Primavera de papel
Pode dizer-se muito da futilidade das revistas femininas, mas não há dúvida que elas cumprem algumas funções não discipiendas em determinadas alturas do ano. Uma delas é, indubitavelmente, quando o frio ataca. Atacar é mesmo o termo porque vivo num país que não está preparado para estas incursões de vento polar. A Estónia pareceu-me muito mais acolhedora nesta altura do ano, apesar do meu ar de boneco da Michelin quando saía com o meu casaco comprido de penas. Era passar a soleira de qualquer porta e o calor entrava pelas narinas, afagava a pele e envolvia-me no seu carinho. Por aqui parece que as paredes andam em despique com o congelador. A lareira é um sorvedouro de lenha que faz desaparecer um cesto de toros num ai e o aquecedeor deixa apenas um pequeno halo com dez centímetros de diâmetro.
Por isso, voltando às revistas femininas, nada como folhear aquelas páginas da edição de Fevereiro (estão sempre um mês adiantadas em relação à ida para as bancas) cheias de vestidos floridos de algodão, sandálias de cores citrinas e maquilhagem pastel. As sugestões de férias mostram já os spas mais em voga e os típicos questionários falam em renovação espiritual e como começar a perder os quilinhos para o biquini que - não tarda nada - teremos de enfiar.
Lá fora o sol é só de brincadeirinha e no armário nem sinal de linho, algodão, seda ou tule, mas nas págimas das revistas já é Primavera, ainda que de papel. Bem hajam!
1 comentário:
Muito bonito. Mas eu prefereia 1000 vezes uma primavera de pele...
Enviar um comentário