Não existe, bem sei... mas e se existisse? Como seria?
Reúno os comentários das minhas amigas, das colegas, das mulheres que oiço nos restaurantes e paragens de autocarro que não frequento. Hoje, ao balcão, enquanto comia bifes panados com alface, uma estranha dizia estar "em baixo", incapaz de resolver o problema e esquecê-lo, a ele. Outra, que pediu uma água natural, sentou-se no banco do lado e disse que tinha reparado nela, pela manhã, que estava infeliz quando chegou ao escritório. Desliguei da conversa e paguei a minha sopa alentejana que tomei com uma coca-cola. Eu esperava por um homem que fora cortar o cabelo para ficar com um ar limpinho e arrumado. Questiono-me o que importa, realmente, num homem? Leio um e-mail de uma amiga que encontrou, por acaso, um brasileiro lindo, de olhos azuis, e conversa boa para aquecer a alma. Penso na minha colega que há anos não tem vida sexual com o marido mas que teve, há uns meses, uma criança. Uma espécie de obrigatoriedade paternal. Vejo-a apaixonada pelo rapaz do bar ou pelo que trabalha numa qualquer sala fora da redacção. Mas nunca me disse que amava o marido. Recordo alguém que julgou ter nas mãos o homem de uma vida mas, passados uns meses e uma outra mulher, mudou de ideias. E a colega cujo marido nada faz pelo filho e também não trabalha porque tem uma depressão e, "coitado", quer é ficar na cama o dia todo sem que ninguém o mace. E na que tem um companheiro de vida que passa a noite ligado à internet, às vezes com as gatas aos pés, mas nunca junto à cozinha e a ela que faz o jantar. E a que ficou sozinha mal nasceu a segunda filha e que vive agora com outra mulher. E a que foi trocada (tão) pouco depois do casamento e fez almofadas brancas com o vestido do dito. Em comum, estas mulheres têm más experiências com os homens. Não digo que o mal é geral... mas atinge uma grande camada da população feminina. Se Sócrates fosse esperto, criaria o Ministério do Amor e dedicaria parte do Orçamento de Estado a tratar esta gente num bom psiquiatra. Era bom para todos e talvez me decidisse a ir votar nas próximas eleições.
Será o homem ideal o que nos compra presentes todas as semanas, mas que se esquece de pagar a conta da luz? Será aquele que é óptimo parceiro sexual mas que está a trabalhar quando é preciso dar banho aos filhos? Será o que tem um emprego altamente qualificado e uma secretária competente, mas que se refere ao nosso trabalho como uma ocupação secundária que para pouco ou nada serve na gestão familiar? Ou o excelente pai de família que quando chega à cama se vira para o outro lado e ressona porque está cansado demais para amar? Todos estes são casos que conheci, ouvi falar, soube por aí... É verdade que uma ou outra mulher estar feliz com o marido que tem. Mas também é verdade que somos cada vez menos exigentes. Falo por mim: contento-me com um homem que não minta, que me telefone para saber como estou, que me diga se vai chegar tarde, que me dê conta das saídas com os amigos e que goste de me levar com ele; contento-me com um abraço, com um beijo carinhoso, com a barba feita uma vez de 3 em 3 dias, com um bom filme visto a dois sentados no sofá. Já lá vai o tempo em que me preocupava com a tampa da sanita, com a pasta de dentes fora do sítio, com a toalha molhada em cima da cama, com o champô aberto na banheira, com as beatas no cinzeiro da sala, com a mania de possuir o comando da televisão, com a loiça suja fora da máquina, com as cascas da tangerina em cima da mesa... Sou uma mulher fácil de satisfazer, já que o meu grau de exigência é quase nulo. Porém, nem eu conheço o homem ideal. E sei que a minha amiga com três filhos e uma casa grande também não o conhece, e nem a outra que teve uma filha porque quis ser mãe solteira; nem tão pouco a que engravidou para solucionar os problemas do casamento.
Não há mulheres ideais. Mas há homens mais exigentes, que não hesitam em somar umas às outras sem que cada mulher saiba algo da segunda. Eles acumulam experiências. Nós assumimos um só para o resto da vida. Claro que nada disto é aplicado a toda a gente dom mundo, mas todo um mundo percebe a quem pode isto aplicar-se.