Serões de Dezembro
Saio mais cedo do trabalho e fujo à semana que agora acaba. Não saio cedo demais, apenas o suficiente para ter a sensação de o ter feito uma vez no ano. Passo pelas promoções pós-Natal que ainda não chegaram os saldos de Janeiro. Não compro nada. Mas experimento quase tudo. Olho para o meu corpo e vejo-o disforme no espelho da loja. Nada me cai bem neste dia em que saí mais cedo. Telefono a uma amiga com intenções de convidá-la para jantar. Não atende. Quando já estou em casa recebo dela, um sms, a pedir que lhe volte a ligar. Como as lojas neste fim de Dezembro, ela também não tem saldo.
Vejo o correio e sei que tenho uma carta para levantar. Vem da polícia e recuso-me a ir buscá-la. Uma multa, talvez, presumo que de excesso de velocidade. Uma parvoíce já que sinto hoje ter tempo para tudo, tempo de sobra para andar devagar, sem pressas, sem multas, sem excessos. Entro em casa e não sei o que faça. São oito da noite. Não costumo estar em casa às oito da noite. Ligo a televisão e vejo o Jornal que começa em desgraças e acaba na euforia do Ano Novo. Não me dizem muito, as notícias de hoje. Toca-me a da morte de Sara, a menina de dois anos vítima de maus gtratos. Fico triste com a morte de uns pescadores, mas dou mais importância ao desaparecimento da miúda. Não quero saber da mãe. Tal como não quero saber quando vai ser executado Sadam. Preferia-o preso. Sou contra a pena de morte.
Deito a cabeça no sofá e ligo o aquecimento. O serão chega vazio e sem supresas. Sobretudo sem companhia. Tive-a nos últimos três dias e estranho agora a ausência. O sofá é só para mim e tenho a mesa vazia. Quer dizer que improviso um jantar. Talvez beba um chá, mais lá para a noite.
Não pego num livro, não vejo um filme, não procuro distrair-me e não falo com ninguém. O meu serão deixa-me sozinha nesta noite de Dezembro, e não sei o que fazer com o tempo. Desabituei-me das coisas práticas, das que merecem espaço em cada dia, das que requerem minutos a mais.
Perco-me neste blog sem mais para dizer.
A noite entra pela casa dentro mas ainda é cedo para dormir.
É um serão de Dezembro. E sinto-me sozinha.
1 comentário:
Como sei bem do ke falas...
E não é só hoje. É muitas vezes. Estou "viciada" no teu blog - sim, no "teu", apesar d não ser só teu!
Invejo (no bom sentido, claro!) a tua forma de escrever.
Obrigada pela companhia que me vais fazendo. Conheço-te, sem te conhecer. E identifico-me com muito do que sentes!
Um bom 2007. Xeio de novas companhias. E com poucos serões que te deixem sózinha, nas noites de Dezembro, ou de Março, ou de Agosto...
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