quarta-feira, janeiro 23, 2008

Medos

Teremos todos um medo, qualquer um, nem sempre o desvendamos, nem sempre o partilhamos, mas todos teremos um medo. Eu tenho medo de não ultrapassar, de não vencer este medo que se instalou há 4 anos; o P. tem medo de voar e não fomos a Las Vegas porque sentiu um aperto no coração. Há quem tenha medo de estar doente, de andar de barco, de andar de elevador; há quem tenha medo de encarar uma câmara, quem tenha medo do patrão, do marido, medo de errar. O medo pode gerar o pânico e aí a coisa torna-se física. Há uma dor interna, a cabeça a explodir, o coração a bater ainda mais, as pernas que tremem, os sentimentos baralhados e os gestos sem sentido. O medo é arrebatador, consome-nos, leva-nos para fora de nós e já pensamos que o corpo que temos não é o nosso e não podemos controlá-lo. Há duas maneiras de encarar o medo: aceitá-lo ou enfrentá-lo. Não acho que uma seja melhor que outra, são apenas diferentes. Porque há-de o P. insistir em entrar num avião se não consegue acalmar as palpitações no peito? Porque há-de avançar para lá do check-in se o único medo que tem é este, e não prejudica mais ninguém? Ele que já tem dois anos de tratamento atrás dele, ele que ainda não desistiu de vencer o pânico, que me queria a seu lado para lhe dar uma mão. Não terá já tentado o suficiente? Então e aceitar este medo? Porque não? Há medos com os quais podemos conviver. Vivem numa casa ao lado da nossa, somos vizinhos mas temos horários desencontrados e só nos vemos nas reuniões de condomínio. Mesmo assim ficamos em filas diferentes e só nos vemos de soslaio, sabemos o nome uns dos outros mas nem conhecemos a família. O medo, não um qualquer, mas algum medo, pode ser simplesmente aceite. Arruma-se numa caixa no armário do corredor e não se toca mais. Como nas fotografias de um casamento estragado. Existem, estão por lá, algumas bem bonitas, com sorrisos e esperança, mas nada, não saem do armário. Esses medos fazem-nos mais forte, porque não os vencemos, mas também não nos juntámos a eles. Simplesmente dissemos: ok, tu existes, eu também, e vou conseguir viver com isso. Não há que ter receio por pensar assim. Se podemos vencer um medo, perfeito, e entramos num quarto escuro que antes não queríamos ver, ou subimos à Torre Eiffel quando antes não aguentávamos a varanda de um primeiro andar. Mas se ele é mais forte e não se vence com uma única atitude, então, cheguemo-nos para o lado, ele que se sente, e que fique por lá, quietinho, sem chatear, sem aparecer. Sabemos que o lugar está ocupado, mas limitamo-nos a não empurrar.

2 comentários:

Brisa disse...

Tenho uma amiga que é o oposto: tem imenso medo de voar mas não deixa de o fazer por isso, porque gosta muito de viajar. Cada pessoa é que tem noção do peso que as coisas têm para si. Mas acredito que quando a meta vale a pena, qualquer medo é posto de lado.

Kaiser Soze disse...

não aceito aceitar medos.

deve ser falta de coragem... ou então o meu medo é esse.