Um pouco mais eu
Penso na noite em que fui branca e medo. Nos jogos de palavras que me transformaram em cidade africana. Em capital europeia do século XXI. Eles sem saberem que sou [me sinto] Nova Iorque. Lembro-me do riso e na incredulidade perante as palavras dos outros. Por estes dias “rejuvenesci”. Não sou eu que o digo. Mas percebo no imediato o que querem dizer. Não foi o calor primaveril do outro lado do mundo. O sol [temporariamente] abrasador. A vista do Pacífico. A poesia, de que não aprendo a gostar. Os cheiros. As avenidas largas com gente cosmopolita. A pobreza desbragada dos bairros de lata. A luz. Os espaços verdes. Passeios largos em ruas estreitas. Daquelas que deixam viver a cidade. Não foi o Lingura com os retratos dos mortos, como lhe chama a Dia, nas paredes. Muito menos terá sido a salsicha engolida a custo na mesma noite. [torna-se difícil a vida quando não sabemos ler uma ementa e seguimos conselhos locais] É bom sair da casca. Das quatro paredes do ‘open space’ do Chiado. Foram as pessoas. As conferências. A mochila pesada. Computador às costas. Escrever milhares de caracteres. Esquecer-me que estou confinada ao tamanho da página de jornal. E depois cortar para encaixar o texto. Tinha-me esquecido de como gosto disso. Como isso me faz um bocadinho mais eu. Rejuvenesço e deixo que os olhos brilhem o tempo todo.
3 comentários:
Depois de te ler neste texto, senti muito claramente esse brilho. Fresco.
Notei e quero ver o brilho, dá-me um bocadinho...
que bom... :-) fizeste-me sorrir e quase vi esse brilho todo! bjs
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