O gosto da vida
Respondemos "mais ou menos" se nos perguntam se estamos bem, sorrimos timidamente se alguém bem-humorado nos conta uma piada... mas nem ousamos a gargalhada; acordamos com dores nas costas e temos, no fim do dia, uma valente enxaqueca; corremos de um lado para o outro, suspiramos, olhamos para o espelho e sentimo-nos gordas, o cabelo está a ficar branco aqui e ali; não há maquilhagem que disfarce os papos nos olhos pela noite mal dormida a acalmar a criança que está com tosse, deixamos queimar o jantar; o café foi mal tirado, a unha pintada partiu, a meia tem uma malha. Este tanto pode fazer de nós pessoas tristes e desmotivadas, sem sabor, sem alegria, sem prazer. Até choramos ou enrugamos o rosto numa marca descendente.
Mas eis que o sol nasce aqui 365 dias por ano; eis que temos acesso ao jornal e à informação num canal de 24 horas completas; eis que podemos ler um bom livro no caminho para o emprego, sentados no banco livre do metropolitano. E o nosso filho tem o mais belo sorriso do mundo, os nossos amigos estão sempre presentes, a nossa família tem para nós uma palavra de apoio. Temos um emprego e salário no fim do mês, ninguém que nos é próximo sofre de uma doença fatal, fomos de férias no Verão e teremos subsídio para presentes de Natal. Ou para pagar as dívidas. Mas teremos. Na escola, o nosso filho aprendeu o aeiou. Mas já o sabia, porque tivemos tempo de lhe ensinar as vogais numa tarde de domingo. Amamos e somos amados. Temos uma flor numa jarra e às vezes olhamos a lua. Bebemos café quando nos apetece porque temos sempre moedas de um euro. E rimos com as piadas, com o dia que temos, com a vida que levamos. E sabemos que vale a pena acordar outra vez, quando for amanhã.
2 comentários:
É repetido no meu teclar, mas sincero: BRILHANTE!
"sabemos que vale a pena acordar outra vez, quando for amanhã"
nem sempre...
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