Pecado
O Padre chama-me à parte. Estado civil? - pergunta. Sei que sabe o que sou. Confirmo. Digo-o em voz alta no interior da sacristia e tudo me parece gelado, a batina que ele então despe, os paramentos que retira devagar, o olhar cravado no meu. E estás a resolver isso? - nova pergunta. Que sim, que tenho namorado, que - quem sabe - casarei outra vez. Não, não será a mesma coisa, perante a Igreja, mas ainda assim quero-o. Volta à carga: E porque não anular o anterior casamento? - terceira pergunta, de rajada. Não. Laconicamente respondo. O aviso: e sabes as regras da Igreja? Sei, não sei eu outra coisa. Gosto de ti na mesma, remata. E penso se será verdade. E penso que a Igreja nunca aceitará o meu divórcio, concluo que não vale a pena insistir, eles que preferem que minta a manter a minha integridade. Tudo por uma imagem. Saio da sacristia a pensar no que nunca terei ousado dizer: que se lixe a Igreja dos homens!
1 comentário:
Conheço a sensação. Aconteceu-me o mesmo no baptizado da minha afilhada. Sorte que eu não era a única. Padrinho e madrinha: divorciados. Pai e mãe: não casados.
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