domingo, novembro 25, 2007

A minha irmã

Hoje quero fazer um elogio à minha irmã. A melhor irmã do mundo. Nunca nos demos bem. Discutíamos por tudo. Por nada. Andávamos à porrada. Eu perdia sempre. Era uma questão de tamanho. Lembro-me de ela me agarrar pelo pescoço, os meus pezinhos abanar a centímetros do chão. Lembro-me de andarmos à bulha com sonasol verde e pasta dos dentes. De discutirmos porque uma não queria apagar a luz e a outra queria dormir. De nos batermos [mais do que uma vez] por uma camisola, umas calças, whatever...

Nunca nos demos bem. Nunca, mas nunca, soubemos estar uma sem a outra. Sempre nos protegemos nas primeiras escapadelas. Mais dela do que minhas. Fui uma privilegiada. Ela teve as brigas e abriu-me o caminho. Lembro-me da primeira noite em que ela dormiu em casa de um namorado. Devia estar a trabalhar. Lembro-me da minha mãe reparar que o despertador que ela deveria ter levado tinha ficado em casa. Do pânico de ela poder ser descoberta. Das mentiras para que nada disso acontecesse. Lembro-me das horas passadas em frente ao Spectrum. Das noites de riso interminável. Das brincadeiras sempre conjuntas. Das primeiras saídas. De ela dizer ao meu pai ‘foi o jantar que lhe caiu mal’ depois de eu descer as escadas da Assembleia para vomitar mesmo em frente ao carro. Nunca, mas nunca, soubemos estar uma sem a outra. Aproximamo-nos ainda mais quando ela casou.

A A. é uma mulher extraordinária. Separam-nos 16 meses e um dia de existência. Ela veio primeiro, e foi das melhores coisas que a minha mãe alguma vez fez na vida. A minha irmã trabalha de manhã à noite fora de casa. É altamente bem sucedida profissionalmente. Provam-no as promoções quase constantes dos últimos dois anos [e que me parecem não ter acabado]. E tem dois filhos. Perfeitos, lindos de morrer, mas cada um deles uma dor de cabeça à sua maneira. Que trata carinhosamente. Com quem brinca enquanto faz o jantar. [concedo. Tem aqui uma ajuda preciosa do marido]. A quem lê histórias antes de adormecerem. Com quem vai andar de bicicleta ao fim-de-semana. E quando os putos estão a dormir ela senta-se no sofá. E o que faz? Colares, pulseiras e afins, que ajudam a engrossar o pé-de-meia. A A. é uma verdadeira fada do lar [sim, e aqui incluem-se também todos os afazeres que uma gaja tem com a casa]. Antes da mania dos colares foram os lençóis e coisinhas para bebé. Tudo porque a minha irmã não sabe estar quieta. E quando não sabe o que fazer inventa. A A. tem mãos de fada. E tem mão para o tempero. Cozinha como ninguém. E adora ter a casa cheia. De receber os amigos com quem partilha a cozinha. A A. gosta de rir. E ri muito. A minha irmã é organizada. No trabalho como na vida. E no meio disto tudo irradia uma serenidade que eu invejo. Tem sobre ela uma aura de quem tem tudo sobre o controlo. Nas mãos da A. tudo saí sempre bem. Claro que tem os seus problemas. Tem os seus dias difíceis. Mas passa por eles com a certeza de quem sabe o que faz.

A minha irmã nem sempre concorda comigo. Mas está sempre cá para mim. Obrigada.

3 comentários:

Chatterbox disse...

Será a tua irmã, a minha irmã?
Não fosse a diferença de idades... e bem poderia ser.
'Nunca nos demos bem' vs. 'Estará sempre cá para mim'.
É bom ser 'segunda'!

Anónimo disse...

Belo texto. Revi-me absolutamente nele. Parabéns às manas.

Mrs. Sea disse...

Eu sou primeira, mas o meu irmão está sempre para mim também!
É bom ter irmãos de verdade...
Bjins