Vai uma ganza?
Sexta-feira, final de tarde. A1. Estação de serviço de Santarém. Dois homens, o primeiro com pouco mais de trinta, o segundo já bem entrado nos 50, estão sentados a uma mesa onde descansam os despojos de duas garrafas de branco. Compreendo-os. Lá fora os termómetros devem andar ainda acima dos 30 e o sol que ainda derrete o asfalto não ajuda a acalmar o calor. Diz o mais novo:
- Vou-te fazer um convite que não podes recusar.
O mais velho olha-o de soslaio com o ar de quem já está habituado a algumas estravangâncias. O mais novo não se deixa intimidar:
- Vais fumar uma ganza.
Tento esconder o riso por detrás do livro, enquanto o mais velho solta uma espécie de grunhido imperceptível. Não parece convencido, mas o mais novo não desiste:
- São 6h30. Às 7h20 estás a fumar uma.
Fico sem perceber porque é preciso quase uma hora para enrolar um charro. Mas não é isso que me preocupa. Os dois têm o ar cansado de quem já palmilhou muitos quilómetros, beberam uma garrafa de branco cada um e a ganza está marcada para daí a uma hora. Espero que antes disso cheguem ao destino e que esse não seja o de engrossar as listas de mortos nas estradas. Se for, pode sempre culpar-se o mau estado das estradas, a falta de sinalização... os suspeitos do costume.
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