sexta-feira, novembro 23, 2007

Hiroshima meu amor

É um equilíbrio precário. As costas contra a corrente do baloiço. Sentada de lado. As pernas esticadas sobre o baloiço da frente. Levo longos segundos a estabilizar. Espero. Se olhar agora para as páginas do livro vou ficar enjoada. Estraga-se o prazer mesmo antes de começar. O corpo almofadado por duas camisolas e o casaco do futebol. Está-se bem enquanto as nuvens não tapam o sol. Leio Duras. Tento pela segunda vez entrar na história de um amor em Hiroshima. São-me estranhos os guiões de cinema. Falta-me a imaginação para criar ambientes. Por isso só falo sobre mim. Ou então escrevo notícias. Nunca tive pretensões de escritora. Preciso da matéria bruta dos factos. Da realidade. Boa ou má. Leio Hiroshima meu amor até as mãos enregelarem. Transporto-me para a lareira. Continuo a ler até devorar todas as páginas.

1 comentário:

Anónimo disse...

É tão boa, essa ânsia de não parar até à ultima página. E Duras também me dá isso - deixa-me parada a lê-la, enregelada ou a ferver, até que chegue a última página.