O avô Aznavour
Rodrigo está sentado entre os pais. Terá uns 10 anos. É, provavelmente, o mais novo de todo o público de Charles Aznavour. Oiço a conversa. O pai é irritante e corrige-o por tudo e por nada. Falam das aulas e de cavalos, de uma Parada... deduzo que anda no Colégio Militar. Olho para trás quando o pai o manda calar. Faltam uns 20 minutos para o concerto começar. O Pavilhão Atlântico enche. Pasmo. Aznavour tem 83 anos! A sala enche-se de aplausos quando um homem pequenino, cabelos brancos, entra num palco despido de cenografia. Há instrumentos e músicos. Uns sete ou oito, contando com duas vozes femininas. Rodrigo já não se ouve, atrás de mim. Agarra na mão do pai controlador. A audiência à minha volta tem mais 65 anos. Estou com o Panda que aplaude com todas as forças que tem. É um concerto de vida, diz-me. No final de cada música o velhinho é fortemente apoiado. Diz uma ou outra piada em francês. Não percebo tudo e irritam-me os que riem sem saber de quê. Vejo-o ao longe e espero pelos primeiros acordes de La Bohéme. Aznavour canta com garra. Parece mais novo. Dança. O público vibra. Vêm os clássicos. Quem reconhece canta com ele em francês. Sorrio quando o casal à minha frente se abana ao ritmo da música. Podiam ser meus pais. Rodrigo tem a cabeça deitada no ombro da mãe. Quase dorme. Aznavour está em grande. Recebo um beijo de obrigado. Ainda bem que gastei aqueles 140 euros. Deixei de ver Rodrigo. Foi para casa dormir. Os mais velhos sorriem à porta e oiço um avô combinar um copo no Bora Bora. Tenho sono. Ganhou a velhice, esta noite.
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