sexta-feira, outubro 03, 2008

Pós-Operatório

Duas noites em branco e a terceira em casa. A mão inchada quase não me permite escrever, mas a cabeça insiste para que não páre, para que não desista, para que não desanime. Do hospital trago a memória de ter sido muito bem tratada e de ter - disseram-me - tentado bater nos enfermeiros e auxiliares, imediatamente depois de acordar da anestesia geral. Parece que é sempre assim, coitados. Eu não me lembro de nada, senão de abrir levemente os olhos e de me terem dito que era mais forte que eles. Perguntei-lhe o que tinha eu feito e riram-se. Fechei os olhos e recordo depois o quarto 21, naquele 4ª piso com vista sobre a Ponte Vasco da Gama e, ao longe, se punha os óculos, o teleférico de um lado para o outro.

O quarto era só meu e o serviço não podia ser melhor. Conheci o enfermeiro Paulo, que me fez lembrar o carteiro e a música do gato preto e branco; conheci ainda o enfermeiro Walter, mulato, com um bonequinho da mesma cor pendurado ao peito, "para a Pediatria", disse-me. Mas eu também gostei. E havia uma enfermeira de dia, de quem não cheguei a saber o nome, mas com uns bonitos caracóis sobre os ombros e um olhar simpático, que me confessou não lavar o cabelo todos os dias por causa da queda. E eu que sangrava.

Em casa sinto-me bem. Estarei acompanhada. E mesmo só, poderei dormir, que é o que mais tenho feito desde que as dores amainaram. Já não tenho buracos nas mãos, nem um dreno pendurado no ouvido; já não estou de bata branca e tirei as meias de descanso. Fico-me pelo pijama das ovelhinhas - se o Presidente da República pôde, hoje, andar a observar vaquinhas a Norte, porque não posso ter ovelhas na roupa de dormir? - e ajeito-me debaixo dos lençóis para esquecer o frio. Vais ficar comigo, esta noite. E amanhã, logo se vê.

1 comentário:

Raquel A. disse...

Espero que recuperes bem e depressa!

As melhoras!!

*BJS*