprichosas, que precisam de muita atenção, que devemos falar com elas. Logo eu, que cada vez mais me faltam as palavras. Disse-me, ou escreveu, as memórias do dito e do escrito baralham-se facilmente nesta amizade esquizo, que as orquídeas só dão flores a quem as mima. A minha gosta de ser a excepção à regra.]

Sonhos

Sonho que perco o avião. Sonho que voo para a China. No primeiro sonho entra o Mantorras. No segundo as pessoas que comigo partilham o dia à dia em duas ilhas de um open space laranja. Não preciso de Freud para perceber esta versão. Só não entendo porque raio ando a sonhar com os jogadores do Benfica!

da amizade

"Era bom saber – continua, como se discutisse consigo próprio –, se existe amizade realmente? Não me refiro àquele prazer ocasional que faz com que duas pessoas fiquem contentes porque se encontraram, porque num determinado período das suas vidas pensavam da mesma maneira sobre certas questões, porque os seus gostos são semelhantes e os seus passatempos iguais. Nada disso é amizade. Às vezes chego a pensar que essa é a relação mais forte na vida... talvez por isso seja tão rara. E o que há no seu fundo? Simpatia? É uma palavra imprópria, sem sentido, o seu conteúdo não pode ser suficientemente forte para que duas pessoas intervenham em defesa um do outro nas situações mais críticas da vida... apenas por simpatia? Talvez seja outra coisa?... Talvez exista uma pitada de Eros no fundo de todas as relações humanas? [...] Naturalmente, a amizade não tem nada a ver com a inclinação doentia de algumas pessoas que procuram uma satisfação disforme com pessoas do mesmo sexo. O Eros da amizade não precisa do corpo... longe disso, incomoda mais do que o excita. Porém não deixa de ser Eros. Eros está no fundo de todos os afectos, de todas as relações humanas. [...]
As simpatias que vi nascer entre pessoas diante dos meus olhos, acabaram sempre por se afogar nos pântanos do egoísmo e da vaidade. A camaradagem, o companheirismo, às vezes, parecem amizade. Os interesses comuns por vezes criam situações humanas que são semelhantes à amizade. E as pessoas também fogem da solidão, entrando em todo o tipo de intimidades de que, a maior parte das vezes, se arrependem, mas durante algum tempo podem estar convencidas que essa intimidade é uma espécie de amizade."

Sándor Márai, as velas ardem até ao fim

Ao Leão...

Que a cirurgia corra pelo melhor. E que esse teu joelho dobre melhor que o teu orgulho. A mana dá beijos. Muitos. E mimos. Não é que tu não mereças ser mimado, mas podia optar por não te mimar.

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Yes!

Rio (de Janeiro) II

Vou!

terça-feira, fevereiro 26, 2008

Rio (de Janeiro)

Ele vai e já marcou a viagem. Eu não vou. Irei? Ele pagou a estadia para dois. E oferece todas as refeições. Avisou os amigos: 'ela vai comigo'. Eu ainda não marquei nada. Vejo as vagas na internet. Tenho de esperar. Ele oferece-me parte da viagem. As lágrimas correm-me pelo rosto. É uma oferta demasiado generosa. Ainda não fiz a reserva. Irei?

Esquecida

Avó - Mas tu já te casaste?

Eu - Sim, com o J.

Avó - Ele também casou?

Eu - Sim, avó. Comigo.

Avó - E foi pela Igreja?

Eu - Foi.

Avó - Não me lembro de nada.

Sorrio. Eu lembro-me demasiado bem.

segunda-feira, fevereiro 25, 2008

O avô Aznavour

Rodrigo está sentado entre os pais. Terá uns 10 anos. É, provavelmente, o mais novo de todo o público de Charles Aznavour. Oiço a conversa. O pai é irritante e corrige-o por tudo e por nada. Falam das aulas e de cavalos, de uma Parada... deduzo que anda no Colégio Militar. Olho para trás quando o pai o manda calar. Faltam uns 20 minutos para o concerto começar. O Pavilhão Atlântico enche. Pasmo. Aznavour tem 83 anos! A sala enche-se de aplausos quando um homem pequenino, cabelos brancos, entra num palco despido de cenografia. Há instrumentos e músicos. Uns sete ou oito, contando com duas vozes femininas. Rodrigo já não se ouve, atrás de mim. Agarra na mão do pai controlador. A audiência à minha volta tem mais 65 anos. Estou com o Panda que aplaude com todas as forças que tem. É um concerto de vida, diz-me. No final de cada música o velhinho é fortemente apoiado. Diz uma ou outra piada em francês. Não percebo tudo e irritam-me os que riem sem saber de quê. Vejo-o ao longe e espero pelos primeiros acordes de La Bohéme. Aznavour canta com garra. Parece mais novo. Dança. O público vibra. Vêm os clássicos. Quem reconhece canta com ele em francês. Sorrio quando o casal à minha frente se abana ao ritmo da música. Podiam ser meus pais. Rodrigo tem a cabeça deitada no ombro da mãe. Quase dorme. Aznavour está em grande. Recebo um beijo de obrigado. Ainda bem que gastei aqueles 140 euros. Deixei de ver Rodrigo. Foi para casa dormir. Os mais velhos sorriem à porta e oiço um avô combinar um copo no Bora Bora. Tenho sono. Ganhou a velhice, esta noite.

quinta-feira, fevereiro 21, 2008

Telefonemas

Já perdi a conta aos telefonemas que atendi desde que aqui cheguei às 8h30. De cada vez que do outro lado me dizem ‘posso falar com a Carrie’ a minha vontade é responder ‘não está. Acabou de se demitir’. Breves segundos de hesitação impelem-me para a resposta politicamente correcta. A alternativa seria começar a atender todos os telefonemas com frases como ‘fala do talho almeida’, ‘Retrosaria Almerinda, boa tarde’, ‘Florista Gertrudes, faça o favor de dizer’.

segunda-feira, fevereiro 18, 2008

Onde pára o tempo?

Andam a roubar-me o tempo. Tiram-me voltas do relógio. Os ponteiros saltam minutos. Calculo que quartos de hora inteiros. Andam a roubar-me o tempo e já nem falo do tempo que roubo à vida. Há um ano o dia dava para tudo. Hoje não sei por onde se perdem as horas. E fazem-me falta os dias que se esfumam. Falta-me tempo para os jornais. Salva-me a TSF. Tempo para ter paciência. Para ouvir com atenção as pessoas que trabalham à minha volta. Ando exausta com o corrupio constante. Falta-me tempo para ser perfeccionista. Organizo-me. Faço listas. Aponto tudo minuciosamente na agenda. As horas, dos dias que nunca mais acabam, que se esticam das 10 da manhã às 10 da noite, não dão para nada. Onde pára o tempo?

35

Chegam primeiro pensamentos sobre o futuro. E os filhos? Onde estão os filhos? Não há nenhum, ainda. E virão? Virá apenas um, porventura? E como será a partir de agora? Exames e mais exames, cuidados asdicionais, mãe tardia e menos paciência. E quando ele tiver 20, eu já estou quase na reforma.

Depois os do passado. Já passaram 5 anos? Sim, tanto tempo. Parece que foi ontem. Cheguei a casa depois de 'As Confissões de Schmidt' e lá estava o armário vazio, o lugar vago na cama. E claro que não ligou. Claro que não. Esperavas que ligasse? Não sei. Tinha pensado que era possível. Não era uma esperança, não era um desejo. Era apenas uma possibilidade.

E então o presente. Há tanto ainda por fazer. Uma casa para comprar a dois, uma família para reunir, mais amigos para rir, viagens para fazer, sobrinhos para beijar, livros para ler, concertos para ouvir, espectáculos para assistir, pessoas para juntar, trabalho para fazer, projectos para concretizar, mimos para dar. À Avó. Amor para dar. Amizade para partilhar. E quem sabe outros 35.

domingo, fevereiro 17, 2008

Em festa!



Parabéns Samantha, assumidamente uma das melhoras amigas que uma mulher pode querer. Que seja um grande ano.

sexta-feira, fevereiro 15, 2008

[...]

Três anos de open space laranja são muitos anos.

Ir à terra

Sou quem sou por causa desta viagem. Cheguei aqui, a este exacto ponto, porque um dia, na candura da pré-adolescência, acumulando memórias construídas por conversas prolongadas à volta da mesa, acreditei que só sendo jornalista conseguiria voltar a pisar a terra que me viu nascer, que apaixonou os meus pais, que lá se apaixonaram um pelo outro. Sou quem sou, porque pensava eu, nunca teria dinheiro suficiente para viajar. Ser jornalista parecia-me a saída mais fácil. “Nunca pensaste em arranjar um trabalho em que ganhasses dinheiro a sério e pagasses a viagem do teu bolso?”. [Pois!] Este fim-de-semana, com os meus pais de regresso a Lisboa, de novo sentados à volta da mesa, eles contaram, mais uma vez, a ida, as dificuldades, a terra, as festas, as amizades, como venceram e como perderam tudo. E eu voltei a ter uma vontade incontrolável de fazer a mala e seguir-lhes os passos. Os anos que passaram, a guerra, tornam essas memórias coisas únicas. Sei que a Angola que vou encontrar nada tem a ver com o país que os meus pais deixaram há 33 anos. Soube-o no momento em que pisei terra africana pela primeira vez depois disso. Em Maputo os olhos marejaram-se de água, e quis correr de volta para o avião, que me levassem dali, aquela não era a terra que eu queria conhecer. Os bairros de lata, as longas avenidas abandonadas, as grades nas janelas, os esgotos a céu aberto, uma pobreza triste. Mas o calor, as cores, os cheiros envolveram-me e eu deixei-me conquistar. Foram pouco mais de quatro dias. No fim tinha a certeza que era ali que pertencia. Daqui a poucas semanas regresso. Ontem, enquanto o chefe, ele que conhece este desejo antigo, a quem repeti até à exaustão que qualquer viagem a Angola teria que ser minha, me dizia onde iria naqueles dias, as lágrimas soltaram-se. Despudoradas. A directora ria-se do sal que me manchava a pele, que borrava a pintura e eu sem conseguir tirar os olhos daquele email que traçava a viagem. Sou o que sou por causa desta viagem. E a partir de 7 de Março posso procurar outra profissão.

quinta-feira, fevereiro 14, 2008

a caminho [iii]


[Ou estava a ver que demorava!!!!]

quarta-feira, fevereiro 13, 2008

estados de alma [ix]

Capaz de vender a almda ao diabo por sol. Areia nos pés e sal na pele.

uma questão de mau feitio?

Carnaval e Dia de S. Valentim rivalizam entre si como as piores épocas festivas do ano. Eu, pouco dada a manifestações forçadas de felicidade e alegria, arrepio-me perante a visão de montras repletas de corações, rosas vermelhas e ursos de peluche. Até o coelho da Páscoa é mais simpático que o Cupido.

afectos [xvi]

"Gosto de ti porque tens coisas que mais ninguém tem. Como ir à cozinha comer às quatro da manhã e voltar para a cama com a maior naturalidade."

terça-feira, fevereiro 12, 2008

as clementinas

Há os hipermercados, os supermercados, as mercearias de bairro. E depois há o cesto a secção x do pasquim. Numa equipa só de mulheres não há grande preocupação com a linha. E as idas ao supermercado resultam em olhares de viés. Diagnóstico médico feito à pressão pelas meninas da caixa. Ou a dúvida entre a bulimia ou a anorexia numa figura de 50 quilos de peso. Gigantescas bolachas de chocolate. Tarteletes de morango. Chocolate de caramelo. Férrero Roche. Tudo serve para encher o cesto da S.. Também já se comeram tremoços às 11 da manhã. Somos a mercearia de um jornal inteiro. Do director aos estagiários. A outra S. acabada de chegar, sentada na mesa da minha eterna estagiária, diz que comemos muito. Também falamos muito. E rimos desbragadamente. A verdade é que existe o receio latente de que possa acontecer qualquer espécie de cataclismo que nos impeça de sair da sala. Armazenamos comida como na iminência de uma III Guerra Mundial. Hoje tenho clementinas em cima da secretária. Estranhamente ninguém lhes tocou…

cores de barcelona






































[La Boqueria, Barcelona, Janeiro 2008]

segunda-feira, fevereiro 11, 2008

venha o livro e o filho


A minha primeira árvore. Uma oliveira. Vai receber-me todos os dias ao chegar a casa.

o meu projecto

Ainda não é um jardim. É apenas um projecto. De girassóis e margaridas. Com salsa e coentros para apanhar a meio dos cozinhados. Com dois abacateiros vindos de São Tomé. Com a promessa de pequenos-almoços prolongados numa esplanada improvisada. O grelhador já posicionado. Lanternas vermelhas para dar cor as noites que se vão querer quentes. É o meu jardim. Construído do nada. Um terreno atacado por ervas daninhas. Muitas horas [literalmente] de enxada na mão. A descoberta de novos músculos [muito pior do que muitas horas de ginásio]. A ajuda preciosa da A. e do meu pai. Incansáveis. Mas é ainda um projecto. Faltam nascer os girassóis plantados pelo G. “Quando chove para as minhas sementes crescerem?” Faltam as margaridas do F.. Os malmequeres que hão-de vir da serra. Falta-lhe verde. Faltam conversas. Gente à volta do churrasco. Conversas e risos. Então será um verdadeiro jardim.

sábado, fevereiro 02, 2008

Sabores

A paella do Solar dos Presuntos é a melhor de Lisboa! (mas custa-me ter de comer na sala para fumadores que, por causa da lei, está cheia deles, e há mais fumo do que nunca).