Solidão V
Nada dera certo com Rui. Ela achara-o muito infantil e, aquilo que inicialmente a fazia rir, começou a irritá-la. Sobretudo quando percebeu que ele era um galã e não podia ver um rabo de saias. Ela andava a precisar de atenção, não precisava de dividi-la. Pra isso, ficaria sozinha como estivera três semanas antes.
Três semanas. A relação durara três míseras semanas. Ela já não sabia se voltaria a gostar de alguém a sério. Rui tinha sido uma brincadeira, um fogo apagado à nascença. Continuava a pensar no ex-marido todos os dias mesmo não sabendo nada dele. Estaria só, como ela? Não... não era homem para estar sozinho. Imaginava-o a namoriscar aqui e ali, a fartar-se desta e daquela, sem se deixar cativar, deixando-as, a elas, num tremor e numa paixão que não esqueceriam tão cedo. Tinha sido assim, com ela, durante auqueles longos doze anos.
Voltara a escrever no blogue à espera de companhia. Já não queria convites para jantar nem aproximações físicas. Pretendia apenas deixar, pro escrito, o ritmo dos seus dias, a forma como estava a encarar o divórcio, a forma como superava a separação, a forma como não esquecia o passado.
Rui tinha deixado de lhe comentar os posts. Ficara magoado com o adeus. era compreensível: ela tinha sido tão dura como já tinham sido com ela. Vingou-se. Sabia que ele nem merecia. Mas agora era tarde demais.
Abriu o computador para escrever o resumo de mais um dia. E começou a chorar.
1 comentário:
...até que lhe apareceu um comentário absolutamente fascinante. O nick era de um tal de fato às riscas.
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