Estado de espírito
Quando tudo parece ser ideal, tudo se torna impossível. Tenho tido dias felizes, as melhores experiências profissionais, a confiança, a segurança. E eis que não me vejo. Esta manhã conheci uma oficina de restauro. Durante mais de quatro horas interessei-me pela talha dourada, pelo ouro quase líquido gravado em livros de capa dura, pela arte do século XVI, pelas mãos delicadas de um mestre, pela escriturária que é agora marceneira com um sorriso... E não almocei. À tarde ouvi Lobo Antunes. Conversámos. Fixei-me naqueles olhos azuis e deixei-me escrever. Deu-me tempo, palavras, pensou comigo, alta voz. E ofereceu-me livros. Antigos, de caixas espalhadas pelo atelier (chamemos-lhe assim), disse que tinha mais de 40 mil, em casa. Escolhi revistas dos anos 20, livros em castelhano, em francês. António leu-os todos, retirou um e outro dos caixotes, folheou, referiu autores. Conhece-os. É um homem único. Jantei sozinha, depois das 10 da noite. Sentei-me com o AXN. Gosto do Detective Crews, em Life. Amanhã há tudo por fazer.
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