Na Marquesa
O ambiente era de Dr House: paredes brancas, batas verdes e azuis, máscaras quase transparentes a cobrir o rosto, apenas os olhos - verdes, atentos - sobre mim. Eu estava nua, só com um véu, uma espécie de lençol, branco, ali, na marquesa. Durante quase duas horas a picada junto ao ouvido deixou-me num estado letárgico. Ao longe, a batida do meu coração, ora pausado, ora acelerado, conforme a dor se esgueirava e me fazia arrepiar o corpo. Dói?, perguntava. Que não, que não fazia mal, que continuasse. Mas sim, doía. E os olhos choravam sozinhos. Ele limpava as lágrimas que parte do rosto não sentia, as vozes sobre o dia-a-dia e a vida do hospital, enfermeiras que palram mas não usam bata branca. E a batida do meu coração. Então, veio a desilusão: não estava a resultar, a cirurgia, não conseguia melhor, não podia ficar por ali. A promessa de um regresso à marquesa, daqui a um, dois meses, anestesia geral prometida, e uma dor confinada ao sono de umas horas. Lá estarei. Não tenho outro remédio.
1 comentário:
Não sei o que se passa, mas faço votos de que passe depressa e que tudo corra da melhor forma. Fique bem, Samantha.
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