O Joaquín Cortés vestiu-se. E nós, a bem da verdade, até agradecemos. Nem todos, mas o plural majestático soa-me bem. O Joaquín Cortés vestiu-se porque engordou. Mas apesar das circunstâncias continua a fazer suspirar muita mulher. Que o diga a cinquentona, a atirar para os 60, atrás de nós na fila das reclamações[*], que antes lamentou o facto, enquanto refrescava as faces rosadas abanando os bilhetes em frente à cara, apesar do vento frio, a atirar para o negativo, que entrava pela porta principal do Campo Pequeno. “Pena que se tenha despido pouco.” Foi bonita a festa cigana, mas faltou-lhe a sinceridade que vi há uma década [Jesus!] na fila da frente de uma praça Sony em delírio. O homem escultural que vimos nessa noite de Verão fazia vibrar pela fluidez de movimentos, arrancava aplausos da plateia pela sensualidade. O Joaquín Cortés vestiu-se porque envelheceu. Pena que Cortés não seja um Porto Vintage. O frenesi que vi com a Charlotte [soará menos mal se disser que foi há dez anos?!] era natural. A cada passo, a cada reviravolta, a cada bater dos saltos, Cortés enchia a noite e dizia com o corpo muito mais do que muitos discursos, do que muitas palavras conseguem traduzir. Ontem faltou-lhe espontaneidade. E a cada passo, a cada reviravolta, a cada bater dos saltos, Cortés pedia a aprovação do público. Actores, músicos, dançarinos, whatever, quando são bons valem pelo que fazem. Outros valem pelo público que têm. É pena.
[foto retirada de http://porbulerias.com]
[* O que dizer de uma empresa como a portoeventos, ou seja lá quem for o responsável pela disposição da sala no espectáculo de ontem, venda bilhetes para lugares com visibilidade nula? Foi uma espécie de jogo do gato e do rato. Agora temos Cortés, agora não temos. Certamente que a portoeventos não imaginava que o homem ia usar o palco todo para actuar. Foram assim os primeiros minutos do espectáculo até que nos sentamos na escada de cimento a meio de sala. No final foram uns bons 40 minutos na fila para preencher o livro de reclamações. Cenas!]