O petróleo a descer dos 90 dólares
E eu a decidir ir de metro para o pasquim. A deixar de fazer contas de cabeça de cada vez que vejo o preço do gasóleo. Sentada no único lugar livre, apesar de serem 10 horas, entalada entre a janela e um velho de tamanho considerável. Vai a ler o Outono do Patriarca. É da colecção do Público. Livros a cinco euros [era isso, não era?], de tradução duvidosa. Entalada junto a janela corro os olhos pelos ‘assassinos escondidos’. Volto a Sevilha. Fui à Fnac, mas não faltei ao prometido. Foi uma prenda. Disseram que a minha dor de cabeça, uma que durou mais de uma semana, tinha origem conhecida. Eu a dizer que não, que não precisava de um livro. Que tinha o que ler, que não valia a pena estar com coisas, que não ia pegar naquele. Talvez para a semana, antes de me por a caminho, que nessa altura comprava um kit de sobrevivência. E ele a contrariar-me, a dizer que tinha que ser, que não valia a pena resistir. A dor de cabeça já só aguentou mais um dia e mesmo assim foi de raspão. Sol de pouca dura. Um brufen e não houve mais agulhas espetadas sobre os olhos. Entalada junto à janela, ando pela noite de Sevilha, enquanto lá fora desfilam estações de cor azul. Saiu debaixo da terra para o vento frio de uma manhã de Outono. Chega-me a maresia do Tejo e sorrio. Entalada contra a janela perco o sentido às horas. Não sinto falta da música, das notícias, das sugestões da Evasões. Cá em cima custa-me deixar as páginas do livro. Vou contrariada para o pasquim. Arrasto-me sob um sol cada vez mais tímido. Consola-me saber que volto pelo mesmo caminho. Mais 20 minutos de leitura forçada antes de voltar para casa. Sorriu e penso que o lugar na garagem tem desvantagens. Tinha saudades dos transportes públicos. Esta semana, pelo menos, vou ler mais. A conta bancária agradece.