As Pipocas
A publicidade no cinema não é para a minha idade. Sento-me e vejo raparigas semi-nuas, que se chamam Joana, Catarina ou Teresa, miúdas sem um pingo de celulite e com as costelas todas marcadas sob a pele. Vejo rapazes de cabelo comprido, melenas a cairem-lhes sobre os olhos, boxers de marca, abaixo da cintura e jeans meio-rotos, largos, a pender nuns ténis All Star. Elas têm olhos grandes e maquilhados, cabelos compridos e soltos, saídos de um frasco de Élseve Lóreal. Meneiam o corpo ao som de uma batida pujante e juvenil, bebem cerveja ou falam ao telemóvel, respiram sexo, deixam na sala um certo mau-estar entre a juventude, os "vintinhos", rapazes de namorada ao lado e pipocas na mão. Doces. Viro-me para a frente e para trás e percebo que sou das mais velhas naquelas cadeiras da Lusomundo, bilhetes comprados com cartão zon e, por isso, a metade do preço. Eu e a Charlotte, as mais velhas. O filme é "O Estranho Caso de Bejamin Button", nem de propósito. A idade, a velhice, a meninice e o que levamos dela. E à nossa volta sorve-se coca-cola em copos gigantescos, ouve-se o palpitar dos dentes nas tais doces pipocas. Salgadas, também. Concentro-me no filme e esqueço a publicidade anterior. Oiço-os rirem-se nas partes em que apenas esboço um sorriso. Vejo que não compreendem como eu, aquele filme. Talvez não esteja assim tão entradota... talvez seja isto a experiência de vida. E não fui ao cinema pela carinha laroca do Brad Pitt...
Sem comentários:
Enviar um comentário