terça-feira, maio 24, 2005

Ursos

Ontem à noite fiquei a saber o nome da minha vizinha de cima. Chama-se Inês. Nunca lhe vi a cara, nem sei se alguma vez me cruzei com ela no elevador. Mas ontem lá pelas três da manhã, uma hora depois de lutar contra uma insónia e ter finalmente vencido, o marido vai de berrar com ela.

Não me lembro, confesso, dos termos exactos da discussão – o sono, que acabou por regressar depois de um cigarro, muitas voltas e reviravoltas na cama, e uns quantos exercícios de respiração (daqueles que o meu magnífico, em todos os sentidos, garanto!, professor de ioga me costumava ensinar) – o sono, dizia eu, acabou por apagar a discussão do já de si exíguo espaço do meu cérebro – ainda que fosse tão audível como se os dois estivessem na sala do lado.

Do pouco que me lembro, ele dizia-lhe qualquer coisa como “tu fazes-me mal”, ameaçava pedir o divórcio e urrava. A sério. Aquilo não eram gritos de raiva. Eram urros. O minha vizinha de cima chama-se Inês e é casada com um urso. Juro.

Hoje de manhã, ao sair de casa, não resisti a olhar para o andar de cima. Talvez o urso dormisse na varanda…

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