quinta-feira, agosto 28, 2008

angústias

O meu desejo é de morrer, pelo menos temporariamente, mas isto, como disse, só porque me dói a cabeça. E neste momento, de repente, lembra-me com que melhor nobreza um dos grandes prosadores diria isto. Desenrolaria, período a período, a mágoa anónima do mundo; aos seus olhos imaginadores de parágrafos surgiram, diversos, dos dramas humanos que há na terra, e através do latejar das fontes febris erguer-se-ia no papel toda uma metafísica da desgraça. Eu, porém, não tenho nobreza estilística. Dói-me a cabeça porque me dói a cabeça. Dói-me o universo porque a cabeça me dói. Mas o universo que realmente me dói não é o verdadeiro, o que existe porque não sabe que existo, mas aquele que se eu passar as mãos pelos cabelos me faz parecer sentir que eles sofrem todos só para me fazerem sofrer.

Livro do Desassossego, Bernardo Soares

2 comentários:

mau maria disse...

Como por vezes se salva o dia a uma desconhecida, sem saber.. Obrigada

nnannarella disse...

Venho por "Azinhaga da Cidade" (Citadina e Cosmo).
E que importa lá a nobreza estilística. Diria o Alberto Caeiro...
O melhor para a dor de cabeça mais angústia é comer algo, aspegic 1000, café, dormir, sonhar a realidade que tudo isto são fabricações, e lexotan 3 mais alá.:)
As melhoras; até breve.:)