Namorados II
Pousou a cabeça no ombro dele e continuou a ler as legendas na diagonal. O sofá dava para quatro mas, naquele momento, caberiam mais três. Estavam a ocupar um único lugar e sentiam-se bem, assim apertados.
Ele pegou-lhe na mão e, descontraidamente, acariciou-a. Não tirava os olhos da televisão. Ela também não. O filme era de guerra, sobre uma guerra perdida, onde havia apenas vencidos e não se conhecia o rosto aos vencedores. Eles estavam vencidos pelo cansaço de um dia de trabalho árduo para os dois. Mas tinham saído vencedores das múltiplas tarefas que tinham cumprido, cada um no seu lugar, cada um na sua ponta da cidade.
Agora estavam ali, lado a lado, sem dizer palavra. Apenas o gesto e o corpo, um contra o outro, dizia que se amavam. O filme não tinha intervalos porque escolheram um DVD. Não viram por isso as notícias do Dia dos Namorados, a publicidade do Dia dos Namorados, as ofertas possíveis para darem um outro, naquele 14 de Fevereiro.
Não se lembraram. Nunca se lembravam.
Há muitas noites que partilhavam um só lugar do sofá e aquele não era um dia diferente.
Ela desviou o olhar num momento mais violento do filme. Ele beijou-lhe a testa. Nos canais abertos continuavam a dizer que se celebrava um dia especial. Mas eles não ouviram nada. Voltaram a ver o filme com atenção e esperaram a ficha técnica para dormir. Adormeceram primeiro no sofá. E gostavam um do outro.
Só depois foram para a cama. Sem ligar a televisão.
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