sexta-feira, junho 22, 2007

Aborto e taxas destabilizadoras

[Declaração de interesse: votei sim no referendo]

As mulheres que queiram interromper uma gravidez até às dez semanas vão estar isentas de pagamento das taxas moderadoras. A notícia vem no Público de hoje [depois da publicação da regulamentação da lei], com a garantia do ministro da Saúde.

Não deixa de ser irónico que num País em que se gastam anualmente cerca de 8 mil milhões de euros com a Saúde, com um Governo socialista que impôs o pagamento de internamentos e cirurgias realizadas nos hospitais públicos [o ministro da Saúde chama-lhes ‘taxas de utilização’], se venha agora dispensar de qualquer pagamento uma intervenção cirúrgica que será sempre realizada a pedido da mulher. Consta que ao abrigo do regime de isenções previsto para as grávidas... Grávidas que pelos vistos não o querem ser. Então para quê dar-lhes um privilégio inerente à condição que condenam?

Vale a pena ressalvar, e antes que me caiam em cima, que não estou contra este suposto privilégio por achar que a gratuitidade levará mais mulheres aos hospitais para interromper uma gravidez não desejada.

Sou a favor da despenalização da interrupção voluntária da gravidezi. Mas haverá necessidade de ser mais papista que o papa? Porque obrigar todos os contribuintes a pagar para resolver uma situação que é pessoal? Quem me paga a mim as pílulas e os preservativos que sempre usei para evitar gravidezes indesejadas? Ok. Concedo que esta visão pode ser minimalista e pouco séria. Então vejamos a coisa por outro prisma... Mas nem vale a pena irmos pelo discurso das filas de espera, das consultas no privado...

A vacina contra o Papilomavírus Humano (HPV), que pode provocar o cancro do colo do útero, está à venda desde o início do ano. Está indicada para raparigas e mulheres que ainda não tenham iniciado uma vida sexual activa e os estudos dizem que é altamente eficaz (quase em 100%). A vacina custa 481,35 euros [são três doses a 160,45 euros cada]. Foi o mesmo Governo, que agora vem dizer que os abortos são de borla, que não autorizou a inclusão da vacina no Plano Nacional de Vacinação, que permitiria às mulheres ter acesso gratuito à vacina. A interrupção de uma gravidez, por método cirúrgico, custa ao Estado entre 830 e 1.074 euros...

Dois pesos e dois medidas para questões de saúde pública que tenho muita dificuldade em perceber...

1 comentário:

Unknown disse...

eu sinceramente também não entendo, mas com este governo já nada me surpreende!