sexta-feira, outubro 26, 2007

É coisa do Demo

É tudo para me desorientar. Só pode ser. Eu que ando há um mês a portar-me tão bem. Digo que já estou crescida. Que consigo entrar na Fnac, passear-me durante muito tempo e sair de mãos vazias. Nem mais nem menos do que levava quando lá entrei. E se levo, é só a vontade de comprar qualquer coisa. Um livro por mais pequenino que seja. Não me vergo. E não colo desejos nos pulsos, como diz a C. Já não roubo as etiquetas dos livros que quero comprar. Quadrados que depois passam do pulso para a parte de dentro da carteira. Religiosamente guardadas até ao dia que poderei dar asas aos desejos mais descontrolados. Para aqueles dias em que não há nada a fazer. Não há racionalidade. Nem falta de dinheiro que me convença. Naqueles dias em que livros trazem o oxigénio que me falta no peito. A adrenalina de um chuto. Já nem roubo etiquetas. Papelinhos que me lembram o que quero ler nos dias em que não há nada a fazer. Estou curada. Pensava eu. Depois o Zimmler volta a escrever sobre judeus. Espeta com eles exactamente em Berlim, há mais de 70 anos, quando o mundo não sabia ainda o que lhe ia acontecer. É uma relação estranha a que tenho com este inglês. Por isso é fácil resistir. Dizer que ainda tenho muito que ler. Há uma prateleira cheia de livros [quase] nunca abertos ou abandonados a meio. O pior é quando o Robert Wilson regressa com a Sevilha. Volta o Javier Falcón. É verdade que “As mãos desaparecidas” é um livro atabalhoado. Mas é Sevilha e eu não resisto àquela cidade. Mesmo quando as coisas correm mal – e podem correr tão mal. Pego naquele ‘Assassinos Escondidos’ e penso que um policial era tudo o que precisava para os primeiros dias de Outono com chá vermelho a fumegar na caneca e chocolate de caramelo ali ao lado. Cheiro-lhe as entranhas. Penso como poderíamos ser felizes os dois. Mas digo-lhe baixinho que terá que esperar. São só alguns dias. Afinal há uma viagem a caminho e alguém terá que me fazer companhia. [momentos de excepção que justificam tudo] Continuo a resistir. Com dor, mas resisto. Tanto sacrifício e penso que só podem estar a brincar comigo. A testar-me os limites. É coiso do Demo. Belzebu. Mezinhas de quem não me quer bem. Não está nas lojas, mas está escarrapachado nas páginas do Ípsilon. O mais antipático dos escritores angolanos voltou a escrever. Nem vou ler a crítica ao Pepetela. Vou passar por cima. Fingir que não vi nada. E já agora abster-me de ir à FNAC.

8 comentários:

Catarina disse...

Pronto... Vamos à Bertrand...

Anónimo disse...

Colar desejos no pulso? :) Mas esse é um dos melhores impulsos que conheci. Eu limito-me a escrever-lhes os títulos em post-its azuis...

Não vale a pena fingir que não se viu nada. O melhor destas vontades é que [eu cada vez acredito mais] não têm cura possível. :D E um mês de abstenção é uma meta invejável! Invejável. :)

Gosto tanto de cheirar-lhes as entranhas.

Leão da Lezíria disse...

Valha-nos a Inês Pedrosa. E o Paulo Coelho...

a dona da gata disse...

Se fosses editora de cultura tinhas tudo à borla. E pouco espaço para mais, em casa...

Anónimo disse...

o richard zimmler é americano

Sabina disse...

Robert Wilson é fenomenal. Li todos :-)

Anónimo disse...

O Richard Zimmler era para ser meu professor na faculdade.Mas nesse ano decidiu dedicar-se totalmente à escrita. Tentei ver as coisas pelo lado positivo. Livros dele mais depressa nas bancas...ou encontrá-lo mais vezes junto à Ribeira, a passear...=S

Nunca consigo sair da Fnac sem pelo menos um livro nas mãos. Por isso é que evito lá entrar...


Saudalunações

carvoeirita disse...

e quando dizemos ao senhor do circulo de leitores que não que desta vez não vamos encomendar nada da revista e ele nos fala de Pepetela ou Lobo Antunes..pronto fica logo tudo estragado....economicamente e psicologicamente, porque depois mais tarde e já em casa..o livro a olhar para nós...começar a ler e já são três da manhã e argumentamos só mais uma página...
Desculpa ter deixado um comentário..mas não pude resistir...sou uma viciada em livros...juro que a estante lá de casa mais dia menos dias..sucumbe ao peso....
beijinhos