terça-feira, outubro 07, 2008

Sobre os outros

Não importa se somos bonitos ou feios, magros ou gordos, se estamos mal, ou bem vestidos... sempre que podemos, tecemos considerações sobre a imagem dos outros: o corpo, a roupa, o rosto, a forma de andar. Sobre uma rapariga que acho simpática, bonita e até elegante, alguém me dizia "mamas, ela tem é umas grandes mamas". Então e a cara? - perguntei eu. "É mais feia que um mocho aos gritos". E assim se viu ela reduzida à figura de um animal nocturno em sofrimento, com a beleza assente no peito e nada mais.

Não é raro ouvirmos homens gordos e de bigode farfalhudo, a coçarem as partes baixas e de palito nos dentes tecerem considerações sobre uma donzela linda de morrer mas que, quis Deus, tivesse o nariz torto. E dirão eles que é um estrafego, uma "anémona morta", "a parte de trás de um desastre". Assim, sem mais, porque um pequeno (grande) defeito faz de cada um de nós uma figura singular aos olhos de outros. Tem o rabo grande? Ora aí está um defeito gigantesco! Orelhas compridas? Pois... Mamas pequenas? Sai ao Pai.
Somos cruéis.

O que também me parece é que esta nossa crueldade traz sempre uma ponta de inveja ou, pelo menos, um sofrimento recalcado dobre o nosso próprio corpo. Os homens e mulheres quase perfeitos - que os há, fisicamente - não devem ser tão mauzinhos a julgarem os outros. Não sei, confesso que conheço poucos quase perfeitos. Mas creio que serão mais condescendentes, talvez porque valorizem mais qualquer pequeno defeito que possam ter, nem que seja temporário.

A rapariga das "grandes mamas" é gira, boa miúda, e muito simpática. Se tivesse que escolher-lhe um dos atributos, ao contrário do que possam pensar, não seriam as mamas, mas o sorriso e a simpatia no olhar. Curioso, não?

5 comentários:

Catarina disse...

Um parvo de um macho-qualquer diria que só se refere a simpatia e o sorriso porque "não és gajo" (acho eu que não, que nisto de blogs e internets nunca se sabe). A "prateleira" chama muito mais a atenção, seja que dimensão for que não a standard. Prefiro manter-me na ignorância nestas coisas. Por essas e por outras é que em situações como uma simples ida ao médico certas mulheres se preocupam mais com o que o/a médico/a vai pensar quando tiver de se despir na sua frente que no problema de saúde que poderá ter. Há medos sem razão nenhuma a sustentá-los. E estes comentários são um pouco (ou sê-lo-ão) mostra disso mesmo - fala-se do outro antes que o outro se lembre de falar de nós. Mas será que alguém estará imune?

Catarina disse...

Ah, Samantha, fico feliz de vê-la por cá já com esta energia toda de quatro parágrafos com a mesma qualidade de sempre e a magia de nos fazer sorrir no cantinho de cada palavra...

eu mesmo disse...

Permita-me tirar o chapéu a este texto.
Obrigado.

Anónimo disse...

Adorei o texto. Permita-me repetir o gesto e tirar o chapéu!

Rita disse...

Muito bem! e "quem fala assim n é gago"...
adorei!