domingo, maio 03, 2009

Ainda a Feira

E ao terceiro dia, fiz directos toda a tarde. Ouvi um velhinho a relatar um jogo do Benfica - antes de saber que ia perder com o Nacional da Madeira - enquanto me dizia que a mulher gostava era de novelas, mas que ele, ele queria futebol. Mas tudo nos livros, que a televisão não chega. E onde se compra o livro do Benfica?, perguntou. Encaminhei-o para a rapaziada vestida de vermelho e disse-lhe que eram do clube, escondi o facto de serem apenas funcionários da Leya. Deixei-o ir à procura da leitura patriótica, do amor à camisola, e perdi-me a olhar para Lobo Antunes. António. É um homem como poucos, acho eu. Tem uma cadeirinha para cada leitor a quem dá autógrafos. Não se limita a apertar a mão e escrever "um abraço do António e veja lá se lê mais um e continua a comprar". Não. Espera, ouve, deixa-se levar, conhece, dá-se a conhecer. Adoro o homem, confesso. E ainda mais quando sei que a Margarida Rebelo Pinto pensa tê-lo como confidente e amigo e, afinal, pensa ele que ela é uma chata. Acha-a bonita?, perguntou-me um dia. Não. Os miúdos brincavam com meias e meias palavras ficavam sobre livros. Faziam fantoches com botões e outras coisinhas que se arranjam nas caixinhas da mãe - amanhã é dia da mãe, amo a minha - e dali contavam estórias com a ajuda de umas meninas com chapéus de palhaço, não, não eram bem palhaços, eram aqueles que tentatavam fazer rir os reis, os bobos. Eram chapéus de bobos. A feira do livro é um mundo e acontece muita coisa ao mesmo tempo. Os livros são uma vida, um amigo, uma paixão, um cheiro que se guarda, uma palavra que fica, uma lombada virada para nós. E ali estive, uma tarde, no meio de tudo isto. E de sol.

2 comentários:

Cris disse...

umas das coisas que me faz sentir algumas saudades de Portugal é a feira do livro...

cristina

perdidosemafrica

Mozka Tché Tché disse...

Só para avisar que a vida digital do Mozka passou agora para outra linguagem e que está aqui.
http://mrxpodcast.mypodcast.com/

Bijoux!