sexta-feira, maio 29, 2009

alentejo em diferido

Queria os 40º graus do Alentejo, mas em passo lento. A vida em formato ‘leve-leve’. Queria campos de girassóis para me perder, não para os ver da janela do carro num relance. O dia começou demasiado cedo, serão 700 quilómetros bem medidos que vou sentir em todos os músculos das costas, das pernas, dos braços. Queria vinhas a perder de vista, a terra a gretar sob o céu escaldante, para me sentar à sombra de uma azinheira, comer uvas frescas e ouvir o chilrear dos pássaros. Acelero, prego a fundo o tempo inteiro, o conta-quilómetros a chegar aos 180 e eu a ter flashes despropositados, imagens felizes que saltam da caixinha verde alface, a atenção a fugir da estrada, a cabeça a ir ao tapete. Queria os campos queimados do sol para me deitar sobre um céu azul muito forte que obriga a fechar os olhos. Vou de um lado para o outro, mais de 100 quilómetros de cada vez, engatar a terceira, a quarta, a quinta, o carro que não dá mais. Queria Beja para me perder nas ruelas, andar devagar, parar em cada esquina, fotografar, ficar apenas a olhar, sentada numa esplanada de livro na mão. O dia é demasiado longo. É noite quando chego a Évora, no calendário é outro dia quando regresso a Lisboa. O cansaço convertido em lágrimas. Queria o Alentejo para ser feliz, não para me moer de pancada.

Sem comentários: