O Amigo
O passado chegou-me hoje pelo fio do telefone. Uma chamada profissional transformou-se, de um momento para o outro, no 'reencontro' com um amigo que não vejo há mais de dez anos. Não é uma pessoa qualquer, é O Amigo de liceu.
Lembrei-me dele há pouco mais de uma semana. Não pensava nele há anos. Lembrei-me porque usei numa estória uma expressão que ele utilizava muitas vezes. Dizia-me que a amizade verdadeira entre um homem e uma mulher só pode acontecer se houver alguma aversão física. Aquilo que nos unia era a materialização dessa ideia. Durante anos o J.P. esteve sempre lá. Ouvia-me os amores e os desamores. Aturava-me nas ressacas. Servia-me de travesseiro. Amparava-me as frustrações. Era o meu ‘saco de pancada’ sempre que me chateava com o mundo, ou o mundo comigo. Estava sempre lá e nunca pedia nada em troca. Pensei nele porque me falta agora um amigo assim.
Até que percebi - acho que foi aí que os nossos passos se começaram a separar - que por ele aquela amizade sincera e incondicional teria evoluído de outra forma. Confirmei-o hoje quando, numa conversa que durou pouco mais de cinco minutos, percebi o quanto de mim ainda lhe vai na memória.
Combinamos um almoço para quando ele regressar de férias. Por mim seria já amanhã. Mas quem esperou dez anos, pode esperar mais uma semana. Sei que vai ser um longo almoço. Há tanta vida para pôr em dia...
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