Sem querer parafrasear os meus pais, ou tantas outras pessoas com mais (ou muito mais) de 30 anos, tenho que dizer que "no meu tempo, é que era"... No meu tempo, ser estagiário era estar interessado, empenhado, era gostar e lutar, era fazer, era aceitar, era tentar. Nunca, durante o meu estágio (não remunerado, durante 7 meses, arranjado por mim e não pela minha Universidade que se estava borrifando para pessoas como eu, mesmo sendo estatal) me lembro de ter dito "eu sei", "sim, sim", "pois claro". Nunca. Durante o meu estágio, e conhecendo já bem a redacção onde estava a fazê-lo (já lá tinha trabalhado durante três anos numa função diferente, é uma longa história...) bebia cada palavra dos meus editores e chefes. Lia com atenção os textos dos outros, procurava erros nos meus e aceitava as críticas sem uma qualquer desculpa esfarrapada. Sei que muitos, anteriores a mim, viram folhas rasgadas, lápis partidos, reportagens acabadinhas de escrever deitadas ao lixo. Já não havia disso, quando cheguei ao jornalismo, já lá vão 15 anos. Felizmente. Os estagiários já não eram tratados como lixo, ignorantes e incapazes. Mas havia respeito, noção, bom senso. Por parte da maior parte de nós, estagiários.
Hoje, não. Hoje, saem já sabichões das Universidades, quase sempre a Católica, muitas vezes a Nova ou a UBI. Tanto faz. Perguntam primeiro se podem ler para o microfone, dar a voz na televisão, mostrar a cara lá para casa. E só depois se lembram (lembrarão?) que ainda nem sabem fazer uma pergunta, que não conseguem escrever uma linha, que têm voz de copo de leite e imagem de quem agora nasceu. E não assumem nada disto. Ser estagiário hoje - salvo honrosas excepções - é ter a certeza de que se sabe mais do que é suposto saber-se. Um estagiário de jornalismo não lê uma página de jornal, mas sente que escreveria qualquer artigo em menos de um "ai". Não vê noticiários em nenhum canal, não questiona, mal sabe que em Espanha há um Rei e que por cá já se vê a República desde 1910, mas acredita que já merece um ordenado jeitoso, mais de mil euros, para começar, porque é preciso dinheiro para os copos e para roupinha nova, talvez um maço de tabaco por dia e duas bicas, pelo menos. Ser estagiário, hoje, é ter uma cara laroca e usar decotes generosos para chamar a atenção. É enturmar-se nas festas e tirar fotografias com os mais velhos. É sair cedo, chegar tarde, não acompanhar um trabalho até ao fim. É trocar a redacção por uma festa ou um jantar de um amigo. É não trabalhar ao fim-de-semana nem ao ensolarado feriado. É chegar a casa e dizer à mãe e ao pai "se calhar não é bem isto que eu quero" (agora que já gastaram uma fortuna em propinas), é não fazer mais do que aquilo que lhes é pedido... mesmo que nas entrelinhas haja oportunidades para agarrar.
Fazer um estágio é um exercício de aprendizagem. Partir para tal com a noção de tudo se saber, é a mais errada opção de que consigo lembrar-me.